Boys don't cry - Meninos não choram! - 05
Meu coração tinha acelerado de forma tão rápida que eu nem tinha me dado conta. Antes que eu pudesse entender a situação o namorado da Cris (que até hoje não sei o nome, nem quero saber) veio andando na minha direção. Ele era consideravelmente mais alto que eu, deveria ter seu um metro e oitenta e pouco, era forte, moreno escuro e muito feio.
- É verdade que você está dando em cima da Cris seu galado? Ele estava vermelho de tanta raiva.
- E-eu? Eu fiz uma cara de indignação nesse momento. – Eu não quero nada com sua namorada. Falei muito nervoso.
Ele veio se aproximado cada vez mais de mim, seu corpo tremia de fúria. “O que eu fiz para merecer isso?” Esse pensamento passou pela minha cabeça. “Como eu iria escapar desse “ninho de gato”? Vi que o amigo do namorado de Cris observava de longe, via também se não vinha alguém em outra rua.
Recuei uns dois passos, eu estava pronto para “fazer carreira” dali a qualquer momento, correr seria minha única escapatória, eu nunca teria chance contra um cara daquele tamanho, e ainda mais com seu amigo de lado.
- Olha pow acredita em mim, eu não estava dando em cima da Cris, eu não queria, nem quero “arrochar” ela!
- Tu tá “réado” boy. Quem mandou tu ir “tirar onda” com uma “doidinha” que tem namorado?
- Mas eu não estava cantando ela, nem nada, acredita em mim cara. Nesse momento a minha cara de suplica foi de dá pena, mas Ele não parecia sentir pena de min, muito pelo contrário.
- Agora já era boy, vou passar um corretivo em tu. Ele e eu estávamos a um palmo de distância.
Eu não podia fazer mais nada, não podia dizer mais nada, pois ele não acreditaria em min, e para falar a verdade eu acho que ele estava se divertindo muito com aquela situação. Eu fechei os olhos, como uma criança que teme o que está prestes a acontecer. Desejei que tudo aquilo parasse e no mesmo instante alguém ou alguma coisa no universo atendeu meu pedido.
O ruído de um carro em altíssima velocidade me fez sobressaltar. O namorado de Cris deu um pulo para trás no mesmo instante em que o seu amigo se aproximou da gente com sua bicicleta. O ruído tinha sido provocado por uma 4x4 igualzinha a do meu pai. O carro parou ao lado da calçada onde estávamos e do automóvel saiu o homem que eu tinha confundido o seu carro com o do meu pai ainda a pouco tempo atrás.
Ele andou rapidamente em direção a nós, com um celular no ouvido. Dizia em voz bastante alta o nome da rua onde estávamos, continuou com a conversa no celular dizendo:
- Dois vagabundos estão abordando um aluno, eles querem iniciar um briga, mande alguma viatura para cá!!!
“Viatura” era o nome mais odiado entre os pintas, quando os policiais pegam eles fazendo algo ilícito “o cacete come”, como dizem aqui em Natal. Geralmente os pintas apanham muito da policia no decorrer de suas vidas, e quando presos viajam dentro da mala da viatura.
Mais que rapidamente os dois malandros montam em suas bicicletas desproporcionais para seu tamanho e saem em disparada. O namorado de Cris olhava para trás e gritava dizendo que aquilo não iria ficar assim, que ainda iria me dar uma boa surra. Mas agora eu estava protegido, o medo tinha passado. Eu podia respirar de novo.
- Como você está? Perguntou meu salvador, com sua voz ainda mais aconchegante.
- Agora estou bem pow, graças a você. Meus olhos estavam cheios de lagrimas.
- Esquenta não, eles não vão mais te “aperrear”. Ele sorriu para mim, e aquele sorriso foi muito confortável neste momento.
- Não sei nem como agradecer.
- Não agradeça, apenas suba no carro que eu te levo para casa.
- Eu não quero dar trabalho. Falei.
- Você não vai dar trabalho nenhum pow, vamos, to pedindo...
Eu tinha apenas duas escolhas, voltar de carro para casa com aquele completo estranho, mas que acabara de salvar a minha vida ou ir á pé. Eu teria pensado mais vezes se soubesse que aquela minha futura escolha mudaria ainda mais a já mudada configuração da minha vida.
Seria antiético dizer não a aquele homem, afinal de contas ele tinha acabado de me poupar de uma boa surra. Olhei novamente para ele, era um pouco mais alto que eu, seus cabelos iam bater no ombro, eram ondulados e castanhos, da mesma cor dos seus olhos, que deixavam transparecer certa doçura. Aquela roupa social lhe caia muito bem, ele tinha bom gosto, olhei nos seus olhos e disse:
- Tudo bem, eu vou com você! Então nós dois sorrimos.
- “Bora”! sobre ai no carro, não vamos ficar aqui o dia inteiro não é mesmo?
- Não! Vamos. Disse eu ainda sorrindo para ele.
Subimos no carro, ali era confortável, (tudo dele gerava certo conforto em mim), o ar condicionado estava na temperatura ideal, tocava uma musica baixinha, dando uma personalidade ao carro e ao homem que estava ao meu lado, ele deu partida no carro e perguntou:
- Onde você mora?
Respondi a ele onde morava. Mas eu não queria ir para casa agora, estava gostando de estar ali, ele parecia ter percebido, por isso perguntou:
- Que tal se formos a um restaurante?
- Eu não queria dar trabalho senhor... Disse eu muito “encabulado” pelo convite.
- Não precisa me chamar de senhor, meu nome é André, sou gerente de uma empresa de informática (me disse o nome da empresa) e moro aqui perto - Ele sorriu, olhava nos meus olhos - Eu não sei por que me veio uma vontade muito grande de chorar. Ele percebeu.
Ele estacionou o carro numa rua pouco movimentada e com uma doçura inigualável passou o braço pelo meu obro, minha vista ficou embasada, apesar de o André ser extremamente novo na minha vida eu me senti a vontade para chorar ali mesmo, e assim eu fiz. Ele não falava nada, eu apenas chorava e nada mais. O único outro ruído era o da musica baixinha que tocava em seu carro. Sarah Brightman – Deliver Me.
Depois de alguns minutos de choro eu disse com a voz muito, muito embargada:
- Eu to cheio de problemas...
- Então por que você não me conta eles galado? Talvez você se sinta melhor depois que me contar. Propôs.
- Tudo bem, vamos a um restaurante em Ponta Negra, no caminho eu vou te contando tudo. Disse eu.
E assim eu fui contando-lhe tudo, quando chegamos ao restaurante na magnífica Ponta Negra ao por do sol eu já havia contado quase tudo. No restaurante contei sobre Gabriel, e sobre a Cris, finalizando a história no momento em que ele me salvou dos pintas. Ele não disse uma palavra no meio do caminho, apenas concordava com a cabeça, quando por fim terminei de lhe contar tudo, ali no restaurante, apenas concordou mais uma vez e disse:
- Não são os problemas que dificultam a sua vida, o que dificulta é o modo como você lida com eles.
Continua...