[LGBTQ+] PANDEMIC LOVE - DIÁRIO DE UMA QUARENTENA / 7 - TODA FORMA DE AMOR

AH, GENTE. QUERO AGRADECER MUITO AOS COMENTÁRIOS, TÃO BOM SABER O FEEDBACK DOS LEITORES. ESCREVO A HISTÓRIA COM MUITO AMOR E CARINHO, AINDA MAIS NESSA ÉPOCA QUE ESTAMOS VIVENDO, NÉ? SOBRE A FREQUÊNCIA DE PUBLICAÇÃO, AINDA ESTÁ DIFÍCIL COLOCAR TODOS OS DIAS, ESTOU TRABALHANDO DE CASA, OU SEJA, MEU TEMPO ESTÁ MUITO ESCASSO, NO FIM DO DIA, SÓ QUERO DORMIR (RISOS), MAS JURO QUE VOU TENTAR COLOCAR PELO MENOS DUAS VEZES NA SEMANA. QUERO CONTAR COM O APOIO DE VOCÊS, E SAIBAM QUE EU LEIO TODOS OS COMENTÁRIOS, ATÉ MESMO DAS SÉRIES ANTIGAS QUE ESCREVI. MUITO OBRIGADO MESMO.

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Reuni meus irmãos no escritório. Não sabia nem por onde começar. Uma lunática e outro drogado. Andava de um lado para o outro, pensando numa forma de repreender os dois. A Rêh estava bêbada, quase dormindo, e o Lukas nem parecia estar ali. Mandei os dois para os seus quartos, quer dizer, não antes de revistar todo o quarto do meu irmão.

Achei melhor não contar para a Rosa, afinal, aquilo podia ser um choque. Cara, tanto que os nossos pais conversaram conosco. Eles não podiam ser exemplos de participação parental, mas sempre nos alertaram sobre os perigos das drogas e do álcool. Tomei um banho demorado e fui em direção ao celeiro. A segunda aula do André fluiu de uma ótima forma.

Revisei todo o alfabeto, passei outro exercício para ele, enquanto corrigia sua primeira tarefa, tirando alguns errinhos, o André foi bem, e eu, claro, fiquei todo orgulhoso. Cada progresso, mesmo que pequeno deveria ser comemorado. Depois de quase duas horas de estudo, demos uma pausa, a lua estava aparecendo hoje, toda bonita, parecia se exibir para nós.

— André, posso te fazer uma pergunta?

— Claro!

— Você não sente frio não? — Questionei rindo.

— Eu amo o frio. Lá no quartinho é muito abafado, então, deixo sempre a janela aberta para entrar a brisa. É meio que meu ar— condicionado pessoal. Espera aí. — Ele disse se levantando.

O André voltou com uma manta marrom. Ele me cobriu, deitou ao meu lado e entrou debaixo da coberta. Suas pernas tocaram as minhas e os nossos corpos ficaram alinhados. De repente, ele passa o braço por baixo da minha cabeça, não tive reação alguma, não queria ficar e nem sair.

— Sabe, achei bacana o que você fez hoje. Nunca te vi desse jeito, mandão. É uma faceta legal. E também nunca tinha visto tanto helicóptero na minha vida. Os amigos da sua irmã são influentes.

— Er, eu... tipo...

— Você está tremendo. Está com frio mesmo, não é? — Ele supôs subindo mais um pouco a manta.

Não, André, não estava com frio, estava nervoso. Você é a única pessoa que me deixa neste estado ridículo. Quase respondi isso, mas quis aproveitar o momento. Para a minha surpresa, acordei com o sol batendo forte no meu rosto. Doutora! D-O-U-T-O-RA! Eu dormi ao lado do André, apoiado no peito dele. Não sabia o que fazer, tentei levantar, mas ele se mexeu. Merda. Mil vezes merda!!!

Usei toda a técnica ninja que existia dentro de mim, e não funcionou, o André acabou acordando. Ele limpou os olhos, um pouco confuso, olhou em volta e sorriu. A gente levantou, em silêncio, o André pegou o caderno e colocou na mochila. Tomei coragem e quebrei o gelo, brinquei e disse que minhas costas estavam acabadas.

Retornei para casa, e encontrei meus irmãos tomando café, como se nada tivesse acontecido. Tomei uma bela xícara de café, respirei fundo e chamei os dois para a sala de reunião. Eles ficaram sentados, um ao lado do outro. Cocei a cabeça, busquei o meu mestre Jedi interior e fiz um discurso sobre responsabilidade.

