Eu não seria mias o mesmo. Eu saí dali sem rumo. Aos prantos, e nem percebia o trânsito. Eu queria morrer. Tava explicado as manchas no corpo, a perda de peso... Como eu enfrentaria as pessoas agora? Eu me senti o ser humano mais podre e sujo por dentro! O suicídio era a melhor saída.
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As pessoas na rua me olhavam com pena. Meu corpo pulsava numa dor imensa. Olhei para o céu e gritei. Gritei tão forte... Voltei a desmoronar. Desta vez, jogado na areia da praia, naquela escuridão. Éramos somente eu e o mar... Fechei os meus olhos, e as melhores lembranças da minha vida me veio à cabeça. Lembrei-me do sorriso meigo e doce do Felipe, do dia em que fiquei tão feliz com minha primeira bicicleta... Da bagunça que eu e a minha irmã fazíamos na cozinha quando criança. Dos meus queridos amigos... Porque isto estava acontecendo comigo? Eu nunca fui um ser humano ruim. A minha vida não fazia mais sentido. Fui enganado por tanta gente, por pessoas que eu amo.
Quando me lembrei do Arthur, me dizendo que eu estava com AIDS, algo ruim agitava as minhas veias, os meus órgãos. Eu me senti podre! Agora eu estava condenado a padecer com uma doença que não tinha cura. Eu jamais poderia ser feliz novamente. E o que é um ser humano sem a sua felicidade? Tomei uma decisão profunda... Eu ia me matar. Seria melhor assim. Para mim e para todos! Talvez eu houvesse me tornado um peso na vida das pessoas... Um fracassado, um sonhador!
A mim, não restava mais alternativas. Meus últimos sonhos foram brutalmente arrancados de mim. Com a minha morte, eu só estaria antecipando o me sofrimento profundo. Minhas lagrimas insistiam em cair... Meu coração doía tanto, e eu estava me sentindo tão sozinho. Eu queria naquele momento, poder dizer ao Felipe, que mesmo o destino levando embora a nossa história, eu ainda o amava. E iria amar pra sempre.
Saí da areia, sem um olhar fixo. Sem um horizonte. Apenas carros num vai e vem frenético, numa avenida movimentada. Lembrei-me da música da Lana Del Rey: Summertime Sadness. Era a musica que eu ouvia quando eu estava triste. E aquele era um momento triste. Eu não conseguia parar de chorar... Me faltava coragem para atirar-me diante daqueles carros.
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- Eu estou ligando para o celular dele e não atende. – disse o Guilherme.
- Tenta de novo Gui. Algo me diz que aconteceu alguma coisa com meu amigo. – Victor estava apreensivo.
- Galera, ele deve estar com o tal do Arthur. Vamos ao apartamento deste cara ver se ele está lá.
- Ninguém some desta forma. O Nando nunca deixou de atender a uma ligação nossa. – Victor andava de um lado para o outro. – Eu queria que esta sensação ruim que estou sentindo, passasse, mas não consigo.
- Quer para de ataque de bicha louca, Victor! Desse jeito você vai deixar eu e o Paulo, loucos também. Não aconteceu nada com o Nando!
Por mais que eles quisessem disfarçar, era óbvio que estavam todos apavorados. O Nando não dava noticias desde a noite de ontem, e a família também ficou desesperada.
- Vamos agora na casa deste cara. – Guilherme pegou a chave do seu carro e os três partiram para a casa do Arthur.
- Se ao menos o Felipe estivesse aqui... – dizia o Gui, já dentro do carro com os amigos.
- Ele foi inventar de viajar com aquela mulherzinha. – disse o Victor indignado.
Quando chegaram ao prédio onde morava o Arthur, conseguiram avistar o mesmo, pondo malas dentro do carro.
- É impressão minha, ou parece que ele está indo viajar? – perguntou o Paulo.
- Alguma coisa tá estranha nisso ai. – o Gui levantou do carro e foi em direção ao Arthur.
