Capítulo revisado. Esta é a versão definitiva.
***
“O relato deste conto foi inspirado e derivado de fatos reais. Os nomes de todos os personagens são fictícios, inclusive do próprio narrador.”
***
A ARTE DE DESACELERAR
Eu ainda me sentia envergonhado ao pedir à Dona Lúcia aquele espaço, mas ela tinha um jeito especial de dissipar qualquer inibição que eu carregasse. “Ah, meu menino, você é apenas uma criança alta”, dizia, sempre com um tom afetuoso, fazendo-me sentir à vontade em sua sala. Sem o celular em mãos, eu contava a hora, apesar de saber que nem cinco minutos tinham se passado.
O tempo de espera foi angustiante, e eu não me preparava especificamente para como conversar com Marcelo. Meus olhos percorriam o pequeno cômodo. Era uma salinha pequena, com uma mesa retangular de madeira escura e ligeiramente gasta. Ao lado, a mesa de cabeceira, onde um pequeno vaso com flores murchas descansava, parecia ter sido esquecida; mas, ainda assim, dava um toque de vida àquela sala modesta. Havia apenas uma cadeira, que ao sentar, me fez sentir como se estivesse em um trono feito sob medida para Dona Lúcia.
As paredes, pintadas de um tom suave de amarelo, exibiam fotografias que pareciam sussurrar em meus ouvidos memórias de juventude. Uma, em especial, chamou minha atenção: meu pai, jovem e cheio de vida, cercado por rostos sorridentes. Alguns deles pareciam ser familiares para mim, mas eu não tentava explorar essa sensação para ter certeza. A alegria que havia naquela fotografia era um contraste sutil com a quietude do lugar, onde o som da chuva parecia distante, como se eu estivesse dentro de um quarto do pânico.
Quando meu pensamento cogitou que a demora de Marcelo poderia comprometer nosso plano para Léo, de não desconfiar de nosso encontro, ouvi a porta abrir, e ele entrar, a fechando-a logo em seguida.
— Que demora foi essa, Marcelo?
— Eu precisei passar uns minutos com Léo para ele não desconfiar — ele falava enquanto observava as fotografias, totalmente despreocupado com o tempo.
— Você acha que ele vai desconfiar? — perguntei, seguindo seu olhar curioso nas fotos.
— Não. Comentei que achava que você poderia demorar porque Dona Lúcia gostava de detalhar a conta, muitas vezes com medo de seu pai desconfiar — ele falava, sorrindo, enquanto eu me incomodava por ter que mentir para Léo.
— Você não exagerou, não?
— Só um pouco, quando falei que estava com tanta dor de barriga que talvez precisasse de um rolo inteiro de papel. - Marcelo sorriu com vontade, trazendo sua mente jovem para o meu lado. Parecia até que queria estar na mesma frequência que a minha durante a conversa, mas eu estava apenas me desconectando.
— Então vamos logo começar... — falei impaciente.
— E a baixinha, hein? Falou com ela para se esconder... — disse, ainda com o humor aflorado.
— A DONA LUCIA vai ficar na cozinha até eu sair — respondi, tentando espelhar a maneira de meu pai falar para me sentir como um adulto em uma reunião. Enquanto isso, Marcelo, um pouco indiferente, mirava um maço de cigarro em cima da mesa.
— Você está me escutando, Marcelo? — perguntei, com a voz um pouco alterada, enquanto me levantava da cadeira para lembrar a urgência do momento.
Marcelo deu alguns passos curtos, a distância que a pequena sala permitia. Passou por mim em direção à cadeira. Quando se sentou, abriu uma gaveta da mesa e encontrou uma escova de cabelo. Eu me virei de costas para ele, tentando me conter. Quando olhei novamente, ele estava organizando o cabelo e me olhava com um sorriso juvenil, passando a escova lentamente pelos fios.
— Você só pode estar brincando, né?
Marcelo pousou a escova na mesa e, ao elevar o olhar, brilhou os olhos para mim com um sorriso diferente, que me fez arrepiar. Aquele sorriso era uma pergunta silenciosa se eu ainda tinha dúvidas de que ele iria me ajudar. Foi tão forte que tentei me desculpar com as mãos. Caí na real e me aquietei.
Enquanto tentava me distrair novamente com as fotos, ouvi o som do isqueiro seguido da fumaça do primeiro trago do cigarro que ele acendeu.
— Não adianta ficar ansioso. Isso só vai fazer você se apressar e se confundir. É para me contar tudo com calma, Léo — sua voz transmitia uma advertência serena.
A voz brincalhona de Marcelo desapareceu completamente. Percebi que ele entrou na sala sabendo que eu estaria ansioso. Ele só queria desacelerar meu ritmo e tornar a conversa mais suave. O cara era muito desenrolado. Quando concordei, com a boca um pouco aberta pela surpresa com sua sabedoria, o encarei.
Seu olhar foi tão poderoso que senti que valia por todas as outras vezes em que ele falhou ao tentar me fitar. Seus olhos transmitiam tanta segurança que imagino que, se não os tivesse evitado tantas vezes, estaria muito mais confiante.
- Pronto, Pedro? Agora me fale tudo o que você sabe.
TRÊS PASSOS PARA O FUTURO
Enquanto eu explicava toda a situação, Marcelo me ouvia em silêncio. Falar sobre o uso da cocaína e o sexo entre Léo e Caio foi recebido com naturalidade, como esperado, mas quando foquei sobre a situação da câmera e da ameaça velada de Luiz; Marcelo se comportou diferente. Ele pareceu incomodado e agitado, como se houvesse envolvido duas histórias completamente alheias uma da outra. Pegou um bloco de notas em branco a sua frente e buscou uma caneta na mesma gaveta que achara o pente. Após falar alguns pontos de nossa conversas durante a madrugada anterior e explicar que Léo estava se destruindo e se diminuindo gradativamente eu encerrei e o observei. Ele rabiscava a página em branco, mas percebi que ele não estava escrevendo nada. Era apenas uma maneira de lidar com sua mente se mostrando inquieta. Eu franzia a testa pra ele enquanto esperava um retorno. Imaginei que por ter sido rápido na descrição, Marcelo não havia entendido então defini uma brecha pra tirar ele daquele transe:
-Cara se quiser eu te explico melhor...
Marcelo me olhou de baixo e balançou a cabeça enquanto batia a caneta sobre a mesa em uma sequencia ensurdecedora.
-Léo precisa do vídeo dele se drogando e sendo passivo com Caio; Isso aconteceu em um cômodo do sitio de Luiz, que tinha uma câmera no quarto que eles praticaram o ato; Luiz salvou o vídeo e usa como moeda de troca pra manter os dois presos ao grupo... – Marcelo parou um instante pra recuperar o fôlego. – Caio não se sente preso por que já perdeu toda a dignidade. Léo, no entanto, quer seguir a vida.
-Desse jeito mesmo – Concordei, impressionado com a dicção impecável de Marcelo ao sintetizar tudo em poucos segundos. Parecia outra pessoa. O cara era rápido e astuto.
