Confissões de um Hetero ( 10 anos depois ) Part 23
- Sai de casa com o destino de encontrar o Duan na cafeteria. Era uma noite fria, eu estava usando uma camisa polo cinza e uma jaqueta preta com uma calça da mesma cor. Estava pensativo em tudo que havia ocorrido comigo nessas duas semanas que estive aqui na casa dos meus pais. Eu aprendi tanto com as pessoas, mas, confesso, eu me enxerguei de uma maneira da qual eu nunca havia enxergado, eu estava orgulhoso de mim, do homem que me tornei, do que eu havia construído perante as pessoas das quais eu nutria um carinho muito grande e das coisas que aos poucos eu estava construindo. Eu não tinha ideia do que ocorreria comigo e Guilherme, mas eu também confesso que, essa situação já não me feria mais como antes. Chego na cafeteria, era pequena, ficava em uma área bem movimentada e arborizada da cidade, e estava incrivelmente movimentada. Duan me ver de longe, levanta-se com um sorriso no rosto.
Duan: Achei que não conseguiria me despedir de você!
Eu: Oi! Também achei ( falei sorrindo )
Duan: Como você está ?
Eu: Na medida do possível, bem.
Duan: Você tá mal por tudo que te falei, né ?
- Pedimos dois cappuccinos.
Eu: Sabe Duan, fiquei sim. Mas eu não sei até que ponto eu posso me meter na vida do Guilherme. Não sei se devo nutrir sentimentos de raiva ou injustiça, entende ? Não sei se posso me intrometer em algo que talvez eu não faça mais parte.
- Eu estava cheio de dúvidas, ok, não é novidade, eu sei. Mas, agora mais que nunca, as dúvidas vinham porque eu já não criava tanta expectativa, antes tinha o “Será ?” hoje continua tendo, mas, não com a mesma energia de antes. Eu tinha uma vida fora daquela cidade, uma vida de compromissos e bastante estudo. Eu estava decidido, se é pra ser, vai ser! Do contrario, teria que por definitivo colocar uma pedra em tudo isso. Eu não posso pertencer a algo somente em minha cabeça. Não bastava só o querer, teria que ter o compromisso, a esperança de que pra dar certo dessa vez, teríamos que dar o nosso melhor.
Duan: Eu entendo você.
- Eu sorri desse comentário dele e disse:
Eu: Não, acho que não entende não.
Duan: Igor, Guilherme já me falou muito de vocês.
Eu: Eu imagino, mas você não viveu isso. Você pode imaginar como é ser amado e amar com tanta intensidade, mas não vai saber como é se nunca viveu isso.
- Ele me encarou nesse momento, como se estivesse pensativo sobre minhas palavras. Nossos cappuccinos chegaram, e eu observei ele tomando um gole e fechou os olhos ao posar a xicara sobre a mesa, respirou fundo olhou pra mim e disse:
Duan: Promete que não vai me entender mal se eu te falar uma coisa ?
- Eu já esperava o que ele poderia falar, apesar de ter duvidas se ele realmente faria isso, porque ele já sabia o meu posicionamento sobre isso. Mas, apesar dos pesares, eu achava ele um cara genuíno.
Eu: Pode falar. ( falei prestando atenção em sua fisionomia )
Duan: Eu nunca fui um cara de me apaixonar facilmente. E antes que você fale qualquer coisa, não, não estou apaixonado por você. Mas eu sinto algo por você sim. E eu sei que eu tô sendo o cara mais filha da puta do mundo, falando isso pro ex namorado de um grande amigo meu que estão tentando se entender. Mas, talvez, por ter ouvido falar algumas coisas sobre você, esse encantamento possa ter surgido, e o fato de ter te encontrado pessoalmente na minha casa, no dia da festa, entrou como um veredito de algo que realmente era real, eu realmente sentia uma atração por você, sem nem mesmo te conhecer, e te conhecendo, só fez afirmar o que era uma dúvida pra mim. Eu poderia ser comedido e não falar nada disso pra você, mas não seria eu. E também você não precisa falar nada sobre o que eu acabei de dizer, eu só quero te falar o que eu sinto, olhando pra você. Faria de qualquer forma, mas prefiro que seja pessoalmente. ( finalizou ele, estava nervoso, tomou outro gole de cappuccino. )
- Fiquei olhando para ele, eu tinha achado lindo o que ele tinha falado, foi lindo ver o nervosismo autentico dele. Mas o fato é que eu não podia corresponder aquele sentimento, primeiro eu teria que saber o que fazer com o meu, em relação ao Gui. E, caso não tivesse mais eu e Guilherme, eu teria que me curar, e depois de curado, eu teria que me permitir me doar outra vez, e quem sabe não seria ao Duan... Mas tudo eram dúvidas. Eu não me sentia culpado em abrir essa possibilidade de “ Talvez se...” porque eu percebi que eu sempre esperei a resposta de outras pessoas para poder tocar meu barco, e eu estava fazendo isso outra vez, com relação ao Guilherme. Mas, no caminho, antes de chegar ao encontro com o Duan, eu tinha estabelecido para mim mesmo, que essa seria a ultima vez que eu dependia de alguém e que seria a palavra secundaria. Eu queria ser o dono de minhas próprias palavras e que elas fossem escutadas com a mesma parcela de importância que a do outro.
Duan: Ok, fala alguma coisa, pelo amor de Deus!
Eu: Eu tenho que ser sincero com você, mas tenho que ser sincero comigo também.
Duan: Claro, com certeza, seja!
Eu: Qualquer cara que estive sentado aqui escutando essas coisas que você acabou de dizer, ficaria feliz com tudo que ouvi. Eu não sei o que o Guilherme falou sobre mim, mas eu sei que tudo que ele falou que sou, é muito graças a ele, a maneira como ele sempre me tratou. Acho que o credito seria de nós dois, então.
