Iminente Amor - Capítulo II

Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 2377 palavras
Data: 05/12/2022 02:10:02

CAPÍTULO II

***JOÃO MIGUEL***

Essa semana foi mais um dia exaustivo de trabalho. Talvez, eu precisasse de férias, infelizmente não poderia tirar uns dias de folga, pois as indústrias estão em um processo alto de fabricação e preciso acompanhar tudo de perto, mesmo sabendo que João Pedro assumiria tudo sem problema algum, prefiro não me ausentar. Além disso, Valentina está no período letivo. Não quero atrapalhar de forma alguma seus estudos.

Planejei almoçar todos os dias no Típico. No entanto, minha agenda de compromissos não me permitia desfrutar de um momento tranquilo, nem no horário do almoço. Tive reunião com novos clientes: donos de restaurantes e colecionadores. Para ficar mais folgado essa semana, encaminhei alguns clientes para meu irmão atender junto com diretor da empresa.

Ontem à noite liguei para meus pais, que estão em uma nova lua de mel. Faz quase um mês que estão em Florianópolis, em uma pousada mais afastada da agitação da cidade, que tem uma vista para o mar incrivelmente linda. Mandaram fotos para Valentina, que se animou. Finalmente pude ver um sorriso no rosto da minha filha.

Ela tem mudado tanto. Nem parece mais minha menininha meiga que vivia agarrada na minha perna, exigia sempre carinho e atenção. E agora com quase 15 anos, prefere passar horas pendurada no celular falando com amigas que de uma hora para outra se tornaram mais importante que eu. Ser pai de adolescente, e nessa fase é uma verdadeira montanha russa.

— Poderíamos ter ido lá no restaurante do Marcondes. — Sugeriu João Lucas, enquanto termina de cortar os tomates.

Faço questão de termos momentos assim em família. Aos 37 anos, continuo um romântico convicto e ainda quero encontrar uma nova companheira ou novo companheiro que aceite meu jeito possessivo, intenso, romântico. Depois da Heluma fiquei quase um ano em luto, um luto que mantive somente no coração.

Entretanto, percebi que mesmo que nossa história tenha terminado com seu falecimento, é porque estava escrito que nesta vida só ficaríamos juntos até ali.

— Qual é, irmão? Esses momentos são únicos. — Falei humorado.

Graças aos céus, João Lucas não se meteu em nenhum problema… Não sei até quando essa paz vai durar, espero que demore até minha velhice. Ele é um bom rapaz, porém do nada resolveu encarar o mundo de maneira diferente. Tornando-se um homem impulsivo, cabeça quente. E as coisas não funcionam assim.

João Pedro terminou de fazer o arroz temperado, e começou a arrumar a mesa para almoçarmos. O clima estava ótimo, conversa fluindo de forma humorada, e de soslaio notei que minha filha não estava compartilhando o mesmo sentimento de satisfação. Algo estava chateando ela.

— Quer contar alguma coisa para mim, filha? — Indago, e sua feição mudou.

Olhar para Valentina era como enxergar Heluma. Como a mãe, herdou a cabeleira ruiva, olhos verde-claros, as sardinhas enfeitando a ponte de seu nariz. Linda, delicada. Mas sua personalidade…Ela herdou do meu lado da família. Essa pequena não é nada fácil.

— Não.... — Ergui a sobrancelha, e logo meus irmãos a encaravam também. Assim como eu, morriam de ciúmes dela, e confesso que temos uma superproteção. Tudo para seu próprio bem. — Bem, na verdade eu fui convidada para ir em uma festinha. É hoje as oito. Como já confirmei minha presença... Não seria nada elegante desmarcar assim. — Deu de ombros fazendo a cara mais sem vergonha do mundo.

— Aonde vai ser essa festinha? — Perguntou João Lucas, fitando-a de forma intimidadora fazendo Valentina revirar os olhos.

— Na casa da Regina, tio.

— É claro que os pais dela vão está lá, certo? — Quis confirmar, sabendo que essa “festinha” teria tudo que não quero para minha filha. — Valentina?

