Caminho para o paraiso parte V

Um conto erótico de Conto é vida
Categoria: Homossexual
Data: 24/08/2013 02:31:53

Capitulo cinco: Preconceito.

YURI

Talvez eu devesse ter pensado melhor e não agido por impulso. Mas eu era assim. Impulsivo ao extremo. Fazendo coisas só para me arrepender mais tarde. E essa tinha sido mais uma dessas vezes.

– Não liga pra eles – Nicolas disse andando ao meu lado na escola.

Eles riam e gritavam ao me verem passar. Estava tudo se repetindo naquele dia.

– Vai embora seu viado! – Victor gritou ao me ver passar pelo pátio pela manhã nublada.

O céu recoberto de nuvens cinzas parecia ter sido especialmente planejado para aquele dia. Dava a tudo um ar deprimente e sufocante enquanto os gritos e as risada só aumentavam a sensação de morbidez.

– Viadinho! Viadinho! Viadinho! – entoavam em coro ao me ver passar.

Uma chuva de confetes brilhantes caiu sobre mim no momento em que entrei no prédio principal. Pude ver que a diretora vinha em minha direção enquanto a multidão me seguia ainda cantando seu hino.

Segurei a mão de Nicolas procurando apoio, mas ele a soltou da minha.

– Isso só vai fazer as coisas piorarem – explicou para mim quando olhei para o seu rosto querendo saber o motivo de sua rejeição.

– Que baderna é essa? – Diretora Andréia perguntou em alto e bom som cruzando os braços a minha frente.

– Gaaaaayyyyyyyy! – gritaram e mais confetes foram lançados em cima de mim e Nicolas.

Andreia olhou para meu rosto congelado em uma expressão de indiferença e para o de Nicolas que esboçava certo medo de que as coisas pudessem sair do controle.

– Para sala todos vocês! Ou vão receber suspensão – gritou furiosa – Agora!

E a multidão se dispersou atrás de mim, porém ainda era possível ouvir as risadas dos alunos. Virei-me para ir para a sala junto de Nicolas, mas ela nos chamou.

– Vocês vão ficar bem? – ela indagou gentilmente para nós. Seu tom sério completamente extinto para dar lugar a um preocupado.

– Vamos – Nicolas respondeu antes que eu pudesse tê-lo feito – Não é a primeira vez que isso acontece conosco.

Olhei para ele querendo saber quando isso aconteceu com ele, pois ele nunca tinha dito isso para mim. Será esse o segredo que ele e sua família guardaram a sete chaves todos esses anos?

– Qualquer coisa, venham falar comigo imediatamente – ordenou.

Assentimos e fomos em direção a sala de aula. Nicolas pegou em minha mão da forma como tentei mais cedo. Cada aluno que encontrávamos riam de nós ao nos ver de mãos dadas.

– Você disse que isso só iria piorar as coisas – argumentei tentando soltar sua mão, mas ele não permitiu.

– Mudei de ideia – disse sorrindo para mim – Não vai passar por isso sozinho.

– Mas não precisa fazer isso – aleguei preocupado com ele.

– Lembra quando você me disse que estava comigo e que nada de ruim iria acontecer? – ele disse de forma nostálgica – Agora sou eu que estou aqui com você e não deixarei que nada de ruim aconteça com você. Passaremos por isso juntos.

O abracei não por atração, mas desta vez por amizade. Apesar de todo o meu amor por ele, Nicolas era o meu melhor amigo. Amizade essa que eu poderia sentir que resistiria a qualquer coisa.

O resto do dia foi igual. Éramos xingados e riam de nós. Vez ou outra na sala, atiravam em mim e em Nicolas com bolinhas de cuspe e papel. Por mais que os professores tentassem fazer com que os alunos parassem, eles não conseguiam controla-los. De vez em quando eu olhava para Letícia que me olhava triunfante. Quase podia ouvir seus pensamentos dizendo: “Agora eu venci seu viado”. Seu sorriso só me deixava pior. Na hora do intervalo, os professores sugeriram que fossemos para a sala dos professores para evitar que algo pudesse acontecer conosco, e foi exatamente o que fizemos. Mas mesmo com esses vinte minutos de folga dos outros, ainda assim durante as aulas eram bem conturbadas.

NICOLAS

Já fazia quase uma semana e as coisas não melhoraram. Continuávamos tendo de comer na sala dos professores para evitar possíveis agressões por partes dos alunos. O que mais me irritava, era que estávamos sofrendo tais agressões verbais de forma injusta, pois nada do que diziam era verdade. Tudo bem, que Yuri havia beijado Kevin – fato que a própria Letícia fez questão de divulgar – e também nossa proximidade causasse certas suspeitas. Andávamos de mãos dadas nos corredores, e nos abraçávamos com frequência demonstrando nosso carinho da mesma forma que sempre fizemos. O problema era que eles prestavam mais atenção que antes.

Andréia veio até Yuri e eu na sala dos professores. Eu estava sentado no canto na sala no chão e Yuri deitado com a cabeça apoiada em meu colo. Eu brincava com seus cachos enquanto conversávamos sobre alguns filmes. Pude ver que Andreia havia ficado um pouco desconfortável com a cena assim como a maioria dos funcionários da sala.