Os dois começaram a protestar, Rêh havia sido excluída de um grupo badaladíssimo de socialites. Já o Lukas ficou resmungando que não queria estresse. No fundo, parecia envergonhado. Confesso que a Regina fez burrice, mas o meu irmão chegou a outro nível, um que me deixou abalado demais.

— Olha. Tudo tem consequência. Eu amo vocês. E não gostaria que as pessoas atacassem vocês. — Disse.

— O Lukas nem sabia do encontrinho. Ele estava dormindo. — Falou Rêh. — Inclusive, tá acabadinho, viu. — Olhando para Lukas com uma cara engraçada.

— Já acabou o sermão? — Perguntou Lukas se levantando.

— Calma, irmão. — Pediu Rêh se levantando. — Agora quem vai falar sou eu.

A Rêh me pegou pelo ombro e, praticamente, me lançou no sofá. Caí perto do Lukas, que se afastou. Minha irmã, maquiavélica, abriu o Ipad e mostrou uma foto minha e do André, tirada há algumas horas atrás. Era basicamente, eu dormindo nos braços dele. Ela deu um zoom na imagem, nunca gaguejei tanto na minha vida.

— Então, enquanto nós, Lukas, somos irresponsáveis, eu encontrei o nosso irmão, menor de idade, sendo aproveitado pelo caseiro. E pensar que eu me senti atraída por ele, eca.

— Regina, não é o que você está pensando. — Tentei argumentar.

— Então, explica, Higor. — Lukas falou se levantando. — Tão bom em julgar os outros, não é?

— Gente, qual é? Eu não sou...

— Gay, uma bixinha, um viadinho? — Questionou ele de forma agressiva.

— Ei, calma aí. — Pediu Rêh. — Que violência é essa? Higor, não somos monstros homofóbicos, amamos você de qualquer jeito, mas você não pode deixar vazar sobre a festa.

— Quer saber... — Falei me exaltando. — Vão se lascar! Você quer dar festas, Rêh, dê, eu não me importo. E você, Lukas. Sabe para onde isso vai te levar, não é? — Questionei saindo do escritório.

— O que foi isso? Sério, que você se importou tanto pelo Higor ser gay?

— Vai plantar coquinho, Rêh. Você conseguiu o que queria, ele vai ficar calado. — Saindo em seguida.

Entrei no quarto desesperado. Como eles poderiam jogar tão sujo contra mim, e o pior? Eu nunca tinha feito nada, literalmente, nada. Queria gritar, descontar a minha raiva em André. Quintino entrou bem na hora que eu peguei um livro e lancei contra a parede. Na hora, ele se assustou, pegou o livro, colocou na estante, e fez algo que me desarmou completamente, um abraço, abraço forte e carinhoso.

Os sentimentos dentro de mim estavam tão conflitantes que eu comecei a chorar, e quem me amparou foi meu primo de 15 anos. Eu precisava desabafar com alguém, então, joguei todas as informações em cima dele. A minha possível paixão pelo André, os problemas do Lukas, a teimosia da Rêh, e a chantagem que eles me fizeram.

— Uau! Chocado estou, não vou mentir. Vamos por tópicos. Ok? — Ele sugeriu limpando minhas lágrimas e me guiando até a cama. — Senta aí! Bem, vou começar pelo problema mais graves, ok?

— Sim.

— Há quanto tempo o Lukas usa drogas?

— Não faço a mínima ideia. Descobri ontem. E o pior? Ele está com raiva de mim. — Expliquei chorando.

— Ok. Sobre a Rêh, infelizmente, você precisa contar para os seus pais o que ela fez. Não foi certo. Expôs todos nós ao vírus. Hoje, senti a minha garganta doendo.

— Não é assim que o corona vírus funciona. — Tentei argumentar, mas ele me cortou.

— Quem garante? O seu diploma de medicina? — Ele retrucou arrumando os óculos.

— Idiota. Podemos falar sobre o mais grave agora?

— E esse mais grave seria o André? — Questionou Quintino fazendo aspas com os dedos. — Sério, Higor? Cara, eu não sou gay, irresistível talvez, mas não gay, e de verdade, não vejo problema nenhum se você for. Vai ser até um alívio, pois, explicaria muitas coisas. Essa parte é brincadeira.

— Eu não sei o que sou. O André me faz sentir umas coisas que eu não entendo.

— Já sei. Tenho um amigo da escola, o Luís, meu segundo melhor amigo no mundo. O primeiro é você, claro. Ele é gay...

— Tá mal de amigos, hein? — Soltei, cortando o Quintino.

