Marido de deficiente visual e constrangimentos
Vamos rir um pouco. Ser marido de deficiente visual é um prazer mas certas situações eu tive problemas. Não é fácil. O problema não era minha mulher e sim as pessoas em volta. Estas deram muito trabalho. Teve de tudo um pouco. Resolvi contar para não só ter acervo escrito como também divertir vocês. Eu tenho 22 anos de casado, duas filhas sendo uma de 22 e outra de 17. Meu relacionamento com ela é sólido. Nunca houve traição por nenhuma das partes.
A coisa mais comum eram as chamadas amigas que se aproximavam para ter sexo comigo. Sabendo que ela é totalmente cega, essas amigas faziam o diabo. Eu não tinha interesse e nunca tive em colocar meu casamento em risco por infidelidade. Uma dessas amigas passou o limite. Enquanto minha esposa estava na cozinha, a dita amiga, estava nua e me chamando para fodê-la na sala. Parece coisa filme, piada, só que aconteceu. Eu falei alto, mandei a mulher se vestir e expulsei a danada de casa. Acho que respeito é preciso e minha mulher não poderia ser vítima de traições por ser cega. Tenho muito amor por ela e não tolero este tipo de comportamento vil e nojento de aproveitadoras de plantão. Isto era constante e cheguei até receber apalpadas no cacete (falei alto o que ela fez e minha esposa chamou a mulher de vadia), ver seios expostos e por fim, isso que relatei. Afastei estas víboras da vida da minha mulher. Alguns vão achar que sou bobo, ingênuo, só que tenho realmente amor pela minha mulher.
Outro tipo de situação era receber propostas indecentes em dinheiro vindo de machos, para comerem minha mulher, só porque ela é cega. Eu não estou brincando. Tem macho que tem fetiche por mulher cega. Tentei estabelecer alguma lógica nisso e não consegui. Se o cara falasse que ela era gostosa, linda, eu até entenderia mas também não deixaria. Os pais dela me passaram essa confiança e cuidado com ela justamente pela deficiência visual. Deixá-la nas mãos de qualquer homem não era meu propósito e nunca foi. No mínimo, eu teria que zelar pela segurança como um irmão dela. Isto foi pedido e eu aceitei prontamente ao casar. Neste caso, a cegueira, estava na mente de quem oferecia esta proposta absurda.
Outra situação constrangedora era ser paquerado na rua. Mulher mandando beijinho, convite para sexo, piscadas. Tinha algumas que comentavam que era um desperdício de homem estar com uma mulher deficiente visual e que eu deveria ter procurado coisa melhor. Eu mandava um sinal com o dedo médio levantado e resolvia. Algumas mais abusadas chegavam a colocar um cartão ou número de telefone na mesa e mandava eu pensar na proposta. O pior: na frente dela! Eu rasgava tudo e ainda mandava minha esposa dar um esporro nestas putas!
Assédio no elevador, então, é normal. Eu nem deixava ela subir sozinha ou descer. Eu só deixava com as mulheres certas no trabalho dela e buscava no andar. É um absurdo como isto acontece em pleno 2020. Este tipo de desrespeito precisa acabar e não só com deficientes. Uma vergonha. Transportes coletivos também era a mesma coisa. Eu tinha que policiar para ela não sofrer assédio ou constrangimento. Não podemos esquecer que muitas vezes ela ia em pé porque ninguém cedia lugar.
Alguns casos curiosos eu também passei. Gente querendo ajudá-la para atravessar a rua sendo que ela estava me esperando. Um sujeito pegou no braço dela e foi levando para atravessá-la. Ela falou que estava aguardando o marido aí o sujeito se tocou ou gente que já ia tocando no braço e levando-a sem falar nada. Gente doida de pedra. Noutra situação apareciam os entrevistadores de cegos, ou seja, pessoas que vinham perguntar como era ser cego. Pode isso? Bota uma venda nos olhos durante um mês e testa sem tirar, oras, bolas!! O problema não se resume somente nisto gerando baixa estima nela e também invasão de privacidade.
Restaurante era problema. Se não tivesse uma mulher no local, por obrigação, eu sou obrigado a chamar uma policial feminina. Na impossibilidade, eu como marido, tenho direito de acompanhá-la após a porta do banheiro e antes da porta do box, ou seja, ficar dentro do banheiro sem visibilidade para ela. Naturalmente, mesmo com a bengala, ela queria ter certeza que não havia homem dentro do banheiro, passagem secreta, não ficar trancada lá dentro tendo que gritar e coisas do tipo. É direito dela! Ela já se acidentou por eu não estar junto. No Brasil, se eu esperar uma policial feminina vir ajudar minha esposa, ela mija ou caga nas calças tal a demora. Também havia a questão dela não confiar em qualquer mulher. É foda isso! Só quem passa a situação sabe como é.
Caso curioso era quando ia para a praia. Como ela ficava de óculos escuros e escondia a bengala, era comum levar cantadas, machos sentarem ao lado quando eu estava no mar, coisas desta natureza. Eu não tinha paz e nem ela, por fim, tinha que levar meus sogros ou pais para ficar de olho. Gente...parece piada mas aconteceu! Se falava que era cega corria o risco de passarem a mão na bunda dela, tocarem a boceta. Se não falava nada, o cara ficava admirando a loira e se ela falasse que tinha marido os caras perguntavam se estava longe, falando para dar um escapadinha. Putz...era foda. Coisa de gente que só pensa com o pau.
Tinha muito comerciante esperto. Ela ia comprar alguma coisa sozinha e o sujeito achava que ela não iria conseguir identificar a moeda ou dinheiro. Troco errado ou dar um papel em branco como troco era comum. Trocar em vestuário de loja só permitia com a minha presença. Dava outro rolo igual ao restaurante. O Brasil precisa começar a entender que deficiente visual e outros deficientes são seres humanos e não coisas. Tudo isto nos uniu mais e mais. Se vocês gostaram do conto, comente. Cite alguma situação similar com deficientes para trocarmos ideias também. Beijão no coração de vocês.