A volta por cima
Nota do autor: este conto, quase um mea culpa, provém de entrevista com meu cunhado Sávio e situa-se entre as verdades e as consequências. A título de instrução adicional, recomendo a leitura do conto anterior, pois a leitura deste aponta para fatos mencionados naquele. No mais, por agora, façamos silêncio, pois o senhor do silêncio vai falar, rs.
A volta por cima
Narrado por Sávio
-Moleque, prepare o lombo. A Doutora mandou você parar de receber os processos e ir agora, pro gabinete.
-EU?
-Não, vovó, rsrs. Move your ass, meu filho!
-Mas Paulão...
-Nem mas nem meio mas, porque hoje, a Doutora está com a macaca. Primeiro, devolveu o Thiago pra Prefeitura, depois, me expulsou do gabinete, porque não sei digitar na velocidade do créu 5. E ai de ti, se não souber. Não faça perguntas, porque não posso responder, agora. Espere a Doutora ir embora, porque parece que hoje, até as cabeças dos nossos paus podem rolar. Vá. Boa sorte.
Tremendo da cabeça aos pés e suando nas mãos, caminhei em direção ao gabinete da Promotora. Há dois meses eu trabalhava no Ministério Público, também cedido pela Prefeitura. Tinha vinte e um anos e era uma criança, em relação à equipe. Paulo Maurício, o Paulão, era o veterano, um homenzarrão ainda maior que eu. Técnico concursado, tinha competência para redigir manifestações, promoções, pareceres e o que fosse necessário. Redigira muito, para os promotores anteriores. Para Doutora Olyvia, nem uma linha. A mulher era o satanás enlatado, não se satisfazia com nada e a razão pela qual que me deslocaram do setor de arrecadação para o Ministério Público foi a seguinte: na primeira semana de trabalho, por ineficientes, a Doutora mandara dois auxiliares pra puta que os pariu. Eu era o terceiro e achava que estava durando muito. Dentro de dois meses, não havia sido repreendido pela Promotora, nem mandado pra puta que me pariu. Ainda bem, pois eu, órfão de mãe, não teria pra onde ir.
Fiquei arrasado, por saber que o Thiago tinha sido devolvido. Ele precisava da gratificação que estava recebendo e eu podia deduzir o motivo da injustiça que sofrera. Thiago era pai de um casal de gêmeos e mais dois meninos estavam a caminho, porém, durante as gravidezes, ele se sentia tão mal, que vivia vomitando. A Doutora o ameaçou, dizendo que se não parasse de frescura, querendo chamar mais atenção que a mulher e os filhos, daria um jeito de colocá-lo na rua sob a alegação de que era bulímico, anoréxico ou as duas coisas. Não adiantou nada o Thiago levar laudo médico, atestando que os sintomas que apresentava provinham duma síndrome que tinha CID, porque a diaba da Doutora nem quis conversa e, sem coração, que era, devolveu o pai de quatro filhos pra Prefeitura, não obstante fosse competente, dedicado e pontual.
Além do Paulão, do Thiago, que acabara de levar um pé no rabo, e de mim, também trabalhava ali a dona Lúcia, técnica que era a minha instrutora e tinha matrícula quase tão antiga quanto a do Paulão. Também fazia parte da equipe a Ana Maria, técnica eficiente, porém, extremamente antissocial. Por razões que a própria razão desconhece, a Doutora respeitava dona Lúcia e ignorava Ana Maria. Porém, exigia que dona Dalva, a cozinheira, preparasse pratos sem nenhuma gordura, sucos naturais feitos na hora, sem adição de açúcar ou adoçante (se fosse eu, juro que cuspia no suco) e mais mil, quinhentas e quatorze frescuragens. Também enchia o saco dos seguranças. Os caras mal podiam sentar, além de não poderem comer à mesa, com a equipe. Nem mesmo dona Dalva, que preparava as refeições, podia comer junto conosco, de forma que todos desejavam que Doutora Olyvia detestasse ficar entre nós e fosse embora bem depressa. Havia esperança, pois ela era substituta. Fosse titular e estaríamos fodidos.
Doutora Olyvia era uma mulher de trinta anos. Feia. Magra, quadris estreitos, sem peito nem bunda, nem cintura fina. A mulher-lápis, cem por cento Olívia Palito. Era elegante, no vestir. Estatura mediana, mas usava saltos altíssimos, que a deixavam em condições de nos olhar nos olhos. Cabelos loiros platinados, cortados num chanel assimétrico, olhos dum verde irreal, que evidenciavam o uso de lentes de contato, mãos repletas de anéis com pedras tão extravagantes, que serviriam como soco inglês e unhas grandes e pontudas como garras afiadas, pintadas com esmalte claro. Usava sempre batons cor de boca e os olhos fortemente delineados, dando a impressão de que podia enxergar até o avesso dos nossos avessos. Tinha fama de ninfomaníaca. Sua voz era aguda, potente, autoritária, irritante e cada vez que se dirigia a mim, eu sentia a minha carne estremecer. Talvez fosse melhor pedir para ser devolvido, mas eu nunca pediria, pois se a Doutora era carne de pescoço, eu também era. Carne do pescoço dum urubu, dura feito a peste.
