A leveza de amar - Cap. 3
Claramente não havia nenhum café aberto às 23:40, então sugeri que fôssemos para minha casa onde eu poderia fazer um café para nós duas. Cecília logo se prontificou de nos deixar no meu apartamento, quando chegamos Marina perguntou à Cecília se ela não nos acompanharia no café e logo Cecília disse que precisava dormir.
Graças à Dona Nise meu apartamento estava organizado e eu não passaria vergonha, convidei Marina para me acompanhar até a cozinha, mas creio que ela tenha achado mais interessante ficar olhando minhas tentativas errôneas de projetar prédios usando canudos.
- Você mesma fez essas esculturas de edificações usando canudos? - perguntou-me Marina depois que voltei da cozinha com duas xícaras de café e alguns biscoitos em uma bandeja.
- Ah sim, isso! Eu tento ser criativa e usar meu tempo livre para as artes, mas como pode ver não dá muito certo, rs.
- Eu achei incríveis, de verdade! Vejo a expressividade que você coloca, é tão autêntico que mesmo sem simetria parece reto. A assimetria da estética é totalmente simétrica com o valor de sua alma.
O que eu posso dizer é que naquele momento a simetria de alma que senti não foi bem com minhas “obras de arte” tortas, a simetria era diretamente com Marina.
- É como você e sua dança, você está totalmente coordenada com a música, mas seus movimentos não deixam a autenticidade que os compõem. Você faz algo inesperado, quando a melodia pesa, você traz leveza com algum passo e tudo parece equilibrado e ao mesmo tempo explosivo.
Marina estava corada, sua pele branca assumiu um tom rosa chiclete e quase que automaticamente senti vontade de mordê-la. Tão linda e carismática. Trocaria todas as esculturas de canudo por ela em minha prateleira só pra eu pudesse contemplá-la todos os dias.
Depois que todo o café acabou não queria que Marina fosse embora então abri um vinho para nós.
- Soube que sua companhia de dança está apenas de passagem, quanto tempo pretendem ficar?
- Inicialmente iríamos ficar apenas três dias, mas estendemos para uma semana. Embora eu não vá acompanhar as outras viagens com a companhia. Como você já sabe, por ser minha arquiteta – senti uma brisa fria dentro da barriga quando ela usou o pronome possessivo “minha” – tenho uma longa reforma pela frente.
- Sobre o projeto eu queria te fazer algumas perguntas. Conversamos muito mais cedo no escritório, mas ainda não entendi o que de fato você quer.
Marina aproximou-se de mim no sofá, ficou ao meu lado e segurou minha mão:
- Antes de entrar no seu escritório queria uma reforma rápida para vender o imóvel. Mas depois que passei pela porta do seu escritório não faço ideia do eu quero. Só sei que quero um processo lento até ter certeza do que fazer.
Marina olhava dentro dos meus olhos e apertava minha mão com uma ansiedade, eu não conseguia me concentrar em seus olhos e logo o meu olhar desceu até sua boca. Marina levou a taça de vinho até os lábios e para mim tudo parecia em câmera lenta. Depois de provar o vinho sorriu de canto e voltou o olhar pra minha boca. Aqueles minutos duraram uma eternidade inteira.
Eu a queria e queria muito.
Já passava das duas da manhã e Marina despediu-se, não queria que ela fosse embora, queria saber mais daquela mulher, queria saber tudo. Me ofereci para deixá-la em casa e ela aceitou pelo horário.
- Olha sinta-se importante na minha vida pois, nunca tiro meu carro de dentro desse prédio.
- Tem carro e sempre anda de ônibus?
- Sim. É estressante andar sempre de ônibus mas, quando penso que um carro a menos na rua diminui pelo menos um minuto no trânsito me sinto fazendo um bem pra sociedade.
- Como você é fofa.
Corei e desativei o alarme do carro, entramos e depois que fechamos as portas Marina me olhou e pediu para que a ajudasse a entender o que ela estava sentindo. No minuto seguinte Marina me beijara e eu sentia o céu dentro da minha boca.
- Desculpa, não sei o que deu em mim. Nunca beijei uma mulher antes.
- Não precisa se desculpar Marina, por favor, eu queria tanto quanto você.
Me aproximei e dessa vez eu a beijei, minha mão procurou sua nuca com pressa, Marina puxou-me pela gola da camisa social que vestia e sua língua invadiu timidamente minha boca. Eu não queria que aquele beijo acabasse mas, assim que teve fim Marina sorriu, passou a mão pelo meu cabelo e me disse que eu era linda e que me notara olhando-a no dia anterior no pátio da academia.
- Você estava tão linda parada me olhando, foi impossível não te notar. Queria te conhecer melhor então perguntei para a recepcionista quem você era e com que frequência ia à academia. Cecília me ouvia conversar com a recepcionista e me deu o seu cartão. Não acreditei quando lá dizia que você era arquiteta, parecia coisa do destino. Então como agradecimento dei à Cecília dois ingressos para apresentação torcendo pra que ela levasse você.
- E como você marcou uma reunião no escritório tão rápido?
- Momentos depois de falar com Cecília, liguei pro escritório e pedi que me agendassem o mais rápido possível com você. Eu não sei porque mas, desejava me aproximar de você o mais rápido possível.
Sorri e dei a partida no carro, não tinha mais nada a ser dito.