Parte 2
A viagem para Veneza foi feita quase em completo silêncio. Matteo mantinha o olhar fixo na estrada enquanto dirigia, as mãos firmes no volante. O motor do carro ronronava baixo, mas dentro do veículo o silêncio reinava, carregado de tensão e expectativa. Fabíola, sentada no banco do passageiro, lançava olhares furtivos para Matteo, mas ele parecia preso em seus próprios pensamentos, como se estivesse se preparando mentalmente para uma batalha.
Quando finalmente avistaram a cidade de Veneza à distância, Fabíola sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A cidade parecia ao mesmo tempo mágica e ameaçadora. A luz da tarde refletia sobre os canais, criando um brilho cintilante que contrastava com a sensação de algo sombrio que os aguardava.
— Fabíola — Matteo finalmente quebrou o silêncio, a voz grave e cheia de intensidade — Quando chegarmos lá, eu preciso que você faça exatamente o que eu digo. Sem desvios. Sem interrupções.
Ela assentiu, mas não conseguiu conter a pergunta que estava em sua mente.
— Você realmente acha que Stefano vai simplesmente… negociar?
Matteo soltou uma risada amarga, sem desviar o olhar da estrada.
— Stefano não negocia. Ele impõe condições. E se você não aceitar, ele encontra uma maneira de forçá-lo. É assim que ele trabalha.
Fabíola sentiu o peso daquelas palavras, mas decidiu não insistir. Em seu íntimo, sabia que Matteo estava tentando protegê-la, mesmo que sua maneira de fazer isso fosse mantendo-a à margem do que realmente estava acontecendo. Mas ela também sabia que estava completamente envolvida, quer ele admitisse ou não.
Quando chegaram às docas de Marghera, em Veneza, o sol já começava a desaparecer no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e violeta. As docas estavam desertas, exceto por algumas figuras ao longe, perto de um armazém abandonado que parecia prestes a desmoronar. Era o tipo de lugar que parecia ter sido feito para encontros clandestinos.
Matteo estacionou o carro em um local discreto e saiu, ajustando a jaqueta com um movimento firme, como se estivesse se preparando para uma guerra. Fabíola hesitou por um instante antes de descer do carro, mas a determinação em seus olhos era inabalável. Ela não deixaria Matteo enfrentar Stefano sozinho.
— Fique ao meu lado — Matteo disse, olhando diretamente para ela — E lembre-se: não diga nada. Stefano vai tentar te intimidar, te provocar. Não deixe que ele veja fraqueza.
Fabíola assentiu, mas suas mãos estavam trêmulas. Mesmo assim, ergueu o queixo, decidida a não demonstrar medo.
Ao se aproximarem do armazém, três homens surgiram das sombras, bloqueando o caminho. Eles eram grandes, vestiam ternos escuros, e a forma como os olhares deles analisaram Matteo e Fabíola deixou claro que eram mais do que apenas guarda-costas. Eram cães de guarda, prontos para atacar ao menor comando.
— Matteo Marcarini — um deles disse, com um sorriso que mais parecia um rosnado — Stefano está esperando. E… você trouxe uma companhia inesperada. O capo não gosta de surpresas.
— Ela está comigo — Matteo respondeu, a voz firme, mas controlada — Leve-nos até ele.
Os homens trocaram olhares rápidos antes de se afastarem, abrindo caminho para os dois. Matteo segurou a mão de Fabíola por um breve instante, um gesto rápido que parecia tanto um aviso quanto uma tentativa de tranquilizá-la, antes de soltá-la e seguir em frente.
Dentro do armazém, o cheiro de madeira velha e ferrugem impregnava o ar. As sombras dançavam nas paredes devido à iluminação fraca, e no centro do espaço vazio estava Stefano Meazza.
Stefano era exatamente como Fabíola imaginava e, ao mesmo tempo, pior. Ele era um homem de sessenta e poucos anos, mas exalava um carisma e uma presença que o faziam parecer muito mais jovem e perigoso. Seus cabelos grisalhos estavam penteados para trás com perfeição, e sua barba bem aparada destacava um sorriso que parecia ao mesmo tempo encantador e cruel. Ele usava um terno perfeitamente ajustado, mas era o olhar dele que mais chamava atenção. Seus olhos azuis eram frios, calculistas, como os de um predador.
— Matteo — Stefano disse, abrindo os braços em um gesto que quase parecia acolhedor — Que prazer te ver novamente. E você trouxe uma convidada! Chi è questa bellissima donna?
Fabíola sentiu o olhar de Stefano passar sobre ela como uma lâmina, avaliando cada detalhe. Matteo deu um passo à frente, bloqueando parcialmente a visão de Stefano sobre ela.
— Ela não é da sua conta, Stefano — Matteo respondeu, a voz firme, mas baixa — Estamos aqui para falar sobre o que você quer de mim.
Stefano sorriu, inclinando ligeiramente a cabeça como se estivesse se divertindo.
— Sempre direto ao ponto, não é? É uma das coisas que admiro em você, Matteo. Mas devo dizer, estou um pouco decepcionado. Esperava que você tivesse mais controle sobre sua propriedade. Deixar a filoxera se espalhar assim… che negligenza.
Matteo cerrou os punhos, mas manteve a compostura.
— Como se você não tivesse nada a ver com isso. O que você quer?
Stefano estreitou os olhos e caminhou lentamente até uma mesa improvisada no canto do armazém, onde uma garrafa de vinho estava aberta ao lado de duas taças. Ele serviu-se calmamente, saboreando o vinho antes de finalmente responder.