— Enfim, acho que deveríamos fazer uma live hoje. Cara, sou um imã gigante de gays.

Pronto, Doutora, o meu erro foi não ligar para a senhora durante essa crise. Arrumei um terapeuta, na verdade, um estagiário, que parecia muito animado para me ajudar. Tranquei a porta do meu quarto, a internet travou várias vezes, mas o meu primo conseguiu falar com o Luís.

Para a minha surpresa, o Luís tinha a mesma idade do Quintino, um garoto super. fofinho, parecia ser aqueles protagonistas de série adolescente. Fiquei com muita vergonha, nossa, queria que a terra me engolisse, mas resolvi conversar e abri meu coração para o Luís, acho que foi até melhor, sabe, falar com alguém desconhecido.

— Cara, você é super. gay. — Disse Luís, após parar, refletir e analisar minha situação.

— Tá, o que eu faço agora? — Perguntei apreensivo.

— Nada, ué. Seus pais parecem ser de boas, só seu irmão que teve uma reação negativa. — Respondeu Luís. — Pensa que muitos jovens sofrem por causa disso. Higor, nós somos privilegiados.

— Entendi, mas eu posso ter o meu tempo para tipo, assimilar e me assumir?

— Claro, o tempo que você precisar. Não precisa se jogar de uma vez, faz aos poucos, mas, um conselho? Não guarda esses sentimentos, sabe, é ruim, você pode contar conosco, cara.

— Sim. Vamos fazer a aliança GH, Gays e Hétero. — Falou Quintino, me empurrando para aparecer na câmera.

— Eu ser gay, tipo, me dá foro privilegiado para matar o Quintino?

— Infelizmente, não. Você consegue. Eu aturo esse ser todos os dias. É estranho, mas gente boa.

— Eu digo a mesma coisa. — Peguei no cabelo de Quintino e comecei a rir.

— Vocês não vivem sem mim. Eu sei disso!

Meus pais chegaram na fazenda, os levei até o escritório, mas minha mãe precisou tomar três banhos e passar álcool em gel no corpo, a Rainha do Drama. Nesse meio tempo, tentava criar um discurso lógico na minha cabeça, afinal, teria duas más notícias para contar, a minha saída do armário e o caso da Rêh.

Eles entraram no escritório, e como sempre, eu paguei um mico, pois, conversava sozinho, andando de um lado para o outro. O meu corpo inteiro tremia, os meus dentes batiam uns com os outros, mas não teria uma forma fácil. Eu estava negando a mim mesmo, e não queria ser uma daquelas pessoas que se arrependem de viver, igual ao vovô.

— É aqui a reunião? — Perguntou Rosa entrando no escritório.

— Filho, o que gostaria de nos dizer? Nem passei o meu gel hidratante. — Reclamou a minha mãe.

— Pai, mãe. Mãe, pai. Eu tenho duas coisas para conversar com vocês. Eu queria que vocês apenas me ouvissem, por favor!

— Claro, Higor! Você sabe que sempre contamos com isso. O diálogo é essencial para nós.

Sabe aqueles momentos que você fala, mas não sente o seu corpo? Eu sei. Comecei gaguejando, só que lembrei da conversa com o Luís, e abri meu coração. Segurei o choro, expliquei todos os problemas que enfrentava, quer dizer, menos a parte do André. Meu pai, minha mãe e Rosa prestavam atenção em cada palavra, algumas vezes, eles se olhavam.

— Eu não quero que vocês me vejam de forma diferente, mas... eu... eu...— Respirei fundo, olhei para eles com lágrimas nos olhos.

Nossa, três letras, tão difíceis de falar. Eu sempre soube, Doutora. Na infância, e principalmente, quando cheguei à adolescência. Eu era GAY, e não queria mais esconder isso de ninguém, nem de mim mesmo. O primeiro abraço que recebi foi o da Rosa, apertado, sincero e carinhoso. Em seguida, o papai, emocionado também me abraçou e beijou meu rosto.

A Dona Hellena se aproximou, afagou meu cabelo e começou a chorar. Ela disse que nunca me trataria diferente por ser gay. Nunca senti tanto amor e respeito. Eles entenderam os meus motivos, e pela primeira vez, fiquei orgulhoso de mim mesmo.

— Meu Deus, filho. Sou uma péssima mãe. Eu sou um horror. — Disse minha mãe.

— Para. A senhora faz tanto por mim. Não posso reclamar. O seu trabalho exige muito, eu sei. Mas tenho outra coisa para te contar.

— Vou até sentar. — Brincou meu pai, sentando e cruzando as pernas.

