Fiquei olhando a TV, mas eu estava viajando nos meus pensamentos, eu estava desconfortável, era melhor ir embora, tentar esquecer novamente, continuar minha vida que estava indo tão bem, mas eu poderia me arrepender no futuro, então decidi continuar ali, até porque mesmo que eu fosse embora, não teria mais volta... alguém estava batendo na porta... Ricardo ainda não havia voltado... não sei da onde vei coragem, mas me levantei e fui à porta...
Ele não falou nada, ficou lá, parado me olhando, a surpresa em seu rosto confirmava que pelo menos ele me reconheceu, ele estava com uniforme de soldado, aqueles camuflados... o engraçado era que ele tinha não havia mudado nada, além de ter crescido um pouco mais que eu, mas seu rosto... era o mesmo rosto que eu vi tanto sorrir, o mesmo que eu vi chorar. Eu não sabia o que falar, eu olhava nos seus olhos, eu fazia uma expressão firme, não sei porque mas eu não queria demonstrar emoções... afinal, não sabia o que ele falaria quando me visse. Eu não sei se foram segundos ou minutos em que ficamos como estátuas nos olhando, mas depois de um tempo, Ricardo chega até nós...
- Olá meu filho, entre, vá trocar de roupa.
Luan passa rapidamente por mim sem dar uma palavra, e eu continuo lá, parado na porta olhando para a rua, então Ricardo coloca as mãos em meus ombros e me conduz até o sofá, me sento e ele me diz para me acalmar, ele vai até a cozinha e volta com um copo de água...
- Beba isso... eu vou me ausentar por algum tempo, vocês precisam conversar a sós.
Eu não entendi muito a atitude dele, ele não estranhou nada, não estranhou as nossas reações ao nos vermos, e ainda pegou um copo de água e pediu pra eu ficar calmo... era como ele soubesse, soubesse de tudo, será que Luan contou? Falando em Luan, depois que Ricardo foi embora, ele aparece na sala, estava com uma roupa simples, seu rosto ainda sem expressão, somente me olhava e nada mais.
- Luan eu...
Não tinha palavras, nada vinha à minha boca, eu estava perdido, pensando no quanto eu era um idiota por estar ali passando por aquela situação. Depois de um tempo, ele ainda em silêncio, decido ser verdadeiro...
- Luan, eu não sei o que dizer... cara, eu nem sei o porquê de eu estar aqui... mas... algo me levou até aqui, alguma coisa me dizia que eu precisava, que eu tinha que vir te ver. Eu não sei o que você está pensando, eu não sei o que você vai dizer, eu só sei que eu sinto muito... eu sinto muito por ter tirado um amigo de você, eu sinto muito por ter tirado um irmão de você, eu sinto muito por você não ter alcançado seu sonho e eu sinto muito pela sua mãe. Você era como um irmão pra mim, você sabe disso muito bem, o que você não sabe é que você ainda é como um irmão para mim...
- NÃO.
Essa foi sua primeira palavra...aquele firme "não", eu me assustei não entendi o que ele queria dizer com aquele não...
- O quê? Como assim "não"?
- Acha mesmo que depois de todos esses anos eu te veria como irmão? Você não sabe pelo que eu passei...
Ele começa a derramar lágrimas, mas seu rosto continua firme...
- Daniel... depois que você foi embora eu percebi uma coisa... percebi que o que você era meu motivo, você era minha razão, você era aquilo que eu tinha de mais precioso... aquele que eu queria deixar orgulhoso.
Eu comecei a lagrimejar também, a última coisa que eu esperava ouvir dele eram essas palavras, minha expressão era de surpresa por tudo aquilo que ele estava falando... e ele continua...
- Meu amigo... você era minha balança, você era minha razão de viver... depois que você foi embora eu fiquei depressivo, até tentei me matar, a imagem do seu rosto sofrendo por minha causa no último dia que nos vimos me torturava, mas quando eu pensava no seu rosto, na pureza do seu sorriso, eu recebia novas forças, eu queria muito te reencontrar... te pedir perdão. Comecei a trabalhar para conseguir dinheiro para ir pro Rio de Janeiro, mas a situação em casa apertou, minha mãe desenvolveu síndrome do Carpo, ela não podia mais fazer comida pra vender, tive que usar o dinheiro para ajudar com as contas e meu salário de entregador de pizza ia todo embora junto, a situação piorou depois que eu perdi o emprego, meu chefe descobriu a epilepsia... eu consegui outro emprego mas... quado minha mãe se foi... eu...
Ele chorava tanto que não conseguiu mais falar nada, então eu fui até ele e o abracei, felizmente ele corresponde e me abraça, me aperta, como se não quisesse que eu saísse...
- Por todos esses anos não achei ninguém que te substituísse, eu me sentia muito sozinho. Mano... eu não sou gay, eu não sinto atração por homens, mas se eu tiver que te amar desse jeito pra te ter como amigo...
