Evan e o Rei - Capitulo 4
Capitulo 4 Noite Densa
Ric empurrou quem não saia do seu caminho a tempo, ele tinha por volta de um metro e noventa e sete, e vinte o oito anos agora, quando era mais jovem se dedicava as lutas, chegou a conquistar vários titulo e isso lhe rendeu fama na pequena cidade, não sei se ele havia aberto o jogo sobre sua bissexualidade com seus pais, mas era visto nas festinhas tanto com caras quanto mulheres, apesar dos caras serem mais frequentes.
O playboyzinho entrou com cara de marrento, camiseta regata vermelha e tatuagens cobrindo seus grandes braços, a sombra de uma barba por fazer contrastava com a cabeça raspada, tinha brincos e piercings espalhado em seu rosto, se você observasse bem veria os traços delicados de uma boa criação, lábios volumosos e vermelhos naturalmente, olhos cor de caramelo claro e um nariz fino, era quase como se ele tentasse ocultar a beleza atrás das tatuagens, brincos e piercings.
Para minha surpresa ele avançou em Roland. “Sua vadiazinha escrota, tú tá aprontando mais uma vez na minha casa!” Roland se encolheu e eu achei que Ric fosse realmente bater nele e me preparei para intervir. “Vaza daqui agora, não quero te ver nunca mais na minha casa, entendeu?”
“O que é isso Ric, eu...”
“Você. Entendeu?” a cara de Ric estava muito fechada e as palavras escaparam por entre seus dentes brancos e ameaçadoramente pontudos, porem perfeitos assim como o dono. Roland engoliu a seco e se retirou, não sem antes me lançar um olhar maligno. Seja lá o que ele tenha aprontado na casa de Ric antes foi o suficiente para desmoraliza-lo.
Agora é minha vez, pensei, Rick se virou e viu o outro foco da confusão e se dirigiu até mim, pegou meu braço e me ajeitou, segurando na gola da camiseta que eu usava. Olhou bem fundo nos meus olhos.
“Você está bem, Evan?” e meu queixo caiu, como ele sabia meu nome?
“S-sim.”
“Ótimo, acho que você precisa de ar fresco.”
E antes que eu tomasse qualquer atitude ele saiu me guiando porta afora com uma mão gigante entre minha nuca e minhas costas.
O acompanhei em silencio até chegarmos ao jardim da casa, mais afastado da festa, rick me guiou até o banco do jardim, próximo a uma arvore e me fez sentar, sentou-se ao meu lado, sua perna encostando-se a minha.
“Me desculpe por ter causado qualquer confusão.”
Rick se esticou no banco e abriu os braços, passando um deles por detrás de mim.
“Eu te observei a noite inteira, enquanto você estava dançando, sabia?”
E tinha resposta para aquilo? Eu obviamente corei. “Eu não danço muito bem.”
Ele deu uma risada gostosa. “não dança mesmo.”
Tentei fingir um ar de indignação. “Poxa, você poderia ter pelo menos mentido.”
E então rimos juntos, aquele cara conversando no jardim comigo era mesmo o playboy mimado conhecido da cidade?
“Eu nunca te vi tão livre e espontâneo quanto te vi hoje.” Sua expressão era sóbria e seus olhos exalavam bondade, eu procurei por traços que indicassem que ele estava drogado ou bêbado mas nada. “Desde o dia que fui com meu pai ao seu escritório eu tenho mantido um olho em você, isso te assusta?”
“não, nem um pouco, já estou acostumado, meu irmão deve ter um espião atrás de mim também, ele deve achar que eu sou um incapaz.”
“Não, ele só deve ver o tesouro que você é, muito esperto esse seu irmão.”
“Você tá gozando da minha cara?”
“Nunca, eu venho te observando a mais de um ano, mas você sempre foi muito reservado, e sempre estava grudado com o babaca do Pablo, eu nunca cheguei perto porque algo em você me diz que você não é um cara que trai seu parceiro.”
Eu não pude conter um suspiro. “Isso não me salvou de ser traído.”
Ele ficou em silencio por um tempo. Quando ergui a cabeça para olhar para ele fui surpreendido com um beijo roubado, lábios doces e fortes e tão rápido quanto veio ele se foi.
