Afinidade secreta 4

Um conto erótico de Lígia
Categoria: Heterossexual
Contém 1061 palavras
Data: 03/09/2010 11:51:40

(Continuação 4)

Para ela foi um longo período de ausência. Tão insuportavelmente longo que numa noite se viu outra vez como uma adolescente, dentro do carro, esperando que ele saísse da clínica para que pudesse vê-lo mesmo que de longe por alguns minutos. Isso de alguma forma disfarçaria a sua saudade, sem impor a presença, que ela tinha certeza, não era desejada.

Como outros sentimentos que não o interessavam, disso também ele não ficou sabendo.

Mas não deixaram de se comunicar. Agora o preocupavam também decisões quanto a desfazer uma sociedade. Estava há muito tempo na mesma clínica e analisava as vantagens de uma nova perspectiva profissional.

Baseando-se em mudanças de outra ordem vividas, ela comentou que geralmente resistimos às mudanças, mesmo quando não estamos felizes e depois percebemos que poderíamos ter ficado por bem menor tempo numa circunstância que não mais nos agradava.

Já estávamos em Novembro e então ela percebeu que logo faria 1 ano que não se encontravam. Ela não contou que nesse tempo conheceu outra pessoa, pois isso não tinha sido importante. Não contou também que esteve fascinada por alguém que tinha características físicas muito semelhantes às dele.

Ele estava de volta como antes, e insistentemente pedia uma visita dela como presente de aniversário. Ela lembrava que naquela mesma data, antes comemorava o aniversário do casamento agora desfeito.

Na verdade, não a agradava a idéia de ter ficado tanto tempo sem vê-lo e sabia que ir ao consultório significaria ficar um tempo considerado normal para uma consulta, o que era pouco demais para tanta saudade. Mas, como das outras vezes, ela se decidiu pelo que era possível.

Por telefone ele já tinha explicado como gostaria que ela agisse. Assim era o Mestre que sempre preferia o previsível às surpresas.

Ela escolheu um vestido amarelo, bem leve e alegre, como estava o seu coração.

Como sempre, na recepção preenchia falsas informações para que não ficasse ali nenhum sinal da sua real presença.

Quando seu falso nome era chamado sentia suas pernas trêmulas, verdadeiramente.

No tempo curto que permanecia no elevador sentia todo o corpo se manifestar com a iminente presença dele. Esses momentos, ela comparava com o alívio da dor quando um gelo é imediatamente colocado sobre a pele queimada. Imaginar-se há poucos segundos dele a fazia queimar de excitação, e só sua presença e carícias aliviariam aquela euforia.

Aqueles poucos passos do elevador à sala dele eram tão difíceis quanto os dos atletas quando vêem a linha de chegada, ela supunha. Ela já o via próximo à porta aberta.

Ele sempre parecia mais calmo, mas certamente controlava melhor sua ansiedade.

Ela, ao contrário, era apressada demais para abraçá-lo e beijá-lo efusivamente. Ele correspondia e às vezes parecia até surpreso, tanto era o tesão que ele inspirava.

Sentou-se no seu lugar de médico e ela em frente, obedecendo exatamente o que ele determinara: Afastando a cadeira para que ele a visse levantando o vestido e abrindo as pernas, mostrando que estava toda lisinha como ele gostava.

Então, mandou que ela se levantasse e se apoiasse sobre a mesa. E novamente, como o gelo que alivia a pele que queima, ela precisava sentir os dedos dele sob o vestido levantado, deslizando entre suas pernas. Ele ouvia os gemidos no lugar dos gritos que ela não podia soltar.

Os momentos que ficavam juntos eram para ela uma amnésia completa sobre tudo que ficava lá fora. Não ouvia outros sons, exceto aqueles que eles mesmos causavam. Não pensava em absolutamente nada, como se eu cérebro reconhecesse tão somente os estímulos do prazer.

Ela deixara o consultório, já com o seu próximo endereço. Não como uma paciente informada de um mal sem cura. Ao contrário, encontrava ali o pouco dele que tanto ela precisava para sentir sua alma saudável e cheia de vida.

Ainda no caminho de casa ela recebeu uma mensagem que dizia: “Você está muito gostosa, mas precisa ter alguns cuidados”. Ao que ela respondeu que seria mais cuidadosa, sem entender ao que ele se referia. Talvez após ela sair ele tivesse percebido alguma marca de batom na sua roupa, ou quem sabe sentido algum cheiro de cigarro que ele não tolerava.

O Mestre invariavelmente exigia dela limites. Mas ela soube desde que o vira pela primeira vez, que aquele homem a tornaria capaz de comportamentos tão únicos, quando se tratava da vontade dele.

Talvez ele a sentisse uma escrava submissa apenas quando algemada. No entanto, para ela as algemas materializavam sentimentos de um coração totalmente aprisionado. Sobre tais sentimentos ela nunca falava.

Preocupava-se em não ser inconveniente e invasiva. Era preciso se manter distante e dar a ele a tranqüilidade necessária para adaptar-se às novas circunstâncias no trabalho. Preferia esperar que ele se manifestasse, embora isso geralmente demorasse muito mais do que ela gostaria.

Mas quando ele a procurava, era como se o sol brilhasse repentinamente entre as nuvens de um dia nublado.

Demonstrou a vontade de vê-la, quando participava de um congresso no Macksoud Plaza. Poderiam se encontrar durante uma pausa mais longa no último dia do evento.

Ele estava especialmente alegre, o que a fazia ter a certeza de que estava feliz com a decisão tomada com relação à nova sociedade. Mas, desde então, não mais demonstrou vontade que ela o visitasse. Então, até hoje ela continua apenas com o novo endereço.

Ela saiu do toilette, onde conferiu no espelho a imagem que ela gostaria que o agradasse quando atravessasse o hall do hotel para encontrá-lo.

Usava uma saia preta com um zíper que facilmente a desvendaria. Uma blusa macia, salmon, de uma malha fina o suficiente para deixar transparecer os biquinhos durinhos, que ele já acariciava, ainda no carro.

A intrigava todo o desembaraço dele naquelas ruas tão desconhecidas por ela e, supostamente, não tão constantes nos trajetos diários dele.

Enfim, ele estacionou na garagem daquele quarto de motel, onde sem dúvida ela não conseguiria retornar.

Tinha sugerido que ela levasse uma vela e logo ela pode entender o porquê.

Deitada na cama, com os olhos vendados, ela sentia os pingos quentes da parafina traçarem uma linha que descia pela barriga, ameaçando chegar aos pontos que ela já sabia úmidos e quentes. Ironicamente, tocava uma música confirmando que “sexo vem dos outros, e vai embora. Amor vem de nós, e demora.” Como ela poderia discordar disso? Não discordaria, e estava ali pelo que vinha dele.

(Continua)


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