Bati na porta do gabinete e ouvi que podia entrar. Entrei. A partir de então, passo a relatar a discrepância entre o que falei e o que pensei:
Fala: -Pois não, Doutora.
Pensamento: -O que foi, sua égua, piranha, filha da puta, dadeira de cu?
-Sente-se aqui e digite tudo o que eu ditar, de forma inconspurcável. Não suporto ter que fazer correções.
Fala: -Sim, senhora.
Pensamento: -Então digite você mesma, sua vagabunda!
-Já está ciente de que eu não permito interrupções para lanchar, beber água e ir ao banheiro?
Fala: -Estou sabendo agora, Doutora. Só pararei quando a senhora mandar.
Pensamento: -E quem não sabe disso, ô capiroto? E respirar, pode?
-Muito bem. Vamos começar.
Naquela tarde, Doutora Olyvia me fez digitar até não querer mais. Ótimo, porque assim, eu nem tinha tempo de pensar que aquele era o lugar do Thiago e que a minha chefe era a maior filha da puta. Quando saí do gabinete, estava com a bexiga quase explodindo, morto de sede, de fome e de cansaço. Fui ao banheiro e depois, à cozinha. A Doutora já tinha ido e eu podia comer sem pressa. Pedi um copo de café a dona Dalva e desembrulhei dois sanduíches de carne assada. Ofereci um a Dona Dalva e ela sorriu, dizendo:
-Ah, meu filho, eu não seria capaz de comer o seu sanduíche, porque a sua carinha de faminto dá dó, rsrsrs.
-Então, vamos fazer uma troca: a senhora me dá um pão com manteiga e queijo e fica com um dos meus sanduíches.
-Já que insiste, rs... espere... eu preparo o pão num instantinho... Pronto, meu filho. Toma. Vou pegar um café para mim, também. Hummm, Sávio, que delícia essa carne!
-Que bom que a senhora gostou, porque fui eu mesmo que fiz.
-Verdade? Você sabe cozinhar?
-Sei, sim senhora. Minha mãe morreu e eu tive que aprender, porque vovó não dá conta de limpar a casa, lavar roupa e cozinhar, então, eu fiquei com a cozinha.
-Parabéns! Já pode casar, Sávio!
-Credo em cruz, tô me benzendo, rsrsrsrs.
Fiz o sinal da cruz um monte de vezes e dona Dalva riu litros, o que fez o Paulão se achegar e comentar como era bom ouvir um riso, cada vez mais raro, entre nós. Concordamos, pois era verdade. Paulão confirmou tudo o que pensei, sobre a saída compulsória do Thiago e, para mal dos meus pecados, disse o que eu menos queria escutar:
-É, moleque, a partir de amanhã, a cabeça premiada é a sua, porque a Doutora gostou do seu trabalho, ligou, mandou-me digitar a Portaria e você vai pro gabinete. Já pedi outro auxiliar. Manda quem pode.
Fiquei mais branquelo do que já sou, porque o Paulão jamais zoaria com um assunto tão sério. Ninguém se habilitou a me desejar boa sorte, considerando que ser lotado no gabinete era a mesma coisa que escancarar a porta para a rua. Em casa, não abri a boca sobre o ocorrido, pois não queria preocupar meu pai ou minha avó, já que o pior que poderia me sobrevir era voltar pro setor de arrecadação, o que seria uma paz.
Durante o primeiro mês, trabalhei sem incidentes. A partir do segundo mês, fui direto pro inferno, montado num foguete guiado pelo capeta. A bomba explodiu numa tarde em que perdi as contas de quantas oitivas digitei. Assim que a última parte deixou o gabinete, baixei a cabeça e, mesmo de olhos abertos, rezei para que a Doutora fosse embora bem depressa. De repente, senti um par de mãos massageando os meus trapézios.
-Cansado, Sávio?
Porra, eu esperava tudo daquela vaca louca, menos que fosse tocar em mim. Cem gatos dividiram e comeram a minha língua, pois nada consegui responder. Senti meu rosto queimar, enrubescer e, para a minha infelicidade, senti as unhas da vadia me arranhando, ao longo da coluna. Como não poderia deixar de ser, fiquei arrepiado.
-Que bonitinho, quer dizer que você é tímido?
Fala: -Sim, senhora, muito.
