Walk Away - parte 7

Ele falou com um olhar tão serio, e raivoso que eu pensei que ele iria pular sobre me pescoço:

Bom, acho que agora você deixou tudo às claras. É, acho que eu entendi. Realmente lamento que você pense tão mal a meu respeito, não sou quem você pensa, Julho. Mas como você sempre julgou mal as pessoas e continua julgando, prefere se fechar no seu mundo, sem mesmo dar-lhes a chance de mostrar que elas não são tão perversas quanto você pensa.

È uma pena que você não tenha mudado nesses últimos anos. Eu realmente lamento muito. Cresce garoto, seu crianção.

Miguel falou aquilo e se levantou de onde estávamos sentados.

O que eu tinha feito? Eu tinha falado barbaridades para ele, sendo que ele só queria mesmo ser meu amigo.

Mais uma vez ele estava certo. Eu era preconceituoso mesmo. Meu Deus, eu sou a pessoa mais idiota do mundo! Do mundo não, do universo.

Idiota, crianção, mesquinho e preconceituoso. Fiquei sentado até depois que o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo. Só fui perceber que estava sozinho, quando o diretor me chamou, mandando que eu fosse para a minha sala.

Eu ainda estava pensando em tudo que Miguel me disse. Estava me sentindo a pior pessoa do mundo, com tudo aquilo.

Entrei na sala e vi que Miguel estava conversando com Maria de Lurdes, que estava sentada do seu lado esquerdo. Sentei no meu lugar e percebi que ele nem sequer me olhava, me ignorando de todos os modos, completamente.

Nós tínhamos voltado ao ponto de onde partimos.

O resto do dia passou exatamente daquele mesmo jeito.

Miguel me ignorou todas as aulas seguintes, me deixando ainda pior do que eu já estava.

Mas o que ele queria que eu pensasse? Que do nada ele tinha se tocado que podia ser meu amigo e agora eu era obrigado a aceitar tudo calado?

A verdade é que eu não tinha medo de ser amigo dele. Eu até seria, numa boa. Adoraria ser. O problema era que no meio disso tudo havia o fato de que eu era apaixonado por ele. E isso mudava tudo. MUDAVA MUITA COISA. Sabia que Miguel nunca corresponderia ao meu sentimento, ele é hétero até onde eu sei. E por isso eu tinha medo de me deixar ficar mais próximo dele, medo de sofrer, de um jeito ou de outro.

Era melhor que as coisas ficassem do jeito que eram antes. Ele era meu inimigo e eu o odiava. Com isso eu podia lidar.

A ultima aula terminou e eu sai da sala, seguindo para o estacionamento. Ouvi meu celular chamando, enquanto já colocava minha mochila encima da scooter.

e aí, Mirela, tudo bem? - perguntei

oi Julho, você sabe o que aconteceu com o Miguel? Ele chegou tão furioso aqui em casa.

Eu: bom, Mirela, acho que seu irmão e eu não somos muito chegados um no outro. Acho que percebemos isso e voltamos a ser o que éramos antes, dois estranhos que não vão com a cara um do outro.

Eu falei triste, fazendo uma careta.

Mirela: é uma pena mesmo. Eu estava torcendo para que tudo ficasse bem e vocês pudessem ser amigos.

Eu: pois é, Mirela, mas nem sempre as coisas são da maneira que a gente quer que elas sejam. Eu tenho que ir, tenho que ajudar meu pai na oficina . A gente depois se fala.

Me despedi, já ligando a scooter, o barulho estridente do motor tomando conta do ambiente.

As coisas tinham que ser do jeito que estavam, essa era a maneira. Essa era a maneira certa das coisas. desse jeito nada iria ficar fora do seu lugar, e o lugar do Miguel não era como meu amigo.

E com isso eu sabia lidar.

Já deu para imaginar que eu não consegui me concentrar na oficina. Alias eu odeio ajudar meu pai lá, credo! eu odeio tudo aquilo, graxa, pneu velhos, ferramentas pesadas, etc. Só trabalhava lá quando queria grana e tinha gastado toda minha mesada. Levei várias broncas do meu pai, por estar disperso demais.

Miguel tinha conseguido o que queria, eu estava com peso na consciência por tê-lo tratado mal. Subi para o meu quarto, mas antes tomei um banho demorado, tentando relaxar.

Vesti meu pijama surrado e caí na cama, exausto.

Mas mais uma vez o sono não veio. Fiquei jogado na cama tentando decidir o que fazer, tentando chegar a alguma conclusão plausível para aquilo tudo.

Ao final de tudo, eu soltei um suspiro. A melhor coisa a fazer era pedir desculpas, afinal eu tinha falado coisas chatas para Miguel. Mas como eu iria fazer isso?

Eu não sou muito acostumado com essas coisas de arrependimento, era uma situação meio complicada de lidar. Me levantei e coloquei a thousand years, tentando me acalmar para ver se eu conseguia dormir em paz.

Só consegui pegar no sono assim.

Acordei apressado, pulando da cama ao perceber que ia me atrasar. Tomei banho voando e fui para o colégio. Não tomei café, com medo de me atrasar ainda mais.

Cheguei na escola a tempo, pelo menos eu não estaria encrencado. Já estava farto de problemas para a minha cabeça.

Percebi, enquanto caminhava, que por onde eu passava era recebido por olhares curiosos e risadinhas. Não estava entendendo nada, mas no momento que eu vi um jornal cair nos meus pés, congelei.

Era o jornal da escola e a manchete era absurda. De tão absurda chegava a ser horrenda. A pouca reputação que eu tinha no colégio, tinha acabado de perder.

Extra, extra, descubra o mistério por trás da estranha amizade entre Miguel Guimarães e Julho Albuquerque.

Eu abri o jornal na página que continha a manchete e quase caio para trás de surpresa.

O titulo principal dizia:

Nunca fui beijado.

Quem tinha escrito aquelas asneiras? Quem era o responsável por aquela idiotice? No meio da matéria havia o seguinte:

Quem não achou estranha a repentina amizade entre o popular e o estranho?

Parece coisa de filme, não leitores?

É mas essa amizade revelou um segredo: a aluno Julho Albuquerque nunca foi beijado.

Ele, era claro. Agora eu estava entendendo tudo. Agora aquilo fazia sentido.

Vingança, era isso que ele buscava ao se aproximar de mim. Mas agora ele tinha cutucado a fera. Nada mais me impediria de trucidar Miguel Guimarães. A guerra estava declarada.

E eu estava pronto para a batalha.

E QUE A GUERRA COMECE ~