- Esqueci alguma coisa? – ele perguntou e respondi imediatamente acenando a cabeça. – Talvez que Luiz seja o verdadeiro mal aqui, né? – complementou com a voz desconfiada.
— E aí, mano? O que você tem a dizer? Tem como ajudar? – Lancei as perguntas.
— Tem algo nessa história que não bate. – Ele falava pra si mesmo.
—Como assim? O que você quer dizer?
— Pedro, conheci o Luiz há muito tempo... - pausou enquanto levava outro cigarro aos lábios enquanto eu pisava sequencialmente o chão com o pé direito. - Eu tinha mais ou menos sua idade agora. Hoje tenho 22. Faça as contas aí.
- E daí, Marcelo? – perguntei esfregando o rosto impaciente.
- Ele nunca me encurralou e também nunca ouvi história de outro cara que tenha passado por algo parecido. – ele falava mais parecia reflexivo. - Por isso não faz sentido isso.
As pausas pra tragar me deixavam desconfortável e ansioso novamente. Meu pensamento, naquele momento era que pra gente conseguir alguma coisa eu precisei passar por uma longa espera e naquele momento uma aparente longa conversa. Parecia que estávamos dando voltas e não avançávamos.
— Você está dizendo que o Léo mentiu?! – interroguei com a voz na ofensiva. - Eu acredito nele!
— Não, não, Pedro! Entenda: Eu também acredito nele. O que quero dizer é que tem alguma coisa faltando.
— Talvez você não conheça o Luiz tão bem né? - Perguntei e recebi um olhar de reprovação.
—Não quero ser advogado de Luiz. Até porque os vícios dele impedem qualquer defesa.
— Como assim?
— Luiz tem três hábitos que tenho certeza que a vida dele acaba sem eles. - Levantou três dedos para enumerá-las. — A primeira é a cocaína... O cara deve ter nascido com um canudo no nariz.
Marcelo apagava o cigarro no cinzeiro enquanto falou que a segunda compulsão de Luiz era a masturbação. Levantou da cadeira e comentou brevemente sobre essa preferencia de Luiz enquanto alongava as pernas.
— E a terceira? — perguntei. – Acelere aí, Marcelo.
— Dinheiro! Um vídeo amador desse tipo, com dois héteros se pegando, com penetração e drogas... melhor de tudo isso: sem roteiro... – Pausou esperando minha reação que foi nenhuma. - Vale ouro, Pedro. É o material mais difícil e caro do conteúdo que Luiz trabalha...
— Se isso for verdade mesmo, então ele já devia ter colocado esse vídeo pra frente... – falei.
— Exato! - Marcelo ria orgulhoso pela minha associação, enquanto eu a achava óbvia demais.
– Pode ser que ele só tenha blefado e Léo caiu. Na minha época não havia essas câmeras, mas pelo que conheço ele, as câmeras podem ser só decoração.
— Não é não. Léo confirmou outro dia que esteve lá. E elas funcionam mesmo. E tinha a do quarto.
A gente parecia estar montando uma equação aos poucos pra depois tentar resolve-la. Aprender a ter calma tinha nos feitos bem, senão não havia como rever pequenos detalhes na conversa pra poder seguir pra ação de fato.
- Outra coisa, Pedro: você já pensou porque que uma festa com tanta droga e sexo com câmeras até nos quartos, ele se interessou apenas pela do quarto que os rapazes estavam? Sabendo que eles só faziam broderagem?
-Agora você me pegou, Marcelo. – Raciocinei que se Luiz realmente tivesse esse padrão as pessoas já não confiavam tanto nele. E isso já teria chegado ao grupo.
- E o os outros quartos? Estavam com os outros boy, né? O restante do grupo com certeza estava lá... – Marcelo pausou me induzindo ao raciocínio. - Léo poderia ameaçar falar pra o grupo todo dessa ameaça. Isso ia gerar um problema grande pra Luiz. Já imaginou?
Fiquei intrigado como pensamento ligeiro de Marcelo. Ali era um dom. E ele realmente estava calculando bem o que fazer.
- É... se Léo o ameaçasse também, os dois iam ficar em um dilema sem fim. – Conclui em voz alta.
- Quero que você entenda que não faz sentido. Muita ponta solta, PEDRO!
Enquanto ele falava isso, eu tentei argumentar que Léo era um dos principais, junto com Caio, mas Marcelo nem respondeu, apenas balançou a cabeça, fazendo uma careta como se aquilo fosse uma bobagem completa.
- Mas você já foi um dia o favorito dele. Porque eles não podem ser hoje em dia?
Marcelo, gargalhou alto. Saindo do clima de seriedade. Eu não acompanhei a piada enquanto ele me abraçava dizendo o quanto dava valor a mim.
-Eu achei que você tivesse entendido quando lhe falei aquilo mais cedo. – Ele foi em busca da escova novamente e penteando o cabelo falou que ele nunca foi favorito de Luiz.
- E porque você me falou aquilo?
- Pedro... eu quis dizer que ele era apaixonado por mim. - Falou após soltar a escova.
Me recordei do que Léo havia me dito e sem dizer a ele, pois já estávamos sem tempo.
— Como a gente vai descobrir essa porra então, Marcelo?
— Fácil. Vou voltar para casa agora, acordar o Luiz e chamá-lo para um motel. Dizer que o vídeo que ele tanto quer, ele mesmo vai gravar. E que vai custar caro.
— Você vai fazer isso, mano?
— Não sei ainda. Só vou descobrir quando ele disser se pode me pagar.
— E como o vídeo entra nessa história?
— O pagamento é o vídeo. Vou dizer que tenho um enorme tesão em ver o Léo e que queria assisti-lo com o Caio.
— Isso vai funcionar?
— Acredite em mim: Luiz seria capaz de dar até um rim para me ver em vídeo com meu corpo de hoje.
Marcelo ainda me disse que, caso o vídeo não existisse e fosse apenas um blefe, ele iria descobrir as motivações por trás de querer prender o Léo. De qualquer forma, isso iria levar tempo, então ele sugeriu que eu chamasse o Léo para ir embora em meia hora.
- Marcelo, e se tudo isso não der certo? Se ele negar até o último momento?
- Falei que ele não vive sem seus vícios né? – ele falava como se fosse tivesse um coringa guardado.- ele tem um quarto vicio que nem ele mesmo se deu conta.
- E que vicio é esse, Marcelo?
Ele se aproximou e coletou meus ombros com suas mãos.
-Eu! A possibilidade de um dia não ter mais contato comigo ia destruir ele.
Ele apertou meus ombros e me fez uma pergunta que realmente me tocou: se eu confiava nele. Era estranho sentir meus olhos se encherem de lágrimas, algo que não acontecia com frequência para mim. Contudo, consegui controlar a emoção, balançando a cabeça em resposta. Ele me deu um breve abraço e se despediu, repetindo várias vezes o tempo de espera: “meia hora, Pedro! (...) espere meia hora... Enquanto isso, eu olhava para as fotografias e ficava imerso em pensamentos, me perguntando se um dia Léo e eu estaríamos de volta àquele lugar, fazendo parte daquele memorial.