Pensamento: -Pra você, sua bruxa, eu sou gay.
-Você tem namorada, Sávio?
Fala: -Doutora... Com todo o respeito... esta é uma pergunta muito pessoal.
Pensamento: -Não, eu dou o cu e chupo rola, sua puta!
-Tudo bem, para mim não faz a menor diferença se você tem namorada ou não, pois o que quero, eu consigo - disse a cobra venenosa, ao pé do meu ouvido.
Não tive tempo algum para raciocinar. A descontrolada mordeu meu pescoço, insinuou as mãos pelo meu peitoral e me disse para tirar a camisa.
Fala: -Perdão, Doutora, mas... não vou tirar.
Pensamento: -Meu cu, que eu vou tirar! Não sou seu objeto, ô vodu!
-Sávio, Sávio... aqui, quem dá as ordens sou eu. Você só obedece.
Fala: -Perfeitamente, Doutora. Cumprirei todas as ordens relativas ao meu trabalho, mas o meu corpo é meu.
Pensamento: -Vai tomar no centro do cu! Se eu fosse puto, tava na esquina, fazendo trottoir.
-Sabia que você fala igualzinho ao Thiago? - disse a piranha, se sentando no meu colo e rebolando sobre o meu pau. Sabia que dispensei aquele idiota por causa do puritanismo? Ele poderia estar aqui, mas escolheu ser fiel à sua mulherzinha amelinha barrigudinha, que só sabe limpar a casinha. Rsrsrs... o que foi, meu menininho inocente? Pensou que dispensei o pai do ano por causa da síndrome, rs? Quero você e vou ter, simples assim. Foi até bom não ter rolado com o Thiago. Você é mais interessante... Um garoto que se governa, que sabe pensar uma coisa e dizer outra, mas ainda não aprendeu a silenciar o consentimento do próprio corpo... Não quer tirar a camisa mas está de pau duro, rs...
Fala: -Doutora, eu sou sério, mas sou homem. É claro que se a senhora ficar sentada no meu colo, rebolando, isso vai acontecer. Por favor, levante-se.
Pensamento: -Porra, até meu pau tá contra mim? Abaixa, seu condenado duma figa!
-Claro que vou me levantar, mas só porque quero te mostrar algo... Veja este ofício. Eu não vou te devolver à municipalidade, Sávio. Exigirei a sua cabeça. Estou te acusando de comportamento impróprio e de me ameaçar, a fim de satisfazer a sua lascívia. Você é um tarado e é um perigo potencial, rsrsrsrs. Será a minha palavra contra a sua. A quem acha que darão crédito? Que tal lhe parece uma demissão a bem do serviço público? Está vendo, como não posso confiar no que diz a sua boca e muito menos na sua ira? Você continua de pau duro. Deixe-me te despir. Bom garoto, fez a escolha certa... Uau, que delícia você é, menino! Não o imaginei tão definido! Sua boxer melada mostra que está carente...
Tesão na vaca louca, eu não tinha nenhum, mas aquilo era verdade: eu estava carente, sim. Tinha terminado um namoro cheio de idas e vindas, há mais de seis meses e desde então, ainda não havia transado com ninguém. Nostalgia pura. Perdi a virgindade com Isabela, aos dezessete anos e cada vez que ela passava pela minha vida, era um auê. Mas agora, o auê era outro, muito pior. O buraco era beeeem mais embaixo. Disse a mim mesmo que recusar mulher feia era trinta por cento de viadagem e que se a piranha da Doutora estava esfregando a buceta na minha cara, o melhor que eu podia fazer era comê-la. Decidi-me a socar-lhe a tora até virá-la do avesso. Eu iria lhe ensinar com quantos paus se faz um macho, pois, sem trocadilho, estava muito puto por ser tratado como puto. Além disso, eu não podia perder o emprego, pois meu pai ainda pagava um consignado bem alto, referente a despesas com a doença da minha mãe.
Furioso, levantei-me da cadeira usando apenas a boxer branca. Minha ira era tão desmedida, que agarrei a vagabunda e puxei-lhe a blusa com brutalidade tal, que quase todos os botões se soltaram. De igual modo, arrebentei seu sutiã e o zíper da saia. Deixei a calcinha fio dental preta e as sandálias de salto, também pretas. Minha fúria só fazia extravasar, de forma que, com as mãos, arrebentei pedaços de fitilho de amarrar processos (só quem já tentou arrebentar fitilho sabe do que estou falando) e, empregando a persuasão (na verdade, foi a força, mesmo), amarrei a vadia em cima da mesa.