– Talvez fosse melhor que vocês não demonstrassem tanto carinho em publico – ela nos sugeriu – Ajudaria a fazê-los esquecer.

– Eles nunca se importaram com a forma com que nos tratamos antes – disse para Andreia.

– Mas agora é diferente – ela argumentou preocupada – Eles não sabiam sobre vocês, mas agora...

– Sabem o que? – indaguei franzindo o cenho – Não tem nada para saberem de nós. Somos apenas amigos e nada além disso.

– Mas a forma que vocês se tratam... Com tanto carinho... Não é muito comum entre amigos – alegou tentando fazer uso do eufemismo.

– Para nós é comum – inferi – Não vejo motivo para ser de outro jeito. Eles tem que nos aceitar da forma que somos.

– As coisas não funcionam bem assim, Nicolas – ela se opôs – Vocês precisão mudar de postura com relação a suas demonstrações de carinho. Olha só pra vocês! Parecem um casal nessa posição!

Prestei atenção em nós dois por um momento e ela tinha razão. Nunca tinha visto amigos se comportarem daquela maneira. Nem mesmo eu e Letícia nos tratávamos assim quando estávamos juntos.

– Vamos fazer o possível – Yuri disse se levantando do meu colo.

Adriana assentiu e se afastou de nós.

Yuri estava na minha casa naquela noite durante o jantar. Meu pai olhava para ele de forma acusadora. Yuri estava se sentindo desconfortável sobre o olhar fulminante de meu pai.

– A escola ligou hoje – meu pai iniciou o assunto de forma nada sutil – Disse que estão chamando vocês dois de gays.

– São uns idiotas – Yuri respondeu por educação – Não sabem o que falam.

Ninguém dizia nada naquele momento. Só o que se ouvia era o som estridente do garfo no prato de porcelana branco. O ar parecia carregado de uma energia negativa.

– Estranho como isso sempre acontece com você – meu pai provocou.

– Ivan! – minha mãe o repreendeu – Deixe o menino em paz.

– Deixa-lo em paz? – meu pai largou o garfo no prato com tanta força, que o mesmo quase se quebrou – Esse viado que deixe o meu filho em paz!

– Não fale dele assim! – gritei desafiando-o rudemente.

Ele me olhou nos olhos. Seus olhos castanhos pareciam inflamados por uma ira descomunal.

– Me responda seu merdinha – e ergueu a mão para me dar um tapa na cara, mas Yuri se levantou e segurou sua mão – Me solta seu viado, ou vai ser o próximo!

– Se bater nele, você vai ter de se ver comigo! – Yuri disse surpreendendo-me. De onde ele havia reunido coragem para ir contra meu pai daquela maneira?

Mas a coragem não foi o suficiente. Com a mão livre, ele deu um tapa no rosto de Yuri o fazendo revirar o rosto. Em sua pele branca, a marca vermelha de sua mão se destacava.

– Chega! – Minha mãe levantou da mesa batendo a mão na mesa – Como você pode fazer uma coisa dessas com ele? – e uma lagrima escapou pelo canto de seu rosto. Não uma lágrima de tristeza, mas uma lágrima de raiva.

– Tudo bem Dona Ana – Yuri disse se levantando da mesa passando a mão pela bochecha marcada – Eu vou pra casa.

E se inclinou para mim e me deu um beijo na testa. Um beijo simples, mas que foi capaz de fazer meu pai se levantar da mesa irado.

– SAI DAQUI! – gritou para Yuri que sorriu de forma maliciosa.

Yuri pegou a mochila na frente no sofá e saiu pela porta da frente.

– Finalmente! – meu pai se sentou novamente – Pensei que aquele filho da puta não ia embora nunca.

E comeu um pedaço do bife acebolado saboreando-o como se fosse um troféu.

– Vá dormir na casa de Yuri hoje – minha mãe disse baixo e sem demonstrar nenhuma emoção. Olhava fixamente para a mesa com a cabeça apoiada nas mãos cruzadas.

– Ele não vai porra nenhuma – meu pai discordou sacudindo a cabeça negativamente.

Minha mãe o olhou nos olhos e eu pude sentir que ela lutava com todas as suas forças para não cravar a faca de carne no peito de meu pai.

– Vá dormir na casa de Yuri, Nicolas – repetiu um pouco mais rápido – Anda logo vai!

Eu senti a força de sua voz estremecer meu corpo me causando arrepios. Levantei do da cadeira e caminhei até a porta saindo de casa. Ouvi o som de vidro se quebrando, mas fiquei com medo de abrir a porta novamente. Fui em direção ao elevador virando a esquerda no corredor e encontrei com Yuri esperando por ele.

– Foi expulso de lá também? – me perguntou tentando manter o bom humor.

– Fui – respondi acariciando seu rosto vermelho sentindo a marca da mão do meu pai em alto relevo devido ao inchaço – Posso dormir na sua casa hoje?

Ele sorriu como se fosse loucura eu ter perguntado aquilo.

YURI.