— Ih pai, nem começa! — Resmungou, levantando-se da cadeira.

E lá vamos nós para mais um episódio dramático.

— Nem preciso dizer os motivos. — Soei autoritário.

Não aprovo esse meu jeito, mas tem vezes que é mais forte que eu. Então acabo agindo assim, o que irritada profundamente minha filha.

— O senhor não pode querer me manter trancada a vida toda, droga!

— Valentina! — Repreendo-a.

— Odeio isso, odeio o jeito que me trata!

Antes que pudesse falar algo saiu disparada, fui atrás. No entanto, ela subia as escadas de dois em dois degraus. Bem que tentei ser mais rápido, mas a rebelde bateu a porta do quarto com força. Bufei exasperado. Eu não estava sendo um ditador filho da puta, a questão é que desejo que Valentina viva as fases de sua vida sem pular nenhuma. Sei que é uma moça e logicamente seu interesse por garotos mudou. Agora eles não eram mais “nojentos”, infelizmente ao seu ver eles se tornaram bonitos e interessantes.

— Querida, minha menininha, por favor, abra a porta. Vamos conversar direito. — Peço, batendo na porta duas vezes seguidas.

— Vá embora! — Sua voz saiu cortada, sabia que ela estava chorando.

Encostei a testa na porta, suspirando. Não era fácil para ela lidar com essa nova fase tendo somente a mim, os tios e avos. Apesar de minha mãe ser liberal, moderna, o que as vezes me irrita um pouco, pois a mesma dar muita corda para a única neta, sei que no fundo minha menininha sente falta de uma figura materna.

**MICHAEL**

Estou cada vez mais adorando Joinville. Aproveito minhas folgas passeando, comprando artesanatos e mando presentes para meus pais e minha melhor amiga, Diana. Fomos criadas juntos praticamente, aprontávamos juntos e muitas vezes ela quem acobertava meu sumiço com Jackson. Tristemente, minha amiga vive sob as ordens do pai autoritário. Depois de tudo que aconteceu comigo e Jackson, não pensei duas vezes em sair daquela cidade. Chamei ela para vir comigo, todavia preferiu ficar e continuar cuidando da mãe. Respeitei sua decisão.

Marcondes decidiu que os sábados seriam intercalados, em um sábado seria comida típica nordestina e assim iriamos diferenciando. Preparei uma moqueca de peixe e usei uma pimentinha especial que pedi para meu chefe encomendar do Ceará. A equipe toda estava a mil fazendo os pratos com êxito. A última coisa que queríamos era ouvir reclamação de algum cliente.

Não sei porque, mas esta semana me peguei pensando na ruivinha sapeca. Adoraria passar mais um tempo com ela, conhece-la melhor... Aquela moça me fazer lembrar de mim nessa fase. Lógico, não temos nada em comum fisicamente, todavia o que vale é a personalidade. Outra pessoa que tem habitado meus pensamentos era João Miguel Fraser. Tudo naquele homem grita masculinidade, intensidade. Mãos grandes, porte alto, olhos escuros e tão misteriosos. Minha nossa, o que estou precisando é de uma boa noite de sexo puro. No Rio de Janeiro, eu mantinha o serviço de um garoto de programa. O irônico é que Sales seguiu essa profissão porque gosta, e não por um motivo triste ou falta de opção. O sexo era muito bom, e isso me relaxava.

Depois preciso pesquisar se tem algum garoto de programa disponível aqui em Joinville. Nada de compromisso, só preciso de prazer por algumas horas. Assim, consigo sentir que estou vivo… Que meu coração ainda bate, mesmo eu não querendo.

**********************

Assim que Richard voltou de seu intervalo, tirei meu dolmã e pego o prato que eu havia feito para comer no meu escritório. Terei meia hora, para fazer a refeição. Uma das primeiras coisas que fiz no meu pequeno escritório foi deixa-lo mais aconchegante e decorei com minhas bugigangas diminutas. Durante a semana nosso intervalo é cerca de uma hora e meia, contudo aos finais de semanas por ser mais movimentado, tiramos apenas meia hora, fora as idas ao banheiro. É corrido, e gosto disso.