CAMINHOS INVISÍVEIS
Dona Lúcia entrou segundos depois que a voz de Marcelo parou de ecoar em meus ouvidos, como se estivesse esperando sua saída. Com um tom de ansiedade que transmitia um leve temor de ser mal-educada, ela me pediu para ligar para meu pai, mencionando que precisava fechar em breve. Já estava quase de noite, e a chuva que caía não traria mais nenhum retorno.
Agradeci a Dona Lúcia e informei que ligaria para meu pai, mas que ainda precisaria esperar um pouco. Ela assentiu com a cabeça e sorriu, antes de deixar uma mensagem que me marcaria: eu era muito jovem e ainda teria muitas experiências pela frente. Aconselhou-me a aproveitar a vida de uma forma saudável, ressaltando que eu tinha um pai que me amava, independentemente de quem eu escolhesse ter ao meu lado, afirmando que o conhecia melhor do que ele mesmo.
Fiquei encarando Dona Lúcia, sem saber o que responder; meus lábios mal conseguiam se mover, como se ela já tivesse formado sua própria teoria sobre mim. Sem mais palavras, dei um sorriso indiferente, e acabei me retirando.
O que conversei com Marcelo despertou um maior cuidado em entender o que eu realmente sentia. O que vivenciei com Léo foi desastroso do ponto de vista moral. Toda aquela combinação de sexo e drogas era, sem dúvida, cruel para minha idade e para meu histórico de criação. Apesar de meu pai ter uma ótima condição financeira e nunca me negar dinheiro para o que precisasse, nunca fui um esnobe. Não conseguia me sentir superior a ninguém por estar naquela posição privilegiada. Talvez a maioria de meus colegas me interpretasse de outra forma. Se não tivesse sido tão bem educado por ele, aquela experiência poderia ter me levado a um caminho sem volta, mas eu tinha convicção de que seria passageiro. A cocaína não entraria mais em minha vida. Minha preocupação em relação a isso era praticamente nula, mas e Léo? O que seria dele? Poderia estar na mesma situação que Caio. Se não foi hoje, poderia ser amanhã ou depois. Eu queria ser mais do que um simples amigo para ele, quando tudo estivesse difícil. Gostaria de acreditar que nossa conexão tinha um propósito. Essa evolução em meu entendimento interior me fez aceitar que talvez não ficaríamos apenas na amizade.
Ao chegar à mesa, sentei-me ao lado de Léo e, com o copo de cerveja prestes a ir à boca, perguntei sobre Marcelo.
— Sei lá. Ele foi no banheiro e quando voltou, comentou que tinha que sair para resolver um negócio.
— E saiu nessa chuva?
— Não. Ele conhecia um cara que estava ali na sinuca e saiu com ele em um carro. Estranho, né?
Marcelo estava agindo rápido. Talvez nem desse tempo para aproveitar com a namorada. E tudo isso ele estava fazendo por um amigo que, supostamente, estava apaixonado por um cara que conheceu há pouco tempo.
- Marcelo é assim, mesmo – respondi olhando a minha volta. Tentando, em vão o encontrar.
E a conta, deu certo? Demorou hein. – Léo perguntou despretensioso.
— Sim, deu sim — respondi, enquanto me acomodava na cadeira. – A dona Lucia ela é um pouco preocupada com os detalhes. Acho que tem algum medo de meu pai desconfiar de alguma alteração – Precisei corroborar a mentira de Marcelo.
— Pedro, o que você tem? — Léo me perguntou com um sorriso. — Tá sério...
— Nada não. Acho que só tô com um pouco de fome. — Respondi a primeira coisa que me vinha à cabeça. Minha mente focava em conseguir logo o desfecho de tudo aquilo.
— Esse lugar aqui é bacana. Gostei. – Léo respondeu tentando iniciar uma conversa.
— É sim — respondi com a voz um pouco alterada pelos goles de cerveja que tomava. Minha resistência era quase nula.
— Amanhã eu vou embora, você já deve saber, né? — Léo comentou pra me fazer lembrar que eu deveria voltar a atenção pra gente naquele momento.
— Sei sim. – Respondi com minha presença voltada exclusivamente pra ele.
— Eu tava pensando aqui... Seu pai alugaria um quarto pra mim? Se eu viesse novamente aqui sozinho?
— A casa é grande, você sabia? Eu já poderia chamar você como amigo. Poderia ficar lá em casa mesmo. - Respondi com meu rosto esperançoso com a ideia dele.
— Sério isso? — Léo perguntou com um sorriso de dúvida. — E seu pai?
— Tá bom... Deixa... Ele aluga sim. — falei prevendo que a pauta sobre o que meu pai acredita ou não voltaria. Léo riu um pouco e mudamos de assunto.
Enquanto rememorávamos o trajeto de volta pra barraca, eu me via preso ao relógio, sempre o observando, notei que a bateria estava quase no fim. Resolvi chamar o Uber o quanto antes, mas havia poucos e nenhum aceitou. A bateria arreou de repente.
— O que foi? — perguntou Léo ao notar minha reação.
— Estava pedindo um Uber, mas o celular descarregou. Você me empresta o seu? — perguntei, percebendo o jeito como Léo me olhava, com um sorriso cheio de significados que eu não saberia interpretar.
— Homem, tu tem medo de água, é? — brincou Léo. Isso me lembrou que realmente não estávamos tão longe de casa. — Vamos embora na chuva mesmo.
Sorri e me levantei com Léo. Recolhi as peças de roupas que estavam na mesa. Marcelo havia deixado as suas também, na pressa de partir. Fomos falar com Dona Lúcia para avisá-la de que estávamos indo embora a pé. Pedi que ela guardasse tudo e confirmei que passaria no dia seguinte de bicicleta, depois da escola, para pegar. Ela sorria enquanto colocava tudo em uma sacola com cuidado. Pedi algumas sacolas para proteger meu aparelho durante o trajeto e ela prontamente me entregou. Antes de sairmos, ela me deu um forte abraço e logo chamou Léo para abraçá-lo também. Ele riu, surpreso com essa reação dela.
Saímos da barraca e subimos as ruas estreitas. Após alguns metros, notei que ambos estávamos descalços, mas resolvi não comentar e apenas seguir o caminho. Olhei para Léo e sua expressão indicava que o seu momento tinha acabado; ele parecia voltar para a realidade amarga que o perseguia. Deixei-o com seus pensamentos enquanto lidava com os meus. O trajeto foi feito em silêncio.
O céu ressoava com um trovão distante, um lembrete sombrio de que algumas batalhas são travadas em silêncio e que, às vezes, precisamos nos molhar na tempestade para nos encontrarmos de novo.