Olhei para a Rosa, mas algo dentro de mim gritava para falar. Depois tudo que vivi nos últimos minutos, delatar a Rêh foi fácil demais. O meu pai ficou uma fera. Eles tiveram uma longa conversa com a minha irmã. Afinal, ela nos expôs a uma doença perigosa, e em alguns casos, mortal.

Subi para o quarto, e Quintino como sempre, inconveniente, estava no quarto. Ele me encheu de perguntas, tive que, literalmente, calar a boca dele. Expliquei todos os detalhes da conversa. Quintino pareceu triste, acho que queria mais drama na história. Conseguimos ouvir os gritos do meu pai, então, colocamos nossos ouvidos no chão de madeira.

Irresponsável! Fútil! Egoísta! Essas foram algumas palavras gritadas. A mamãe tentava apaziguar a confusão, mas no fundo sabia que o papai tinha razão. Eles decidiram chamar uma equipe do Rio de Janeiro para que a gente fizesse o exame para o Covid-19. Eu fiquei um pouco mais feliz, ainda mais pela parte em que eu me assumi.

Decidi ligar a caixa de som, cansei da gritaria dos meus familiares. Quintino deitou na minha cama, pegou o celular e mandou uma mensagem para o Luís. Uma vitória para a aliança GH. O imbecil até criou um grupo no WhatsApp, e fez uma montagem com a nossa foto. Realmente, o Luís era muito bonito.

— Cara, você é gay! — Disse Quintino, deitado na cama com os pés para cima.

— Cara, eu sou gay! E, agora?

— Agora tu pode se declarar para o André, mas nada de beijar. Pelo menos, até os exames.

— Quintino. Que loucura. Eu sou gay! Que Quarentena mais louca.

Sim, sou Gay, Doutora. Acho que deveria ter contado para a senhora em março, fiz besteira, mas na minha vida tive tantas inseguranças, seja por causa dos meus pais famosos, meus irmãos talentosos, ou apenas, o meu eu medroso. Acho que ninguém, além de mim tem culpa nessa história, não que seja errado ser gay, é algo novo para mim, e não quero fazer outra burrada.

Naquela noite, tomei um longo banho, deixei a água quente correr por todo o meu corpo. No vidro do box, desenhei uma carinha sorrindo, apaguei e vi meu reflexo, aquele novo eu que tanto buscava começava a aparecer. Coloquei minhas roupas confortáveis, peguei o material de estudo do André, e quando estava saindo do quarto, a Rêh apareceu, quase gritei.

— Você conseguiu uma vitória, irmãozinho. Só não esquece que ainda tenho o vídeo do André. Os nossos pais vão achar o quê?

— Rêh! Vai se lascar. — Falei mostrando o dedo do meio para ela e descendo.

— Como assim? — Ela perguntou para si mesma confusa com a minha reação. — Higor, espera. Eu vou...

— Me empresta aqui. — Pediu Lukas pegando o celular e apagando o vídeo.

— Ah é, dois contra um? Escuta bem, Lukas. Eu nunca entro numa guerra para... — Pegando o celular de volta.

— Tá bom, boa noite. — Desejou meu irmão entrando no quarto e fechando a porta.

— Eu sei que você tem um segredo, Lukas. O Higor ficou pistola contigo também. — Pegando o celular e discando um número. — Alô, Léo? Tudo bem, eu tenho uma fofoca ótima. Mas, pelo amor de Deus, eu nunca te contei isso. Sabe quem saiu do armário?

Sim, Doutora, a gente luta usando toda a nossa habilidade, demorei para achar o caminho adequado para mim. No LOL, por exemplo, a minha campeã favorita é a Lux. Foi a primeira personagem que joguei, e apesar de tudo, muita gente não gostava dela, mas a Lux sofreu uma atualização e se tornou uma opção viável, mas eu gosto dela desde o início.

Sabe por que me identifico com ela? A Lux cresceu com o poder de dobrar a luz, e por medo de ser descoberta e ser enviada para seu planeta natal, ela começou a esconder seus poderes. E, apesar de tudo, sempre manteve a resiliência e otimismo. E quando me assumi, tudo mudou, e sabe de uma coisa louca?

Eu gostei!


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Comentários

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  • Desejo receber um e-mail quando um novo comentario for feito neste conto.
30/07/2020 14:50:35
Enquanto espero o próximo vou lendo os contos antigos
30/07/2020 14:48:17
Estou amando o teu conto. Posta no mínimo 3 vezes na semana que já ansioso pra ler o próximo capítulo. Faz um esforço vei.


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