UM VENEZUELANO NA MINHA VIDA - 20: AO NOSSO FUTURO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2547 palavras
Data: 19/12/2022 02:42:14

A nossa mente pode pregar peças maldosas, principalmente quando estamos relembrando toda uma vida. Por quase seis anos, Noslen lutou para recuperar a memória e quando conseguiu sentiu-se mal. Afinal, as lembranças dos pais estavam vivas dentro dele, mas apenas as lembranças.

Ele acordou e estava aos prantos. Recebeu um forte abraço de Enzo, que continuava preocupado devido ao desmaio do namorado. Celina ofereceu um pouco de água para o venezuelano, que bebeu o líquido em um único gole.

Com a voz embargada, Noslen contou tudo sobre a família e os últimos dias na Venezuela. O grupo ouvia tudo com atenção. Erick pegou uma cadeira, mas desistiu devido a quantidade de teia de aranha. Já Enzo ficou ao lado do namorado e apertou a sua mão. As memórias dolorosas ganharam forma, infelizmente.

— Meus pais decidiram fugir da Venezuela, quando a crise estava em seu pior momento, em 2014. Sofremos um acidente. De alguma forma, eu sobrevivi. — olhando para Enzo e chorando. — Eles não me abandonaram, Enzo. Eu sempre pensei que havia sido abandonado. Eles não desistiram de mim.

— Tudo bem, meu amor. Você precisa descansar. É muita informação para um dia. — sugeriu Enzo, que ainda segurava na mão de Noslen.

— O Enzo tem razão, cabrón! — exclamou Erick assustando a todos e pegando no ombro de Noslen. — Você precisa assimilar tudo isso. Eu vou até o carro pegar os sacos de dormir.

— Vocês trouxeram sacos de dormir? — questionou Noslen, tentando ficar de pé, mas sentindo uma forte dor de cabeça.

— Compramos no Centro da última cidade. Nós não sabíamos que encontraríamos a tua casa, mas acho que os sacos de dormir vão ser uma boa pedida. — explicou Celina, pegando no ombro de Erick. — Vamos, cabrón! — levando Erick para fora da casa.

— Ei, você está bem? — perguntou Enzo, que estava cansado, porém, preocupado com o namorado.

— Estou sim. É um sentimento tão estranho, Enzo. As memórias ficaram tão pesadas, mas eu quero mais, sabe.

— Imagino. Esse era o seu sonho, Noslen. Você só precisa pegar leve. Não pode se sobrecarregar. Primeiro, vamos dormir. Em seguida, decidir o que fazer. Tudo bem?

— Tudo bem. — respondeu Noslen. O venezuelano coçou os olhos e desejou que tudo ficasse bem, apesar das lembranças dolorosas.

Nos últimos meses, Yara e Popi haviam iniciado um relacionamento. Elas adoravam passar momentos juntas, só que as coisas sempre ficavam estranhas quando se tratava da família de Popi, que não sabia da bissexualidade da filha. Apesar de não tentar bancar a namorada carrasca, Yara não conseguia esconder o descontentamento, ainda mais quando via o feed das redes sociais da parceira.

— Você precisa ter paciência, flor. — pediu Popi, chamando a namorada com um apelido carinhoso.

— Não é só isso, Popi. Até quando estamos na rua, por exemplo, você evita tocar em mim. Infelizmente, é frustrante. Só queria que você entendesse. Nem os teus amigos sabem de nós.

— Desculpa, flor. Eu sinto muito mesmo. — tentando abraçar a namorada, que esquiva.

— Não pense que estou colocando pressão para você se assumir, longe disso, mas eu me sinto em último plano. Eu só preciso de tempo para pensar. — saindo do apartamento de Popi.

Como eu já disse anteriormente, a confiança é um sentimento que precisa de solo forte para florescer, uma vez perdida é difícil de recuperá-la. Na empresa, qualquer problema envolvendo Ian era motivo de desconfiança. Os advogados conseguiram resolver os problemas dos documentos falsos, mas a bancada da diretoria ainda queria a cabeça do marqueteiro.

Entre uma reunião e outra, Ian precisava provar que não estava mais tramando planos para acabar com a Tech Land. Ele até resolveu ajudar em um problema de servidor, porém, o seu conhecimento em TI era nulo. Dentre todos os funcionários, Kleber era o que mais pegava no pé de Ian, ainda mais quando eles estavam em algum tipo de discussão.

