Um André em minha vida (1)
Já passava das 3:00 da manhã quando deixei Marcia na casa dela. Eu não queria ter ido para aquela festa, mas ela insistiu tanto que me venceu pelo cansaço. Não, nada contra nem nada pessoal com os anfitriões, um casal muito bacana diga-se de passagem, que embora conhecesse a pouco tempo se mostraram muito simpáticos nos convidando para sua casa. Mas andava meio desgostoso da minha vida. Meu emprego não era o que eu sonhei pra mim, eu estava solteiro a tanto tempo que já tinha ate perdido a graça, e a muito tempo não saia a noite. Marcia era uma amiga muito próxima e que participava diretamente da minha vida. Na mocidade chegamos a ter um namoro morno antes de eu me aceitar como gay, ela foi compreensiva e deu mais valor a amizade que tínhamos do que a esse rolo, o que deixou nossa amizade mais forte ainda. Ela via como eu andava ultimamente e por isso sugeriu a ida a festa. A sua intenção era nobre, queria apenas que eu me distraísse, me divertisse um pouco.
Seguia eu pela estrada, a caminho de casa. A noite estava agradável, tanto que abaixei os vidros e desliguei o ar-condicionado, queria sentir o vento batendo em meu rosto, gosto de dirigir em condições assim, com tranquilidade, sem pressa, sem pensar em nada, apenas curtindo uma musica no som e a estrada a minha frente. E assim ia ate ser surpreendido por dois carros que seguiam em alta velocidade. Claramente em um racha, um dos veículos seguia pela contra-mão, via onde eu estava. Tudo foi muito rápido, ao virar uma leve curva me aparecem aqueles dois carros a toda velocidade, em um ato reflexo joguei o carro para o canto da pista, como conseqüência o pneu raspou no paralelepípedo e por fim se rasgou. Tentei seguir por alguns metros com o pneu naquele estado com a esperança de encontrar um posto de gasolina, ou qualquer lugar mais movimentado para então realizar a troca do mesmo, mas não pude, em alguns segundos o metal da jante já raspava no chão, assim parei ali mesmo.
Pode não parecer verdade, mas no alto dos meus 38 anos nunca tinha trocado um pneu de carro na vida. Embora habilitado desde os 18, nunca me aconteceu de furar de forma a precisar ser substituído imediatamente. E a verdade é que eu nem sabia por onde começar. Peguei o manual do carro e tentei entender o procedimento, tentei retirar o step que estava preso a tampa da mala, mas tudo foi um verdadeiro desastre. Eu após duas horas estava todo sujo e sem ter conseguido trocar o pneu furado.
Já tinha desistido de trocar o bendito pneu e o dia já começava a amanhecer quando me passa um carro do mesmo modelo que o meu e para a alguns metros depois, engata a ré e retorna em minha direção. Parou defronte a mim, que estava sentado na calçada, abre o vidro do passageiro e me surge o rosto de um rapaz. Era um jovem, pele levemente morena, não soube precisar a idade, abre um sorriso e pergunta de forma amistosa:
“-Precisando de ajuda parceiro?”
Eu soltei o ar que estava em meus pulmões e respondi:
“-Por favor!”
Ele encostou o carro a frente do meu e saltou do carro. Usava uma camisa larga de mangas cumpridas, bem folgada, um bermudão e tênis.
“-Cara é um saco soltar o pneu desse carro né?”
Achei bonitinho a maneira que ele falou, e só respondi com um sorriso e balançando a cabeça concordando com ele.
“-Vamos lá, vou te ensinar a fazer a troca e nunca mais você passa por esse perrengue”
Com isso retirou a camisa e mostrou o corpo, lindo, sarado, simplesmente perfeito, levou apenas dois ou três segundos ate que ele a retirasse completamente, mas imagem dele tirando a camisa me hipnotizou, foi como se aqueles segundos tivessem durado minutos, vi todo o movimento dos braços dele, dos músculos abominais se movendo, foi simplesmente lindo. Ao terminar de retirar a camisa ele a jogou dentro do meu porta-malas que estava aberto, pegou a chave de roda e se dirigiu ao estepe preso ao suporte. Nem eu entendi o porque daquele simples movimento ter tido aquele efeito sobre mim. Foi algo que nunca tinha me acontecido, mas sacudi a cabeça e retirei aquela cena da minha mente e me voltei para ele.