Então ele para de me abraçar e me beija, senti ele muito tímido, mas depois de alguns segundos ele intensifica, me beija com vontade... naquele momento eu decidi o que eu iria fazer, mas antes de agir, eu queria aproveitar aquele beijo, o beijo com o qual eu tinha sonhado por muito tempo quando adolescente, mas isso é passado... paro de o beijar e olho em seus olhos...
- Luan, eu não quero te forçar a ser algo que você não é, você é muito especial para mim e eu te amo, mas...
- Eu não quero te perder de novo, se eu tiver que ser seu por completo pra você não me deixar de novo eu serei.
- Luan pare... minha paixão por você se esgotou em todos esses anos...
- Você não gosta mais de mim?
- Não é isso, eu amo uma pessoa, um cara, e eu estou apaixonado por ele...
- Ah... então... eu...
- Você não precisa fazer nada, eu ainda te amo como um amigo, eu ainda me importo com você.
- Eu.. então eu ... te beijei por nada?
- (risos) Não seu bobão, você me beijou pra me confirmar que você realmente é um amigo único no mundo inteiro e que eu não podia te deixar escapar.
Rimos um pouco, tímidos... nos abraçamos. Eu me sentia tão leve, tirei um peso do meu coração, eu amei o Luan de um jeito que nunca tinha amado ninguém, mas o tempo passou, e outro alguém me mostrou como era ser amado de verdade, como era ser desejado, Adam... ele me conquistou, porque eu ficaria massacrando meu coração ficando entre dois homens? Sendo que um deles estava disposto a ficar comigo contra sua natureza enquanto outro já tinha me provado seu infinito amor por mim? Eu não tinha porque fazer isso, eu não tinha porque magoar Adam e prender Luan a mim. Seria melhor assim, seria melhor ter o Luan somente como um grande amigo, de volta aos velhos tempos...
- Você nem imagina a falta que eu senti de você! (Luan diz ainda me abraçando)
- Agora tudo mudou, pode ter certeza que eu não largo mais seu pé.
Meu celular toca, advinha... era o Adam, quando eu sorri ao ver o nome dele no celular Luan logo vem ver também...
- Hummm quem é esse tal de Adam? É o sortudo que te laçou?
- É ele sim.
- Deixa eu falar com esse cara...
Luan arranca o celular da minha mão e corre pela casa e eu corro atrás dele...
- Luan me devolve esse celular!
- Ah não, não mesmo... Alô? Oi, é o namorado do Daniel?
- Luan para com isso, me dá meu celular!
Ele continuava correndo de mim e começou a bater papo com meu namorado...
- Aqui é um ex do Daniel, vou te falar uma coisa, presta bem atenção... sim sim ele tá bem relaxa...
Parei de correr atrás dele, fiquei curioso pra ouvir o que ele ia falar...
- Seguinte, se um dia o Daniel vier me dizer que você magoou ele de alguma forma eu juro que eu vou aí pra te dar uma surra tão grande que você vai desejar nunca ter conhecido o Daniel.
Então Luan fica em silêncio, Adam estava dizendo alguma coisa, e pela expressão no rosto do Luan devia ser algo... engraçado? Luan me olhava rindo silenciosamente, até que depois de um tempo ele fala me entregando o celular...
- Toma... (eu pego o celular) ele está aprovado, sejam muito felizes juntos.
- O que ele te disse?
- Ele disse que nunca iria desejar nunca ter te conhecido, disse que te amava mais que tudo no mundo, disse que tava indo pro aeroporto vir te buscar e desligou na minha cara.
Eu despenquei em risadas, gostei muito do que o Luan fez, embora com certeza Adam a essa hora devia estar com o coração na mão...
- Por que você disse que era meu ex?
- Só pra aumentar o efeito.
Rimos mais um pouco e eu tive que ligar pro Adam pra esclarecer tudo, claro que não falei do beijo, falei que estava na casa de um amigo muito doido que sabia que eu era gay e que queria comprovar se o meu namorado me merecia. Mesmo depois de muita resistência convenci ele a não pegar um avião.
Depois de tudo, eu e Luan conversamos com mais calma, ele me falou que tentou concursos militares várias vezes, mas só tinha passado pra ser soldado, e que por trabalhar tanto e ainda ajudar em casa não tava com tempo pra estudar. Falamos um pouco de nossas vidas nesses anos e dos velhos tempos, então me vem a cabeça de perguntar do pai dele, como a curiosidade estava grande e não escondíamos mais segredos...
- Luan, e o seu pai? Ele já sabe de mim?