— Você sabe o que eu quero, Matteo. Uma vida por uma vida.
Fabíola sentiu o sangue gelar. Ela olhou para Matteo, mas ele estava imóvel, os olhos fixos em Stefano.
— Você tirou algo muito precioso de mim — Stefano continuou, o tom quase casual, mas cheio de veneno — Tommaso era meu único filho. Meu herdeiro. E você o matou.
— Ele estava atrás de mim — Matteo respondeu, a voz baixa, mas cheia de tensão — Você sabe disso. Era ele ou eu.
— Ah, claro — Stefano disse, sorrindo friamente — Sempre há justificativas, mas veja bem, Matteo, eu sou um homem prático. Não posso trazer Tommaso de volta, mas posso garantir que o sangue que você derramou seja pago… com mais sangue.
Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Matteo, mas seus olhos desviaram para Fabíola por um momento antes de voltar ao primo.
— Giovanni Dorigatti — Stefano disse, como se saboreasse o nome — O velho está acabando com os restos do que foi uma vez I Signori del Grappa. Ele é fraco, Matteo, e uma pedra no meu sapato. Mate Giovanni, e eu deixo você e sua família em paz. Nenhuma gota de sangue será derramada. Simples, não acha?
Fabíola sentiu o ar escapar de seus pulmões. Era isso. Stefano estava pedindo a Matteo que traísse a aliança com Giovanni e eliminasse o homem que havia ajudado a proteger as terras dos Marcarini.
Matteo ficou em silêncio por um longo momento. Sua postura estava rígida, e Fabíola podia ver o conflito estampado em seu rosto. Finalmente, ele falou, a voz mais controlada do que ela esperava.
— Você sabe que eu não posso fazer isso.
Stefano sorriu novamente, mas o sorriso não alcançou os olhos. Ele deu outro gole no vinho antes de colocar a taça de lado.
— Eu esperava que você dissesse isso — ele disse, quase num sussurro — Mas vou te dar um pouco de tempo para reconsiderar. Até lá, sugiro que você aproveite o que ainda resta da sua preciosa Colline Marcarini. E da sua família.
Fabíola sentiu Matteo dar um passo à frente, como se quisesse responder, mas ela segurou seu braço, um gesto discreto que parecia dizer: não aqui, não agora. Matteo respirou fundo e assentiu levemente, recuando.
— Andiamo — Matteo disse, virando-se para Fabíola e guiando-a para fora do armazém. Ela o seguiu em silêncio, mas sentiu o peso das palavras de Stefano pairando sobre eles como uma nuvem negra.
Quando chegaram ao carro, Matteo finalmente quebrou o silêncio.
— Ele nunca vai parar — ele murmurou, o olhar fixo na estrada à frente — Não importa o que eu faça.
Fabíola olhou para ele, o coração pesado.
— Então, o que você vai fazer?
Matteo apertou o volante, os nós dos dedos brancos.
— Eu ainda não sei.
**********
O silêncio entre Matteo e Fabíola continuava denso enquanto eles se dirigiam ao restaurante no centro histórico de Veneza. As ruas estreitas, iluminadas por lanternas antigas, exalavam o charme característico da cidade, mas nenhum dos dois parecia disposto a apreciar a beleza ao redor. Ambos estavam imersos nos próprios pensamentos, cada um lidando com o peso do encontro tenso com Stefano Meazza.
Quando chegaram ao restaurante, um local sofisticado à beira de um canal, Matteo fez o pedido sem sequer olhar o cardápio. Ele pediu vinho tinto da casa e pratos clássicos italianos, como se quisesse manter a noite o mais simples possível. Fabíola, por sua vez, sentou-se em silêncio, observando os gestos dele. Matteo parecia diferente, ainda mais fechado do que o habitual. Ela entendia que o que Stefano havia pedido pesava sobre ele, mas não conseguia deixar de sentir que ele estava se distanciando dela.
O garçom trouxe o vinho e serviu as taças, o som do líquido preenchendo o silêncio desconfortável. Matteo tomou um gole quase imediatamente, enquanto Fabíola permaneceu segurando sua taça, girando-a lentamente entre os dedos.
— Você está quieto — ela comentou, em voz baixa.
— E você esperava o quê? — Matteo respondeu, a voz carregada de ironia — Que eu saísse do armazém sorrindo, pronto para brindar à situação?
Fabíola franziu a testa, mas tentou manter a calma.
— Não foi isso que eu quis dizer. Só estou preocupada com você.
Matteo olhou para ela, os olhos castanhos endurecidos. Ele abriu a boca para responder, mas algo em sua expressão suavizou. Ele soltou um longo suspiro e colocou a taça de vinho sobre a mesa.
— Chiedo scusa. Não quis descontar isso em você.
Fabíola inclinou-se levemente sobre a mesa, diminuindo a distância entre eles.
— Você não precisa carregar tudo sozinho, Matteo. Eu estou aqui com você. Você sabe disso, não sabe?
Ele olhou para ela, e pela primeira vez naquela noite, sua expressão mostrou algo além de tensão: uma mistura de gratidão e vulnerabilidade. Matteo balançou a cabeça lentamente, como se as palavras dela tivessem o atingido de uma forma que ele não esperava.
— Você não deveria estar — ele murmurou.
— O que você quer dizer com isso?
— Você não deveria estar comigo nessa bagunça — ele continuou, a voz mais suave — Tutto questo… Stefano, a máfia, minha história com os Dorigatti… é perigoso, Fabíola. É algo que eu nunca quis para você.