Abaixei-me, tirei meu cinto da calça que estava jogada no chão, puxei a calcinha da piranha pro lado e mandei-lhe três fortes cintadas na testa da buceta. A mulher urrou. Não me importei nem um pouco. Queria mesmo que o prédio inteiro, quiçá o povo que passava na rua, ouvisse o que Doutora Olyvia fazia com seus servidores. Queria fazê-la gritar em todos os tons da trepada imposta. Ato contínuo, rasguei sua calcinha e lhe dei uma longa linguada, bem molhada, na buceta vermelha das cintadas. Lambi até ter certeza plena de que ela estava sentindo prazer. Seus mamilos e seu clitóris estavam rijos. Sua buceta piscava e babava. Mordisquei aquela buceta inteira, como se fosse a melhor do mundo. Lambi o nervo clitorial até afastar o capuz do clitóris, expondo-o, pronto para ser degustado diretamente. Língua circulando o clitóris, inseri o dedo médio e o indicador, identifiquei o tecido rugoso do ponto G, comecei a mover meus dedos, fazendo o movimento de 'chamar', sincronizado com a língua, as pernas da vadia tremiam sem parar e ela começou a me molhar todo, esvaindo-se em gozo. Queria-a assim, submissa, desfalecida de prazer.
Livrei-me da boxer e meu pau saltou, louco por uma mamada. Eu tinha orgulho dos meus 22 centímetros de pau duro como rocha, cabeçudo, grosso, repleto de veias salientes e do meu sacão pesado, que me garantia uma ejaculação bem farta. Subi em cima da mesa de madeira maciça e dei uma verdadeira surra de pau duro, no rosto da vagabunda. Depois, agarrando a puta pelos cabelos, soquei meu pau em sua garganta, sem um pingo de dó. Surpreendi-me ao sentir que aquela garganta parecia não ter fundo. Fodi aquela boca até ficar todo suado e fazer a piranha babar em quantidade. Tirei meu pau de sua boca e mandei a vadia secar o suor do meu corpo com a língua. Depois, deixei que ela me mostrasse o que era capaz de fazer, com um caralho na boca e tenho que admitir: tudo foi delicioso, desde as mamadas intensas na chapeleta, usando a boca e a língua, passando pelas chupadas como se meu pau fosse um sorvete, pelas lambidas no saco, até chegar às engolidas profundas. A perfeição foi tanta, que aquilo não parecia mamada de mulher e sim de homem sedento de leite de macho. Era o meu esperma que a louca queria? Nada mais simples. Garoto de 21 anos, no auge do pique sexual, gozar e não gozar era quase o mesmo. Podia, perfeitamente, leitar a goela da piranha e continuar trepando. E foi o que fiz. A vagaba não desperdiçou uma gota da minha porra, mas eu só ia sossegar depois que lhe comesse a buceta e o cu. Quem mandou me provocar?
Enfiei minha cueca melada na boca da piranha, peguei um preservativo, na minha carteira, encapei o bichão, soltei as pernas da vadia, joguei sobre os meus ombros e enterrei até o saco. Descobri que se aquela megera não tinha fundo em cima, também não tinha embaixo. E como já tinha gozado, ia aproveitar para meter por tempo indeterminado. Eu metia até o talo e tirava até a cabeça quase sair, com pressão e velocidade. Desamarrei as mãos da vadia e a posicionei de pé, de frente para a parede, com as mãos para cima, seguras pela minha mão esquerda. Com a mão direita, a segurei pelo quadril e cravei-lhe o pau na buceta. A puta rebolava divinamente e sua buceta escorria, piscando a cada lambada do meu saco. Aquela xota sem fundo me instigava a tentar enterrar mais e mais, a ver se encontrava o limite. Ou não tinha, ou só podia ser encontrado por um jumento. Enquanto a lapada comia solta, mordi e marquei as costas da vagabunda, enchendo-a de chupões. A bruxa era tão piranha que gostou. Sua buceta palpitante estava pegando fogo e ela se contorcia de tesão. Decidi não ser tão mau, tirei a cueca da boca da puta e lhe disse, sussurando: -Geme, vadia!
