A gente dividiu as tarefas: eu fiz uma macarronada, batata frita e temperei o feijão; Paola fez o arroz, fritou uns bifes e me ajudou a descansar e cortar as batatas. A cozinha era bem pequena e, às vezes, a gente meio que se esbarrava ali dentro. Depois de um tempo, desconfiei que ela estava fazendo aquilo de propósito, mas fingi que não notei. Na verdade, até aproveitei um pouco da situação.
Terminamos de fazer tudo, arrumamos a mesa e almoçamos. A comida ficou muito boa; acho que nossos gostos para tempero eram bem parecidos, porque ela comeu duas vezes. Com certeza, gostou tanto quanto eu.
A gente pouco conversou durante o almoço, só fizemos alguns comentários sobre a comida. Realmente, tínhamos gostos parecidos: comidas simples e bem temperadas.
Depois do almoço, a gente lavou a louça e arrumou tudo. Ela pegou um pote de sorvete e seguimos para a sala. Enquanto tomávamos um copo cada uma, ela me contou que fazia tempo que não tinha companhia ali na casa, que geralmente vivia sozinha, que conhecia todos os vizinhos e se dava bem com eles, e por isso ficava mais tranquila em viver ali sozinha e deixar a casa, na maioria do tempo, vazia.
Terminamos o sorvete e ela pegou os copos, levou para a cozinha e logo voltou. Estendeu a mão para mim e me ajudou a levantar. Sem soltar minha mão, ela me levou rumo ao corredor. Entramos em um cômodo e ela disse que era seu quarto. Se deitou na cama e me chamou para deitar ali com ela. Tirei meu tênis e me deitei ao lado dela. Aí ela disse:
Paola: Bom, vou te contar minha história. Vou dar uma resumida, ok?
Ju: Tá bom, sem problemas.
Paola: Eu me mudei para essa casa há 8 anos, eu, minha mãe Maria e minha irmã Paula. A gente ganhou ela da prefeitura. Antes, a gente pagava aluguel porque não tínhamos casa, mas era muito difícil, porque eu só estudava e minha irmã só trabalhava meio período. Minha mãe fazia faxina na casa de pessoas ricas, não ganhava muito, mas sobrevivíamos da maneira que dava. Meu pai tinha falecido há uns 4 anos em um acidente de caminhão; ele era motorista e vivia mais fora do que em casa.
Quando a gente se mudou, minha mãe disse que as coisas iriam melhorar porque não precisaríamos mais pagar aluguel e daria para comprar mais comida e roupas para a gente. Mas, infelizmente, isso não aconteceu. Minha mãe ficou doente; ela achou que era gripe e ficou em casa tomando chá e alguns remédios que eu pegava no posto de saúde, mas ela só piorava. Minha irmã mal ficava em casa porque estudava e trabalhava. Eu ficava com minha mãe o tempo todo, a não ser quando estava no colégio. Por fim, a gripe piorou muito, e minha irmã resolveu, contra a vontade da minha mãe, pedir ajuda a um vizinho. Ele arrumou um carro e levamos minha mãe para o hospital. Depois de horas esperando, ela foi atendida.
Do atendimento, ela foi direto para a internação. Estava com uma pneumonia muito avançada. Os médicos fizeram o que podiam, mas, infelizmente, ela faleceu.
Aí ficou só eu e minha irmã. Foi muito difícil no começo, mas seguimos em frente, só nós duas. Ela trabalhava e estudava; eu arrumei um serviço em uma padaria de meio período e estudava também.
Minha irmã é 8 anos mais velha do que eu, sempre foi muito estudiosa, fazia faculdade de graça porque ganhou uma bolsa. Eu quase não a via durante a semana porque as duas estudavam e trabalhavam. Nos finais de semana, às vezes eu saía, mas minha irmã sempre ficava em casa estudando. Ela dizia que a única forma de a gente ter um futuro melhor era através dos estudos.
Bom, os anos foram se passando e as dificuldades continuavam, mas a gente nunca desistiu. Não tínhamos quase roupa para vestir, comida era o básico, o dinheiro era quase que na conta. Eu comecei a cuidar de todos os serviços de casa; eu não era tão boa nos estudos como minha irmã, e então eu a deixava com todo seu tempo livre em casa para estudar.
No último ano da faculdade, minha irmã arrumou um estágio em um ótimo escritório de advocacia, só que aí ela não tinha como trabalhar mais. Então, eu parei de estudar e comecei a trabalhar o dia todo. Ela não queria no início, mas falei que era só aquele ano e, depois que ela se formasse, eu voltaria a estudar. Com muito custo, ela aceitou e disse que algum dia iria me recompensar pelo sacrifício que eu estava fazendo por ela.