A TEIA DO DESTINO
Quando chegamos ao meu quarteirão, senti meu corpo enrijecer ao ver Marcelo entrar apressadamente no carro de Luiz, que arrancou em velocidade. Meu coração acelerou um pouco, mas não consegui perceber se eles nos notaram; sinceramente, pouco importava. Léo bufou ao meu lado, com a chuva escorrendo por seu rosto, e comentou, gesticulando de forma impaciente:
— Tá vendo, Pedro? Seu pai lá no hospital com o Caio e esse Zé buceta saindo com o Marcelo pra fulerar. Eu sempre tive razão — disse ele, cruzando os braços e balançando a cabeça em descrença.
Senti o peito apertar com a tensão e respondi, tentando manter a calma:
— Calma, homem, nem tudo que parece é — falei, dando-lhe uma tapinha reconfortante no ombro.
Ao chegar à calçada de casa, soltei um suspiro frustrado e bati com a mão na cabeça, provocando um ruído seco.
— Esqueceu a chave, não foi? — Léo perguntou, erguendo as sobrancelhas.
— Minha cópia estava na bermuda — respondi, revirando os olhos.
— E agora, o que a gente faz? — ele questionou, inclinando-se levemente.
— Acho que vamos ter que contornar a rua e entrar pela área da piscina — falei, começando a caminhar rapidamente, com Léo me seguindo.
Corremos pelo quarteirão, os pés descalços chapinhando nas poças, a água salpicando em torno de nós. O caminho era escorregadio, e quase perdemos o equilíbrio uma ou duas vezes, mas o riso de Léo cortava a chuva, leve e despreocupado. Ao virar a esquina, vi seu sorriso desafiador iluminado por um relâmpago distante, enquanto eu respirava um pouco mais rápido, o ar frio enchendo meus pulmões.
Quando finalmente paramos, Léo estava ofegante. Ainda rindo, ele comentou, surpreso:
— Como assim, homem? Aqui tem piscina e a casa vai de ponta a ponta do quarteirão! — disse, com as mãos plantadas nos quadris, incrédulo.
— É, sabia não? — respondi, fingindo indiferença, embora meu coração ainda batesse forte pela corrida. — Achei que Marcelo tinha falado pra vocês.
— Não mesmo! E lá não tem chave? — ele perguntou, esfregando os braços para aliviar o frio.
— Tem, né? — respondi, passando a mão pelo rosto, tentando aliviar a barreira da chuva. — O caseiro que cuida da limpeza da piscina e do jardim mora bem em frente. Ele tem uma cópia. O problema é que não dá pra entrar na casa, pois os fundos também estão trancados.
Léo soltou um suspiro resignado, com os ombros caindo um pouco:
— Já vi que vamos continuar na chuva...
Sorri e dei-lhe um leve empurrão, tentando levantar seu ânimo:
— Relaxa! Lá tem um quarto bem grande, com cozinha, banheiro... vai dar certo!
— Rapaz, seu pai é brabo mesmo — comentou, admirado, sacudindo a cabeça.
— O coroa trabalha muito. Ele gosta. Pra mim, tanto faz... Oh, ele tá em casa! A luz da sala tá acesa — falei, apontando para a casinha do caseiro, tentando seguir em frente com confiança.
Tentei explicar a situação ao caseiro; minha voz se confundia entre a urgência e o respeito. Antes que eu terminasse, ele já havia me entregue a chave, com as mãos tremendo levemente. Léo ria ao meu lado enquanto eu abria o portão.
— O cara parecia nervoso por ter batido na porta dele- sussurrou e eu soltei um riso.
Assim que entramos, Léo teve outro surto e pulou na piscina, gritando como um abestalhado. Para ele, aquele ambiente parecia coisa de outro mundo. Para mim, era apenas minha casa, mas entendia seu jeito brincalhão.
— Ei, Pedro! Vem pra cá! — ele me chamou, gesticulando com as mãos. Eu hesitei por um momento, mas acabei cedendo.
Enquanto me sentava na borda, perguntei se ele ainda queria beber, pois achava que tinha cerveja no quarto da piscina. Léo foi se aproximando, admirando o ambiente. Ele pousou as mãos em minhas pernas e me respondeu que não, que queria se livrar da lombra da cerveja. Sugeriu que eu fizesse o mesmo e me puxou pela cintura para junto dele.
Assim que entrei, a água fria fez meu corpo arrepiar. Léo estava relaxado, me observando. Ele deu uma risada leve, piscou, e eu não consegui evitar um sorriso bobo.
Começamos a brincar, jogando água um no outro, mas o clima entre nós estava mudando e eu percebia isso. O jeito como ele olhava para mim fazia meu coração acelerar, um sentimento novo que eu não sabia como decifrar. Nossos olhares se encontravam, criando um momento acompanhado de uma energia estranha.
A distância entre nós parecia diminuir. Eu podia sentir meu coração batendo mais forte, meus músculos tensos. Ele estava tão perto, e dava para notar que Léo também estava nervoso. Ele desviava o olhar, mas logo voltava a me encarar, e em um impulso, ri nervosamente.
— Você acha que dá pra dar um mergulho melhor do que o meu? — ele provocou, mas era como se estivesse buscando um motivo para tocar em mim. Fui até ele e, sem pensar duas vezes, mergulhei para me aproximar.
Quando voltei à superfície, a brincadeira tomou um novo tom. Nossos corpos flutuavam próximos, quase que sem querer. Léo se aproximou, a água subindo até a altura dos nossos peitos. A proximidade dele me deixava inquieto, e eu demorei para perceber que estávamos quase ao alcance de um beijo mas algo na sua expressão me dizia que ele também sentia a expectativa. Eu parecia nervoso, mas não o suficiente para me afastar. A distância entre nós se tornava cada vez mais fina, como se estivéssemos prestes a cruzar uma linha desconhecida.
— Você tá com frio? — perguntei, tentando disfarçar o nervosismo, mas a maneira como eu o olhava dizia outra coisa.
— Um pouco, mas é por sua causa — falou, confiante, mas notei um rubor em seu rosto.
Ele chegou mais perto, e eu podia sentir seu calor; o desejo entre nós era inegável.
— Pedro... — Léo começou, e eu vi a hesitação nos olhos dele. Ele parecia tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão bonito. Meus dedos começaram a entrelaçar nos dele, e tudo que eu queria era dar aquele passo a mais: o primeiro beijo.
Eu vi Léo inclinar a cabeça levemente para mim. Quando nossos rostos se aproximaram, senti meu coração acelerar rapidamente e pude ver o desejo nos olhos dele. Já estava quase fechando os olhos quando um trovão estrondoso cortou a noite, fazendo a água balançar e quase me jogando de volta à realidade.
— Caraca! — falei, me afastando um pouco, o momento completamente interrompido. Léo riu nervosamente, mas seu olhar ainda buscava o meu, como se a conexão ainda estivesse lá, mesmo depois da distração.
“Parece que a natureza não quer deixar a gente em paz,” ele comentou, em um tom leve, tentando aliviar a tensão. Mas eu sabia, no fundo, que ambos ainda queríamos aquele beijo, mesmo que a chuva estivesse fazendo barulho demais pra nos deixar em paz.
Aproveitei a deixa para sair da piscina e ir ao quarto. "É... parece que a gente vai ter que esperar um pouco", eu respondi, tentando não demonstrar a decepção.
