Meu Inimigo Não Era Hétero - pt. 13
No dia seguinte acordei e fui pro trabalho, e quando tive uma folga entrei no Facebook. Não resisti e fui ver o perfil do Marcelo no Facebook, mas ele tinha me excluído. Naquele momento pensei que foi bom ele ter feito isso. Quando saí do trabalho, fui direto pra casa, almocei, descansei um pouco e fui pegar o Neto em sua casa. Ele estava lindo, no bom sentido. O Neto era um cara atraente, cara de safado, seu rosto era bem liso, sem nenhum pelo ou espinha, cabelos castanhos escuros meio liso, meio caracolado, não sei explicar... tinha 1,76 de altura e era bem forte.
- E aí, quer começar por onde? - perguntei.
- Vamos dar uma volta pela vizinhança. - ele disse.
- Ok.
Rodamos toda a vizinhança e nada de aluguel. Em seguida, fomos até uma imobiliária a procura de alguma, mas também sem sucesso. Já estávamos quase desistindo quando paramos pra lanchar, e mais uma vez pude conhecer um Neto atencioso, prestativo e carinhoso. Quando estávamos comendo, entrou um casal de gays de mãos dadas na lanchonete, e ele olhou com cara de desdém.
- Cara, não entendo... como pode um cara curtir rola?
Eu fiquei com a minha cara no chão, fiquei com medo de me assumir agora pra ele, já que ele era o único amigo que eu tinha até aquele momento.
- Deixa os caras... - respondi, tentando mudar o assunto.
- Vish, por que tá defendendo eles?
- Porque os caras não te fizeram nada
- Porra, deveriam ter pelo menos respeito, entrar de mãos dadas aqui.
- Engraçado que um casal hétero entrar aqui de mãos dadas não é falta de respeito.
- É, mas já pensou eu tivesse com meu filho aqui, o que ele ia pensar? Ia virar um viado.
- A pessoa não vira homossexual e sim nasce homossexual.
- E como tu sabe disso?
- Porque eu sou gay. - eu me alterei e falei um pouco alto essa parte. Ele me olhou espantado e algumas pessoas que estavam ao nosso redor me olharam.
Eu levantei da cadeira e fui no caixa pagar a minha conta e fui embora, nem olhei pra ele. Entrei no carro e ele veio na minha direção, abriu a porta do carro, colocou o cinto e ficou olhando fixamente pro vidro do carro.
- Caralho, que merda foi essa? - ele continuou olhando pra frente.
- Eu que te pergunto, que merda foi essa? Tu acha o que? Que eu vou te estuprar, vou querer te comer, é isso? Se toca, porra. - Ele só ouvia.
Seguimos o caminho de volta pra casa calados, sem nos olharmos nem nada do tipo. Ele desceu do carro sem nem de dar tchau nem nada, mas tentei não me estressar. Cheguei em casa, tomei um banho, resolvi algumas coisas do trabalho e dormi. Quando acordei, tinha me dado conta que tinha perdido o horário da academia.
- Ótimo, to fudido amanhã - pensei.
Tomei outro banho e fui até o supermercado comprar alguma coisa pra fazer comida. Acabei comprando pão de forma, maionese e azeitona, e acabei fazendo um patê de azeitona pra comer. Vida de solteiro era assim. De repente, meu celular começa a tocar: era o Neto. Pensei em não atender, mas sei lá, senti que ele queria me falar alguma coisa.
- Alô?
- Tô aqui na frente do teu prédio, qual é teu ap?
- Pra que tu quer? Juntou uma gangue de homofóbicos pra me matarem?
- Tu só vai saber se me disser
Juro que fiquei com medo de dizer.
- É o 43. - E ele desligou o telefone.
Fiquei apreensivo os minutos que se passaram, quando ele finalmente chegou e tocou a campainha.
- E ai - falei.
- E ai - ele me olhou e em seguida olhou pra baixo.
- Quer entrar? Não vou te drogar e te forçar a transar comigo não. - Ele entrou.
- Odeio esse teu lado irônico - disse ele, se sentando no sofá.