- Tomei outro gole, e continuei. Ele me observava, e balançava a cabeça, como se entendesse o que eu falava.
Eu: Duan, eu queria falar o que você gostaria de ouvir. Mas eu...
- Meu celular toca essa hora. Achei estranho, pois era tarde, passavam da 00:30.
Duan: Seu celular está chamando... ( apontou ele para meu celular, que estava virado )
Eu: Eu sei, que estranho. ( resolvo ver quem era )
- Era Guilherme.
Eu: Oi, Gui! Tá tudo bem ?
Gui: Tá, eu que não estou conseguindo dormir. Imaginei que estivesse acordado.
Eu: Estou, já que dormi a tarde toda, nada mais justo. ( sorri )
Gui: Onde você esta ?
Eu: To tomando um café. Numa cafeteria.
- A próxima pergunta que eu sei que ele me faria, seria crucial, eu conhecia o Guilherme mais que qualquer pessoa. Eu poderia mentir, e me safar de uma situação desnecessária. Até porque não está acontecendo nada. Apesar de eu estar com uma cara que ele viu que deu em cima de mim. E para piorar a situação, era amigo dele. Ou eu falaria a verdade e ele teria que acreditar em mim. Eu nunca hesitei de nada dessas duvidas, quando se tratava do Guilherme.
Gui: Você está sozinho ?
Eu: Não Gui. Eu estou com o Duan.
- Silencio...
Eu : Guilherme ?
Guilherme: É sério isso ?
- Fiz um sinal para o Duan que iria sair da mesa para conversar com o Guilherme a sós.
Eu: Qual o problema nisso, Guilherme ?
Gui: O Problema é que você está falando com um suposto amigo meu que é louco para ficar com você. E você sabe muito bem disso, não se faça de besta.
Eu: Guilherme, você pode me dar um voto de confiança ?
Gui: Outro ?
Eu: Sim, outro. Ou você vai passar na minha cara aquela noite no meu primeiro semestre de engenharia ?
Gui: É difícil pra mim, Igor. Não torne as coisas mais difíceis do que já estão.
Eu: Então aprenda a confiar na minha palavra, acredita naquele cara que te deu um beijo pela primeira vez no seu quarto. Será que você consegue.
Gui: Eu não sei, eu queria.
Eu: Então para conversarmos, você tem que se curar se muitas coisas primeiro. Estamos nesse processo, mas há uma escolha. Passamos por ele juntos ou não.
Gui: Eu não sei Igor. Você vai estar sozinho lá em São Paulo...
Eu: Eu sempre estive sozinho lá, fiquei mais depois de você partir... mas são consequências de atos. Aprenda a confiar em mim, por favor.
Gui: Eu vou tentar dormir um pouco. Aproveite o café.
Eu: Não precisa ser assim, você sabe.
Gui: Não, não sei. Mas liguei para escutar sua voz, e para te dizer que eu e o Otto não estamos mais juntos. Era isso.
Eu: Foi a melhor escolha pra você.
Gui: Boa noite.
Eu: Gui...
- Ele desligou o celular.
- Voltei para a mesa onde gentilmente o Duan já havia pedido a conta.
Eu: Pediu a conta ?
Duan: Tomei a liberdade. Fiz bem ?
Eu: Fez.
- Não conseguia falar mais nada, quando o Guilherme iria mudar ? Será que esses ciúmes iria durar sempre ? Eu não queria viver assim, ter que dizer para onde vou e com quem vou. Amar não é isso. E sabe o mais controverso ? eu aprendi isso com ele. Ao mesmo tempo, eu não podia me crucificar por erros do passado, eu já havia me perdoado, mas só isso não bastava.
Duan: Desculpa se criei algum incomodo entre vocês.
Eu: Duan, eu vim aqui hoje te ver, porque eu gosto de você. Eu sou livre para fazer e falar o que quiser, sou o dono de minha consciência, e estou muito bem com ela. Eu vim como um amigo, me despedir de outro amigo. Mesmo sabendo o que isso poderia ocasionar. Não deveria existir discussão quando se existe confiança. Mas o fato é que na nossa relação ( minha e do Gui ) existe rachaduras, temos que lidar com elas. Eu tenho muito apreço por você, muito obrigado pelas coisas que falou hoje.
- Ele sorrio com complacência. Pagamos a conta e antes de entrar no carro eu disse;
Eu: Você é um grande amigo do Guilherme, não perca contato com ele. Há coisas e situações que fogem do nosso controle, mesmo entre amigos. Converse com ele, ele vai entender. No passado, quando nós começamos a nos relacionar, quando eu ainda morava aqui, ele passou por algo parecido, ele vai entender você. Não suma.
- Ele me agradeceu com um sorriso. Eu lhe dei um abraço, um beijo em seu rosto e sorri me despedindo. Chegando em casa, naquela madrugada, eu não conseguia dormir, fiquei acordado toda a madrugada, pensando em várias coisas, mas 70% delas seria minha conversa com o Guilherme, talvez a mais séria conversa que nós já tivemos, seria essa conversa que iria definir se continuaríamos juntos ou não. Sem ego, sem pretensões, apenas eu e ele, como sempre foi. As 09:00 tomei um banho, troquei de roupa e fui tomar café com meus pais. Eu iria aparecer se surpresa, pela manha, na casa do Guilherme. Não consegui esperar até o almoço para termos essa conversa, queria saber como proceder minha relação com ele o mais rápido possível. A meu favor ? só o que ( apesar dos pesares ) eu sentia por ele.
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CONTINUA
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OBS: O próximo cap será o penúltimo.