Desejo e degradação (parte 6)

Um conto erótico de Sahid
Categoria: Heterossexual
Data: 09/10/2010 17:09:32

Helena, do limbo ao inferno

Quando dona Alice, a beata, terminou de contar a cena que presenciou na trilha à boquiaberta mãe da jovem Helena, o resto da cidade já se deleitava com a história que corria de boteco em boteco.

Por onde quer que se fosse, havia sempre alguém imitando as reações injuriadas das beatas ao se depararem com Osvaldo; sentado de pernas abertas sobre sua moto, com a calçinha de Helena enfiada na cabeça, enquanto a jovem, também de pernas abertas e com o “bundão” apoiado sobre o tanque de combustível, estava de fronte a ele, com seus braços envolvendo-lhe o pescoço e o quadril rebolando freneticamente por baixo do vestido parcialmente levantado.

Naquele mesmo dia, Osvaldo partiria de volta à faculdade e para junto de sua noiva, enquanto Helena ainda arrumava as malas, pois entre gritos exaltados de mãe e lágrimas soluçadas de filha, fora sumariamente expulsa de casa e também da cidade.

- Você me envergonha menina! – Berrava a velha. – Sua meretriz imunda e asquerosa!

- Mãe...

- Suma daqui e nunca mais volte. Prefiro morrer, à ver novamente essa sua carcaça nojenta, apodrecida pelo pecado!

- Por favor... é que eu amo o Osvaldo! – Implorava Helena de joelhos e agarrada ao avental da mãe.

- Você ama apenas a fornicação e a imoralidade! – A velha subiu ainda mais um tom em sua histeria. – Você não passa de uma rameira da pior espécie. Maculou minha casa. Sujou o lar do seu pobre pai com sua devassidão. Vagabunda!

- Mas o Osvaldo...

- O Osvaldo, seu pobre primo, tão trabalhador e dedicado à família, foi apenas uma vítima da tentação que você impõe a cada homem que cruza o seu caminho. Você o seduziu covardemente, fazendo uso de armadilhas libidinosas, trazendo-o ao antro de perdição que é o seu próprio corpo e aprisionando o moço infeliz, outrora tão bem encaminhado, ao ardil que fumega entra as suas pernas. – Ela fez uma breve pausa e prosseguiu nas difamações. – Você nem percebe o que fez com o coitado do menino, que saiu daqui às pressas, envergonhado, como se a culpa fosse dele... pobre e querido Osvaldo, teve a sua inocência e sua honestidade corrompidas por uma porca leviana e inescrupulosa. Chego a não acreditar que alguém como você tenha saído de meu próprio ventre.

- Mãe... – As súplicas da filha já não passavam de miados tristes e chorosos. – Juro que nunca mais vou decepcioná-la.

- No fundo eu sempre soube. – Continuou a mãe subitamente falando baixo, mas com a ira estampada nos olhos marejados. – Desde que você era pequena, eu sempre soube, no fundo do meu coração, que o diabo habitava a sua alma e transformava o seu corpo num poço negro de pecados. Eu sabia que um dia você traria a desgraça para dentro dessa casa com suas formas, que deveriam ser como as de uma criança, mas que já traziam as curvas suaves que levariam todos os homens que pusessem os olhos em você ao caminho da luxúria. Você é a encarnação do demônio, e o demônio não tem lugar nessa casa, pois Jesus, nosso senhor, está comigo!

- Deixe-me ficar... por favor...

- Você diz que nunca mais irá me decepcionar. Que piada! Pois eu digo que, uma vez prostituta... sempre prostituta. – Sentenciou gravemente a velha. - Você tem o couro gangrenado pela mais vil podridão, e precisará arder no fogo eterno do inferno para remover todo o excremento impregnado em seu espírito devasso.

- Mãezinha...

- Suma daqui! – A velha atirou-lhe no rosto algumas notas amassadas e moedas de diversos tamanhos, que retirou de uma lata que ficava por sobre o armário da cozinha. – E nunca mais volte a esta cidade.

Uma hora e meia depois, Helena embarcaria num ônibus local que a levaria até a rodoviária. E de lá partiria em outro, menos sujo e mais confortável, rumo à capital.

Roberto, o fotógrafo

Ao descer do ônibus na cidade grande, Helena tentou enxergar algo de positivo na situação... e acabou conseguindo.

Finalmente poderia sair em busca da carreira de modelo que tanto sonhava, pois junto da mãe, que encarava tal profissão como “coisa do demônio”, ela jamais teria a chance que se deslindara agora.

