No domingo acordei. Fiz a higiene e fui tomar o café da manhã. O clima na mesa do café estava tenso. Eu fiquei no lugar mais distante do reitor. O Joel estava como de costume ao lado dele. O Thiago estava misturado aos outros. Nesse momento eu estava me sentindo solitário. O reitor volta e meia me olhava com fúria. Eu apenas fiquei quieto tomando o meu café. Ao término do café o reitor se pronuncia.
Reitor: Quero lembrar a todos que o reitor dessa casa, ainda sou eu e sou eu quem determina as regras. Não são vocês ou alguns de vocês. Portanto, as regras todos já conhecem, e quem descumpri-las estará automaticamente convidado a se retirar dessa casa. Eu tenho uma reunião marcada hoje, portanto estarei ausente. Até segunda ordem, seguiremos as regras já estabelecidas. Vocês têm o domingo livre. Ao meio-dia precisam estar de volta. Os responsáveis pelo almoço, o façam. A tarde também é livre. Às 18h todos estejam aqui. Bom domingo!!!
Levantamos todos da mesa e cada um foi tomar seu rumo. Eu me arrumei decidido a aproveitar o último domingo como eu quisesse. Queria sair o mais rápido possível. Ao chegar à porta o Thiago veio me perguntar onde eu iria tão cedo. Apenas respondi que ia sair e voltar somente para os horários determinados. O Thiago disse que iria junto. Eu falei que ia ficar sozinho. Não queria ninguém comigo da mesma forma como no dia anterior eu havia enfrentado meus dragões sozinho, iria continuar enfrentando sozinho. Dessa forma, eu seria o único a se queimar. Ele não gostou muito, mas não havia nada que ele pudesse fazer, eu já tinha decidido.
Eu saí de casa e fui rumo ao centro da cidade à pé. Não era a melhor decisão fazer esse percurso à pé e sozinho. Morava em uma das regiões mais perigosas da cidade. Antes de alcançar o portão da rua vi o diretor do instituto caminhando. Nos cumprimentamos. Ele parou um pouco de caminhar.
Diretor: Oi Fernando! Saindo sozinho e cedo hoje?
Eu: Pois é! Resolvi dar uma volta...
Diretor: Tu sabe que não é seguro andar sozinho na rua. Tem certeza que vai fazer isso? Por que não leva alguém contigo? Ou ninguém quis te acompanhar?
Eu: Eu pedi para ir sozinho. Preciso pensar. Refletir. E é melhor fazer isso sozinho sem influências...
Diretor: E como estão as coisas na casa?
Eu: Assustadoras para mim. O clima está bem tenso. Mas logo tu saberá. O reitor falou que tem reunião contigo hoje.
Diretor: Pois é, temos reunião marcada. Ele me ligou aflito essa manhã, me tirou da cama, aí decidi caminhar para me preparar para a reunião. Pelo que pude notar as coisas estão pegando fogo lá. Então, melhor caminhar para relaxar primeiro e depois enfrentar os problemas de cabeça fria. É isso que está fazendo, certo? Ótimo ver que resolveu seguir meus conselhos garoto!
Eu: Pois é! Resolvi caminhar e longe de casa.
Diretor: Vai lá! Só tome cuidado no caminho por favor! Não quero incidentes e maiores problemas do que os que já tenho hahaha...
Eu: Pode deixar!
Eu saí pelo portão e ele continuou sua caminhada. Fui rumo ao centro. Por sorte no caminho nada me aconteceu. Nenhum incidente. Fiquei vagando pelo centro. Passava olhando as vitrines das lojas. Fiquei por ali no centro sentado em um banco da praça tomando sorvete, bebendo um refri. Minha cabeça estava em um turbilhão de pensamentos. Em todos os pensamentos terminava com minha expulsão. Tentava pensar em alguma saída, mas todas terminavam no mesmo ponto. Tentava imaginar como o reitor iria convencer o diretor a me expulsar. Já era quase 11h quando vejo na praça perto de mim o Joel e o Thiago. Ao ver que os dois me reconheceram e se dirigiam em minha direção, eu levantei e saí andando rápido. Não queria eles comigo, muito menos o Joel. O Joel era parte da minha raiva. E o Thiago estar acompanhado dele, me irritava muito mais. Não estava com raiva do Joel por causa do reitor. Estava com raiva do Joel por causa do Thiago. Estava com raiva do Thiago por eu ter confiado nele no que se referia ao Joel. Certamente o Thiago havia me traído quando eu estive longe. Isso me queimava. Até que resolvi permitir os dois se aproximarem de mim.
Joel: Calma, Fernando!! Por que está fugindo de nós?
Eu: Só me responda uma coisa e eu não quero mentira. Quando eu estive em casa, vocês dois aproveitaram esse tempo à sós né?
Joel: Errrrr.... errrrr...
Eu: Sabia!!!! Eu tinha certeza disso. Mas me deixei convencer do contrário. Burro!!! Burro!!!
Thiago: Não!!! Jamais!! Tu está tirando conclusões precipitada. Não rolou nada entre nós! Por favor!!! Acredite. Eu não tenho nenhum envolvimento com o Joel. Jamais rolou nada entre nós!!
Eu: Claro! Eu acredito em ti. Jamais duvidaria de ti....
Thiago: Então!!!
Eu: Assim como eu acredito em Papai Noel e que ele vive no Polo Norte e todas as noites de 24 de dezembro ele desce pela chaminé com presentes...
Thiago: Já veio com as ironias de costume. Como fui idiota de pensar que tu mudaria!
