Ei, eu mudei ouviu ! Cap.1

Cap.1

- Não, você não pode ficar mais um segundo aqui, precisamos impedir que essa doença se alastre dentro de você, você vai morar em São Paulo, com a sua avó- essa foi a justificativa encontrada pela minha mãe, pra me deportar para a maior cidade da América Latina.

- Não mãe, por favor, você não pode fazer isso comigo !

- Esta decidido Lucas !- isso aconteceu por que ela descobriu que sou gay. Morava em Macapá. Bem, tenho 18 anos, atualmente. Tinha 15, na época. Gosto de tudo o que adolescente comum gosta, menos de festas regadas a álcool. Gosto de música boa, de me vestir bem, de ter amigos, de conversar sobre os mais belos dos colégios. Não posso dizer que sou tímido. Apesar de estar fora dos padrões de beleza, eu era bem popular. Isso não mudou, impressionantemente, no outro colégio. Foi ruim. Eu amava muito um garoto, mas ele me deu um fora. E o pior, sem consideração nenhuma. Seu nome era Marcos. Marcos Davi, uma combinação perfeita, pra mim. Ele era um garoto bonito. Cabelos enrolados, branco, se vestia muito bem, era magro, baixinho, confesso, e tinha um corpo estonteante. Era o que se poderia chamar de anjinho, e esse era realmente o apelido dele. Ele normalmente não era antipático.

- Anjinho, você pode ir pegar água pra mim ?- uma garota de peitos além da conta, pedia a ele.

- Claro que sim- ele respondia, indo com um sorriso no rosto, e sendo cumprimentado por todos. Ele deixava suspiros por onde passava, e era alvo de olhares de todas as meninas não miopes do colégio.

- Marcos, me ajuda nesse trabalho, por favor cara- um outro menino pedia.

- Claro que sim- sempre lançava aquele sorriso jovial e branco que carregava. Ele era encantador em todos os aspectos. Passei a observa-lo. Prestava atenção nele sempre. O que ele fazia, que horas ia embora, com quem andava. Não tive como não me apaixonar. Pensava nele em casa, na escola, em todo lugar. Aos poucos foi ficando difícil esconder. Eu não me sentia confuso por estar gostando de um menino. Eu já me aceitava como homossexual. Naquela época, minha vida se resumia a uma coisa, Marcos Davi.

TEMPO DEPOIS

Era hora de ir embora. Como sempre, eu era um dos últimos a deixar o colégio. A péssima relação com minha mãe justificava esse ato.

- Mas Lucas ? Você não sai desse colégio ?- minha amiga Luana perguntava.

- Pra que ? Pra chegar em casa e brigar com a minha mãe, prefiro ficar aqui.

- Bem, você que sabe, eu já estou indo, até amanhã.

- Até. Acho que vou lá pro forte, a Juliana disse que tinha ido pra lá- e assim sai, em direção a Fortaleza de Macapá, principal ponto turístico da cidade. Fica bem perto do meu colégio, então logo cheguei lá.

- Lucas, você veio- falou, correndo em minha direção, para me abraçar.

- Eu não ia ficar sozinho lá no colégio. A luh já foi embora, então vim pra cá- olhei ao redor, e vi meus outros três amigos, Daiana, uma rockeira encantadora, Marcelo, e Erik. Junto com a luh, formávamos um quinteto quase inseparável- tem algum lugar que venda refrigerante por aqui ?

- Tem sim. Ali naquela barraca- falou Marcelo, apontando pra uma barraca aonde uma mulher atendia.

- Ok, já volto- tirei o dinheiro da minha mochila e comprei. Foi quando escutei um grito: Para Marcos ! seguido de um sorriso. A voz parecia vir de trás de uma árvore. Lentamente me aproximei, e a cena que vi me entristeceu profundamente. A mesma menina, que tinha pedido água antes, agora estava escorada na árvore, enquanto Marcos a beijava. Nem o conhecia direito, mas parecia como se ele estivesse enfiando uma faca em meu peito. O susto foi tão grande, que deixei o refrigerante cair, assustando-os. Virei de costas, e fingi que não tinha visto nada. Não voltei mais. Por algum motivo eu chorava descompassadamente. Estava completamente acabado por dentro.

NO DIA SEGUINTE

Olhava pra mim mesmo no espelho. Buscava respostas. Uma simples atração não podia me fazer ficar assim tão triste. Mas eu estava quase morto, o meu eu buscava descanso, daquela escola, e principalmente, da figura antológica que ele é. Fui surpreendido pela abertura da porta. A mesma fazia um rangido que doía os dentes, sinal de que precisava de óleo. Nem me preocupei em olhar, mas não pude evitar, quando senti aquele perfume que era o meu sonho de consumo. Virei, e era ele, que estava ali, no mictório. Me desesperei. Não queria ve-lo, não sei como reagiria. Peguei as minhas coisas e já ia sair, mas ele me surpreendeu, se metendo na frente da porta.