Depois de se hospedar na pensão de um senhor extremamente obeso e peludo, que usava sempre a mesma camiseta regata suja e banhada em suor, ela colocou sua melhor roupa e saiu em busca das agências de modelos. Já na primeira, porém, descobriu que precisava de um book , e ao procurar os estúdios de fotografia descobriu também que eles estavam completamente fora de seu limitado orçamento.

Tombou então, o primeiro dominó de expectativas que trazia consigo, pois estava acostumada a ser cortejada e não a cortejar. Em seu íntimo tinha a esperança de ser contratada imediatamente, mas ao contrário dos homens da roça, que viviam tecendo elogios à sua beleza, os olhos treinados e experientes da cidade pareciam não notar nada de especial em sua fisionomia e tampouco em seu corpo.

- Sem book nada feito, queridinha. – Dissera-lhe um atendente com trejeitos homossexuais.

Passou aquele dia inteiro na cidade, batendo pernas de agência em agência, voltando apenas tarde da noite ao seu quartinho na pensão, que não era grande coisa, mas pelo menos tinha uma cama de campanha com um colchão de molas, e uma pia de plástico num dos cantos, perto da janela de vidros ensebados.

- O chuveiro fica no fim do corredor. – Apontou o suado senhorio, sem tirar, por um instante sequer, os olhos do traseiro de Helena, cujo rosto se contorceu numa expressão de asco ao chegar no local indicado e constatar a total falta de higiene do ambiente.

No pequeno cubículo havia uma pia de plástico igual àquela do quartinho, porém, bem mais suja. A torneira era tomada por uma grossa camada de limo, o que lhe dava náuseas só de olhar. Um pouco acima pendia um espelho rachado, totalmente engordurado e com uma moldura amarelada sobre a qual, um bocal pendurado em fios desencapados continha uma pequena lâmpada de quarenta watts, que tentava inutilmente iluminar o fétido ambiente. O pequeno bulbo luminoso mal dava contornos ao chão coberto pela lâmina de água suja que transbordava do vaso sanitário entupido, sem tampo e encardido, além do qual, via-se o que fora outrora uma divisória de vidro, quebrada e riscada por filetes de sangue ressequido. Da parede, à direita, saía um cano de vinte e cinco milímetros que trazia na extremidade um chuveiro antigo e muito pesado para o tubo, mas que era sustentado pelos fios elétricos que desciam por um buraco na laje. As paredes, sem reboco, estavam cobertas por escritos ofensivos até mesmo aos analfabetos, algumas frases inclusive, rabiscadas com gravetos ou afins, embebidos em fezes humanas.

- Vou ter que dividir “este” banheiro com os outros inquilinos do andar? – Helena lutava para conter o vômito que lhe chegava à garganta.

- Bom... – Respondeu o homem dando uma apalpadela numa das nádegas generosas da moça. – Talvez eu a deixe usar o meu.

No quarto não havia lâmpadas, então ela contou o que restava do dinheiro que a mãe lhe dera, antes de escorraçá-la de casa, na pouca luz que a vidraça subtraía da rua; constatou que não lhe restava muito.

Decidiu que, no dia seguinte, procuraria fotógrafos free-lance, ou em estúdios menores, algo mais barato enfim.

Acabou encontrando um pequeno estúdio numa rua cheia de lixo e mendigos. A vitrine trazia em letras tortas e mal pintadas anúncios de serviços fotográficos para festas de casamento, formaturas, batizados, etc. Nada, porém, de books e fotos de modelos.

Resolveu entrar assim mesmo, mas uma vez lá dentro, ao se deparar com um único atendente desleixado e com a barba por fazer, envolto pela névoa espessa e malcheirosa do cigarro sem filtro que fumava, fez meia volta e partiu rumo à porta.

- Hei moçinha! – Era o atendente. – Posso ajudar?

Helena voltou-se devagar, subitamente corada.

- Não precisa fugir não. – Ele jogou meio cigarro no chão e o apagou com a bota por trás do balcão de vidro parcialmente remendado com fita duréx.

Ele a olhou com mais cuidado e instintivamente levou a mão ao saco, ajeitando-o por sobre a surrada calça jeans, e como ela não se movia, ele continuou gracejando:

- Vem cá peitudinha, não vou te morder.

Quando ela ameaçou dar um passo em sua direção, ele concluiu sorrindo lascivamente:

- Só se você pedir.

Seu nome era Roberto Farias, fotógrafo medíocre e falido, que esperava receber, a qualquer minuto, uma nova ordem de despejo de sua lojinha imunda e deserta que lhe servia também de residência.

Roberto quase teve um aneurisma de tanto rir, quando Helena disse que queria ser modelo e que precisava de um book.

- Olha só meu bem. – Disse enxugando as lágrimas do riso. – Você é muito gata, gostosinha pra caralho, mas modelos de verdade são vinte centímetros mais altas e quinze quilos mais magras do que você. Além do mais, quase não tem peitos, e suas bundas não são nem tão largas quanto uma de suas coxas.