Fabíola sentiu seu coração apertar. Havia uma dor genuína na voz dele, e ela sabia que ele estava tentando afastá-la para protegê-la. Mas ela também sabia que já estava envolvida, que não havia como voltar atrás.
— Matteo — ela começou, escolhendo as palavras com cuidado — você não pode me afastar. Eu não sou apenas sua cugina. Eu sou parte disso agora, quer você queira ou não. E, se você está nesse caos, então eu também estou.
Por um momento, Matteo apenas a encarou, como se estivesse tentando encontrar uma resposta para o que ela havia dito. Mas ele permaneceu em silêncio, apenas pegando sua taça de vinho novamente e tomando um longo gole.
Depois do jantar, Matteo pagou a conta rapidamente e os dois deixaram o restaurante, caminhando em silêncio pelas ruas estreitas de Veneza. A tensão entre eles havia mudado; ainda estava lá, mas agora era carregada de algo diferente, algo mais íntimo. Fabíola sentia o peso do olhar de Matteo sobre ela de tempos em tempos, mesmo que ele não dissesse nada.
Chegaram ao hotel poucos minutos depois. Era uma construção elegante, com uma fachada decorada por varandas floridas e arcos que refletiam a arquitetura clássica veneziana. O recepcionista os cumprimentou com um sorriso educado e começou a verificar a reserva feita por Matteo.
— Temos quartos disponíveis com camas separadas — começou o recepcionista, olhando para Matteo — ou uma suíte com cama de casal. Qual vocês preferem?
Fabíola sentiu o estômago se apertar. Ela olhou para Matteo, esperando que ele tomasse a decisão. Ele manteve os olhos fixos no recepcionista por um momento antes de responder, com um tom neutro.
Fabíola não disse nada, apenas observou Matteo assinar os papéis da reserva. Ele não olhou para ela durante todo o processo, e quando o recepcionista entregou a chave, Matteo simplesmente agradeceu com um breve aceno de cabeça.
— Vocês estão no quarto 204 — informou o recepcionista.
Matteo segurou a chave, olhando para Fabíola. Seus olhos diziam muito, mas ela não sabia se conseguia interpretar tudo o que havia ali: arrependimento, desejo, dúvida… talvez um pouco de tudo.
No quarto havia apenas uma cama, grande, com lençois impecavelmente brancos e almofadas decorativas que pareciam mais uma peça de arte do que algo funcional. Por um momento, ela ficou parada na entrada, olhando para o quarto como se não soubesse o que fazer.
Matteo entrou atrás dela e fechou a porta, colocando a chave sobre a mesa próxima. Ele não disse nada, apenas tirou a jaqueta e a pendurou em uma cadeira no canto do quarto.
— Che c’è? — ele perguntou, finalmente, notando o olhar de Fabíola.
— Niente — ela respondeu rapidamente, desviando os olhos.
Matteo suspirou e deu um passo em direção a ela.
— Fabíola… sobre a escolha do quarto…
— Você não precisa explicar — ela o interrompeu, erguendo a mão — É só uma cama. Não significa nada.
Ele riu baixo, mas não havia humor no som.
— Você realmente acredita nisso?
Fabíola o encarou, e foi então que percebeu o quanto estavam próximos. A tensão que vinha crescendo entre eles desde o jantar parecia atingir o ponto de ebulição.
— Eu não sei no que acreditar — ela disse finalmente, a voz baixa — Só sei que… quando estou com você, Matteo, eu sinto coisas que não consigo explicar. E isso me assusta.
Matteo permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos nos dela. Então, sem dizer nada, ele deu mais um passo à frente, fechando a distância entre eles.
Fabíola não teve tempo de reagir antes que ele segurasse seu rosto com ambas as mãos e a puxasse para um beijo. Foi um beijo cheio de intensidade, como se todo o desejo reprimido, todo o medo e toda a emoção que os dois vinham guardando finalmente tivessem encontrado uma saída.
O corpo de Fabíola se derreteu sob o toque de Matteo. Ela passou os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o ainda mais para perto. O mundo ao redor desapareceu; não havia Stefano, não havia máfia, não havia perigo. Havia apenas os dois, presos em um momento que parecia existir fora do tempo.
Matteo a segurava com firmeza, como se temesse que ela pudesse fugir. Seus olhos encontraram os dela, e a intensidade daquele olhar fez Fabíola sentir o coração bater tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. Ele não disse nada, mas a forma como seu olhar mergulhava nos dela era uma declaração silenciosa, carregada de desejo e de algo mais profundo, algo que ela não ousava nomear.
A respiração de Fabíola era irregular, e ela sentia a batalha interna que travava dentro de si. Cada fibra de seu ser parecia gritar por ele, mas a racionalidade, aquela voz fraca e quase inaudível, tentava lembrar-lhe das circunstâncias. Eles eram primos. A situação ao redor deles era perigosa. A relação entre os dois estava cheia de complexidades que ela ainda não entendia completamente.
— Matteo… — ela murmurou, tentando falar, mas sua voz soou fraca, incapaz de acompanhar a avalanche de sentimentos que a dominava.
Ele ergueu uma das mãos e deslizou os dedos pelo rosto dela, como se quisesse memorizar cada detalhe.
— Diga para eu parar — ele disse, a voz grave e rouca — Se você quiser, eu paro agora.
Ela olhou para ele, perdida naquele momento. A racionalidade lutava, mas parecia frágil diante da intensidade da conexão que sentia. Havia algo no jeito como Matteo a olhava, algo que fazia tudo parecer certo, mesmo que fosse completamente fora do que ela considerava razoável.
— Não pare — foi tudo o que ela conseguiu dizer.