- Posso sair ?- estava de cabeça baixa, rezando pra que alguma alma abrisse aquela porta e me livrasse daquele tormento.

- Não- sua voz não estava aveludada como sempre. Estava bem mais grave- antes, eu preciso saber se uma coisa é verdade !-e então, avançou contra mim, me beijando. De primeira, tentei evitar, tira-lo de perto de mim, afinal, era maior que ele. Mas sentir o seu cheiro, e a sua língua entrando em minha boca, foi como se meu corpo perdesse os movimentos, não consegui fazer nada. Logo ele me soltou- então é verdade !

- O que ?- perguntei, quase sem fôlego.

- Você gosta de mim- ele limpava a boca, como quem tivesse comido algo e não tivesse gostado.

- Quem te contou isso ?

- Eu não preciso te dizer. Bem que ela tava certa, você é viado- aquele não era o Marcos que eu conhecia. Ele estava vermelho, com uma expressão de raiva.

- Não era pra você saber disso. E porque diabos você fez isso !

- Era o único jeito de eu ter certeza. Pois fique sabendo agora você, eu não gosto de homem. E mesmo se gostasse, nunca ficaria com um garoto como você !- aquelas palavras feriram ainda mais o meu já alanceado coração- você é feio ! Gordo, patético. Eu não quero que goste de mim, nem que olhe pra mim- sua respiração estava forte.

- Sai- falei, me jogando no chão do banheiro, e deixando as lágrimas escorrerem. Ainda podia sentir seu perfume no ar. Porque ele tinha feito isso, era só dizer não. Eu não precisava ser humilhado. Não consegui reagir. Estava acabado.

HORAS DEPOIS

Como se não bastasse toda a dor que sentia, ao chegar em casa, ainda tive que ouvi minha mãe me chamar de aberração, criatura do diabo, me comparar a coisas horríveis, dizer que sou um péssimo filho, que ela preferia me ver morto. A história tinha chegado em casa. E assim, fui deportado pra São Paulo.

SÃO PAULO, 2011

Meu visual era péssimo. Estava com diversas olheiras, não conseguia mais sorrir, nem sentia meu coração bater direito. Estava sem vida, sem cor, sem sentido pra viver. Minha avó entrou lentamente no quarto. Sentou a beira da cama. Olhou pra mim e viu o quão triste eu estava.

- Filho, eu sei porque você veio pra cá- olhei pra ela assustado, com medo de ser bombardeado novamente. Escondi minha cabeça entre as pernas, e rezei pra que ela não dissesse nada- eu não tenho preconceito em relação a isso. Foi justamente por isso que deixei você vir. Imaginei que você iria sofrer muito lá, sua mãe nunca gostou de homossexuais- ergui meu olhar, e vi na minha avó, uma luz de alegria.

- Sério ?- ela chegou mais perto e me abraçou.

- Sério- não pude evitar o sorriso. Ao menos aqui, não seria criticado.

- Vó, a senhora me ajuda numa coisa ?

- O que ?

- A ficar bonito.

- Como assim filho ?

- Emagrecer, fazer um penteado bacana, me reinventar- ela sorriu

- Tudo bem, se é o que você quer, iremos na nutricionista amanhã mesmo.

Eu iria ficar bonito, irresistível pra qualquer um. Não deixaria nunca mais ninguém passar por cima de mim.

Continua

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Comentários

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07/12/2014 22:58:30
👍👍👍👍👍👯
05/11/2014 10:50:39
10
27/09/2014 20:26:40
Muito bom
26/09/2014 22:25:36
Existem males que vem para o bem! Continua logo!
26/09/2014 12:18:40
Fantástico, me senti nessa situação, continua.
26/09/2014 11:19:47
Muito bom, por favor, me diz que depois de ficar lindo ele vai reecontrar esse Marcos e pisar e esnobar e cuspir nele! Seria épico! Continua!
26/09/2014 10:54:16
Eita, sofrendo aqui com você. Esse drama é comum a todos os gays. Triste sua mãe te deportar pra tão longe , só por causa da sua orientação sexual mas vaia ser bom pra vc. São Paulo é uma metrópole aonde vc vai poder ser vc sem reservas, sem medo de ser feliz. Lugar de gente de mentalidade evoluida. Amei sua avó, que apesar da idade, está bem a frente do seu tempo e vai te dar a maior força. Continue o conto, por favor que tá mexendo com a emoção. Tô aqui no aguardo. Abracao!
26/09/2014 08:20:55
Muito massa
26/09/2014 08:20:30
Nossa continua logo pq vc ja me dexou apaixonado pelo conto parabens
26/09/2014 04:26:29
Muito massa
26/09/2014 01:55:43
Querido você vai pisar de salto agulha neles ainda kkk super legal o conto
26/09/2014 01:53:00
Que cara babaca esse Marcos. Continua que ta legal 😸😸😸


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