Helena não iria desistir de seu sonho, mas por hora, ouvira o suficiente, queria sair dali o mais depressa possível, e ao colocar a mão no trinco da porta, suas lágrimas já banhavam o vale entre seus seios.

- Espera aí peitudinha! – Chamou Roberto. – Se você quer tanto um book, eu faço as fotografias.

- Não importa, pois também não tenho dinheiro suficiente para pagar a revelação. – Disse ela soluçando.

- Nesse caso, você poderia pagar com trabalho, ficando aqui no balcão e atendendo a clientela da loja.

Helena aceitou a troca, mas nas duas semanas seguintes, não viu um cliente sequer, apenas cobradores que a xingavam enquanto Roberto se escondia nos fundos, encolhido num canto do quarto escuro.

Mesmo assim, chegava ao “emprego” todos os dias por volta das oito horas, trazendo pão e manteiga que comprava com seu próprio dinheiro, e depois fazia o café da manhã do fotógrafo.

Depois de vê-lo devorando um sanduíche após o outro, Helena lavava as xícaras debaixo de uma torneira enferrujada nos fundos do prédio e passava a varrer e passar o pano na lojinha, ouvindo os arrotos de Roberto, que geralmente fazia a digestão sentado por sobre o balcão alquebrado, com um cigarro numa das mãos e uma garrafa de cerveja na outra.

Quando ela terminava a limpeza, ele a comia no quartinho dos fundos, na minúscula sala escura ou ali mesmo, sobre o balcão, com um pequeno grupo de mendigos olhando excitados pela vitrine fosca.

O fotógrafo era natural de outro estado, onde aprendeu a profissão com o seu pai, mas alguns desvios em sua personalidade foram descobertos pelo mesmo, que acabou denunciando o próprio filho à polícia, transformando-o num foragido.

O velho Farias, por diversas vezes, chamara a atenção do filho a respeito das fotografias que este tirava durante as festas de casamento que cobriam.

- Os casamentos representam mais de noventa por cento do nosso faturamento. – Disse-lhe ele na época. – E não podemos perder esse filão.

- Sei disso pai, afinal faço as fotos de três ou quatro casamentos por semana.

O experiente fotógrafo olhava os últimos retratos do filho, dispostos de forma aleatória sobre a mesa do estúdio da família, com um ar preocupado e indignado.

- Se isso é um casamento, onde estão as fotos dos noivos?

Enquanto Roberto, corado, procurava pelas poucas fotografias solicitadas, o seu pai continuou mostrando as fotos de uma criança:

- Quem é essa?

- Sei lá, deve ser filha de um dos convidados.

- Se você não sabe de quem se trata, por que bateu mais de trinta chapas dela?

O velho observou que, em algumas das fotos da menina desconhecida, a mesma parecia estar em um ambiente secundário e fechado, longe da festa, pois não aparecia mais ninguém ao fundo ou do lado dela. As paredes que a emolduravam também lembravam mais um velho galpão, nada semelhante aos enfeites de um salão de bailes.

O pai de Roberto não comentou as poses da criança, muitas vezes agachada com um dedo na boca, de costas olhando por sobre um ombro ou levantando um pouco o vestidinho. Nem a expressão de medo que lhe inundava o frágil rostinho angelical.

- Meu Deus, Roberto. – O pai estava pesaroso e indignado. – Ela deve ter no máximo seis anos.

Alguns dias depois, quando a polícia bateu na porta do estúdio, o pai do pedófilo já havia reunido outras fotos comprometedoras, pronto para entregá-las às autoridades. Mas Roberto, percebendo o nervosismo e antecipando-se à decisão do velho, havia deixado a cidade naquela mesma manhã, com apenas uma mochila nas costas, uma Nikon pendurada no pescoço e um maço de dinheiro (todas as economias da firma familiar) no bolso.

- Estamos procurando o Sr. Roberto Farias. – Disse gravemente um dos policias.

- Pois não, sou o pai dele. – O velho era o próprio retrato da tristeza e da desolação. – Ele está lá em cima, no quarto... podem buscá-lo. – Disse ficando de lado, e abrindo caminho à comitiva de algemas em punho.

Naquela hora, o ônibus do procurado atravessava sua primeira fronteira estadual.

- Tem gente olhando. – Disse Helena apontando a vitrine.

- Deixe-os, são apenas pedintes, moradores de rua. – Roberto, por trás dela apertava-lhe a cintura e metia ainda mais forte. – Já que não tem televisores, divertem-se conosco. Somos como um cinema pornô ao vivo.