Não precisei falar duas vezes. Os gemidos vinham das profundezas do útero e tiveram o poder de me excitar de tal forma que a iminência do clímax se anunciou. Respirei fundo e, sem aviso algum, enterrei o pau no cu da meretriz, que gritou mas não arregou, mantendo o rebolado. Decidi mudar de posição, para dar uma aliviada no risco de gozar. Virei a vadia de costas para a parede e a suspendi à altura do meu quadril. Abraçada ao meu pescoço, a filha da puta levava pau no cu e gemia. Certamente não estava acostumada a tomar no rabo, porque seu cu era muito apertado, uma delícia. Eu sabia que a vagabunda queria gozar, mas a dor estava atrapalhando, então, no calor do tesão, fiz o que, para mim, era inimaginável: tomei aqueles lábios entre os meus, num beijo molhado e safado, cheio de língua. Quanto mais eu simulava a penetração, com a língua tesa, mais a puta se aplicava a chupá-la como me chupara o pau. Nossas bocas se fodiam e assim, unidos embaixo e em cima, senti que a vadia relaxara o suficiente para obter seu orgasmo, intensifiquei as estocadas e a piranha acabou-se de gozar pelo cu. Minha intenção era esporrar toda a cara da vagabunda, mas foi impossível esperar. Gozei com selvageria, urrando como um leão ferido. Passado o gozo, desencaixei a filha da puta do meu corpo e a coloquei no chão. Notei que o preservativo estava bem cheio e torci para que não houvesse extravasado. Mandei a piranha abrir a boca e nela, despejei o conteúdo do prazer mais ambíguo que eu já experimentara. Constatei que a vadia tinha vindo preparada, pois retirou roupas limpas, de uma bolsa e as vestiu, passando a guardar as roupas rasgadas. Em seguida, de porta aberta, foi ao banheiro e retocou o batom, sem ao menos lavar o rosto. Pensei que até que aquela vagabunda ficava menos feia, com os cabelos em desalinho e o rosto afogueado de quem acabou de transar. Peguei minha cueca molhada do veneno, ops, da saliva da cascavel e a vesti, afinal, não tinha outra. Terminei de me vestir e ouvi:
-Você superou as minhas expectativas, Sávio... e... por isso, vai me dar prazer todas as vezes que eu quiser. É isso ou rua e uma mancha inapagável, na sua ficha funcional.
Fala: -Não é necessário me ameaçar, Doutora. Eu o farei.
Pensamento: -Sua filha duma puta da Vila Mimosa... Deixe estar, que ainda descubro o seu ponto fraco...
-Rsrsrsrs... Sávio... eu leio pensamentos, sabia? Sei que me xingou de vaca muitas vezes, então, fique ciente de que eu sou, mesmo. Sou vaca profana e se você olhar bem, vai ver meus cornos tripartidos, pra fora e acima dessa manada de puretas ordinários. Todos vocês não passam de gado, que vou tanger como bem quiser. Pode começar a se preparar para adivinhar e realizar minhas fantasias, se é que preza o seu trabalho. Preza, que eu sei. Fiz o dever de casa. Por hoje, é tudo. Au revoir, mon chéri, rs...
Sinceramente, depois do ato consumado, eu não sabia com que cara iria olhar pros meus colegas. Demorei algum tempo para sair do gabinete, de forma que o Paulão veio ao meu encontro. Quando ele olhou nos meus olhos, senti vergonha de mim. Tinha me prostituído pelo valor do meu salário. Talvez eu fosse o puto mais barato que Doutora Olyvia tivera, pois não lhe custei um só centavo. E o pior de tudo era que adquiri certeza absoluta de que se o assunto era ser garoto de programa, eu era ótimo, no exercício da função. Depois que o tesão se apoderava de mim, eu podia me depravar no último. Paulão adivinhou meu conflito, deu-me um tapa divertido, na cabeça, um abraço e disse: -Vai passar, moleque. Na vida, tudo passa.
Concordei, apenas movendo a cabeça e saí do prédio, sentindo-me sujo, desprezível. Fui caminhando depressa, até o ponto de ônibus e pensei no que vovó diria ao me ver chegando naquele estado: suado e com o cheiro da sacanagem impregnado no corpo. O ônibus veio, lotado, mas como eu queria ir para casa o mais rápido possível, entrei naquela lata de sardinhas. Ao chegar em casa, dei sorte. Vovó estava no maior papo com a vizinha, de forma que entrei e fui direto pro banho. Não pude demorar tanto quanto queria, pois tinha que correr pra faculdade. Eu fazia Administração e gostava do curso, mas não percebia, em mim, nenhuma vocação específica.
Depois das aulas, cheguei em casa exausto. Tomei outro banho e fui jantar. Enquanto comia, concluí que não conseguiria dormir. Cozinhei feijão, refoguei arroz e preparei carne de panela, para o almoço do dia seguinte, pois assim, facilitaria a vida de vovó, que dormia, cansada de vigiar as estripulias de Heitor e Sofia. Tive uma ideia. Pé ante pé, entrei no quarto da Sofia, onde ela e vovó ressonavam. Entrei no banheiro, abri o armário e peguei três comprimidos de Diazepam 10 mg - a trindade da chapação. Tão quieto quanto entrei, saí. Tomei mais um banho. Não tive coragem de chapar o coco. Engoli apenas um comprimido, embrulhei os outros num guardanapo e guardei na minha carteira. Talvez viesse a precisar.