A declaração pareceu libertá-los de qualquer hesitação restante. Matteo a puxou para si novamente, os braços envolvendo sua cintura enquanto ele a beijava com mais profundidade. Fabíola sentiu-se inteiramente consumida pela força daquele momento.
Matteo a conduziu suavemente em direção à cama, cada gesto carregado de cuidado e intenção. Fabíola sentiu as costas tocarem os lençois macios, o coração acelerado e a expectativa do que estava por vir. Seu ventre sentia os espasmos involuntários, um frio na barriga que não sentia desde a sua primeira vez. Matteo pairava sobre ela, os olhos fixos nos dela como se quisesse certificar-se de que cada movimento fosse desejado.
Fabíola deixou que a emoção do momento a dominasse. À medida que as roupas foram sendo deixadas de lado, as preocupações, os medos, as incertezas, tudo parecia insignificante diante da intensidade do que compartilhavam. O calor de Matteo entre suas pernas era ao mesmo tempo reconfortante e avassalador, e cada movimento parecia carregado de significado, como se ele quisesse mostrar a ela que o que sentia era muito mais do que desejo.
Fabíola arqueou as costas, um gemido escapando de seus lábios enquanto suas pernas envolviam a cintura de Matteo. Os movimentos começaram lentos, mas logo ganharam ritmo. Ele inclinou-se para beijá-la, suas mãos segurando firmemente os quadris dela enquanto ele ditava o ritmo das estocadas.
Ela agarrou os ombros de Matteo, os dedos pressionando contra os músculos firmes. O suor fazendo seu corpo brilhar sob a luz tênue do quarto, destacando suas curvas voluptuosas. Sua respiração era irregular, cada arfar entrecortado por gemidos suaves que preenchiam o ambiente.
Enquanto Matteo aumentava o ritmo dos movimentos, Fabíola inclinou a cabeça para trás, expondo o pescoço em um gesto de total entrega. Seus lábios entreabertos murmuravam uma súplica, quase implorando para que ele não parasse.
Fabíola sentia seu corpo em chamas, sentindo todo o comprimento dele, estufando seu interior e pressionando a entrada de seu útero. E isso a fazia sentir-se completamente vulnerável, totalmente dele.
— Mio Dio, Fabíola…. Sei bellissima — Matteo murmurou, os olhos nunca deixando os dela.
Suas palavras foram ditas em um tom tão honesto e cheio de reverência que Fabíola sentiu lágrimas brotarem em seus olhos. As respirações se tornaram mais rápidas e os movimentos mais urgentes, cada segundo sentiam mais perto do limite. Fabíola segurou os ombros de Matteo com mais força, seus dedos cravando-se levemente na pele dele enquanto ela sentia as ondas de prazer crescendo dentro dela, como ondas em um mar revolto.
— Ah… Matteo… — gritou antes de seu corpo ser possuído pelo mais intenso prazer.
Enquanto a intensidade do momento se dissipava de seus corpos, o silêncio entre os dois não era desconfortável. Fabíola permaneceu deitada, sua cabeça descansando no peito de Matteo, ouvindo o ritmo desacelerado de seu coração. Ele acariciava os cabelos dela distraidamente, enquanto ambos pareciam absorver o que havia acabado de acontecer.
— Isso muda tudo, não é? — Fabíola perguntou, finalmente rompendo o silêncio.
— Sì — Matteo respondeu, sem hesitar.
Ela ergueu o rosto para olhar para ele.
— E agora?
— Agora… — ele começou, olhando para o teto enquanto organizava os pensamentos, — lidamos com Stefano, protegemos nossa família e, depois… tentamos entender o que isso significa para nós.
Fabíola assentiu, mas uma pontada de incerteza atravessou seu peito. O que havia entre eles era poderoso, mas também repleto de obstáculos. Havia tantas coisas que precisavam ser resolvidas, não apenas sobre Stefano e a máfia, mas sobre eles mesmos e o que significava se entregar a algo tão complexo.
Ainda assim, enquanto ela ouvia a respiração de Matteo e sentia o calor do corpo dele ao seu lado, Fabíola permitiu-se acreditar que, de alguma forma, eles encontrariam uma maneira.
A noite em Veneza havia mudado tudo. Não era apenas sobre o desejo ou a atração; era sobre algo mais profundo, algo que ambos estavam começando a compreender. E enquanto eles se preparavam para enfrentar os desafios que ainda viriam, Matteo e Fabíola sabiam que, pelo menos naquele momento, eles não estavam sozinhos.
**********
O toque insistente do celular rompeu o silêncio no quarto do hotel. Matteo acordou com um sobressalto, o corpo ainda tenso pelas poucas horas de sono. Fabíola dormia ao seu lado, respirando profundamente, os cabelos negros espalhados pelo travesseiro. Ele olhou para ela por um breve instante, o peito apertado com um misto de culpa e ternura, antes de pegar o telefone na mesa de cabeceira.
— Pronto? — Matteo atendeu, a voz rouca.
Do outro lado da linha, a voz de um dos capatazes da propriedade soava aflita e apressada, as palavras atropelando-se umas às outras.
— Signore Matteo, è un disastro! As videiras... as que não foram afetadas pela praga... estão em chamas!
Matteo se sentou imediatamente, o coração disparado.
— Cosa? Como isso aconteceu?
— Alguém incendiou as fileiras, signore. Vimos o fogo começar perto do setor norte. Tentamos apagar, mas está fora de controle. E… e tem mais. Vimos um homem correndo da propriedade. Um dos rapazes conseguiu atingi-lo com um tiro, mas ele escapou na noite. Não conseguimos capturá-lo.