— Cara, eu estou cansado. Esse ajuste deu trabalho. — reclamou André, entrando na sala de descanso e desabando no sofá.

— O Enzo faz salta na empresa. — salientou Kleber, sentado ao lado do amigo.

— Ei, eu posso falar com você um minuto? — perguntou André, enquanto olhava para o teto.

— Claro. — respondeu Kleber, pegando no ombro do amigo. — E desde quando você precisa pedir para falar comigo?

— Eu gosto do Ian. No fundo, ele é um cara legal. Sabe, na tua história com o Santino, eu sempre torci por vocês. E queria que você fizesse o mesmo por mim. — pediu André.

— Desculpa, André. Você tem razão. Eu sou um idiota. Você sabe que tem todo o meu apoio, não é? Você mais do que ninguém merece ser feliz. Eu vou tentar tratar o Ian melhor, eu juro. — colocando o dedo mindinho na frente de André, que sorri e faz a promessa com o seu amigo.

Um novo dia raiou em Mérida, no interior da Venezuela. Noslen estava mais calmo e se juntou ao grupo para limpar a sua casa. Cada um ficou com uma função e eles levaram um dia para fazer uma faxina completa. Como prêmio, Erick comprou pizza e refrigerante. Apesar de fragilizado, o venezuelano ficou mais tranquilo e mandou uma mensagem para o avô pelo telefone do namorado.

Depois de muitos textos e mensagens, Noslen e o avô decidiram manter a casa na Venezuela. O ponto principal era a recordação que o imóvel trazia para o neto, mas também havia a situação imobiliária do país que estava mal das pernas.

Após a faxina, o grupo saiu para desbravar a cidade. Mérida era conhecida por possuir o teleférico mais alto do mundo, com quase 13 quilômetros e superior aos 4.700 metros sobre o nível do mar. Lá de cima, eles observaram boquiabertos a beleza do lugar.

Uma paisagem fenomenal. Isso que pensou Enzo. Montanhas, serras e, claro, o gigante adormecido, o apelido que a montanha que ronda a cidade recebeu por se assemelhar a um homem gigante deitado e olhando para cima. Eles conseguiram ver cada detalhe de Mérida de uma maneira única e emocionante.

Ao mesmo tempo, Noslen relembrou histórias da infância e conseguia falar sobre cada ponto da cidade. Pela primeira vez, Enzo sentiu que conheceu o verdadeiro Noslen, com suas falhas e qualidades.

— Quem diria, Noslen Fuerte cheio de histórias engraçadas. — comentou Enzo, depois que o namorado contou como conseguiu uma cicatriz no joelho esquerdo.

— É bom lembrar. É bom saber de onde eu venho. Agora eu posso fechar esse capítulo e iniciar outro. — garantiu Noslen, que pegou na mão do namorado. — Nós vamos iniciar um novo capítulo.

— Sabe, vai parecer meio egoísta, mas parte de mim não queria que você recuperasse a memória. Eu tinha medo de te perder. — confessou Enzo se sentindo envergonhado.

— Existia uma pessoa. Uma paixão de adolescente, mas o cara deve tá com a vida feita agora. E toda a minha história me levou a você, Enzo. — explicou Noslen, tocando no rosto de Enzo e o beijando.

— Bem, você está preparado para voltar? — questionou Enzo com o rosto colado no de Noslen.

— Sim. Quero estudar, trabalhar e garantir um bom futuro para nós. — afirmou o venezuelano.

ALGUM TEMPO DEPOIS

A vida é cheia de estradas. Algumas vão nos levar para um lugar bom, enquanto outras nos farão lutar para ficar de pé. Enzo voltou com tudo para a empresa, porém, a sua experiência no setor criativo lhe chamou muito a atenção. No fim das contas, o jovem gostava de desafios e usar a criatividade para melhorar a vida das pessoas, seja através de um aplicativo ou de uma ação social.

Nas últimas semanas, ele treinou o seu novo CEO, Ian D'ávila. Mas não pense que a recompensa veio de maneira simples. Para ser merecedor da função, Ian precisou passar por todos os setores da Tech Land, até com o atendimento ao cliente o empresário trabalhou. Uma equipe técnica acompanhou de perto a sua evolução e aprovou o desempenho exercido.