“Desculpe, eu não queria forçar você a nada, mas eu não resisti.”
Olhando o sorriso dele senti meu rosto ficar vermelho. “Talvez eu precise disso agora.”
E antes que tivesse qualquer reação ele estava sobre mim novamente, seu corpo era quente, febril até.
Começou a me beijar no banco e senti seus braços me envolverem e foi se debruçando sobre mim enquanto sua boca explorava a minha, suas mãos me ergueram como seu pesasse nada e ele me prensou contra a árvore ao lado do banco do jardim, senti seu corpo colar no meu e seu quadril se movimentar contra o meu. “Você não faz ideia do quão lindo é Evan, e isso só te faz mais gostoso.” Rick disse entre um beijo e outro.
Algo no gosto de sua boca e remeteu a noite anterior, a fome com a qual devorava meus lábios, muito parecido com o meu sonho, a textura da pele, os traços do rosto, tudo muito parecido com a experiência tão realista do sonho, teria eu tido algum tipo de premonição?
Um rosnar nas sombras do jardim nos fez parar, Ric me colocou atrás dele, se interpondo entre mim e o animal nas sombras, a criatura veio caminhando lentamente até a luz fraca da lâmpada que iluminava o jardim com passos lentos porém decididos, os olhos brilhando na escuridão pareceram algo sobrenatural, sua respiração soltava vapor, o que me pareceu estranho pois a noite estava quente, quer dizer, naquele momento a temperatura caiu drasticamente, por instinto cruzei meus braços, procurando me esquentar um pouco. Naquele curto momento em que o animal se revelava das sombras tive medo de ser um demônio ou algo do tipo e minha vida estaria prestes e virar um filme de terror.
Para minha surpresa era meu cachorro, King. “King! O que você faz aqui?”
Empurrei Ric da minha frente. “Relaxa lutador, ele é meu cachorro, é um pouco protetor, só isso.”
Fui andando até o cachorro e me agachei, fazendo carinho nele que não desgrudou os olhos de Rick, King exalava hostilidade num nível impressionante. “Calma King.”
Rick disse alguma coisa em voz baixa, um nome ou algo do tipo e King sacudiu a cabeça em surpresa, suas orelhas mudando de posição, como se tivesse escutado algo familiar.
“O que você disse? Eu não escutei.” Perguntei a Ric, que permanecia com o olhar fixo em King, sua boca se movimentava, mas eu não ouvia som. Até que um grande barulho começou a vir da casa, no viramos alarmados para olhar quando alguns amigos de Ric vieram correndo pelo gramado até onde estávamos.
“Ricardo, Ricardo, você precisa ver isso cara, agora!”
Rick olhou para mim e olhou para o grupo de pessoas que exigiam sua presença, algo grave deveria estar acontecendo.
“Eu tenho que ir ver isso, mas Evan, não saia daqui, me espere voltar, ok?”
Balancei a cabeça afirmativamente. “Você agora é o guardião dele, você tem que tomar cuidado...”
“Ricardo, é serio cara, tu precisa entrar lá agora!” o grupo de amigos de Ricardo estava realmente impaciente.
“Arrgh, só me espera aqui, não ouse sair.”
E dito isso saiu em direção a festa, me deixando confuso.
“Como você chegou aqui King? É uma longa caminhada.”
Sentei no banco do jardim e o cachorro colocou a cabeça no meu colo. Olhei para s estrelas no céu e o peso do muro que eu tinha erguido no dia anterior (na verdade a dois dias atrás porque já passavam das 3 da manhã agora) e agora estava destruído, eu havia perdido meu relacionamento, de uma maneira terrível e agora tudo na minha vida parecia ser falso.
“Obrigado por ter vindo King.” O cachorro balançou a cauda mas não removeu a cabeça do meu colo. “Tem certas coisas que se passam comigo e eu não me sentiria a vontade para abrir com ninguém, sabe?”
“Mas com você eu posso falar não é rapaz?! Espero que você me entenda.”
Eu nunca fui muito bom em falar sobre meus sentimentos, nem com minha mãe, nem com Tom, e muito menos com Pablo, o que se mostrou um golpe certo, a última coisa que eu queria era que aquele babaca levasse com ele um conhecimento mais profundo sobre mim.