O remédio não demorou a fazer algum efeito, porém, não me fez dormir, como queria e precisava. Também não afastou o círculo vicioso de pensamentos recorrentes. Perdi a paciência e mastiguei os comprimidos que havia guardado. Chorei. Pensei nas palavras que a minha mãe me disse para copiar, um dia antes de partir para a eternidade: 'O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; Ele é escudo para todos os que Nele se refugiam. Pois quem é Deus, senão o Senhor e quem é rochedo, senão o nosso Deus? Deus me cinge de forças e perfeitamente desembaraça os meus caminhos.' Quando? Será que os meus caminhos poderiam ser desembaraçados do laço em que eu mesmo escolhi colocar os pés? Por que não agi como o Thiago? Se não pudesse pagar minha faculdade, era só trancar. Por que fui tão fraco e cedi? Porque, na verdade, nem era tão simples como tentei colocar. Havia uma grande distância entre ser desacreditado por mim mesmo e ter meu bom nome desacreditado pelo mundo e para o mercado de trabalho, sem ter feito nada de errado. Em meio aos pensamentos angustiantes, adormeci. Dormi, nada, apaguei. Capotei, chapadíssimo, leso no último. Fiquei tão inconsciente, que acordei mais molhado que um bebê. Vovó, assustadíssima com o meu estado e com o sono despropositadamente profundo, me sacudiu pelos ombros, deu graças a Deus quando abri os olhos e perguntou se eu estava me sentindo bem. Estava, sim, apenas cansado demais, foi o que respondi. Pedi desculpas pela roupa de cama molhada e disse que iria lavar. Vovó disse que não podia me desculpar pelo que não tive a intenção de fazer e acrescentou que ia dizer ao meu pai que eu precisava de médico, vitaminas e descanso. Calei-me, pois não podia confessar que tinha tomado os comprimidos e muito menos a razão porque os tomei. Após o banho, vi que vovó já tinha lavado a roupa de cama e estava tentando tirar o pesado colchão ortopédico, sozinha. Peguei o colchão, pus no sol, lavei minha roupa e fui tomar o café da manhã. Arrumei-me. Fui para o trabalho. Meus colegas me receberam como sempre. Todos preferiram manter um silêncio respeitoso, acerca dos fatos.
Naquele dia, tive sorte, pois a Doutora não apareceu. Nos meses seguintes, continuei na função de comer a vaca louca, que começou a exigir mais e mais, de forma que cheguei a ter que matar aula pra comer a piranha na chuva, no próprio quintal do prédio do MP. Quando achei que a vagabunda não tinha mais o que inventar, veio o golpe fatal:
-Você vai se casar comigo, Sávio. Pra que? Ora, só para satisfazer aos meus caprichos. Para te mostrar que faço da sua vida o que eu bem quiser. O que mais você queria, para se casar? Um amor? Viver de amor? Sávio, Sávio... cresça! Quem vive de amor é dono de motel. Traga seus documentos e vou dar entrada nos papéis, na minha cidade. Eu te levo lá, para você assinar. Já tenho tudo planejado. Vamos nos casar num sábado e passar o fim de semana fodendo. Você vai dizer ao seu pai que vai trabalhar aplicando provas, junto comigo.
Já que estava no inferno, abracei o capeta. Abracei, não. Casei-me com o bicho ruim. Ao casamento, secreto ao olhar público, seguiram-se mais dois meses de muito trabalho, muita trepação e, um dia, misteriosamente, Doutora Olyvia não voltou mais. Foi-se embora para outra Comarca, deixando um bilhete sobre a minha mesa, o qual dizia: 'Marido, você se livrou da minha presença, mas nunca se livrará da minha sombra.' Verdade. Chefes entraram, chefes saíram, o silêncio da diaba me aterrorizava e, pra piorar, vovó faleceu, repentinamente. Tempos depois, meu pai desistiu de trabalhar no Banco, pois tudo, ali, lhe lembrava o que viveu, durante a doença da minha mãe. Meu pai passou a trabalhar como representante de laboratório e, consequentemente, fiquei assoberbadíssimo de funções, com dois irmãos menores para cuidar e aconselhar.
Dois anos depois, empregando a cautela possível, a fim de não divulgar meu segredo, fiz de tudo para me divorciar, mas o processo não andava nem por um buquê de caralhos. Petições de outros processos eram juntadas equivocadamente, ao meu; os despachos vinham todos truncados, meu advogado só faltava ter que desenhar e certa ocasião, nos deparamos com a informação de que o processo se encontrava no arquivo provisório. Não havia nenhuma determinação naquele sentido e o Responsável pelo Expediente certificou que houve processamento indevido. Preferiam dar uma certidão daquele teor, a dar andamento ao feito. Desesperei-me. Perdi peso. Recebi o apoio do meu novo chefe, Doutor Francisco, Promotor Titular e pessoa excelente, que me recomendou prestar concurso para alguma função onde pudesse ter dias livres para poder descansar e estudar, a fim de, futuramente, passar num bom concurso, pois via potencial, em mim.