Em forma de agradecimento, Ian preparou uma festa para os funcionários e seus parentes. Ele, finalmente, estava no lugar certo e não precisou passar por cima de ninguém para alcançar esse objetivo. O seu relacionamento com André cresceu da melhor maneira possível. Eles se mudariam para um apartamento novo com um quarto reservado para Arnoldo.

— Sabe qual é a melhor parte? — Ian perguntou para André, que se arrumava para a festa.

— Daqui a pouco, o Arnoldo está indo para a faculdade. Teremos a casa só para nós! — ele disse, batendo palma e fingindo um choro triste.

— Tá bom. Tú não deixa o menino sair sozinho, vai deixar ele morar em república da faculdade. — o comentário de André fez Ian rir.

— É verdade. Ele vai ficar para sempre conosco. — se aproximando de André o beijando. — Eu te amo.

— Eu também. — garantiu André, abraçando o namorado. — Estou muito orgulhoso de você.

— Obrigado. Obrigado por me tornar uma versão melhor de mim. Te amo.

— Fora que me sinto naqueles romances proibidos, tipo, "Eu me apaixonei pelo CEO" ou "O CEO e eu". — brincou André, fazendo uma careta engraçada.

— Eu estou pronto. — avisou Arnoldo da porta do quarto e mostrando a roupa.

— Vamos, eu tenho um discurso de 15 minutos. — Ian apressou o namorado e o cunhado. — Eu pedi à minha secretária para separar um lenço, quero chorar no final...

As pessoas precisam mudar. Para o bem ou mal. Durante muito tempo, Popi escondeu da família os seus verdadeiros sentimentos. Ela não queria que isso fosse uma barreira para o seu relacionamento com Iara. Então, em uma tarde chuvosa, Popi revelou aos pais que estava namorando e a escolhida havia sido Iara.

Diferente do que imaginou, a reação dos seus pais foi positiva. Ela ligou chorando para a namorada que comemorou a notícia. E, dessa maneira, Popi levou a família e Iara para a festa da firma.

Já Kleber e Santino continuavam em sua eterna lua de mel. Os pombinhos planejavam um mochilão pela Tailândia, já que Santino pensava em fazer um novo quadrinho. Com o sucesso das histórias 'Amor de Peso' e 'Entre Todas as Chances', ele conseguiu figurar entre os principais autores do país.

— Eu estava pensando, mozão. Eu poderia adaptar a história do Enzo. — soltou Santino, que adorava pensar em histórias e dramas.

— Sim. Só não pode ser melhor do que a nossa. — brincou Kleber, abraçando o namorado. — Eu te amo tanto, sério. Você é demais.

— Ei, para. Tem gente olhando. — reclamou Santino ao ver algumas pessoas encarando os dois.

— Lasque-se. Eu namoro o cara mais lindo do universo e quero que todos saibam. — dando vários beijos em Santino, que ficou vermelho.

Nos últimos tempos, a vida de Noslen Fuerte deu uma volta de 360º graus. Ele recuperou a memória e os laços com a sua família. O próximo passo era encontrar os familiares do seu pai, Carlos. Porém, antes de tudo, seu principal objetivo estava sendo os estudos. Naquela tarde, o venezuelano finalizou uma aula do supletivo e seguiu para a empresa no qual continuava na função de serviços gerais.

No fundo, Noslen não queria depender do avô e continuou seu trabalho na Tech Land. Afinal, foi nessa empresa que ele criou raízes e acabou se acostumando com a rotina. Nos fins de semana, ele passou a ajudar Santino na produção de alguns desenhos.

— E aí, como foi a aula? — perguntou Enzo, que recebeu um forte abraço de Noslen.

— Tudo ótimo. — Noslen disse em um carregado sotaque português.

— Que bom. Acho que vai já começar a cerimônia de...

— Irmanito, cunhadito! — exclamou Erick chamando a atenção de todos.

— Oi, mano. Oi, cunhada. — Enzo cumprimentou o irmão e Celina.

— Chegamos tarde? O Erick acabou se atrasando com a inscrição da faculdade. — explicou Celina.

— Pois é. Fiquei sabendo que teremos um advogado na família. — Enzo sorriu, pois estava feliz com a escolha do irmão. — Vamos nos sentar, caso contrário, o Ian vai querer me matar.