“Sabe, eu não senti ciúmes com a ceninha de Pablo e Roland, a verdade é que eu não sentia ciúmes dele há muito tempo pensando bem, mas não deixa de machucar, outra pessoa se esfregando em algo que costumava ser meu, é só sentimento de posse. Você pode se perguntar se eu não estou me enganando, mas a resposta é não. Me assusta agora olhar para trás e perceber que a muito tempo eu não sinto nada, tive tanto medo de não estar a altura de Pablo e seus amigos lindos e perfeitos que eu meio que desliguei meus sentimentos, quando peguei Pablo e o meu chefe na cama tudo começou a voltar, todo o muro que eu ergui entre eu e eu mesmo começou a cair, o ultimo tijolo caiu hoje, vendo os dois se esfregando no sofá. Não valeu a pena me importar tanto, mudar tanto por causa deles. Eu estou triste e ferido por causa do meu orgulho King, mas estou feliz, estou livre agora.”
King agora olhava para mim com a cabeça inclinada, os olhos brilhando a luz da lâmpada do jardim.
“Você é um ótimo ouvinte rapaz, espero que nenhum dono apareça para te reclamar, não vai ser fácil perder você também.”
Olhei para a mansão em festa, eu havia sentido uma conexão com Ric, mas ao mesmo tempo tinha medo de me envolver tão cedo, sem antes redefinir a mim mesmo, eu poderia me perder em Ric como havia me perdido em Pablo.
Esperei por vinte minutos. Ric não voltaria, com certeza tinha coisas mais importantes e interessantes para fazer. Fiquei curioso com as palavras de Ric, a semelhança de seu toque com o do homem-sonho.
Mas isso tudo podia esperar, tinha sido drama demais por uma noite, o céu estava estrelado e o sol logo nasceria, eu e King poderíamos aproveitar a uma hora de caminhada suave até minha casa.
“Vem King, vamos para casa.” Segui em direção a saída, mas King não veio, quando olhei para trás ele estava sentado encarando a mansão.
“Hey King, vem, o que houve?” quando procurei o que chamava tanto sua atenção vi uma sombra se mexer em uma das janelas, tive a sensação de que algo nos observava. É, definitivamente eu tinha que dar o fora dali.
“Anda, vem King.”
Deveria ser somente mais um convidado da festa (um bem sombrio) de qualquer maneira apressei o passo na caminhada até estar a uma distancia segura da casa.
A caminhada foi agradável e ologo o frio que havia se instaurado foi substituído quando comecei a me aquecer, ao passar por um trecho mais escuro eu pensei em quantas coisas estranhas haviam ocorrido naquela noite e como poderia ter sido uma ideia idiota ir caminhando para casa, o medo se apossou de mim momentaneamente , mas ao olhar para King e sua confiança ao caminhar acabei me acalmando, afinal ele é um cachorro om instintos bem mais aguçados que os meus, se algo estava nos perseguindo ele saberia bem antes de mim, mas a sensação de estar sendo vigiado não me abandonou, então preferi ir por lugares mais residenciais, com pessoas por perto, mesmo que dormindo. O que aumentou o tempo da caminhada em uns 40 minutos, quando chegamos em casa o sol estava nascendo, minha casa fica no ponto alto da colina no qual está situado meu bairro, logo tivemos uma visão privilegiada do nascer do sol.
“sabe King, a vida é mesmo brutal, ela às vezes nos tira e não conseguimos enxergar as recompensas, mas olhar para o céu e o nascer do sol me faz pensar que existe um plano maior e que nós somos muito pequenos para entender, então eu entrego minha vida a essa força que move o mudo e o universo e sigo em frente. Quem sabe um dia eu não vou poder enxergar mais do mundo do que minha visão atual me permite.”
Cheguei em casa exausto, me joguei na cama imaginando, e um pouco temeroso, se o homem-sonho me visitaria aquela noite, mas apaguei totalmente, sem distúrbios. King assumiu sua posição na entrada do quarto onde agora tinha uma grande confortável almofada esperando por ele.