Às vezes, eu tinha a impressão de que Doutor Francisco sabia do meu passado mais sujo que pau de galinheiro e sentia compaixão, pois tudo fazia para me encaminhar. Eu estava emocionalmente acabado. Meu cabelo caía aos montes. Não podia discernir nada do que me era dito, de longe. Com medo de estar ficando surdo, procurei a fonoaudióloga que dona Lúcia me recomendou: Doutora Clarice. Esperava ver uma mulher mais velha, mas passei longe de acertar. Era uma linda menina, da minha idade, com rostinho de boneca, olhos que pareciam duas deliciosas jabuticabas, gordinha (sou tarado nas gordinhas - melhor sexo das galáxias), seios lindos, toda cheia das curvas que me deixavam de pupilas dilatadas. Foi difícil relatar meu suposto problema auditivo, tendo que, ao mesmo tempo, controlar o tesão. Após me examinar minuciosamente, Doutora Clarice constatou que eu não tinha nenhuma perda auditiva e aconselhou-me a buscar meios de administrar o stress cotidiano. Tive sorte, pois acabamos ficando amigos. Saímos juntos, algumas vezes. Quando demos pela coisa, estávamos, em corpo e alma, irremediavelmente envolvidos. Mesmo sem ter tal direito, pedi Clarice em namoro, afinal, nem mesmo a minha família sabia que, lamentavelmente, eu era um homem casado. Sim, culpei-me muitíssimo, por agir daquela maneira, mas... eu estava apaixonado, ora! A-pai-xo-na-do, maluco, pirado de amor. Depois de tanto tempo num deserto emocional, encontrava a felicidade e renascia. Parei de perder peso e os cabelos. Voltei a escutar normalmente e, principalmente, voltei a sorrir. Não podia perder a mulher da minha vida porque, um dia, fiz escolhas erradas, das quais me arrependia amargamente.
Nunca deixei de rezar, pedindo a Deus que desembaraçasse os meus caminhos. Eu amava Clarice, com todas as forças do meu coração e sofria por não poder lhe dizer a verdade. Certa manhã, cheguei no trabalho, Doutor Francisco me esperava, na porta do gabinete e disse: -Vá agora fazer a sua inscrição no concurso para a Polícia Civil, Sávio. Sua família precisa de você e você mesmo, precisa mais ainda. Sei que vou perder muito, mas ver o que vejo e me omitir seria uma crueldade.
Não havia outro partido a tomar. Fiz a inscrição, passei no concurso, fui chamado, meus amigos do Ministério Público fizeram um jantar de despedida e nos emocionamos muito. Dentro de poucos dias, as novas realidades com que me deparei abriram meus olhos. Percebi que durante todo aquele tempo, eu não tinha feito o dever de casa. Fuxiquei a vida da minha 'esposa', descobri onde morava e que vivia com um Perito Criminal, com quem tinha uma filha. Para cúmulo dos absurdos, o cidadão era fisicamente parecido comigo, de forma que poderia passar por meu irmão. Aparentemente, a bruxa tinha ido embora da Comarca porque estava vivendo um affaire com o cara e acabara por envolvê-lo. Além de casado com aquele vodu, eu era corno, rsrsrsrs. Só me restava rir. Os fatos eram tão trágicos que eram cômicos. Durante as madrugadas dos meus plantões, eu arquitetava um plano e cantava baixinho: 'Um homem de moral não fica no chão, nem quer que mulher venha lhe dar a mão. Reconhece a queda e não desanima: levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima.'
Mas meu drama sofreu nova reviravolta: Clarice e eu nos dávamos tão bem, que ela começou a falar em casamento. Eu ia enrolando, afinal de contas, em regra, quanto ao próprio casamento, homem enrolado é pleonasmo. Ela me pedia a minha certidão de nascimento, a qual já não possuía desde que me casei, eu prometia procurar e ia ficando por isso mesmo, até o dia em que Clarice procurou o ** (não posso declarar o número) Ofício, solicitou a segunda via da minha certidão de nascimento, quase caiu dura ao saber que tal documento não podia ser extraído e lhe indicaram o Cartório onde poderia obter a segunda via da minha certidão de casamento. Lógico que Clarice foi lá, conseguiu a certidão e do Cartório, foi direto à Delegacia.
-Explique-me o que significa isso, Sávio - exigiu a minha amada.