- Depois que minha mão morreu ele veio morar com a gente, de início a convivência era difícil principalmente para meu irmão, eu segui seu conselho, disse a ele que o amava como ele era, já meu irmão continuou um pouco frio com ele, mas hoje em dia está um pouco melhor. Há uns dois meses atrás eu falei de você, acho que ele era a pessoa certa para conversar sobre esse tipo de coisa, ele me perguntou se eu te amava, e eu disse que sim, mas disse que amava quem você era por dentro, pois não me via agarrando um homem, ele incentivou para eu rever meus conceitos, para pensar na possibilidade de ficar com um homem, mas eu tinha certeza da minha sexualidade.
- Ele me perguntou se eu estava namorando, achei estranho. (risos)
- Eu entendo a esperança dele de ter um filho gay, mas não vai rolar. (risos)
- Mas você respeita ele, e isso é o que importa, e ainda tem o seu irmão...
- Ah ta bom... (risos)
Depois de um tempo meus pais ligam pra saber de mim, marco com o Luan pra nos encontrarmos antes de eu voltar pro Rio. Naquele mesmo dia mais tarde ligo pra Mel e conto tudo que havia acontecido, ela ficou muito feliz e me desejou tudo de bom, aproveitei e convidei ela pro encontro também. Sexta feira a noite fomos a um restaurante, eu Mel e Luan, nos divertimos muito falando dos velhos tempos, foi muito bom. Sábado de manhã nos encontramos no aeroporto, até o pai do Luan veio se despedir.... apresentei todos aos meus pais, claro que ninguém falou nada sobre sexualidade...
A despedida não foi difícil, no mundo que a gente tá não dá pra perder contato, pequei todos os números de celular da casa do Luan e da Mel, eu não perderia o contato com eles nem na morte (ta, exagerei)...
Chegando no Rio, vou até a casa de meus pais em Niterói para pegar meu carro. Antes de decolarmos eu tinha falado com o Adam, ele me disse que estava morrendo de saudades e me pediu para quando eu chegar fosse imediatamente ao apartamento dele já que os pais dele não estariam lá. Passo em casa e tomo um banho, afinal eu já sabia o que iria rolar, então fui direto para lá. Quando nos vimos é claro que não falamos nada, imediatamente nos beijamos, ele estava lindo, muito bem vestido para alguém que estava em casa... ele fala...
- Tenho uma surpresa pra você meu amor...
Vamos nos beijando até seu quarto, logo começamos a nos despir... quando ficamos só de cueca ele abra uma porta do armário, eu fiquei surpreso, era...
- Chocolate?
- É, você não disse que amava chocolate?Então decidi incrementar um pouco nossa relação...
Bombons ornamentados, pequenos ovos de chocolate, creme de chocolate, ali tinha de tudo... ele manda eu me deitar e começa a colocar creme (de chocolate, claro) pelo meu peito, abdômen e começa a lamber... de início eu pensei que ele estava louco, mas depois vi que era uma grande ideia... como era bom sentir ele me lambendo todinho... ele tira minha cueca e faz a mesma coisa no meu pau que já estava ereto, pega um bombom e faz eu morder com ele mordendo do outro lado, claro que nos beijamos depois, nos beijamos muito. Depois eu faço a mesma coisa nele, ele sorria para mim apaixonadamente... e eu vidrado naqueles olhos digo...
- Adam eu te amo, te amo muito!
Ele me olhou como se eu fosse a coisa mais linda que ele já tinha visto na vida, era assim que ele me fazia se sentir, amado, muito amado.
- Eu também te amo Daniel...
Eu não poderia estar mais feliz, com um cara que me ama e que eu aprendi a amar, com amigos verdadeiros com quem eu podia contar, com meu futuro profissional sendo construído da maneira que eu queria, tudo estava perfeito... e só para inteirar... Luan ao final daquele ano conseguiu entrar para a academia de oficiais da marinha para minha felicidade completa. A vida é algo complicado, as vezes cruel, as vezes simpática, as vezes generosa e as vezes injusta... as vezes você pode achar que está tudo desmoronando, que nada dá certo, mas no fim tudo depende de você, tudo depende de suas escolhas, atitudes e esforços... somando isso a um objetivo, a um sonho de uma vida, sempre haverá forças para prosseguir.
[FIM]
Galera esperam que tenham gostado do último capítulo, deem sua opinião geral do conto e não esqueçam de votar heim...
Esse conto foi baseado no que eu passei, houve muitas mudanças de lugares e nomes, mas a essência está aí...
Espero ter passado uma boa mensagem para vocês, principalmente os que estão sofrendo por amor não correspondido, se você sabe do fundo do coração que não tem jeito, cara... parte pra outra e vai ser feliz!
Eu gostei muito da experiência de montar esse conto, então vou começar a fazer outro, fictício, mas caprichado, vou extravasar um pouco com umas fantasias de nerd que eu tenho, mas acho que vai ficar bacana, se derem vontade deem uma lida no primeiro capítulo que já está online, o nome é "Estranhos Apaixonados" e vai ser um pouco no estilo dos X-Men.
Abraços galera!