As palavras pareciam ecoar na mente de Matteo enquanto ele tentava processar a gravidade da situação. As chamas, o ataque, o suspeito escapando… Stefano. Aquilo só podia ser obra dele.
— Estou a caminho — Matteo respondeu friamente antes de desligar o telefone.
Ele jogou as pernas para fora da cama, começando a se vestir apressadamente. O som de sua movimentação fez Fabíola acordar. Ela piscou algumas vezes, ainda sonolenta, antes de perceber a expressão no rosto de Matteo.
— O que aconteceu? — ela perguntou, já se sentando, os olhos cheios de preocupação.
— As videiras foram incendiadas — Matteo respondeu, a voz tensa — Alguém entrou na propriedade durante a noite.
Fabíola sentiu o coração afundar.
— O quê? Matteo, isso é um ataque direto!
— Exatamente. E é por isso que eu não vou mais esperar — ele respondeu, pegando a jaqueta e enviando os braços nela com agilidade.
Fabíola levantou-se rapidamente, o pânico crescendo dentro dela.
— O que você está pensando em fazer?
— Eu vou resolver isso — ele disse com firmeza, sem olhar para ela.
— Resolver? Matteo, você sabe o que isso significa, não sabe? Se você reagir assim, estará jogando o jogo dele. Stefano quer que você perca o controle. Ele está te provocando para que cometa um erro!
Matteo parou por um instante, finalmente olhando para ela. Seus olhos estavam escurecidos pela raiva e pela frustração.
— E o que você sugere, Fabíola? Que eu fique parado enquanto ele destrói tudo o que temos? Que eu espere até que ele ataque novamente, até que ele… até que ele machuque mais alguém?
Ela sentiu a dor e o desespero nas palavras dele, mas não podia permitir que Matteo fosse consumido por aquela raiva.
— Eu não estou dizendo para você não agir — ela respondeu, tentando manter a calma — Estou dizendo para você pensar. Se você agir sem planejamento, sem estratégia, Stefano vai acabar com você.
— Fabíola, isso não é algo que você entende — Matteo disse, a voz mais baixa, mas igualmente firme — Isso não é sobre estratégia. Isso é sobre enviar uma mensagem a ele de que nós não vamos recuar.
— E se essa mensagem custar sua vida? — ela retrucou, os olhos marejados.
Matteo desviou o olhar, incapaz de responder. O silêncio que se seguiu era sufocante, mas foi interrompido pelo toque do telefone de Matteo novamente. Ele atendeu rapidamente, mas desta vez foi apenas para ouvir o capataz relatar que o fogo estava sendo contido, mas os danos eram severos. Matteo desligou sem dizer mais nada.
— Eu vou descer para o carro — ele disse, pegando as chaves — Fique aqui e… fique segura.
— Não, Matteo — Fabíola respondeu, correndo até ele — Eu vou com você.
— No.
— Eu não estou pedindo permissão — Fabíola retrucou, sua voz firme como aço.
Enquanto eles saíam do hotel, o ar da manhã estava úmido e frio, mas não fazia nada para amenizar o calor da raiva que Matteo sentia queimando dentro de si. Ele caminhava com passos firmes, a mandíbula cerrada, enquanto Fabíola o seguia de perto, tentando controlar o medo que crescia em seu peito.
Eles estavam a poucos metros do carro quando Matteo ouviu passos rápidos atrás deles. Antes que pudesse reagir, dois homens saíram das sombras e o agarraram por trás.
— Matteo! — Fabíola gritou.
Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ela sentiu uma mão forte agarrar seu braço e puxá-la com força. Matteo lutou contra os homens, mas eles o derrubaram no chão com um golpe certeiro na lateral do rosto. Enquanto ele tentava se levantar, ainda atordoado, viu Fabíola sendo arrastada em direção a uma van preta de vidros escuros.
— Fabíola! — Matteo gritou, tentando se levantar, mas um dos sequestradores o empurrou de volta ao chão.
— Fique onde está — o homem disse, a voz baixa e ameaçadora. Ele se inclinou sobre Matteo, segurando-o pelo colarinho — Isso é um aviso de Stefano. Você sabe o que ele quer. E agora, você vai fazer exatamente o que ele mandar. Ou ela paga o preço.
Matteo sentiu o sangue ferver enquanto observava a porta da van se fechar com um estrondo, levando Fabíola embora. Ele tentou levantar-se novamente, mas o homem o empurrou de volta com um chute no estômago antes de correr em direção ao veículo.
A van arrancou com um som estridente de pneus, deixando Matteo caído no chão da calçada, ofegante e com o corpo pulsando de dor. Mas a dor física não era nada comparada ao desespero que sentia ao ver Fabíola ser levada.
Matteo finalmente conseguiu se levantar, os punhos cerrados e os olhos ardendo de raiva. Stefano havia cruzado uma linha e agora não tinha escolha. Fabíola estava em perigo, e ele precisava encontrá-la. Ele olhou para a direção em que a van havia desaparecido, o coração batendo acelerado.
— Figlio di puttana! — vociferou, a voz carregada de determinação.
Enquanto o sol começava a subir no céu, a manhã de Veneza parecia ainda mais sombria. O jogo de Stefano havia escalado para um nível que ele não podia mais ignorar. Era hora de agir, e dessa vez, ele estava disposto a ir até as últimas consequências.