Antes que pudesse abrir a boca, a falência das minhas forças foi declarada: minha cabeça rodopiou. Desmaiei. Acordei no hospital, com um galo na cabeça, a pressão oscilando e um puta medo, mas confessei tudo, sem omitir nenhum detalhe. Clarice ficou horrorizada de que, na Comarca, pudesse ter acontecido algo tão escandaloso debaixo dos narizes de todos e ter permanecido em segredo. Bem, não mais. O povo do ** Ofício descobriu que eu era casado e como os atos ali praticados eram públicos, não demoraria a surgir fofoca. Só não nos separamos porque minha namorada era um modelo de justiça e depois de conferir as informações que lhe dei, declarou que no meu lugar, também não teria dito nada e talvez até cometesse bigamia.
Durante mais quase três anos, batalhei para conseguir meu divórcio e acabei conseguindo, por meios escusos. Já não sou inspetor da Polícia Civil, mas não posso e nem devo jogar a merda toda no ventilador, declarando o que fiz, a fim de obter o approach necessário para invocar as influências capazes de resolverem meu problema. Transigi com superiores, com o 'lado negro da força' e acionei meio mundo. No fim das contas, nem sei qual foi a peça que representou o xeque-mate, mas sei que meu divórcio saiu. Não disse nada a ninguém, nem a Clarice, pois queria lhe fazer uma surpresa. Aguardei a sentença transitar em julgado, retirei o mandado de averbação, procedi ao registro da sentença e levei toda a documentação ao Cartório onde anos atrás, tinha sido obrigado dizer sim. Após quinze dias, poderia buscar minha Certidão de Casamento com a averbação do divórcio e, então, poderia me casar. Era o que eu mais queria. Clarice andava tristinha e quase não comia, embora eu me esforçasse para agradá-la em tudo. Ultimamente, também se furtava à nossa intimidade. Há quase dois meses eu não sabia o que era sexo e morria de medo de ouvir que o tesão se foi porque o amor acabou. Todas as minhas esperanças estavam concentradas naquele documento que me declarava livre e desimpedido.
Quando fui buscar minha certidão, parecia que a minha alma estava entrando no céu. Cheguei em casa e meu pai estava sugerindo que convidássemos noras e genro para o fim de semana. A ocasião perfeita para, a sós com a minha amada, compartilhar que o pesadelo chegara ao fim. Minha família não precisaria saber das páginas mais degradantes do livro da minha vida. Mas não aconteceu assim. Bêbado, preparei o feitiço que se virou contra mim. E tudo não passava de um simples jogo de verdade ou consequência... Simples, o caralho. Quase todos estavam aproveitando a deixa para fazer perguntas obscuras. Quem diabos teria contado ao Heitor sobre a maricota que tirei dum sarcófago, rs? Onde eu estava com a cabeça, para perguntar se meu irmão já tinha ficado com homem, se testemunhara e sentira na carne o quanto ele estava sofrendo? Foi bem feito para mim, que ele tivesse nos colocado em pé de igualdade, sugerindo que eu contasse tudo ao nosso pai. Seu Sérgio parecia ter bola de cristal até no saco, mas nunca encontrou o fio da meada que o levaria a descobrir que eu era casado e, por esse motivo é que vivia na maior das angústias. Meu pai ficaria escandalizado. Sei que ele pensava nos conhecer a fundo e que, em se tratando das nossas essências, a premissa era verdadeira.
Da boca ao ventre, senti o sabor de conviver com a omissão ao descobrir que Clarice estava grávida. Superei o travo amargo, ante a felicidade de ser pai. Clarice superou a raiva de achar que eu não estava agindo, ao ver a minha certidão. E, como nos amávamos, mais uma vez nos entendemos, decidindo apressar o casamento o máximo possível. Era o sepultamento do pesadelo - pensei. Ingressamos com a habilitação do casamento, os proclamas foram publicados e no dia em que conseguimos marcá-lo, ao sairmos pela porta do Cartório, o passado se ergueu das trevas, pois Olyvia - a quem eu não mais chamava de Doutora - entrou na nossa frente, perguntando:
-Quer que a SUA filha seja dama do seu casamento, Sávio?
Gelado, petrificado e mudo, surpreendi-me ao ver Clarice, calmíssima, com seu melhor sorriso de grávida em estado de graça, vir em meu socorro, dizendo:
-Claro que queremos, Olyvia, bem como queremos que você também esteja presente.
Irada, por ver que não exercia mais poder algum, sobre a minha vida, a vaca louca, ainda mais feia e mais magra do que eu me lembrava, limitou-se a virar as costas e sair. Então... eu tinha uma filha? Ali estava a minha segunda chance de mostrar a Olyvia com quantos paus se faz um homem. Mas é bom lembrar e frisar bem frisado que um homem de moral pode até não querer, mas PRECISA que sua mulher venha lhe dar a mão. Clarice me salvou, sendo o anjo que Deus usou para perfeitamente desembaraçar os meus caminhos. Era, finalmente, a volta por cima.