Marcondes assim como o primo são ótimos chefes. Que Igor não me ouça falando isso. Geralmente, quando fechamos o restaurante a equipe se reúne para comer e beber um excelente vinho, sempre é escolhido uma safra Fraser. Os vinhos Fraser estão no mercado há tantos anos, e são os mais pedidos pelos clientes que aprovam o vinho que vem de terras brasileiras. São feitos em Joinville.

Aproveitei os cinco minutos restantes, para ligar rapidamente para minha mãe. Conversamos de maneira sucinta, pois expliquei que estava na correria do restaurante. Senti pela sua voz, que algo não estava certo. Perguntei, porém dona Alerte afirmou que não era nada. Por falta de tempo não insisti.

— Michael, acho que seria excelente ir cumprimentar os clientes.

— Tem certeza, Marcondes?

— Claro que sim. Afinal, você como chef tem esse dever. Não me diga que meu primo fazia corpo mole com você? — Questionou com um sorriso.

— Implicante! — Enxugo as mãos no guardanapo, e respiro fundo. — Ok, estou indo.

Eu realmente estava com receio de encontrar algum freguês como Paola. Só de lembrar fico emMichaeo. Cumprimentei todos com simpatia, e para alegrar meu dia foram extremamente receptivos. Notei que um ou outro eram mais metidos, mas a educação falou mais alto.

Fiquei extremante mexido quando saudei um jovem casal que sorriam e trocavam olhares apaixonados. Quando o homem disse que quase todas as noites estão fazendo uma refeição no Típico, pois sua noiva sente desejos infinitos pelos pratos brasileiros. Uma emoção enorme tomou conta de mim.

Se passaram 10 anos… Mas Jackson ainda continua vivo dentro de mim. Aquele acidente foi tão estupido, a sua morte foi escrita em um momento tão errado. Por isso, não me permito conhecer um novo homem. Prefiro pagar por sexo, mesmo sabendo que conseguiria em uma noite casual. Eu prefiro assim. Frio.

Recuperando minhas forças, segui em direção para a outra mesa e quase tenho um treco. E lá estava a fujona. O homem estava de costas, e posso jurar que ela estava ali obrigada. Sem dúvida deve ser seu pai.

— Boa noite....

O restante das palavras que pretendia dizer ficaram soltas. Muita coincidência. Quase perguntei: é uma pegadinha? No entanto, tudo se encaixava. Valentina é filha do João Miguel Fraser. Os olhos castanho-escuros do moreno caíram sobre mim, fixando-se no meu rosto, e descendo sutilmente. Era óbvio que também estava atraído por mim, assim como eu estou por ele. Mas para evitar mal entendidos, o melhor a fazer é ficarmos longe.

— Michael. — Exclamou Valentina, com um sorrisinho cheio de intenções.

Não sei porque, porém voltei a encarar a fisionomia do João Miguel que continuava com sua inspeção. Todavia, não era uma “olhada” grosseira, mas sim uma “olhada” gostosa, que faz o ego subir.

Precisava evitar. Fitei a ruivinha e ergui a sobrancelha estranhando o fato de seu sorriso ter congelado. Valentina estava mais branca que o normal. E como não estaria, afinal a inspetora está diante de nós, e pior... Encarando meu anelar direito e tirando conclusões precipitadas. Dá onde essa mulher veio? Estava tão ligado no João Miguel que não vi quando a senhora Carina se aproximou.

— Sua aliança é muito bonita. — Falou dona Carina, e juro que tive vontade de puxar a orelha da sapeca mentirosa. — Estou muito feliz por vocês.