Matteo dirigia em silêncio pela estrada que serpenteava em direção a Pádua. Os campos e vinhedos da região passavam como borrões, enquanto a paisagem verdejante fazia pouco para acalmar a tempestade em sua mente. Cada quilômetro o aproximava da mansão dos Dorigatti, e ele sabia que estava prestes a entrar em um território tão perigoso quanto uma arena de gladiadores.
A raiva queimava dentro dele. Fabíola havia sido levada por Stefano, e ele não podia simplesmente esperar ou confiar em negociações. Precisava de aliados, e sabia que Giovanni Dorigatti e I Signori del Grappa ainda lhe deviam lealdade.
— Eu vou te trazer de volta, Fabíola, custe o que custar — murmurou para si.
**********
O carro entrou pelos portões de ferro da propriedade Dorigatti, e a visão da mansão luxuosa, com sua fachada de mármore branco e jardins bem cuidados, trouxe à mente lembranças que Matteo preferia esquecer. Ele estacionou, respirou fundo e desceu do veículo, ajustando a jaqueta enquanto caminhava em direção à entrada principal. Dois capangas, que pareciam prontos para disparar suas armas ao menor sinal de problema, abriram a porta para ele.
A sala de estar da mansão era grandiosa e intimidante, decorada com lustres de cristal, móveis de madeira entalhada e tapetes persas que abafavam o som dos passos de Matteo. Giovanni ainda não havia descido para recebê-lo, e ele foi conduzido até uma poltrona em frente à lareira.
Matteo sentou-se, mas sua postura era rígida, os músculos tensos e a mente alerta. Ele olhou em volta, observando os detalhes do lugar, até que sua atenção foi interrompida pelo som de passos leves no corredor. Ele sabia quem era antes mesmo de vê-la.
Bianca Dorigatti entrou na sala, sua presença tão magnética quanto ele se lembrava. Vestindo um vestido azul que destacava seus olhos claros e a pele pálida, ela parecia quase etérea, mas o olhar dela estava carregado de algo sombrio.
— Lasciateci soli — Bianca ordenou aos capangas que estavam na sala.
Eles hesitaram por um momento, mas acabaram obedecendo, saindo e fechando as portas atrás de si.
Matteo se levantou lentamente, mantendo a expressão neutra enquanto os olhos de Bianca o examinavam. A tensão entre os dois era palpável, e o silêncio que se seguiu parecia durar uma eternidade.
— Matteo — Bianca finalmente disse, a voz suave, mas carregada de emoção.
— Bianca — ele respondeu, o tom frio e controlado.
Ela deu alguns passos em direção a ele, mas parou antes de se aproximar demais, como se houvesse um abismo invisível entre eles.
— Você veio falar com meu pai?
— Sim — Matteo respondeu — Tenho assuntos a tratar com ele. Stefano passou dos limites.
Os olhos de Bianca se estreitaram ao ouvir o nome de Stefano, mas sua expressão logo mudou para algo mais melancólico.
— E eu suponho que você ainda me culpa por isso, vero?
Matteo cruzou os braços, sua postura rígida.
— Você está esperando que eu diga o quê, Bianca? Que o que você fez não importa? Que eu esqueci?
Bianca deu um pequeno passo para trás, como se as palavras dele tivessem a atingido fisicamente. Ela desviou o olhar, o peso da culpa evidente em sua expressão.
— Matteo, eu sei que o que fiz foi imperdoável. Eu trai você, e eu trai minha família, mas eu não estava pensando com clareza. Tommaso… ele me manipulou.
Matteo bufou, descrente.
— Tommaso te manipulou? Ou você estava apaixonada demais por ele para enxergar o que ele realmente era?
Bianca levantou o olhar para ele, e havia lágrimas nos olhos dela agora.
— Você acha que eu não sei disso? Você acha que eu não me odeio todos os dias pelo que fiz? Eu nunca quis machucar você, Matteo. Eu… eu te amava.
Aquelas palavras ficaram pairando no ar, mas Matteo não respondeu de imediato. Ele olhou para ela, tentando ignorar a maneira como seu coração parecia reagir àquelas palavras, como se houvesse uma pequena chama dentro dele que ainda queimava por ela.
— Amore? — ele disse finalmente, a voz carregada de amargura — Isso não era amor, Bianca. O que você fez… o que você escolheu… não tem nada a ver com amor.
Bianca deu mais um passo em direção a ele, o olhar suplicante.
— Matteo, per favore. Eu sei que é tarde demais para pedir perdão, mas você precisa acreditar que eu me arrependo. Tommaso… ele me usou, ele sabia como jogar comigo. Eu fui ingênua…
— E eu paguei o preço por isso — Matteo retrucou, sua voz mais alta — Eu quase morri naquela ponte por causa da sua traição. E agora Stefano usa isso como desculpa para continuar atacando minha família.
Bianca cobriu o rosto com as mãos, os ombros tremendo enquanto ela tentava conter as lágrimas. Matteo sentiu uma pontada de culpa ao vê-la naquele estado, mas não se permitiu recuar. Ele não podia ceder, não depois de tudo.
Após alguns momentos, Bianca respirou fundo e levantou o olhar novamente, os olhos vermelhos e brilhantes.
— Eu não posso mudar o que fiz, Matteo. Mas se há algo que eu possa fazer para ajudar agora, me diga.
Matteo riu, mas o som estava cheio de cansaço.
— Ajudar? Como, Bianca? Você realmente acha que há algo que você possa fazer para consertar isso?
— Sì — ela respondeu, a voz firme — Eu posso falar com meu pai. Posso convencer ele a te apoiar totalmente contra Stefano. Ele ainda te respeita, Matteo. Ele ainda te considera como parte da família.
— Parte da família? — Matteo repetiu, balançando a cabeça — Não sou parte da sua família, Bianca. Giovanni só tem interesse no meu dinheiro, isso é tudo. E você… você é um lembrete do erro que cometi ao confiar demais em alguém.
Os dois ficaram em silêncio novamente, e desta vez o silêncio parecia mais pesado. Bianca se aproximou mais uma vez, os olhos fixos nos dele.
— Eu ainda te amo, Matteo — ela disse, a voz quase um sussurro.
Matteo ficou imóvel, as palavras dela acertando-o como um golpe. Por mais que quisesse negar, ele sabia que havia algo dentro dele que ainda reagia a Bianca, algo que ainda se agarrava ao que eles tiveram antes da traição. Mas ele também sabia que isso não mudava o que ela havia feito.
— Isso não importa mais — ele respondeu finalmente, a voz baixa — O que tínhamos acabou no dia em que você escolheu Tommaso.
Bianca engoliu em seco, mas não disse mais nada. Matteo virou-se para sair, mas parou na porta e olhou por cima do ombro.
— Eu não vou contar a Giovanni sobre o que você fez — ele disse — Não por você, mas porque ele não merece carregar esse desgosto.
Bianca apenas assentiu, incapaz de responder. Matteo saiu da sala, deixando-a sozinha com seus pensamentos e sua culpa.
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Matteo caminhava com passos firmes pelos corredores imponentes da mansão Dorigatti, sua mente fervilhando com uma mistura de raiva e desespero. O encontro com Bianca havia deixado um gosto amargo, mas era a situação maior que o consumia. Fabíola estava em perigo, sequestrada por Stefano Meazza, e cada segundo perdido era um tormento. Ele havia confiado na aliança com I Signori del Grappa para manter a propriedade da família segura. Agora, essa confiança parecia uma ilusão frágil.
Quando Matteo chegou à porta do escritório de Giovanni, os dois capangas que guardavam a entrada trocaram um olhar rápido, mas abriram a porta sem hesitação. Era um sinal de que Matteo ainda tinha o respeito, ou pelo menos a tolerância, do velho chefe.
Giovanni Dorigatti estava sentado atrás de uma imensa escrivaninha de madeira escura, com as mãos apoiadas casualmente sobre a superfície polida. Ele era um homem que sabia como usar o espaço ao seu redor para transmitir autoridade. Vestindo um terno bem cortado e exibindo um sorriso acolhedor, ele parecia a imagem de um anfitrião perfeito, mas os olhos azuis fundos denunciavam o mafioso por trás da fachada.
— Matteo! — Giovanni exclamou, levantando-se e estendendo os braços em um gesto caloroso — Ragazzo mio! Sempre um prazer vê-lo. Sente-se, vamos conversar.
Mas Matteo não sorriu. Ele permaneceu de pé, a mandíbula apertada e os olhos ardendo de fúria. O contraste entre a cordialidade de Giovanni e a raiva fervente de Matteo era evidente, e o ar na sala ficou imediatamente carregado de tensão.
— Conversar? — Matteo finalmente falou, a voz baixa e tensa.
Ele deu um passo à frente, ignorando o convite para sentar-se.
— Você acha que é hora de conversar, Giovanni?
O sorriso de Giovanni vacilou por um breve momento, mas ele logo recuperou a compostura.
— Matteo, o que houve? Você parece… perturbado.
— Perturbado? — Matteo repetiu, a voz ficando mais alta. Ele deu outro passo à frente, agora apoiando as mãos na borda da escrivaninha — As minhas videiras estão empesteadas e queimadas, a minha propriedade está um caos, e agora a minha prima foi sequestrada por Stefano! Não tenho motivos para estar perturbado?
O tom de Matteo ecoou pela sala, fazendo Giovanni recuar ligeiramente. Os dois capangas de Giovanni, posicionados ao lado da porta, trocaram olhares rápidos e começaram a mover as mãos em direção aos coldres, preparados para agir a qualquer momento.
— Matteo, per favore — Giovanni disse, erguendo as mãos em um gesto de calma — Sente-se. Vamos resolver isso juntos. Não há necessidade de gritar.
Mas Matteo não estava interessado em calmaria. Ele avançou rapidamente, agarrando Giovanni pela gola do terno e puxando-o com força sobre a escrivaninha. A cadeira de Giovanni tombou para trás com um estrondo, e ele foi jogado no chão com um impacto seco.
— Resolver isso? — Matteo gritou, a voz cheia de raiva — Você prometeu proteger a minha família! Você disse que Stefano não teria coragem de nos atacar com I Signori del Grappa ao nosso lado! E agora olhe onde estamos!
Os capangas de Giovanni reagiram instantaneamente, sacando as armas e apontando-as para Matteo. O som dos canos sendo puxados para trás preencheu a sala, mas Matteo não se moveu. Ele estava ajoelhado no chão, segurando Giovanni pelo colarinho, a fúria queimando em seus olhos.
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Fabíola despertou lentamente, sentindo o calor desconfortável ao seu redor. Sua cabeça latejava, e por um momento sua visão estava turva, como se tivesse sido retirada de um sono profundo contra a sua vontade. O ar era pesado, quase sufocante, carregado por um cheiro leve de limpeza e um som distante de passos sobre piso de madeira e murmúrios. Ela piscou algumas vezes, tentando clarear os pensamentos, até perceber que seu corpo estava suspenso, apoiado de maneira estranha.