— Você tá com fome? — Perguntei nervoso acelerando o passo.
Não escutei sua resposta. Apenas vi o impulso dele com o tríceps pra sair da piscina. Minha mente girou por um instante, ao pensar que ficaríamos a sós confinados naquele quarto.
LABIRINTOS SEM FIM
Quando você entra, logo percebe a grande janela com cortinas, que quando abertas, deixa a luz natural entrar e mostra a piscina do lado de fora. A cama de casal fica ao lado dessa janela, dando uma vista panorâmica do ambiente exterior. Vê-se também, aos fundos do quarto, uma porta deslizante que dá acesso ao banheiro.
Do lado direito da entrada, há uma cozinha americana moderna e prática, com eletrodomésticos de aço inoxidável, um balcão com bancos altos para refeições rápidas e armários que guardam tudo o que você precisa. O espaço aberto da cozinha permite interagir com quem está no quarto enquanto prepara algo para comer. O piso de madeira clara, as plantas em vasos e uma arte de parede simples finalizam a decoração, tornando o quarto da piscina um canto agradável e relaxante.
Apesar de aconchegante, o ambiente é mal iluminado à noite pelo exterior. Eu havia esquecido desse detalhe e, enquanto dava voltas pelo quarto, acabei esquecendo que precisaria ligar alguma luz antes. Quando vi o vulto de Léo pela janela, entrei no banheiro, liguei a luz rapidamente e enxuguei as mãos e o saquinho com meu celular. Voltei rapidamente em direção ao batente da cozinha, onde encontrei um carregador com várias entradas de conectores.
Ele já estava ao pé da porta, enxugando o rosto com a palma da mão, a cabeça baixa, olhando para o pequeno tapete bem à sua frente, que ignorei ao entrar. Depois olhou para o lado, agarrou uma toalha que repousava sobre a beira da cama e enxugou rapidamente as mãos. Enquanto eu me debatia em ansiedade, Léo parecia mostrar tranquilidade, acendendo uma das luzes, que iluminava melhor a cozinha do que o restante do quarto, e abrindo parcialmente as cortinas, que clarearam um pouco mais a cama. Sua naturalidade me fez errar o conector certo do carregador universal, fazendo-me acreditar que ele conhecia aquele lugar melhor que eu.
Olhamos para o chão e percebi o estrago que fiz. Léo, ligeiramente, perguntou em tom de chacota se eu ainda estava embriagado.
— Acho que sim. Deixei o quarto ensopado — respondi, finalmente acertando o conector correto.
Léo entrou ainda mais no ambiente, observando tudo à volta, enquanto, com a toalha em mãos, foi se enxugando novamente.
— Parece mais um apartamento do que um simples quarto — comentou, voltando em direção à porta principal.
O barulho da chuva batendo nas telhas do cômodo criaria uma trilha sonora perfeita, se não fosse minha inquietude ao ouvi-lo trancar a porta. Me aproximei discretamente e esperei pacientemente enquanto ele terminava com a toalha para que eu também pudesse me secar. Ele se aproximou mais e, para intensificar meu nervosismo, começou a me secar. Passou a toalha por todo o meu corpo com uma suavidade inesperada. Seus olhos eram fixos nos meus, até mesmo quando se abaixava para secar minhas pernas. Tremia enquanto nossos olhares se cruzavam, uma troca silenciosa de insegurança e expectativa. Ele ria para mim, e eu conseguia apenas rir de volta, meu nervosismo se transformando em uma excitação que me deixava incapaz de articular qualquer palavra. Senti o choque de sensações à medida que a toalha percorria minha pele. Eu estava trêmulo, mas ele mantinha um olhar tranquilo, aquele sorriso que tornava tudo tão natural e, ao mesmo tempo, íntimo.
Quando terminou, jogou a toalha ao lado e se posicionou bem à minha frente. Meus olhos desviaram para o relógio na parede, e vi os ponteiros se aproximando das 8h. Ele colocou as mãos em minha cintura, fazendo meu coração disparar ainda mais.
— Calma... Não precisa ficar nervoso. Eu estou aqui — disse ele, com um olhar que mostrava um pouco de insegurança da sua parte.
Eu respondia com um olhar que refletia a mesma insegurança e confusão dentro de mim. Seus olhos desviaram para o volume na minha sunga, e ele continuou, como se aquela visão intensificasse sua determinação.
— Você está excitado... é normal, cara. Eu também tô — ele falava com uma certa interferência na voz, deixando mais explícito que ali era um momento difícil para ele também. — A gente combinou que só deveria ser na hora certa. Lembra? — soltou suas mãos de minha cintura, o que me deixou palpitando ainda mais.
Minha mente insegura se perguntava se ele dizia aquilo porque não queria avançar. Eu ainda tinha dúvidas se ele realmente gostava o suficiente de mim.
— Você quer isso? — perguntei, com a voz falhando.
— Você não faz ideia do quanto, mano — o som de sua resposta foi definitivo para mim. — E você? O que você quer?
Fiquei calado, absorvendo o quanto é mais fácil perguntar que responder. Léo parecia tão nervoso quanto eu, ambos aguardando a resposta que mudaria tudo. A ausência de qualquer substância que nos dissesse o que fazer tornava a situação mais intensa e emocionante, como se estivéssemos nos descobrindo um ao outro de forma crua e autêntica. Ao contrário do que eu pensava, ali não seria apenas a minha primeira vez, mas a dele também (sem drogas). Tamanha era a tensão que ele havia removido suas mãos da minha cintura, a expressão em seu rosto revelando sua batalha interna.
Era frio, mas tanto eu quanto ele estávamos em estado de tremor, ossos chacoalhando ligeiramente enquanto nossos olhares se entrelaçavam, cada segundo carregado de expectativa. Era como se, naquele silêncio denso e cheio de significado, estivéssemos desbravando as profundezas um do outro, mostrando nossas vulnerabilidades sem precisar de palavras. Observávamos o corpo um do outro, cada detalhe minuciosamente registrado, cada movimento, cada respiração criando uma lenta e crescente tensão. Passamos vários segundos assim, o mundo ao nosso redor desaparecendo até restarmos apenas nós dois.
Meu coração martelava no peito, cada batida ressoando em meus ouvidos, enquanto a possibilidade do que estava por vir gritava. Léo parecia sentir que eu seria o divisor de águas, a força que quebraria a barreira invisível que nos separava. Ele não se movia, mas a intensidade do seu olhar falava por ele, uma súplica silenciosa e uma aceitação do inevitável.
Havia uma explosão dentro de mim, um impulso avassalador crescendo, uma energia indomável que, por fim, demoliria aqueles muros. Em um instante, senti cada partícula do ar mudar, cada fibra do meu ser vibrar, sabendo que não havia como voltar atrás. O momento estava prestes a nos consumir, e eu estava pronto para ser levado pela onda de conexão que nos uniria de vez.