- Você ainda não viu nada. - eu ri.
- Por que não foi malhar hoje? Fiquei preocupado.
- Acabei perdendo a hora. Achou que algum cara teria me matado enquanto curtíamos um sadomasoquismo?
- Para com isso, caralho. É sério. Eu me importo contigo, tu é gente boa. Foi a primeira pessoa que realmente acreditou em mim, e contanto que tu não queira nada comigo, eu quero continuar sendo teu amigo... se tu quiser, claro. Eu só preciso de um tempo pra me adaptar, isso tudo é novo pra mim.
- Beleza... respondi.
- Então, tem mais uma coisa que quero te falar.
- O que?
- Bixo, hoje quando tava voltando da academia, passei na frente da casa de um amigo e resolvi ir lá com ele... e aí ele me falou que tem um ap desocupado no outro andar. Só que é muito caro pra eu pagar sozinho, então quero saber se tu não quer ir dividir o ap comigo. - Ele meio que tava com vergonha.
- Neto, a gente se conhece há uma semana, eu tenho que pensar direito. Tenho que ver com meus pais, tudo direitinho, as coisas não são assim.
- Ah, beleza. Bom, vou indo então, amanhã tenho que acordar cedo pra ir pro cursinho. - ele estendeu a mão pra me cumprimentar, e eu fiz o mesmo.
Depois disso eu e ele fomos olhar o AP e eu também me apaixonei. A vista era linda, tinha dois quartos, uma cozinha americana e um banheiro... também tínhamos lavanderia e piscina inclusos no aluguel, o que era perfeito. O difícil foi convencer meu pai, que não concordou que eu morasse com alguém que eu conhecia há tão pouco tempo, mas depois de um tempo ele acabou sedendo, e aí ele já me deu um dinheiro pra pagar alguns meses de aluguel. Não que eu gostasse de ter o dinheiro dele, mas naquele momento eu tinha muitas dívidas com mudança e etc, e então não pude recusar.
Dois meses depois, eu e Neto já estávamos na nova casa, então nós resolvemos chamar o Paulo pra comermos uma pizza, que logo aceitou, desde que a pizza fosse de rúcula. Também tomamos um bom vinho enquanto ouvíamos um bom e velho sertanejo. Eu e o Neto haviamos feito algumas regras: a principal delas era não comer a comida do outro, por isso nós etiquetávamos tudo com os nossos nomes. Também decidimos que o lugar de bagunça era só nos quartos, por exemplo, se ele queria levar algum amigo pra lá, que levasse pro seu quarto, já que a sala seria pra quando seus pais ou os meus resolvessem aparecer por lá e terem uma boa impressão. Também contratamos uma senhora pra ir todos os dias limpar nossa casa e fazer comida, já que nós não ficávamos muito em casa no dia. Ela era a Dolores, uma senhorinha muito gente fina que nos fez engordar vários e vários kilosE aí gente, espero que vocês estejam curtindo isso aqui tanto quanto eu tô. Comecei a escrever isso aqui como um hobby e hoje em dia eu sinto que é praticamente uma obrigação com vocês. Obrigado por comentarem, é gratificante ver comentários de pessoas dizendo que leram o conto todo em um dia, sério, vocês são demais.
stahn, bom, quem sabe...
Vi(c)tor, eu não fico bem triste, só é desmotivador você vir, escrever um texto, elaborar todo um enredo e parecer que as pessoas não leram seu trabalho. Obrigado, beijo.
J.Pedro, nossa, me desculpa!! haha, mas aqui todo mundo fala engenheiro elétrico. Obrigado pela correção.
Kevina, acho que o Alexandre precisava de uma amizade assim, já que estar em uma cidade nova, sem ninguém, é uma coisa muito depressiva. Eu vivi na pele o drama do Neto, porque acompanhei de perto o que o pai dele fazia ele passar, mas quem sabe não tem uma reviravolta?
Ao restante, um muito obrigado, sintam-se todos abraçados. Continuem comentando e deixando suas opiniões.