No fim do expediente, ele gostava de dar mais uma “rapidinha”, mas geralmente, com alguma sorte, ela escapava só com uma espanhola básica.

Roberto mal acreditava na sorte que tinha. Depois de ser caçado como um animal pela polícia de vários estados e de perder a clientela devido aos seus olhares lascivos em direção a qualquer menininha que se aproximasse, Helena, essa Deusa de quatorze anos, uma caipira sem família e sem dinheiro, caiu como um presente em seu colo.

Claro, ela estava um pouco acima da faixa etária que ele preferia, mas nem tudo é perfeito, certo? O que importava mesmo é o prazer que aquela criança idiota e sonhadora lhe proporcionava.

- Quando faremos as fotos? – Perguntou furiosa numa certa tarde ao recolocar o sutiã.

- Só quando você terminar de me pagar.

- Já paguei o suficiente. - Disse decidida. – Ou você faz as fotos, ou procuro outro canalha com uma câmera pendurada no pescoço.

Na manhã seguinte, ele tirou o pó da velha Nikon e passou o resto do dia fotografando a jovem e sonhadora Helena. E já que nenhum dos dois tinha a mínima idéia de como fotografar uma modelo, tiraram retratos de tudo o que é jeito; primeiro com seu próprio vestido, depois com sua lingerie e finalmente nua.

Helena posou de pé com as mãos na cintura, segurando os seios e mandando um beijo pra câmera, de quatro sobre o balcão, sentada numa velha cadeira de pernas escancaradas e com um dedo sensualmente na boca.

Roberto disse que revelaria os filmes durante a noite e que no dia seguinte poderiam ver o resultado.

- Mal posso esperar. – Disse a menina, com um sorriso naturalmente inocente.

Às sete horas da manhã, Helena estava eufórica e entusiasmada, batendo freneticamente na porta de vidro da loja. Nem se importava com o pedinte encardido ao lado, que tentava boliná-la por baixo do vestido com mãos machucadas e purulentas.

- Robertoooo! Acorda! – Gritava alegre.

Quinze minutos, três tapas e um chute na genitália do mendigo depois, o fotografo destrancou a porta com olhos inchados, frutos da noite que passou em claro.

- Como ficaram?

- O que? Quem?

- As fotografias! – Ela dava pulinhos de excitação.

Roberto notou como seu sorriso era autêntico, ingênuo e terrivelmente encantador.

- Na verdade... – Começou, coçando a parte de trás da cabeça e fazendo uma careta triste. O sorriso no rosto de Helena se desfazendo aos poucos. – Ficaram ótimas! – gritou abraçando-a e girando com ela pela lojinha.

Quando a colocou no chão, ela lhe deu um soco amistoso no braço.

- Você me enganou safado!

Ainda rindo e brincando, espalharam os retratos pelo balcão. Roberto sabia que eram fotos boas para revistas pornográficas, porém, jamais seriam consideradas por qualquer agência de moda, mas Helena não sabia disso e achou que ficaram divinas; que mostravam o melhor que ela tinha dar.

- É o melhor que você tem pra dar mesmo! – Concordava o fotógrafo, ajeitando a ereção que teve olhando todos aqueles retratos.

Ela não se incomodou por ter de passar o resto do dia trepando com ele, tamanha era a sua felicidade.

Lá pelas cinco da tarde, Helena começou a juntar as fotos e guardá-las em sua bolsa.

- Hei peitudinha, posso saber o que você está fazendo?

- Pegando minhas fotografias ora. Amanhã cedinho quero entregar algumas em cada uma das agências desta maldita cidade.

Roberto não poderia permitir isso, pois ela nunca mais voltaria. Seria o fim das espanholas, boquetes, da loja limpinha e principalmente do café da manhã fresquinho.

- Olha só. – Começou ele, escolhendo com cuidado as palavras. – Eu conheço todas essas agências e adoraria apresentar suas fotos.

- Pode deixar que eu mesma as levarei, mal posso esperar. – Ela estava radiante.

- Além do mais, eu tenho que revelar mais algumas cópias e... dispô-las em álbuns! – Finalmente ele encontrara o argumento perfeito. – Sabe peitudinha, as agências não aceitam fotografias soltas.

- Já que você está dizendo...

- Claro, deixe-as comigo e quando aparecerem alguns desfiles pra você, virão aqui procurá-la.

Roberto seguiu a alegre Helena com os olhos até que esta desaparecesse dobrando a esquina, só então pegou o maço de fotografias e jogou-as num saco de lixo. Pensou que levaria um tempinho até que ela percebesse que agência nenhuma a contrataria, mas até lá, ele teria pão fresquinho e boceta quentinha todos os dias.

CONTINUA...


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