Nessa época, eu já sabia que era lésbica; todos os meus amigos sabiam, mas minha irmã não. Eu já tinha ficado com algumas meninas e nem era mais virgem, mas minha irmã não sabia. Eu nunca a vi com ninguém; parecia que o amor dela eram os livros de direito.
Depois de uns 6 meses que eu tinha largado os estudos, minha irmã começou a deixar dinheiro em cima da mesa para eu fazer compras. Comecei a ver umas roupas diferentes quando ia lavar, principalmente lingerie novas. Comecei a achar estranho aquilo, mas não falei nada.
Aí comecei a reparar mais nela; ela andava com uma carinha melhor, às vezes saía aos sábados, começou a dormir fora, dizia que era na casa de uma amiga, mas vi ela chegando algumas vezes da faculdade em um carro preto muito bonito.
Mais uma vez, não perguntei nada. Achei que ela tinha arrumado um namorado rico. Também fiquei com medo de ser algum homem casado, mas guardei isso pra mim.
Um belo dia, eu estava aqui na sala com uma garota que trabalhava comigo. A gente ficava às vezes, mas não tínhamos nada sério. Nesse dia, as coisas esquentaram e a gente começou a se pegar no sofá. Logo, eu e ela já estávamos só de calcinha. Minha irmã sempre chegava depois das 23 horas e era umas 19 horas ainda. O negócio estava muito bom e não prestei atenção quando minha irmã destrancou a porta. Quando eu a vi entrando, já era tarde demais; ela me viu deitada no sofá, só de calcinha, com a garota em cima de mim, chupando meus seios.
Ali eu pensei: Agora fudeu tudo. Minha amiga levou o maior susto, começou a vestir a roupa o mais rápido possível e saiu sem dizer nada, e minha irmã ali parada, me olhando. Quando terminei de me vestir, não tive coragem de olhar para ela. Já estava me preparando para o sermão que viria a seguir. Aí, do nada, minha irmã vai até a porta. Achei que ela iria fechar para os vizinhos não ouvirem o monte que ela iria me falar.
Mas não, ela chegou na porta e chamou alguém para vir pra dentro. Mas tipo, ela chamou de amor. Eu fiquei ali sem entender, pensei que ela ia chamar o namorado para ajudar no sermão. Aí vejo ela entrar com um sorriso no rosto, logo atrás dela entrou uma mulher muito bonita e elegante, parecia ser um pouco mais velha que minha irmã.
Aí minha ficha começou a cair. Minha irmã se sentou ao meu lado e me apresentou a mulher que ela tinha acabado de chamar de amor.
O nome dela era Joanna, trabalhava no escritório onde minha irmã fazia estágio. As duas estavam namorando há 3 meses. Ela disse que tinha muito medo de me contar, por medo de eu não aceitar, mas que eu tinha facilitado as coisas.
Desse dia para frente, nossas vidas foram melhorando. Joanna era de família rica e uma ótima advogada. Ela me arrumou um emprego de doméstica no apartamento dela. Eu ganhava muito melhor, fora as roupas e calçados que ela me dava. Pagou um curso de inglês para eu fazer até eu voltar a estudar.
Minha irmã se formou no fim do ano e foi efetivada no escritório. Joanna saiu de lá porque virou promotora de justiça. Minha irmã começou a ganhar vários processos e, com isso, começou a ganhar muito bem. Eu voltei a estudar, mas continuei trabalhando para Joanna. O namoro das duas só foi ficando mais sério até que resolveram morar juntas. Queriam me levar para morar com elas, mas eu não quis.
Bom, essa é a primeira parte da história. O resto te conto no apartamento da minha irmã, ok?
Ju: Poxa, sacanagem parar quando as coisas ficam boas! Kkkk Mas tudo bem.
Paola: É que eu tenho que ir lá molhar as plantas e ver se está tudo certo. Aí é bom que você conhece o lugar onde trabalho e durmo a maioria das noites.
Ju: Está bem, vamos lá então.
Paola: Só vou trocar de roupa e a gente vai.
Ju: Tudo bem, eu espero.
Falei aquilo e continuei ali sentada na cama. Ela ficou meio sem jeito, e eu me fiz de boba. Ela viu eu trocando de roupa, fez questão de ficar me olhando; só ia fazer o mesmo.
Ela abriu um sorriso meio amarelo, pegou a mesma roupa que usava quando chegamos, virou de costas pra mim e tirou a blusa e depois o short. Eu viajava em cada pedaço do corpo dela e era tudo perfeito. Tive que me segurar para não ir até ela e tirar o resto com minhas próprias mãos, mas me contive.
Ela vestiu a saia e, meu Deus, eu viajei nela se vestindo. Quando terminou de vestir a blusa, colocou um salto, soltou o cabelo, abriu uma porta do guarda-roupa e pegou uma escova, passou no cabelo algumas vezes, pegou um batom e passou, olhou no espelho e se virou me chamando pra ir.