Com um movimento decidido, puxei Léo para perto, envolvendo-nos em um abraço que parecia fundir nossos corpos. Sentia o calor da sua pele e o ritmo acelerado do seu coração batia em uníssono com o meu. Nossos rostos se tocaram suavemente antes de nossos lábios finalmente se encontrarem, como se fossem dois imãs. O beijo foi fervoroso e carregado de sentimentos há muito contidos. Era uma dança sincronizada de lábios e respiração, onde o toque de sua língua era simultaneamente familiar e emocionante.
Conduzi Léo até a cama, a palma da minha mão buscando a curva de suas costas, enquanto nossos lábios não se separavam, ansiosos e insaciáveis. Como dois leões famintos, cada beijo era profundo e cada toque, feroz, alimentando o fogo que ardia entre nós. Naquele instante, cada carícia era uma confirmação do significado essencial que tínhamos um para o outro; celebrávamos o encontro de uma intimidade e conexão sem restrições.
FOGO E VAPOR
Estávamos criando um ambiente íntimo onde a confiança e o desejo eram o substrato principal. Nossos corpos se roçavam, acompanhados por gemidos e suspiros que ecoavam pelas paredes. Léo me virou, e por cima ele usou sua boca que descia lentamente, explorando minha pele com a língua, enquanto seus olhos brilhavam com um desejo avassalador, intensificado a cada relâmpago que iluminava o quarto.
A ansiedade me dominava e em um impulso, puxei Léo de volta para meus lábios. Num instante, as sungas foram descartadas, deixando nossos corpos expostos e prontos para a entrega. Com um toque suave e delicado, Léo envolveu meu corpo com suas mãos, traçando um caminho pelas minhas costelas até chegar à minha cintura, puxando-me levemente para mais perto. A tensão aumentava e a respiração se tornava mais pesada à medida que ele se concentrava naquilo que desejava fazer e eu precisei verbalizar. Sussurrei em seu ouvido o quanto ansiava que ele me fizesse oral.
Senti o olhar de Léo em mim, cheio de antecipação, fazendo surgir em nossos rostos sorrisos sincronizados. Ele se inclinou suavemente, tomava a iniciativa enquanto eu observava, meu coração acelerando com cada movimento. Gradualmente, Léo se ajoelhou diante de mim, seu olhar fixo em meu corpo, me olhando de cima, enquanto eu deitado o observava. Senti meus pensamentos despencarem em meio a pequenos beijos que ele começou a explorar na minha pele, cada toque devotado aumentando minha excitação. Meu coração batia rápido, quase no mesmo ritmo que o dele.
Ele deslizou a boca ao longo do meu corpo com cuidado, cada movimento um toque sedutor e um convite. Sua língua provocava, enquanto seus dedos acariciavam meu peitoral com firmeza e suavidade.
Agora totalmente entregue ao prazer, não consegui conter os gemidos baixos que escapavam de mim, incentivando Léo a continuar. A linha entre desejo e necessidade se dissolvia a cada movimento dele. Ele tomou meu membro entre os lábios, envolvendo-o com uma suavidade que provocou arrepios intensos. Os toques alternavam entre suaves e firmes, enquanto sua boca me humedecia.
Troquei olhares com Léo, sentindo a pressão entre nós aumentar, como se o mundo exterior tivesse desaparecido. As respirações entrecortadas e as respostas involuntárias de nossos corpos tornaram-se a trilha sonora daquela cena.
O momento se intensificou; a conexão física se tornava um diálogo silencioso. A cadência do ato variava, ora lenta e sensual, ora frenética. Léo, atento aos sinais do meu corpo, intensificou seu ritmo, fazendo a experiência compartilhada se aprofundar. Precisei me controlar para não exagerar nos gemidos. Mas, com a casa apenas para nós, a liberdade para expressar o prazer prevaleceu.
Ele se entregou a mim, praticamente se alimentando do meu membro, enquanto sua mão trabalhava o seu próprio desejo. Quando o puxei para mais perto, ele se posicionou sobre mim, eu não conseguia desviar o olhar de suas pernas bem definidas. Meus dedos deslizavam por sua pele, enquanto seu pau latejava contra meu abdômen, e quando sua expressão de desejo se intensificou, pude sentir que ele estava prestes a me devorar.
A intimidade era total. Em um momento de explosão, senti que estávamos bem perto do clímax, prendendo a respiração enquanto a onda de prazer nos consumia. O prazer se irradiava entre nós, celebrando o desejo e a sensualidade. Nos perdemos em sorrisos satisfeitos, e, ao final, um olhar promissor e significativo disse tudo o que estávamos prontos para experimentar juntos a seguir.
Léo se inclinou para me beijar, e com um murmúrio rouco, pediu que eu ficasse por cima dele. O momento da penetração se aproximava, e, como não tínhamos lubrificante, ele usou sua saliva para guiar meu membro ao seu orifício. Quando finalmente entrei, a glande deslizou com dificuldade, e um ruído de dor e prazer escapou de seus lábios, preenchendo o quarto com a intensidade daquela conexão.
“Vai devagar,” ele pediu, seu tom transmitindo uma mistura de dor e prazer. Mas eu conhecia a urgência do desejo que nos consumia. Então, fui fundo, preenchendo-o completamente. Seus urros de prazer ecoavam pelo ar, e suas discretas reboladas provocavam uma onda de prazer em mim, enquanto me perdia naquela troca de sensações.
Quando ele percebeu que eu estava prestes a ejacular, fez uma mudança rápida e se colocou em posição de frango. “Vamo gozar juntos,” disse ele, enquanto seus olhos buscavam os meus. “Quero ver você na hora.” Sentindo a tensão subir, deixei que a conexão nos levasse até o clímax.
Quando finalmente olhei para ele, a visão do seu corpo despertou uma onda de tesão incontrolável. Os músculos bem definidos, a pele quente e a tatuagem ao lado de seu membro, com a frase provocante "me chupa", pareciam chamar meu nome. Ignorando qualquer hesitação, decidi me entregar completamente ao meu desejo e ao dele.
Atraído por uma necessidade avassaladora, tirei meu membro dele e desci minha boca lentamente, meu olhar fixo em seu pau, que pulsava com expectativa. Era a primeira vez que fazia algo assim, mas naquele momento, cada pensamento, cada insegurança se dissipou; tudo o que eu queria era satisfazê-lo. Eu peguei seu membro em minhas mãos, sentindo a textura e o calor, e, pela primeira vez, enfiei a boca ao redor dele. Seus gritos de prazer eram música para meus ouvidos, e ele me pedia, em suspiros ofegantes, por mais.
Desci a língua pelo comprimento dele, explorando cada centímetro, enquanto meu desejo crescia. Meus lábios cercavam seu saco, e eu o lambia, fazendo com que ele se contorcesse de prazer. O gosto e o cheiro eram intoxicantes, e eu me perdi na sensação, saboreando cada instante. Quando finalmente o encarei, ele tinha um olhar decidido e provocante, mandando que eu metesse com força e o fizesse gozar com meu pau enterrado nele.