Os pais de Nicolas tiveram uma briga feia no dia anterior. Gritavam o tempo inteiro e de vez em quando quebravam alguma coisa da casa. A policia chegou a ser chamada para apartar a briga. Nicolas chorou muito aquela noite se sentindo culpado por seu pai ter me machucado. Tentei explicar para ele que ele não tinha culpa e que eu tinha provocado Ivan, mas ele não aceitava. Não fomos à escola na manhã seguinte, pois não tínhamos animo para fazê-lo. Fomos para a Quinta da Boa vista que ficava a apenas a algumas quadras da minha casa e nos deitamos na grama fresca observando as pessoas caminhando e atirando pequenas pedrinhas no lago de água escura.

Passamos a manhã inteira ali só nós dois sem nos importarmos com mais ninguém. Naquele momento, não existiam Letícia, Kevin, Fabricio, Ana, Ivan, meus pais ou qualquer outro naquela escola. Havia somente nós dois ali sentados um ao lado do outro. Tranquilos como não ficávamos há muito tempo. Nicolas bocejou e deitou em meu colo como eu sempre fazia com ele. Fazia cafuné em sua cabeça ruiva enquanto ele fechava seus lindos olhos verdes e sorria aproveitando a sensação.

Mas a perfeição não poderia durar para sempre. Logo tudo estava ali novamente. Todos os nossos problemas invadiram minha mente tingindo aquele momento extremamente alegre e colorido de um triste cinza.

Victor caminhava pela grama vindo em nossa direção acompanhado de Letícia. Estavam de mãos dadas e sorriam sem perceber nossa presença. Fiquei o mais imóvel possível e Nicolas abriu os olhos para saber o por que eu tinha parado com o carinho.

– O que foi? – disse olhando para onde eu olhava e suspirou.

– Olha só quem está aqui – Letícia disse ao nos ver – Os dois viadinhos da escola!

– Deveria ser proibido namoro gay em publico – Victor provocou com um sorriso no rosto.

– Ai vocês duas não poderiam estar aqui – retribui a provocação.

Victor soltou a mão de Leticia e veio caminhando em minha direção. Nicolas se levantou e se postou entre ele e eu.

– Não queremos confusão – disse seriamente.

– Mas eu quero – e deu um soco no rosto de Nicolas o fazendo cair no chão aos seus pés – Estou afim de bater em uns viadinhos.

Levantei-me no mesmo momento e dei um soco no rosto dele, porém não consegui derruba-lo. Ele era forte demais. Ele socou minha barriga me fazendo curvar-me de dor.

– Para, Victor – Letícia pediu segurando o seu braço – Não vale a pena perder tempo batendo neles dois.

Victor olhou para ela e depois para nós dois. Nicolas ainda caído no chão enquanto eu me curvava de dor.

– Você tem razão – e envolveu-a com seus braços – Já ensinei a eles uma lição.

E se viraram e foram embora.

Ajoelhei-me no chão ao lado de Nicolas que havia acabado de se sentar no chão. Seu nariz sangrava, sujando sua camisa branca de vermelho.

– Não devia ter batido nele – reclamou se aproximando de mim – Ele poderia ter te machucado seriamente.

– Eu não ia assistir ele te bater e não dizer nada – falei aproximando meu rosto do dele – Não conseguiria mesmo que quisesse.

E me aproximei mais de seu rosto. Nossos olhos fixos no rosto um do outro. Pude vê-lo morder os lábios inferiores de tensão. Ele estava ali na minha frente. Tão perto que para um beijo não precisaria nada além de uma pequena curvatura. Uma pequena distancia de apenas dez centímetros me afastava do paraíso. Não resisti e o beijei. Pude sentir que o peguei desprevenido. Ouve certa resistência de sua parte, o que já era esperado. Porém, logo em seguida veio à retribuição. Ele estava retribuindo o meu beijo e isso era tudo o que eu queria.

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Obrigado a todos que acompanham meu conto e esperem pelo próximo capitulo!


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Comentários

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14/05/2016 14:35:06
😍😍😍
25/08/2013 12:41:02
Ameeei
24/08/2013 22:11:17
Tomara que o Nicolas não de uma crise de consciência e pare esse momento magico entre os dois, e que povo homofobico, eu juntava tudo e tacava fogo, kkkkkkkkkk.
24/08/2013 12:57:18
24/08/2013 12:57:16
Realmente, esse capítulo foi impressionante! É uma pena que ninguém na CDC saiba reconhecer um bom autor. Virei teu fã! Não demore muito para postar.
24/08/2013 12:36:15
perfeito.parabens.
24/08/2013 09:09:56
O melhor de todos os capítulos. Finalmente eles se beijaram.
24/08/2013 07:24:26
nossa ñ sei nem o q dizer... seu conto é simplesmente perfeito....continua logo.... bjus
24/08/2013 06:31:46
Ai meu Deus, que capítulo foi esse? Muito bom! Obrigado pela história, cara... Sem dúvidas uma das melhores do site. Parabéns pela sua criatividade e por favor, não pare de publicar! Tô muito ansioso. Nota mil.


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