— Só falta isso, né? — questionou Noslen fazendo o grupo rir.

— Boa noite. — desejou Ian com um microfone em suas mãos. — Estou feliz em ver diversos rostos conhecidos no auditório. Colegas de trabalho, amigos e famílias. Esse ano foi uma loucura. Acho que cada um deve ter aprendido alguma lição este ano. Eu aprendi. E como aprendi. Porém, mesmo com as reveses da vida, eu pude consertar as coisas que fiz de errado. Não é segredo para ninguém que eu pisei na bola, quase estraguei tudo. Só que com a ajuda de pessoas especiais, eu evolui e consegui alcançar os meus objetivos sem pisar em ninguém. Enzo e André, obrigado. Kleber, valeu pela quinta chance. — rindo. — Enfim, hoje é o dia da família e queremos dar as boas vindas para todos os familiares e amigos da Tech Land. Aproveitem a programação que preparamos. — finalizou Ian, que foi ovacionado pelos funcionários.

— Ótimo discurso, chefe. — disse um rapaz se aproximando de Ian e pegando o microfone.

— Você acha? Eu ia chorar, mas por algum motivo fiquei nervoso demais. — confessou Ian, pegando o celular, abrindo a câmera e olhando o próprio rosto. — Estou perdendo o meu charme, estagiário.

— Que nada, o senhor arrasou.

— Obrigado, estág... digo, obrigado, Renan. Agora vai curtir a festa com a tua família. — pediu Ian, pegando no ombro de Renan e sorrindo.

— Ian D'ávila tratando bem um funcionário? Meu Deus, o inferno congelou. — comentou André, arrumando o paletó de Ian.

— É a vida. Pelo menos, eu aprendi a minha lição. Ao contrário da Diana, que trata os funcionários da empresa do papai mal. Acho que o gene ruim da minha família é forte.

— Bem, o meu namorado luta bravamente contra esse gene maligno. Estou muito feliz. — se aproximando mais de Ian e o beijou.

MÉRIDA — SEIS MESES DEPOIS

A chuva cai gradativamente na cidade de Mérida. Da janela, Noslen aproveita para refletir das suas últimas conquistas. Do lado de fora, a vida segue normalmente, mas dentro do venezuelano um sentimento cresce, algo bom, algo que tira toda a sua tristeza. Um toque tira Noslen de sua inércia. O toque era familiar para Noslen, um toque que está em sua vida há um ano.

— Amor, você nem me chamou. — reclamou Enzo, que coçou o olho esquerdo.

— Você estava tão tranquilo. Fora que estava frio demais. Quis deixar você descansar, afinal, é a razão dessa viagem, não é?

— Sim. Nem acredito que vou ser titio. O Erick está pirando, logo, está me deixando pirado. Agora vai ter que se desdobrar com a faculdade e o paternidade, mas eu já falei que ele não está nessa sozinho. Tem dois titios babões que vão dar todo o suporte. — explicou Enzo, que estava adorando a ideia de ser tio. — Fora que o casamento vai sugar toda a minha energia.

— Você é lindo.

— Somos lindos. — disse Enzo, pegando o celular e ligando sua playlist, que tocou pequena caixa de som em cima da mesa.

***

Como foi que eu te encontrei?

Algo nos une, algo nos une

É disso que se trata no final?

Eu nunca soube, nunca soube

***

— Eu lembro dessa música! — exclamou Noslen rindo e fazendo o coração de Enzo bater mais forte.

— Eu também lembro. O dia em que te conheci. — garantiu Enzo, se aproximando e abraçando o namorado.

— Acho que isso merece uma dança, né? — Noslen começou a conduzir Enzo e dançou lentamente de um lado para o outro.

— Eu te amo, Noslen.

— Eu te amo, Enzo. — beijando o namorado, enquanto a chuva caia do lado de fora e abençoava a relação dos dois apaixonados.

FIM


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Comentários

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Nossa final maravilhoso!!!!

Enfim, a felicidade reinou entre eles, Ian se curou do mal caratismo, Noslen e Enzo se entenderam de vez, Iara e Popi se entenderam e assim tudo ficou resolvido...

Amo essa sua forma de escrever e nos trazer a esperança de dias melhores!!!!

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