O que eu poderia fazer? Desmentir tudo que Valentina inventou para tirar o seu da reta, fazendo seu pai brigar com ela diante de todos. Ou então poderia continuar atuando, e depois conversaria com João Miguel. Péssimo momento para meu chefe mandar eu ir de mesa e mesa para cumprimentar os clientes. Eu não sabia que esse moreno estaria aqui e que principalmente o mesmo era pai da ruivinha.

Abrindo um sorriso falso, tentei ser o mais natural possível.

— Estamos muito felizes, mas não gostamos de nos expor.

Os olhos e feição dura do João Miguel diziam tudo. Eu estava ferrado, e Valentina também. Engolindo seco, me aproximei por detrás do João Miguel, e escorreguei minhas mãos por seus ombros largos, mantendo-as ali. Parecia loucura, mas juro que um arrepio percorreu meu corpo.

— Vocês realmente formam um lindo casal. — Suspirou com um ar romântico. — Estou comemorando meu aniversário de casamento, e ainda sou muito feliz. Estamos sentados logo ali. — Apontou para uma das mesas mais reservadas, e vi um senhor calvo nos encarando com um sorriso. — Mesmo assim, se me permitem dizer, não acho bom a Valentina ficar faltando as aulas do período da tarde para passear com você senhor Michael.

Pronto. Agora a Valentina cai dura no chão. Mentira tem perna curta. Muito curta.

Quase sobressaltei quando a mão máscula do João Miguel ficou por cima da mim mão que até então descansava no seu ombro direito.

— Como assim, mio amore? — Questionou, exibindo seu italiano. Ele elevou a cabeça, e mesmo parecendo muito puto tinha uma auréola humorada.

— Ah, querido, você sabe que eu e Valentina precisamos de mais momentos juntos. — Minha nossa, a mentira só ia crescendo. — Pode ficar tranquila senhora Carina, pois Valentina não precisará mais se ausentar.

— Melhor assim. Eu adorei a moqueca, meu marido então nem se fala. Boa noite.

Finalmente ela se retirou e ficamos os três em um “climão”.

— Valentina Fraser, você acaba de ficar de castigo para sempre. — João Miguel, berrou baixinho.

Limpei a garganta, e disse:

— Bom aproveitem o jantar. Se quiser podemos esclarecer as coisas depois. E esse castigo é muito tempo, não acha?

Eu e minha língua grande.

— Claro que vamos, Michael. Estarei esperando por você na saída.

***JOÃO MIGUEL***

Valentina tinha muito o que explicar. Estou tão puto com essa mentira que ainda por cima envolveu Michael, e para piorar continuei jogando o mesmo jogo que eles.

— Pai, por favor, não vai brigar com o Michael. Ele só mentiu porque eu pedi. — Falou sentida.

Estamos no estacionamento esperando João Pedro. Liguei para ele vir buscar a sobrinha, enquanto eu ficaria para esclarecer as coisas com o moreno atrevido.

Por mais bravo que eu esteja, não esperava que minha menininha ficasse próxima de um desconhecido. Valentina é ciumenta, isso corre nas veias da família Fraser, e por incrível que pareça Michael pôs as mãos nos meus ombros, e esse gesto mexeu muito comigo…E minha filha não fez nada. Normalmente Valentina falaria: “tira as mãos do meu pai”. Outro motivo de meus namoros não terem ido para frente.

— Deveria está preocupada com o que eu vou fazer com você. — Ela logo fez um bico, cruzando os braços. — Por onde você andava? Eu quero a verdade!

— Eu apenas quis passear um pouquinho.

— Não minta mais, Valentina.

João Pedro chegou na sua BMW prata de vidros escuros, e Valentina escapou entrando no carro. Ele estava no clube, provavelmente quando eu terminasse a conversa com Michael iria para lá e colocaria todo o estresse da semana, principalmente o de hoje, no ringue.


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Comentários

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Essa Valentina acabou sendo o cupido de Michael e João Miguel... Essa conversa entre eles ainda "vai dar muito bom"....

😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂

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Show de bola mas como parar assim nesse climao. Isso não se faz. Adorando. Obrigado.

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