Ju: Vamos sim, mas preciso dizer uma coisa importante antes.
Paola: O que?
Ju: Você é muito gostosa. Kkkkk
Paola: Palhaça! Kkkkk Vamos logo.
Saímos do quarto rindo e, depois de alguns minutos, já tínhamos deixado o bairro dela. Seguimos rumo ao centro. Logo, ela entrou em um estacionamento de um prédio bem bonito. Descemos e pegamos um elevador. Notei que ela apertou o botão do último andar.
Quando o elevador abriu as portas, seguimos por um corredor e ela parou de frente a uma porta bem bonita. Abriu e me puxou pela mão. Quando entrei e olhei o apartamento, fiquei com a boca aberta. Era lindo, grande e muito chique.
Ela me levou até um sofá e pediu para eu esperar. Saiu em direção a um cômodo que imaginei ser a cozinha. Ouvi alguns barulhos vindo de lá. Depois de uns minutos, ela voltou e disse que tinha ido molhar as plantas da cunhada.
Me estendeu a mão novamente, me levou a um cômodo, abriu e era um quarto enorme e muito lindo. Ela disse que era o quarto onde sua irmã e cunhada dormiam. Aí me levou a uma porta dentro do quarto. Quando abriu, vi que era um closet, mas sinceramente parecia uma loja. Era muita roupa, calçados, bolsas, cintos e mais um monte de acessórios que tinha ali. Ela disse que era dali que ela tirava as roupas que usava.
Eu nem sabia o que dizer, só admirava mesmo. Era muita coisa. Ela novamente me pegou pela mão e me tirou dali. Fomos para outro cômodo da casa, que era um quarto menor, porém muito bonito. Era seu quarto, era ali que ela dormia.
Nos deitamos na cama e ela começou a falar:
Paola: Continuando minha história, eu não quis morar aqui porque achei que iria atrapalhar as duas e também eu gosto do meu canto. Então continuei trabalhando aqui, mas morando na minha casa. Minha irmã e Joanna se casaram; foi uma cerimônia muito bonita. Eu voltei a estudar e minha irmã pagava tudo. Aí elas começaram a me dar muita coisa e aquilo começou a me incomodar. Eu queria conseguir minhas coisas com meu esforço. Falei isso com elas; minha irmã não entendeu muito bem, mas minha cunhada concordou comigo. Assim, entramos em um acordo: eu iria morar sozinha e bancar minhas despesas, trabalharia aqui e elas pagariam meus estudos. Aceitei e assim continuamos nossas vidas.
Porém, ano passado, minha cunhada recebeu uma proposta irrecusável. Ela iria ser juíza, que sempre foi o sonho dela, porém era em outra cidade. Bom, minha irmã saiu do escritório onde trabalhava e foi com ela. Hoje, ela é juíza e minha irmã abriu seu próprio escritório. Elas deixaram o apartamento para eu tomar conta. No início, queriam que eu me mudasse para cá, mas eu recusei. Então continuo trabalhando aqui, recebo meu salário e ainda deixaram um carro para eu andar, aquele monte de roupa porque decidiram comprar tudo lá, um cartão de crédito para eu pagar todas as contas do prédio, abastecer o carro e comprar o que eu precisar.
Elas praticamente só levaram as coisas pessoais mesmo; o resto compraram tudo novo.
Bom, é isso. Alguma pergunta?
Ju: Sim, será que elas não querem me adotar? Eu não dou muito trabalho, não.
Paola: Kkkkkkk, vou ver com elas. Kkkkkk.
Ju: Nossa, sua irmã deu muita sorte na vida. Claro que ela mereceu pelo que me falou, mas conhecer alguém, se apaixonar e viver com essa pessoa já é um sonho. Imagina ser uma pessoa rica e generosa como sua cunhada.
Paola: Verdade, ela deu muita sorte na vida e no amor. Eu já, no amor, não tenho sorte.
Ju: Por que diz isso?
Paola: Porque eu nunca tinha me apaixonado, e quando aconteceu... Deixa isso pra lá, estou falando demais. 🤭
Ju: Por favor, continua.
Paola: Bom, é que me apaixonei, mas a pessoa não sente o mesmo.
Ju: Tenho certeza de que você vai mudar isso. Você é uma garota incrível e acho que, com o tempo, você vai ser correspondida sim. Tenha paciência.
Ela ficou me olhando meio sem entender. Comecei a perguntar algumas coisas e ela foi respondendo. Acho que esqueceu do que eu disse, mas eu não tinha mentido. Acho que aquela garota estava conquistando meu coração aos poucos.
Continua...
Por favor, me desculpe pelos erros de português! Até o próximo! 😁