Acabou que ele fez todo o procedimento de troca sozinho, ia explicando o que estava fazendo, mostrando como fazer e por fim o pneu estava substituído e o furado preso ao suporte do estepe. Entreguei a flanela que levava no carro para que ele limpasse as mãos quando sorridente ele me disse:
“-Aprendeu?”
Eu apenas concordei com a cabeça.
“-Você fala pouco né?”
Eu mais uma vez apenas sorri sem graça.
Ele agora estende a mão ate mim e diz:
“-Até esqueci de me apresentar, André.”
Eu peguei na mão dele e o respondi:
“-André, eu sou Marco, prazer e obrigado mesmo pela ajuda, eu já estava a quase duas horas nessa luta.”
Ele sorriu:
“-Olha só ele fala”
E apertou forte minha mão, a tal ponto de me causar um pouco de dor.
“-Beleza Marco, agora que já terminei aqui preciso seguir, quem sabe se mais a frente não tem outra pessoa precisando de ajuda para trocar o pneu.”
Soltou minha mão, deu um tapa amistoso e de leve no meu ombro, seguiu para o carro dele, entrou e foi embora. Enquanto isso, eu ficava em pé ao lado do meu carro feito um idiota perplexo. Algo naquele cara me fascinou, o jeito dele simpático, a disponibilidade em ajudar, o humor e o corpo maravilho, tudo aquilo somado me fez me sentir ate feliz por ter furado aquele pneu.
Foi somente ao entrar no carro e ligar a ignição que me dei conta que não peguei nenhum contato dele. Tentei acelerar com o carro para ver se o encontrava mais a frente, mas o tempo que fiquei abestalhadamente em pé pensando no que tinha acontecido havia sido o suficiente para o perder de vista e por fim não consegui mais o encontrar. Cheguei em casa, tomei um banho e me joguei na cama pensando sobre o André. Ate lembro do meu ultimo pensamento antes de dormir.
“-É, apenas um desses que passa na nossa vida, que pena! Que pena mesmo!”
E peguei no sono profundamenteLá estou eu na borracharia para fazer a força do pneu furado. Passava das 4 da tarde de sábado e quase tive que implorar para que ele fizesse o reparo do meu pneu porque ele já estava fechando o estabelecimento, mas por fim ele aceitou me atender. Foi ao abrir a tampa da mala que vi a camisa de André. A peguei, dobrei e coloquei no banco do carona, ao terminar o serviço e chegar em casa, me sentei no sofá da sala segurando a camisa e fiz algo totalmente ridículo. Não sei por que o fiz, nunca me comportei dessa maneira, mas de tanto ficar observado a ela, simplesmente afundei meu rosto nela e a cheirei profundamente. Tinha um cheiro misto de desodorante e um leve cheiro de suor. Aquilo me remeteu a imagem dele retirando a camisa e por fim a uma punheta que bati ali na sala mesmo. Gozei em segundos sujando a minha camisa com meu esperma. Me recostei no sofa com a camisa dele em meu rosto.
“-O que diabos esta acontecendo comigo?”
O encontro de alguns minutos com André mexeu comigo e decidi que precisava encontrar aquele cara de alguma maneira.
Fiquei horas no Facebook analisando todos os Andrés que moravam na cidade, horas mesmo. Mas sem sucesso. Ja era quase meia-noite e decidi ir dormir. Dormi mal tentando bolar uma maneira de localizar o André, e acabei tendo um sono intermitente.