O calor do ambiente fazia sua pele transpirar, e a sensação era amplificada pelo fato de que ela vestia apenas as roupas íntimas. Seus pulsos e tornozelos estavam presos, mas não com força; o material parecia mais confortável do que ela esperava, algo mais cuidadosamente calculado do que um simples ato de agressão. Isso a fez lembrar vagamente de algo, sensações de um passado não tão distante.
Rodrigo. O nome passou como um eco por sua mente, trazendo flashes de memória. Ele e seus amigos, sempre tão interessados em explorar os limites entre controle e prazer, haviam apresentado Fabíola a um mundo que ela mal compreendia na época. O toque de cordas contra a pele, o significado de uma rendição consensual… eram fragmentos de algo que ela pensava ter deixado para trás.
Seu coração começou a acelerar, e ela tentou se debater, mas a contenção era firme o suficiente para mantê-la no lugar. A tensão de sua posição fez com que uma onda de ansiedade percorresse seu corpo. O calor do quarto parecia amplificar tudo, a sensação de estar presa, o desconforto, o medo.
Fabíola finalmente se forçou a olhar ao redor. O espaço era intimista, quase claustrofóbico, com paredes de madeira escura e cortinas pesadas que bloqueavam qualquer luz externa. Uma única lâmpada lançava um brilho quente e amarelado, refletindo nas gotículas de suor que começavam a se formar em sua pele. A mobília era mínima: uma poltrona de couro em um canto, uma mesa pequena com uma garrafa de vinho e duas taças vazias. Tudo parecia cuidadosamente calculado para criar uma atmosfera de controle.
E então, ele apareceu.
Stefano Meazza, com sua presença imponente, entrou no quarto. Ele usava um terno impecável, como sempre, e seus passos eram silenciosos sobre o tapete. Havia um sorriso em seus lábios, mas não era reconfortante. Era o tipo de sorriso que fazia sua pele se arrepiar, uma mistura de charme calculado e poder absoluto.
— Ah, Fabíola, não é? — ele começou, a voz suave e quase hipnótica — Você está acordada. Espero que o ambiente esteja confortável… ou, pelo menos, aceitável.
Fabíola engoliu em seco, tentando encontrar sua voz.
— O que você quer?
Stefano parou a alguns passos dela, inclinando levemente a cabeça como se estivesse avaliando-a.
— Tão direta. Gosto disso. Mas, por enquanto, não quero nada além de sua companhia. Tutto a suo tempo.
Ela estreitou os olhos, tentando ignorar o desconforto físico e emocional que crescia dentro dela.
— Se isso é sobre Matteo, ele não vai ceder às suas exigências.
O sorriso de Stefano se alargou, mas seus olhos permaneceram frios.
— Ah, você acha que ele não fará o que for necessário para salvar você? Para proteger sua família?
Fabíola não respondeu de imediato. Ela sabia que Stefano estava tentando manipulá-la, mas sua menção a Matteo fez algo se agitar dentro dela. Ela sabia que Matteo faria qualquer coisa para protegê-la, mas também sabia que Stefano estava jogando um jogo muito maior, e que eles estavam apenas no tabuleiro.
Enquanto Stefano falava, andando pelo quarto como um predador que circunda sua presa, Fabíola sentiu uma onda de sensações conflitantes. O calor do ambiente, o desconforto das amarras, a presença de Stefano, tudo parecia projetado para deixá-la em um estado de vulnerabilidade. Stefano queria que ela se sentisse indefesa, mas ela havia enfrentado situações difíceis antes, e, embora o ambiente e as circunstâncias fossem diferentes, ela não permitiria que ele a quebrasse.
Ela ergueu o queixo, tentando manter a compostura.
— Você pode criar o ambiente que quiser, Stefano, mas não vai conseguir o que quer de mim. E você definitivamente não vai me intimidar.
Stefano parou, virando-se para ela com uma sobrancelha arqueada. Por um momento, ele parecia genuinamente intrigado.
— Intimidar você? — ele repetiu, com uma risada baixa — Não me entenda mal. Eu não quero intimidá-la. Quero que entenda a situação em que está. Quero que veja a beleza disso.
— Beleza? — ela retrucou, o tom carregado de incredulidade.
Stefano se aproximou mais, parando a apenas alguns passos dela.
— Sim. A beleza do controle, da negociação. A beleza de saber exatamente onde você está e o que está em jogo.
Fabíola estreitou os olhos, sentindo sua raiva crescer.
— Se você acha que pode me manipular com seus jogos psicológicos, está perdendo seu tempo.
Stefano sorriu novamente, mas dessa vez havia algo mais sombrio em sua expressão.
— Ah, mas eu tenho todo o tempo do mundo.
Stefano se afastou lentamente, voltando para a poltrona no canto do quarto. Ele se sentou com a calma de alguém que estava completamente no controle, cruzando as pernas e pegando a garrafa de vinho da mesa ao lado.
— Eu poderia libertá-la agora — ele disse casualmente, enquanto enchia uma das taças — Mas onde estaria a diversão nisso? Não, Fabíola. Eu prefiro ver como você reage. Prefiro observar como você lida com suas emoções.
Ela ficou em silêncio, o olhar fixo nele enquanto tentava processar suas palavras. Stefano claramente estava brincando com ela, tentando encontrar uma brecha em sua determinação. Mas Fabíola sabia que não podia ceder. Ela precisava ser mais forte do que ele.
Enquanto Stefano dava um gole no vinho, Fabíola respirou fundo, tentando encontrar uma maneira de escapar, não apenas fisicamente, mas também do jogo psicológico que ele estava tentando impor. Ela sabia que Matteo viria por ela. Era apenas uma questão de tempo.