Aquelas palavras foram o sinal que eu precisava. Sem pensar duas vezes, penetrei, deixando todas as inibições de lado. A cama estremeceu sob a força dos nossos corpos, e ele gritava de prazer, gemendo enquanto se masturbava. A intensidade da cena era algo que eu nunca tinha presenciado antes. Ele se entregava completamente, seu corpo reacionando a cada empurrão que eu dava, e os gemidos dele me deixavam cada vez mais próximo de finalizar o que ele me pediu, e o fazia com dedicação. A cada movimento, eu sentia sua entrada pulsando como se me estivesse chamando para ir mais fundo.
À medida que eu me aproximava do meu ápice, ele acelerou a masturbação, gritando para que eu finalizasse dentro dele, com toda a força que eu tinha. O desejo subia e senti que não poderia aguentar por muito mais tempo. Ele se contorcia sob mim, e em um momento de pura entrega, ele gozou, chicoteando o próprio rosto com jatos de prazer.
A visão dele se perdendo no orgasmo foi o catalisador pra mim. Com um gemido intenso, eu também atingi meu clímax, jorrando dentro dele, nossos corpos se unindo em um ato primordial de prazer. Os olhares trocados falavam mais do que palavras, uma conexão profunda que era difícil de descrever.
Depois que nossos corpos se acalmaram do prazer intenso, me aproximei dele, lambendo um dos jatos que atingiu seu rosto, enquanto nossos corpos ainda se fundiam, o calor ainda percorrendo nossas peles. Em seguida, nos perdemos em um longo e intenso beijo, enquanto nos abraçávamos. O prazer ainda se dispersava entre nossos abdomens, lembrando-nos do momento tão esperado que vivenciamos juntos.
VENTOS DE MUDANÇAS
Fomos tomar banho em silêncio, mas nossos rostos completos e repletos de alegria. Eu realmente estava feliz por ter perdido minha virgindade com ele. Aquela experiência não só marcou o fim de um ciclo de desejos reprimidos da minha juventude, mas também o começo de algo muito maior dentro de mim. Talvez tivesse sido ali o ponto que a paixão realmente aflorou em mim.
Depois de nos secarmos, percebemos que só podíamos ficar de toalha, já que não havia roupas ali. Então, decidimos preparar um lanche e pensar no que fazer em seguida. Peguei meu celular para ligar e, assim que o fiz, mensagens começaram a aparecer na tela. Logo, vi várias notificações de Marcelo. Tentei não deixar isso me distrair e, enquanto comíamos os sanduíches que preparamos na cozinha americana, puxei assunto com Léo.
Léo sorriu, e eu percebi que estava animado para compartilhar. Eu queria que ele sentisse que estava prestando atenção, mesmo com as mensagens de Marcelo pipocando no meu celular. O silêncio não tinha chance de se instalar entre nós. Perguntei sobre seu interesse pelo skate, sobre seus pais, como era sua rotina quando não estava em “trabalho” ou “distraído”. Ele respondia com entusiasmo. Muitas perguntas soltas. Ai resolvi ser mais profundo:
— E quando você tiver a liberdade que tanto deseja, o que vai fazer primeiro?
Léo pensou por um momento e então respondeu. A maioria das suas respostas eram rápidas e breves, mas essa foi um pouco mais elaborada.
— Ah, cara! A primeira coisa que vou fazer é me desintoxicar. Quero deixar tudo, até a bebida. Ela só aumenta a vontade, sabe? (...) Depois, pretendo fazer um curso, ter uma profissão. Quero dizer aos meus pais que sou feliz ... dar orgulho a eles, tá ligado? – ele mordia o sanduiche me sinalizando que ia continuar. - Quero um espaço só meu, longe de minha cidade. Lá me fez muito mal... – Bebia um copo de refrigerante sorrido pra mim. - Quando estiver bem, quero ter alguém ao meu lado. Uma mulher com quem eu possa sentir algo...— ele me olhou nesse momento, sério. — ou talvez um homem. É tanta coisa que não sei se vou parar de falar.
Eu o observei, os olhos pesados. Não sabia se era por causa da bebida, da falta de sono ou do sexo intenso. Talvez fosse tudo isso junto. Meu olhar parecia penetrar a alma dele, tentando entender mais do que ele estava dizendo.
— Você, definitivamente, é diferente do que eu imaginava — comentei.
— É mesmo? E o que você achava sobre mim? — ele perguntou, curioso.
— Quando você chegou aqui, achei que era meio antipático. Parecia querer se esconder no quarto o tempo todo, só saindo à noite. Mal falava comigo… Depois de ontem, achei que você só queria curtir o momento.
Léo riu levemente.
— Eu estava assim porque não queria estar aqui. O Luiz insistiu para que eu viesse, para conhecer Marcelo e esse festival. Na verdade, eu só queria estar em casa. Sabia que, se passasse uma semana com ele, acabaria me drogando muito. E você sabe como as drogas podem mudar a gente.
O clima ficou um pouco mais sério, e eu percebi a verdade em suas palavras. O peso da conversa nos envolveu, mas no fundo. Léo me observava atentamente e, após um longo silêncio, eu disse que havia uma esperança, mas que precisava olhar algumas mensagens. Ele me encarou com uma expressão de curiosidade. Com isso, fui verificar as mensagens de Marcelo:
Mensagem (Marcelo para Pedro): “Pedro, vou te mandar áudios explicando tudo. Escute no ouvido, não deixe o Léo ouvir. Você vai precisar contar isso pra ele, mas do seu jeito. “
Teclei para iniciar uma sequência de áudios e coloquei o celular perto do ouvido.
Áudio 1: "Cara, tenho duas notícias: uma boa e outra ruim. A boa é que o Luiz não tem esse vídeo. Ele me garantiu que nem olhava as gravações. Era apenas segurança.
Áudio 2: "A ruim é que a chantagem vem do Caio. De alguma forma, ele conseguiu o vídeo da gravação. Os vídeos são apagados do servidor depois de 15 dias. Então só o Caio tem essa cópia."
Áudio 3: "Caio quando mostrou a gravação pra Luiz disse que ameaçasse Léo e a ele mesmo. Se ele não fizesse isso, Caio iria expor ele por aliciar menores para a pornografia. Luiz ficou apavorado com o Caio, por ser... você sabe né? Viciado."
Áudio 4: "Perguntei se ele sabia o porquê de Caio querer prender Léo. Ele só disse que achava Caio tinha problemas mentais... Vocês precisam encontrar o celular do Caio e deletar tudo vocês mesmos. Agora não é mais comigo. Fiz o que pude."
Áudio 5: "Eu já desconfiava de algo mais ou menos assim, mas não quis comentar naquela hora. A prisão do Léo não é culpa do Luiz, Pedro. É do Caio."
Áudio 6: "Eu conheço o Luiz. Ele está dizendo a verdade. Tô indo ver minha gata. Agora é com vocês!"
Fiquei extasiado após ouvir tudo. Meu semblante deve ter refletido a preocupação, porque Léo me observava com uma expressão de incerteza. Eu não sabia por onde começar. Pegue minha sunga e vesti novamente, entreguei a de Léo e enquanto ele a vestia me perguntava preocupado o que tinha acontecido. O tempo era curto, então fiz um resumo do que tinha ouvido, mas eu gaguejava muito e não sabia explicar tudo, então ele pediu pra ouvir as mensagens.
