Saíram do carro e foram até a casa
— Opaaa — Um rapaz grande e bem acima do peso se aproximou cumprimentando Fausto — E ae Faustinho, como você tá?
Eles se abraçaram, eram claramente muito amigos
— Essa é a Danielle — Fausto apontou para Danielle, o rapaz se aproximou para cumprimentar com um beijo
— Prazer, Claudio — Ele respondeu
— Prazer, Dani — Danielle sorriu e o cumprimentou com um “beijo de bochecha”
Conforme adentravam na casa as pessoas os cumprimentavam, Danielle notou que as mulheres tinham uma espécie de padrão de olhar, algo como um scanner que a olhavam de baixo em cima a julgando imediatamente.
Fausto estava com uma caixa na mão que Danielle não havia notado por estar tensa, encontraram uma garota, era alta e mais magra do que Danielle acharia possível, usava um vestido de frente unica, um pano parecendo a pele de um ovo, os seios bicudos minúsculos marcando o tecido, as pernas e braços finos com pulseiras prateadas caras e uma maquiagem pesada.
Cumprimentou Fausto com um abraço um tanto fogoso que fez Danielle ficar levemente enciumada, quando foi cumprimentar Danielle deu também o mesmo abraço apertado.
— Sou a Fernanda! — Falou num tom alto para passar por cima da musica
— Danielle, prazer! — Danielle gritou
— Você é muito bonita, estão namorando? — Fernanda foi direto ao ponto
— Acho que sim estamos nos conhecendo ainda! — Danielle disse
— Que bom! — Fernanda disse animada — Ele é meu amigo!
Alguém chamou Fernanda e ela foi dar atenção.
Ficaram ali conversando, bebendo, comendo, em um determinado momento um rapaz chamou Fausto e ele puxou Danielle pela mão.
Sairam do ambiente principal barulhento e foram para fora da casa, andaram pela lateral e na parte da varanda havia pessoas sentadas conversando em uma pequena mesa
— Olha ele aí — Um cara gritou levantando o copo de cerveja, era o rapaz que se apresentou como Claudio
Se aproximaram, Danielle se apresentou para alguns que ainda não conhecia e sentaram-se para conversar.
Todos pareciam de classe alta, Danielle parecia ser a única “pobre” naquele meio, as conversas iam de viagens a outros países, problemas com o inglês, carros, festas, eventos, empresas dos pais, cavalos e tudo o que existia para deixar Danielle fora dos assuntos
Os assuntos eram muito animados.
— E você Dani, faz o que da vida? — Uma das garotas perguntou
A roda se calou imediatamente para prestar atenção, Danielle piscou devagar, envergonhada, seu rosto ruborizou, ela arrumou o cabelo que lhe caia no rosto
— Eu, eu — Ela tomou ar — Trabalho com tecnologia — Resolveu ser genérica em sua resposta
— Legal! — A garota respondeu — Conheceu o Faustinho onde?
Danielle olhou para ele como se pedisse ajuda, Fausto se calou
— Na empresa que ele é o diretor, trabalho junto com ele lá — Ela respondeu e corrigiu — Trabalho para ele
Um dos garotos cutucou Fausto fazendo a cerveja da mão rele respingar
— Aaaeeee Fausto pegando as funcionárias — Falou num tom engraçado arrancando risos dos outros
— Não, não é assim — Ele respondeu envergonhado
— Mas ela não é sua funcionária? — Outra garota perguntou
— É, mas não é por isso, é que … — Fausto foi falar algo, estava nervoso
Danielle notou o nervosismo dele, colocou a mão sobre a mão dele
— Foi eu que peguei ele gente, homem poderoso e rico não da pra deixar escapar — Danielle disse sorridente
As pessoas riram.
Alguém fez outro comentário e o assunto mudou
— Obrigado — Fausto disse se aproximando de Danielle
Ela deu um beijo nos lábios dele e sorriu
— Que bonitinho — Outra garota comentou — Nunca vi você com namorada Fausto!
— A gente achava que você era viado hein! — Claudio disse empurrando ele
Os meninos riram, as garotas ficaram apreensivas
Danielle não mudou a expressão
— Viado ele não é — Falou e tomou um gole do seu refrigerante
As garotas sorriam satisfeitas
— Tão juntos a quanto tempo? — A garota perguntou
Fausto ia falar algo, mas Danielle apertou a mão dele
— A gente está nessa faz umas semanas já, na verdade hoje é a primeira vez que a gente fica junto mesmo fora de ambiente de empresa e loucura de São Paulo
— Ah, entendi — A garota falou pensativa
— Você é bem bonita Danielle, seu sorriso é enigmático — Uma outra garota, negra, muito bonita disse parecendo observar Danielle
— Lá vem a psiquiatra — Um dos garotos disse animado arrancando risos dos outros
— Não liga pra eles — A garota estendeu a mão para Danielle — Eu sou a Ester, eles acham que tudo que eu falo é uma análise por que eu sou Médica Psiquiatra
— Eu entendo, tudo o que eu falo referente à computadores minha familia acha que é por que eu sou uma Hacker — Danielle respondeu bem humorada
Ester parecia realmente querer analisar Danielle com o olhar.