Eu: Se não está satisfeito comigo, fica ai com o Joel. Se amem os dois. Sumam da minha frente.
Nesse momento eu explodi em choro. Tudo o que eu estava me esforçando emocionalmente das últimas horas explodiram ali.
Joel: Juro que não estou entendendo nada!! Do que vocês estão falando? Por que tu ACHA que viu algo ontem fica agora querendo me jogar nos braços de outros? Tu está pirando, Fernando! Melhor consultar um psiquiatra, isso não é sadio.
Eu: Some da minha frente merda! Eu vou arrebentar a tua cara. Tome o teu rumo. Eu não ACHO que vi algo. Eu TENHO CERTEZA do que eu vi. E o teu macho, o reitor, já me confirmou ontem a noite quando conversamos. Logo tu cairá do salto alto...
Joel: Hahahahahaha.... Quem vai acreditar em ti? Só o idiota da Thiago para acreditar... Os namoradinhos estão com os dias contados!!! Hahahahahaha.... Aliás, vou me despedir de ti ainda hoje. Quanto ao Thiago, acho que poderei aproveitar esse corpinho por um tempo ainda hahahaha... Thiago tu está na minha mão ainda hahahahaha... Tchau para vocês e beijinhos.... Hahahahaha... Veremos quem vai cair do salto....
Eu: FDP....
Parti para dar um soco nele. O Thiago me segurou. Fiquei puto da cara. Mais puto ainda com o Thiago por ter me segurado.
Eu: Me solta.... Eu vou quebrar a cara desse merda. Eu vou quebrar a cara dele....
Thiago: Não!!! Deixa ele ir.... Deixa ele achar que está ganhando. Ele vai ter a dele logo logo. Tu quebrar a cara dele agora será motivo maior para expulsão....
Eu: Eu já estou expulso, Thiago!!! Tu não se tocou ainda?? EU JÀ ESTOU EXPULSOOOOO!!! Acordaaaaa!!!
O Thiago ficou quieto. Vi que começou a chorar. Mas eu não estava com saco para consolar ninguém. Esta morrendo de ódio. Estava louco para quebrar a cara do Joel. Resolvo voltar para casa pois não ia quebrar as regras. Não agora.
Chegamos em casa. Entramos e fomos para o refeitório. O almoço estava quase pronto. O Joel nos vê na sala e solta uma piadinha:
Joel: Ora, ora!! Os pombinhos estão de volta! Sejam bem vindos!!
Olhei ao redor. Ninguém deu atenção a ele. Ninguém participou da piada. Nisso, chega o reitor e manda todos se dirigirem aos seus lugares para almoçar. Terminamos o almoço. E como de costume fui levar meu prato para a cozinha. Quando passei pelo reitor ele me diz.
Reitor: Tive a reunião com o diretor. Coloque teu prato na pia e vamos conversar.
Eu: Certo! Onde?
Reitor: Ali no pátio mesmo!
Eu: Tudo bem!
Fui até a cozinha, larguei o meu prato e me dirigi ao pátio. O reitor já estava à minha espera.
Reitor: Eu juro que eu estou até agora tentando te entender e não consigo! Eu não sei como consegue as coisas da forma como consegue! Como tu conseguiu esconder teu segredo de mim assim na minha cara?
Eu: Como assim? Que segredo?
Reitor: Não se faça de santinho!! Tu é muito cara de pau!! Eu não posso acreditar que tu escondeu isso e estava na minha cara o tempo todo!! O teu orientador espiritual é o diretor!!!! Como eu não vi!!!
Eu: Eu não fiz nada para esconder. Como eu não sou obrigado a revelar, não revelei.
Reitor: Como tu é sínico!! Tu é um fedelho de merda!!
Eu: Mas então, qual o resultado da reunião?
Reitor: Tu sabe muito bem o resultado...
Eu: Não sei... Tu conseguiu achar algum argumento convincente para me expulsar?
Reitor: Eu juro que eu vou fazer tu desistir de ficar aqui. Ah tu vai desistir!! Eu vou fazer tudo o que estiver no meu alcance para tu desistir. O inferno vai ser bem tranquilo perto da vida que tu vai levar a partir de hoje. Eu não consegui a tua expulsão. Mas eu vou conseguir que tu saia por conta própria. Fedelho, tu vai sofrer, e vai sofrer muito. Tu não sabe o que te espera. Acabou os teus dias de trabalhar com as crianças. Acabou os teus dias de descanso. Tu vai sofrer e muito. Agora, vai lá, o diretor quer falar contigo. Mas se tu falar qualquer coisa dessa conversa com ele, tu vai comer o pão que o diabo amassou rapaz. Agora sobe que ele está te esperando.
Eu saí e fui para a outra casa. Toquei a campainha. A secretária abriu para que eu entrasse.
Dinara: Oi Fernando! O diretor te aguarda no escritório! O que tu aprontou menino? Tem muita gente de cara feia por aqui hoje.
Eu: Eu não aprontei nada Dinara. Vou lá conversar com ele.
Cheguei até o escritório do diretor. Bati à porta. Ouço a voz.
Diretor: Entra, Fernando!
Abria porta, entrei. Ele estava com uma cara de fúria. Vermelho. Eu baixei os olhos. Ele diz:
Diretor: Senta! Agora vamos conversar e colocar todos os pingos nos is. Agora não sou seu orientador, agora eu sou o teu diretor. Essa conversa não vai ser agradável. Há muita coisa a ser explicada. Por enquanto tu se safou da expulsão. Mas essa conversa que teremos poderá mudar isso ainda...
continua...