— Precisamos encontrar o celular dele — falei.
Léo não disse uma palavra, apenas figurava em seu rosto uma expressão de fúria velada. Antes que conseguisse articular qualquer pensamento, ele se virou e saiu rapidamente do quarto, sem pronunciar uma palavra. O segui, mas permaneci parado na porta, observando-o se afastar em direção à piscina, onde pequenas ondas se formavam e se moviam aleatoriamente. As luzes subaquáticas estavam distorcidas pela confusão da chuva, refletindo-se nos movimentos caóticos da superfície. Quando ele parou, seu olhar se fixou na piscina, e não consegui mais ver seu rosto. Decidi, então, dar-lhe espaço. Avancei um pouco pra tentar me conectar com ele à distância quando parei senti uma onda de frio percorrer minha pele. Permaneci no alpendre, onde o chão, molhado encharcava meus pés aos poucos enquanto as gotas de chuva, arrastadas pelo vento, batiam em meu corpo estático; analisando o que viria pela frente.
O CÉU PODE CAIR
O tempo parecia favorecer Léo que estava imerso em seus pensamentos enquanto eu o observava; e então, quando seu olhar desviou da piscina, finalmente consegui ver ligeiramente seu rosto encarando o meu. A expressão ainda era familiar, mas havia uma sutil diferença em seus olhos. Pareciam carregar um fardo insuportável, como se o peso de suas preocupações tivesse se tornado quase visível.
Foi então que ele deu alguns passos para longe da piscina. Eu sabia o que ele ia fazer, mas não pude evitar sentir um nó na garganta. Para mim, o que deveria ser um momento de pura contemplação se transformou em uma inquietude crescente. Léo me lançou um olhar, talvez um convite silencioso para compartilhar aquele momento. Respirando fundo, ele tomou impulso. O peito subia e descia em um ritmo frenético iniciando uma corrida em curva na direção da piscina. A chuva caía, mas ele parecia ignorá-la, como se, no instante da corrida, tudo ao seu redor perdesse importância.
Seus braços estavam relaxados, os músculos do corpo se esticando e encolhendo enquanto ele se preparava para o grande salto. Quando ele se lançou para frente, mergulhando com um salto no ar, seus braços se levantavam sincronicamente com o pulo, acima da cabeça; enquanto o corpo se torcia em um elegante salto mortal. Léo executava a manobra com uma precisão quase hipnótica. A coreografia parecia ter sido ensaiada com a natureza como se, por aquele instante, ele fosse um fragmento da tempestade se tornando parte da água e do ar. Cada detalhe fluía tão belo que me transmitia sua adrenalina e confiança. Aquela sequencia de movimentos era uma dança que cortou a chuva por alguns instantes antes que ele pudesse finalmente cair na piscina, com um poderoso “splash” que levantou uma nuvem de água. Deixei escapar a respiração que nem percebi que estava prendendo.
Para mim, aquele momento de grandeza contrastava com o peso do que ele carregava. Eu sentia que a beleza de seu salto não era apenas uma expressão de liberdade, mas também um grito silencioso, uma tentativa desesperada de escapar da tormenta interna que eu, de alguma forma, havia contribuído para criar. A culpa em mim crescia, enquanto ele se lançava ao ar, e eu permanecia preso ao solo, como se eu estivesse seguro e ele prestes a desmoronar por inteiro. Seus movimentos reforçavam uma conexão que eu desejava, mas temia, porque era marcada pela dor e pela beleza ao mesmo tempo.
A chuva batia furiosamente, criando um ritmo acelerado que parecia se alinhar com os batimentos do meu coração, eufórico por ter presenciado tamanha beleza; mas, então, enquanto a superfície se acalmava, me vi inquieto. Aquele momento pós-mergulho passou lentamente, transformando-se em um eterno vazio de expectativa. Léo não emergia, e a preocupação começou a me tirar da inércia com passos curtos e lentos.
Quando finalmente emergiu, a superfície da água se agitou ao seu redor. Estava preparado pra confortá-lo mais uma vez. Seu modo de lidar com lembranças ou momentos difíceis comigo nas ultimas horas me fez criar uma expectativa de como ele reagiria ao sair da piscina. Seu frequente comportamento choroso em meio assuntos difíceis criaram essa conjectura que foi quebrada assim que o vi.
Seu rosto, apesar de ter personificado a amargura, estava desenhado em raiva e gritava silenciosamente contra a traição que ele havia recebido. Entendi ao vê-lo que havíamos chegado a um ponto de ruptura. Não havia mais chances de sua amizade com Caio Vingar. A ruína dessa amizade que ele me confidenciou, andava de mãos dadas agora com seu rompimento do Grupo.
Ele falava algo para mim, mas não entendia nada com os sons rugindo ao nosso redor. Ele, percebendo, começou a gritar, mas a voz ainda era abafada. Então, resolvi me movimentar novamente em sua direção.
Ele repetia algo, mas eu só conseguia captar fragmentos do que dizia. Seu rosto, distorcido pelo ódio, revelava a profundidade de sua dor. Fui me aproximando e me fundindo àquela orquestra de águas ao nosso redor. Quando cheguei mais perto, ele parafraseou e pude ouvir claramente suas palavras rígidas e carregadas de segurança:
— Isso é o fim... Sério, eu vou dar um jeito nesses dois. – Ele falou firme, mas o olhar dele já mostrava que estava decidido.
— Léo... – Tentei intervir, mas ele me cortou.
— Eu nem sei por onde começar, mas vou acabar com essa situação que fizeram comigo...
— Léo, calma! – Dessa vez fui eu quem interrompeu.
Minha mente insistia em pensar que tudo seria resolvido de maneira simples e que estávamos no calor do momento. Não havia como ser difícil encerrar aquele nosso impasse. Se encontrássemos o celular de Caio, deletaríamos o vídeo comprometedor e pronto: vida segue. Tudo estava bem delineado em minha mente, e a meu ver ali era apenas um ritual que Léo escolheu para dar um adeus a amizade arruinada e aos Tekados.
— Seja o que eu precisar fazer, Pedro... - Seus lábios tremiam ao pronunciar as palavras. Percebi que não era frio, era ódio. - E aconteça o que for, eu vou sair dessa. Eu vou sobreviver... – Concluiu.
Até então não conseguia fazer nenhuma associação a uma possível tragédia e nem imaginar que haveria como a situação piorar.
É, caro leitor, eu estava completamente enganado.
***
Aviso Importante ao Leitor:
Este conto é uma criação original e está protegido pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. O plágio, que é a cópia ou uso não autorizado deste material, é um crime e pode resultar em penalidades legais severas. A reprodução, distribuição ou qualquer outra forma de utilização deste conto sem a permissão expressa do autor é estritamente proibida.
Para obter permissão ou para mais informações, entre em contato pelo e-mail: