As férias da minha vida XX

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1452 palavras
Data: 20/03/2014 23:16:21

Capitulo vinte: Em casa... ou quase isso.

Yuri estava lá para nos receber e ao seu lado estava um menino de pele branca e olhos anormalmente verdes que se chamava Matheus.

— Tenha paciência com Matheus — Minha mãe sussurrou em meu ouvido.

— É só ele não me encher o saco — respondi a ela.

Matheus era diferente da maioria dos meninos. Era exageradamente sincero, um tanto incompreensivo e anormalmente literal. Minha mãe dizia que ele tinha um problema, mas nunca me disse qual era.

— Que saudades! — Yuri abraçou minha mãe como se não se vissem a anos, mas tinham se visto nas férias de julho, quando fomos ao Rio visitar meus avós.

— Eu também sinto as sua Yuri! Cadê seu maridão?

Ele revirou os olhos.

— Sabe como é vida de médico. Está preso no hospital como sempre. As vezes eu acho que ele só pensa naquele lugar.

— Oi tio Yuri — eu o cumprimentei educadamente.

Ele ficou vermelho por só ter me visto ali naquele momento, mas eu não me importei.

— Oi Lucas — ele bagunçou meu cabelo — Você cresceu bastante em pouco tempo! — Ele se abaixou para ficar de frente para mim — Sua mãe me contou sobre você. Meus parabéns pela sua coragem w te desejo força de agora em diante. Tudo fica mais difícil quando você é gay. Sempre que alguém te insultar ou te discriminar de alguma forma, lembre-se que você não é inferior a ninguém. É apenas mais um garoto muito amado e muito especial.

— Dizem que eu sou especial também pai — Matheus tinha uma maneira extremamente monótona de falar e nunca olhava as pessoas nos olhos — O que quer dizer?

— Exatamente isso Matheus. Você é um menino especial — o pai o respondeu.

— Mas em que sentido? Eu não entendo. Dizer que sou especial sem destacar que característica me torna diferente dos demais não pode sustentar a tese de que eu seja especial.

O jeito dele falar me irritava.

— O seu jeito de ser Matheus — Meu pai disse — Você é diferente, mas ai mesmo tempo é igual aos outros. Isso o torna especial.

— Mas como posso ser duas coisas ao mesmo tempo se sou apenas um? Não faz sentido!

— Depois nós conversamos sobre isso Matheus.

E seguimos para o carro de Yuri. Percorremos o caminho todo em silêncio. Eu observava Matheus com certo deslumbramento e certo medo. Ele passou o caminho inteiro olhando pela janela do carro sem realmente parecer estar vendo a paisagem. O tempo inteiro movia o corpo para frente e para trás me deixando agoniado. As vezes mordia as mãos de forma estranha.

Chegamos na casa de Yuri onde permaneceriamos até que minha mãe encontrasse uma casa para nós.

Os dias se seguiram de forma incrivelmente dolorida. Além do calor que me fazia passar mal todos os dias, Matheus me assustava. Ele era muito solitário e as vezes repetia frases soltas e desconexas que ouvia en algum lugar. Ele e a irmã quase não conversavam, alias, ele quase não falava. Um dia ele me abordou sem mais nem menos e começou a falar sobre a guerra fria como se fosse um professor universitário. Ele era tão estranho que minhas indiretas que mostravam que eu não estava interessado no assunto, passavam despercebidas a ele. Ele falou por tanto tempo que me irritou e eu gritei para que ele calasse a boca e ele se encolheu como uma bola no chão e tampou os ouvidos.

Caio (irmão mais novo de Nicolas), por outro lado, era um garoto um pouco mal humorado, mas no geral boa pessoa. Ele parecia ter um interesse quase que obsessivo sobre minha sexualidade, o que me fez desconfiar um pouco dele. Assim como eu e Matheus, Caio tinha quatorze anos de idade e se tornou meu melhor amigo naquela casa até o momento que gritei com Matheus. Caio e ele eram muito ligados e Caio parecia querer proteger o sobrinho de tudo e todos a qualquer custo. Nós discutimos e nunca mais nos falamos.

Duas semanas depois minha mãe encontrou um apartamento perto da Quinta da Boa Vista. Apesar de pequeno, eu gostei daquele lugar, mas ainda não me sentia em casa. O tempo todo que estive ns casa de Yuri e Nicolas, não me senti a vontade, mas pensei que era por não estar em casa. Mas agora eu estava em casa. Minha casa, mas ainda me sentia um visitante. Além disso, sentia que não pertencia aquele lugar. O clima, as pessoas, o cheiro, o idioma, tudo parecia errado. Eu estava no lugar errado. Era como se pertencesse a outro lugar e eu sabia exatamente que lugar era aquele.

Todos os dias Nathan e eu nos falávamos pelo Skype e todos os dias me dizia que estava morrendo de saudades de mim. Quando entrei para a escola em fevereiro, me senti estranho. Não me encaixava daquele lugar e além disso ver Matheus e Caio todos os dias, não tornava meus dias melhores.

Com o tempo Nathan e eu passamos a conversar cada vez menos e eu temi o estar perdendo. Em maio ele disse que a casa em frente a minha tinha sido vendida e que um menino muito agradável tinha ido morar lá. Ele e Nathan ficaram logo amigos. Depois disso ele sempre falava desse garoto chamado Brian e as vezes deixava escapar que ele era bonito. E eu então entrei em pânico. Eu estava perdendo Nathan e sabia disso. Tentei falar com Matt, mas nunca conseguia. Um dia eu estava conversando com Jess e ela me disse que ele tinha arrumado uma namorada e que eles estavam super apaixonados. Foi então que a tristeza me abateu. Tinga perdido os dois e não podia culpa-los, pois eles eram livres.

Era agosto e eu estava chorando na sala quando minha mãe chegou com Yuri e Caio. Me levantei e fui até o quarto sem que eles me vissem, mas Caio viu. Ele me seguiu e me pediu para lhe contar o que estava acontecendo e ele foi bem compreensivo comigo. Voltamos a ser amigos depois desse dia.

Era novembro e a sensação de estar no lugar errado nunca foi tão grande quanto naquele mês já que no mês seguinte eu iria voltar para o Canadá. Conversei com meu pai e o convenci a me deixar ir morar com ele. Ele conversou com minha mãe que depois de relutar muito concordou desde que eu fosse visita-la nas férias de verão. Quando contei para Caio que eu ia embora nós estávamos jogando Mortal Combate na casa dele sozinhos em seu quarto e de Matheus.

— Então você só volta em junho? — ele indagou na véspera de minha viagem.

— Isso. Você sabe que eu gosto do Brasil, mas meu lar é lá.

— Mesmo que eles não te queiram mais? — Caio disse para tentar me convencer do contrário.

— Não é por eles que quero voltar. Meu eu está lá. Minha felicidade, meus sonhos e minha vida. Eu nunca pertencia a esse país, Caio. Nunca me adaptei de verdade.

— Então você vai atas de você mesmo?

— Isso. Claro que vou ficar triste se eles não me quiserem mais, mas vou estar feliz de estar em minha verdadeira casa.

— Vou sentir sua falta — admitiu meio sem jeito.

— Também vou sentir a sua.

Meu celular tocou e era minha mãe mandando eu ir jantar em casa, pois aquela seria a ultima vez em muito tempo.

— Então tchau — Caio disse quando estávamos no portão de sua casa.

— Eu viu sentir sua falta — disse o abraçando.

Ele retribuiu o abraço meio sem jeito e nó nos afastamos apenas alguns centímetros um do outro. Seus olhos castanhos fitaram os meus por alguns instantes e depois ele me deu um Celinho rápido.

— Me desculpa... — Ele pediu claramente perturbado — Eu não sei por que... Não sei o que...

— Não esquenta. Não vou contar pra ninguém. Tchau Caio.

— Tchau Lucas. E isso nunca aconteceu.

O jantar com minha mãe foi uma choradeira só. Assistimos um filme e choramos mais. Naquela noite eu dormi na cama com ela.

— Vai me ligar sempre não é? — ela perguntou chorando muito. Todos os anos aquela era a primeira vez que ficaríamos sem nos ver por tanto tempo.

— Todos os dias — eu lhe disse dando-lhe um abraço apertado.

O meu vôo foi anunciado e minha mãe me deu um beijo e me deixou ir embora para o lugar a qual sempre pertencia.

Mas uma coisa me afligia. Será que Nathan ainda me amava? Se não, o Matt ainda estaria me esperando?

Descobriria em Treze horasEspero que tenham gostado desse capitulo. Espero que tenham gostado também de Caio, pois tratarei dele no meu próximo conto que é uma continuação de "Caminho para o Paraíso" que foi meu conto anterior.

É isso e até o próximo!


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