— Tem que ver o sorriso depois que o Faustão aqui pegar ela de jeito né? — Claudio falou abraçando Fausto fazendo todos rirem
Fausto ficou envergonhado e introspectivo
— Pegar como? — Danielle confrontou Claudio
Claudio ficou sem jeito
— Não, é brincadeira só, tava brincando — Ele se defendeu
— Acho que eu já sei o que você quer dizer, se for o que eu tô pensando, já me pegou de jeito
Todos riram, Cláudio ficou estático
Danielle observou-o por uns segundos
— Talvez por isso meu sorriso seja enigmático — Continuou
— Vai seu trouxa! — Uma das garotas que provavelmente era namorada de Cláudio o puxou — Para de falar merda!
O rumo da conversa mudou, falaram de outras coisas, ficaram até tarde da noite conversando, Danielle se sentiu bem.
Resolveram ir embora já de madrugada, já no carro Fausto olhou para Danielle
— Você foi incrível — Ele disse — Você me colocou num pedestal para eles, acho que isso nunca tinha acontecido
Ela sorriu
— Falei pra deixar comigo — Ela disse
— Sim — Ele acariciou a perna dela e se inclinou para um beijo, ela correspondeu, se beijaram na boca por alguns segundos — Você é perfeita — Ele disse
— Não sou perfeita, você sabe, eu sou ligeira — Danielle disse — Sou da periferia, malandragem é outra coisa
— Quer casar comigo? — Ele perguntou parecendo sério
— Fausto? — Ela falou séria
— To brincando! — Ele disse mostrando a palma das mãos
— Não tá não — Ela disse olhando séria pra ele, soltou o cabelo e manteve a expressão séria — Eu já sei quando você brinca e quando fala algo com um fundo de verdade e isso aí — Apontou pra ele — Não foi brincadeira.
Fausto se calou, ela continuou
— Eu entendo que você tá gostando de mim — Danielle colocou a mão fechada no meio do próprio peito e deu uma batidinha — Eu não vou negar que sinto algo sim, mas a gente precisa evoluir isso, você é bonito, rico, inteligente, engraçado, pintudo quem não ia querer isso? — Ela respirou fundo parecendo distante por um segundo, mas voltou a encará-lo — Não fale de casamento para mim, não se não for sério, isso não é brincadeira.
Fausto estava atento, gaguejou
— Você, por que, você… Não quer se casar? — Ele perguntou
— É o meu sonho, me casar com vestido de noiva, véu e tudo mais, eu levo isso muito a sério, eu vou me casar com o homem da minha vida, eu não sei se é você, então eu levo isso muito a sério, não faça essa proposta para mim a não ser que tenha 100% de certeza que eu sou a mulher da sua vida.
Ele olhou para ela, pensou por alguns segundos
— Você tá certa — Ligou o carro — Desculpe — Manobrou o carro — Mas você é perfeita, pelo menos pra mim
Ela sorriu
— Você tá carente — Ela falou
— Deixa eu te amar — Ele disse olhando para frente
— Como assim? — Perguntou sem entender — Eu não controlo isso, isso é seu não meu
— Não fica justificando o meu carinho por você, só deixa eu ser eu — Ele falou parecendo sério — Encostou o carro antes do portão de saída
— Olha — Ele pensou um pouco — Acho que hoje foi um dos melhores dias da minha vida, eu nunca sou eu mesmo, sempre sou o Diretor sensato, preciso e sou cobrado por cálculos, empregos, retorno, resultados rápidos e hoje você me deixou ser eu mesmo, você resgatou o Fausto adolescente
Ela olhava para ele com atenção, ele continuou
— É uma sensação boa, você é uma alma boa, meu fogo que por muito tempo parece quase apagado arde ao seu lado, eu sinto algo muito forte por você.
Danielle tirou o cinto, o carro emitiu um apito doce e baixo avisando que o cinto estava desconectado, ela se arrastou e sentou no colo dele.
Colocou o dedo na ponta dos lábios dele olhando nos olhos
— Então eu eu deixo — Ela disse séria
Se olharam ofegantes, ele sorriu, ela sorriu de volta e instintivamente olharam um para a boca do outro se beijando instantâneamente
Ela o abraçou no banco, sentiu-se cuidada como muito tempo não sentia, seu coração bateu forte, não havia planejado aquilo, será que Fausto era o seu futuro? Será que ele não era coisa demais pra ela?