- Oi Arthur, beleza? Por acaso o Nando está com você?
- E porque estaria? – ele foi grosso.
- Ué! Vocês não são namorados? – perguntou o Victor.
- Nunca fomos. Eu ao tenho tempo pra conversar agora. Estou indo viajar.
- Porque tá tão nervoso?Hein Arthur? – o Gui tomou a frente dele. – Você vai me dizer agora, onde está o Nando. Eu sei que você sabe.
- Seu amiguinho deve estar neste momento, chorando lágrimas de dor, por ter adquirido a doença dos viadinhos.
- Hã? – o Victor arqueou as sombracelhas. – O que está querendo dizer?
- Tá bom. A trupe quer mesmo saber? O Nando agora é aidético. Tem AIDS, e vai ter de tomar remédio durante a vida inteira.
OS três amigos tomaram um susto com a revelação. O Guilherme foi o mais centrado e calmo.
- Ok! Agora fala onde está o nosso amigo.
- Eu não sei! E nem quero saber. - ele gritou.
- Foi você quem passou esta doença maldita pra ele, não foi? Seu filho da puta! – o Paulo partiu para cima do Arthur, e conseguiu dar um soco em sua cara. – Seu babaca! Você estragou a vida do nosso amigo.
- Calma Paulo! – pediu o Guilherme.
- Eu nunca quis nada com o Nando. Na verdade eu queria me vingar dele, por tudo que ele fez comigo. Me roubou os meus namorados!... Eu não o obriguei a transar sem camisinha. Fez porque quis. – ele mentiu.
- Ainda tem a cara de pau de nos dizer isso com cara lavada? – Paulo foi pra cima dele novamente.
De repente, o porteiro do prédio, que por sinal conhecia muito bem o Nando, veio para o lado de fora, esbaforido.
- Sr. Arthur, o seu Fernando, aquele amigo que vinha sempre aqui, acabei de ver a noticia na televisão de que ontem um jovem se jogou em cima dos carros, na avenida Atlântica. Quando mostraram o rosto, era o seu Fernando. Meu Deus, ele tentou se matar.
- O que você está dizendo é verdade meu senhor? – perguntou o Guilherme.
O Victor que era o mais frágil do grupo passou a se desesperar.
- Eu quero o meu amigo. Eu quero o Nando!
- Eles falaram que ele está em estado gravíssimo no hospital Santa Helena.
O Arthur pouco se importou com a notícia. Os três amigos foram feito balas, para o tal hospital. Guilherme tentou conter o desespero do Victor e do Paulo. Chegando ao hospital, disseram que eram parente do Nando,e uma enfermeira chamou o médico.
- Vocês são parentes do paciente Fernando Oliveira?
- Sim doutor. – fizeram um coro em resposta.
- Bom, o estado de saúde do paciente é muito grave. Ele teve fraturas no corpo inteiro, e pelo estado que ele já se encontrava, piorou a situação.
- O senhor deve estar falando do vírus da Aids, não é? – disse o Guilherme.
- Aids? Que Aids? O Fernando não é soro positivo. O que ele tem e que precisa ser feito um transplante urgente é leucemia. – disse o médico.
- Mas...
- Fizemos exames de sangue nele, e suas plaquetas estão muito baixas. O câncer já avançou para um estágio que nem mesmo a quimioterapia irá funcionar. Precisa ser feito o transplante de medula óssea.
Mais um baque para os três. O trio se abraçou e chorou. Perder o Nando era como se arrancassem parte deles. Guilherme era o mais velho do grupo, e foi ele quem avisou a família.
- Ele possui irmãos?
- Sim doutor. Ele tem dois irmãos. Um homem e uma mulher.
- Ótimo! As chances de serem compatíveis aumentam ainda mais. Mas antes, o paciente precisa se recuperar das fraturas do corpo. Ele está muito frágil e o atropelamento foi grave.
Restava agora aguardar o que viria pela frente.
CONTINUA...