Assim no domingo de manhã voltei ao local do incidente, com a camisa em mão, claro, ela seria a minha desculpa para tentar encontra-lo. Fiquei varias horas parado no mesmo lugar na expectativa que ele passasse, mas nada, circulei o bairro a procura de um carro parecido, mas também sem sucesso. Marcia me ligou me chamando para ir almoçar na casa dela, mas dispensei, passei o domingo inteiro rodando de lá pra ca no bairro, perguntei no posto de gasolina se alguém o conhecia, mas o final foi que a minha busca terminou em vão. Decidi desistir de encontrar aquele homem novamente. Entendi que a passagem dele pela minha vida devia ser só aquela mesma, e eu tinha que aceitar isso. Pelo menos teria como lembrança a lembrança da camisa dele.
A semana se passou como de costume, trabalho, casa, e decidi procurar uma academia. O corpo de André me fez olhar para o meu mesmo e entender que eu precisava realmente me cuidar um pouco. Aos poucos a lembrança dele foi se tornando cada vez mais distante em minha mente. No domingo seguinte encontrei com Marcia e finalmente contei do acontecido.
Marcia: -Mas então, o que você esperava que iria acontecer se encontrasse com ele?
Marco: -Sei lá, não cheguei a pensar nisso, só queria ver ele novamente, se tornar amigo, não sei.
Marcia: -Engraçado, você esta solteiro a tanto tempo, me disse que estava cansado desses caras que só queria curtição e de repente se pega encantado por esse rapaz.
Marco: -Isso é muito doido, nem eu entendi o que aconteceu exatamente, só sei que do nada me vi encantado por esse menino.
Marcia: -Menino? Quantos anos ele tem?
Marco: -Não faço ideia, eu não sei nada dele, mas pela aparência ele é jovem, bem jovem.
Marcia: -Mas não é de menor né?
Marco: -Não, não chega a tanto.
Mas isso era uma verdade. Eu realmente não saberia como agiria se tivesse efetivamente encontrado com André novamente. Nem sabia o que eu queria com ele. Fantasiar é uma coisa, a realidade é outra.
Mas a minha vida seguiu e já se passava quase um mês do encontro com André. Volta e meia pensava nele. Quando via alguém sarado na rua ou na academia mentalmente traçava uma comparação com ele, ainda me masturbava algumas vezes lembrando dele simplesmente tirando a camisa.
“-Ah como seria maravilhoso lamber todo aquele corpo, chupar aquele peito...”
Pronto isso já me rendia a gozada. Porém já não tinha mais esperanças de encontra-lo. Ele tinha se tornado uma fantasia. E eu já aceitado isso e ia tocando assim mesmoEra feriado prolongado. Não trabalharia já a partir de quinta-feira. Ser funcionário publico tem essas vantagens, Marcia inventou de irmos para uma praia mais afastada, lugar que estava na moda, tinha muita badalação. Eu tentei argumentar que preferia algo mais tranquilo, talvez ficar em casa mesmo, mas não teve conversa. Ela botou na cabeça que eu tinha que ir com ela e o namorado e me arrastou. Claro que eu sabia que seguraria muita vela, mas quer saber? Pelo menos faria algo diferente de ficar em casa.
Os dias estavam ensolarados, e realmente, muita gente bonita. Mas eu não tava ai para farras e nem fusacas, foi só no sábado que me animei para tomar uma cerveja com Marcia e Rodrigo (o namorado dela) na beira da praia, e comecei a me soltar mais. O doce sabor do álcool causa esse relaxamento. Eu já estava bem falante o que não é o meu normal. Falar demais não faz parte de minhas características, quando percebi que eu já estava ficando alto. Para tentar cortar um pouco do efeito decidi tomar um banho no chuveiro em frente ao lugar que estávamos. A água gelada me ajudou a despertar um pouco. Fechei os olhos e deixei a água cair e escorrer pelo meu rosto. Não sei a quanto tempo estava ali, mas estava tão relaxado e estava muito boa aquela sensação, mas foi ai que ouvi aquela frase, aquela frase que fez meu coração acelerar e que me causou um frio no estomago.
“-Ah não! Não vai me dizer que o pneu dessa vez furou aqui!”
Ao abrir os olhos não acreditei. Era ele, sim, era André.