Conversaram alegremente no caminho ouvindo música, Danielle com a mão na perna dele o tempo todo, parecia ter medo de desconectar-se dele e perdê-lo
Chegaram em casa, a mãe conversava e bebia com uma amiga no sofá
— Já chegaram os pombinhos! — Ela falou ao se levantar — Marcia, vem aqui conhecer a minha nora, a Danielle, olha como ela é maravilhosa
Danielle corou, uma senhora se aproximou e a cumprimentou
— Que graça! — A mulher disse com a voz rouca de quem havia fumado cinquenta mil cigarros durante a vida
— Mãe a Dani vai dormir aqui, aí cedinho ela pega o voo para ir embora — Fausto disse, havia conversado com Danielle
— Ah sim querido, tem um quarto preparado para ela — Roxane falou com olhar malicioso, olhou para Marcia e disse — Danielle é uma mulher evangélica
— Ah, uma mulher de Deus, bonita desse jeito só pode ser em Cristo mesmo
Danielle colocou dois dedos na boca, beijou e levantou
— O Senhor é meu pastor! — Falou com um semblante tranquilo
— Mas filho — Roxane disse — Você viu com o rapaz do aeroporto? O voo ia sair agora a noite
— Não mãe ele falou semana passada, é amanhã de manhã — Fausto falou pegando o celular e procurando — Quer ver? — Procurou por alguns segundos e a expressão dele mudou — Ai porra, é agora a noite mesmo!
— Vixe! — Danielle disse — Deixa eu pegar minhas coisas então — Correu para o quarto
Fausto a seguiu
— Não precisa correr, você pode ir no voo de amanhã se quiser — Ele falou — Passa a noite comigo
— Ah e tem voo direto assim? — Ela perguntou desacelerando o ritmo de guardar suas coisas
— Não, mas aí eu freto um só pra você — Ele disse — Só fica comigo
— Fretar? Perae, quanto sai isso? — Ela perguntou curiosa
— O que o voo? — Ele perguntou resistente
— Se eu for hoje você paga quanto? — Ela perguntou — Sem me enrolar vai
— O voo é do meu pai, ele tem algumas vagas nas idas e na volta que não estão preenchidas, não pagamos nada, os outros passageiros custeiam — Ele respondeu
— E se for amanhã cedo — Ela perguntou levantando uma das sobrancelhas
— Não importa, se você ficar aqui comigo qualquer valor compensa, vamos dormir juntos — Ele falou amoroso pegando na mão dela
— Valor Fausto, quanto? — Ela perguntou quase numa ordem
— Uns oito mil reais — Ele respondeu
— Ai meu caralho! — Ele falou jogando as coisas na mala — Dá tempo ainda, me leva agora pro aeroporto
— Fica comigo Dani, por favor — Fausto disse beijando a mão dela
— Olha, isso vai me incomodar, eu vou sentir como se estivesse devendo pra você, eu não sou assim com dinheiro, não quero jogar dinheiro fora e isso é jogar fora. Se a gente der certo mesmo vamos ter muitos momentos juntos
Ele olhou para ela compreensivo, ela continuou
— Além do mais você disse que rico não perde dinheiro
Ele sorriu lembrando do que ele mesmo havia dito
— Tá pronta pra ser rica já! — Ele falou vendo ela organizar a mala
— Rica nada, eu vou ser esposa de rico — Olhou para ele sorridente
Ele riu.
Danielle se despediu de todos e junto com Fausto entraram no carro e dispararam para o aeroporto, chegaram a poucos minutos da decolagem. Se abraçaram e se beijaram de forma apaixonada, ao se afastar Danielle gesticulou para o carro da escolta distante
— Tchau meninos! — Mandou um beijo
O carro apenas deu um sinal com o farol, Danielle sorriu e correu para a aeronave.
Entrou esbaforida, olhou em volta, não conhecia ninguém, as pessoas conversavam, a olhavam com curiosidade.
Ela entrou e pegou o celular, viu as mensagens, muitas mensagens, Fabio, Miriam, sua mãe, psicóloga, o grupo do trabalho estava com alguns problemas, mas nada que ela não pudesse suprir.
Danielle ficou hipnotizada com a magnifica imagem da cidade noturna de São Paulo, um mar de luz sem fim até o horizonte.
Quando o avião pousou ela se despediu da tripulação e foi direto ao seu carro estacionado, parecia que não o via a decadas, o dia junto com Fausto havia sido longo e louco.
Segurou o volante com as duas mãos e o acariciou, aquele local era seu lugar de reflexão, havia chorado muitas vezes ali, também havia rido, girou a chave
— É carrinho, você não sabe de nada, hoje foi um dia bem legal, acho que eu to namorando.
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