ENTRE HOMENS - CAPÍTULO XXX – INVERNOS
ENTRE HOMENS
CAPÍTULO XXX – INVERNOS
Ame enquanto estou por perto. Procure-me enquanto o meu coração está disposto a ser todo seu. Nunca esqueça que o amor sempre precisa de encontros eternos com o seu coraçãoNa capelinha da comunidade. Um culto.
Após a leitura do Evangelho que falava sobre o amor ao próximo. Taumaturgo começou a fazer uma reflexão sobre o perdão, o amor e a misericórdia divina. Passado alguns minutos de silencio ele continuou a celebração da palavra junto aos comunitários da redondeza. Inclusive a senhora Ruth se tornara uma pessoa mais dócil e menos discriminadora. Logo após o pai nosso, o nosso ex-seminarista começou a distribuir a comunhão aos presentes. Nesse momento alguns jovens que animavam a celebração, começaram a entoar o canto de comunhão.
‘Senhor, quando te vejo no sacramento da comunhão
Sinto o céu se abrir e uma luz a me atingir
Esfriando minha cabeça e esquentando meu coração
Senhor, graças e louvores sejam dadas a todo momento
Quero te louvar na dor, na alegria e no sofrimento
E se em meio à tribulação, eu me esquecer de ti
Ilumina minhas trevas com Tua luz
Jesus, fonte de misericórdia que jorra do templo
Jesus, o Filho da Rainha
Jesus, rosto divino do homem
Jesus, rosto humano de Deus
Chego muitas vezes em Tua casa, meu Senhor
Triste, abatido, precisando de amor
Mas depois da comunhão Tua casa é meu coração
Então sinto o céu dentro de mim
Não comungo porque mereço, isso eu sei, oh meu Senhor
Comungo pois preciso de ti
Quando faltei à missa, eu fugia de mim e de Ti
Mas agora eu voltei, por favor aceita-me
Jesus, fonte de misericórdia que jorra do templo
Jesus, o Filho da Rainha
Jesus, rosto divino do homem
Jesus, rosto humano de Deus.’
Sacramento da Comunhão (Nelsinho Correa)
Logo após a comunhão ser dada a todos os presentes. Fez-se outro momento de silencio. Com o fim da celebração, todos começaram a voltar para as suas residências. Taumaturgo está arrumando o espaço quando é abordado por Rita.
“Pelo visto você não perdeu o jeito de padre.”
“E padre tem jeito? (risos).”
“Sabe que eu não sei. Afinal o mais próximo que cheguei foi perto de ti, quase padre.”
(Risos).
“Sou um cara normal!”
“Pena que...”
“Pena por quê?”
“O que você aprendeu sobre perdão não foi suficiente para perdoar o Miguel.”
“Não queria tocar nesse assunto.”
“Para com isso amigo. Você está deixando de lado um homem que te ama muito.”
“Pode ser...”No quarto de Enzo.
O modelo com fone de ouvido cai num sono profundo. Durante o seu sono começa a ter novamente dos seus pesadelos. No seu pesadelo acorda com os olhos ainda embaçados, sem muito enxergar o que está a sua volta. Tudo está muito embaçado, meio que escuro. Levanta-se e fica sentado no sofá da sala. O som ligado a meio volume com um som de fundo. Passa a mão sobre a testa na tentativa de ficar mais acordado. Avista uma luz oriunda do corredor. Em passos lentos e tateando com as mãos nas paredes servindo de apoio para a sua caminhada ainda tremula. Passa pelo quarto que está com a luz apagada e segue em direção para o banheiro a fim de lavar o rosto sonolento.
Abaixando-se até a pia para lavar mais proximamente da torneira. Ao levantar, abre os olhos e olhando fixamente para o espelho ver que a sua testa tem sangue.
Começa a lavar com mais afinco o seu rosto. Mas a água se tornara avermelhada. O seu rosto ficara todo mascarado com a cor avermelhada da água.
“Nãooooo...”
“O que está acontecendo aqui?”
Desesperado procura ir até o quarto e ascende a lâmpada do mesmo. Ao ascender e iluminar o quarto se depara com um corpo de um homem morto e estirado sobre a cama todo ensanguentado.
“Nãooooo...”
“O que está acontecendo aqui?”
“Quem fez isso?”
“Fui eu!”
Enzo entra num desespero ao ver aquele corpo sobre a cama e cai em prantos num canto do quarto.
“O que está acontecendo aqui?”
De repente quando Enzo está com as mãos em posição de choro. O rapaz morto se levanta e senta-se no lado em direção do modelo. Assustado com a situação aterrorizante o modelo fica sem ação.
“Foi você que me matou... Foi você que tirou a minha vida.” Apontado em seu rumo e indicando que ele era culpado de tudo.
“Nãooooo...”
Em prantos Enzo começa a negar qualquer participação macabra na sua morte. “Não fui eu... sou inocente.”
“Eu não merecia isso, porque você fez isso comigo?”
O jovem falecido se levanta e vai à direção de Enzo que atônito não tem nenhuma reação de fugir do local, restando-lhe apenas gritar.
“Nãooooo...”
“Acorda amigo, acorda!” Fala Dadá tentando desperta o seu amigo do pesadelo.
“Hum...”
“Rapaz, acorda o que está acontecendo?”
“Não sei, estava dormindo quando adormeci e tive um pesadelo.”
“Cara você está suando frio. Nunca te vi assim! O que está acontecendo hein?”
“Vai passar, está tudo bem. Foi apenas um pesadelo.”
“Deixa eu ver um comprimido pra mal estar aqui na sua gaveta.”
“Não precisa eu já disse, Dadá.” Levanta-se rapidamente Enzo de sua cama tentando evitar que o seu amigo abrisse a gaveta.
Mas Dadá já havia aberto a gaveta quando começara a encontrar algum medicamento para o mal estar do seu amigo, encontra uma carta de Miguel endereçada para Taumaturgo.
“O que é isso aqui?”
“Me dá isso, Dadá.”
“Eu quero saber o que está acontecendo aqui? O que uma carta que deveria está nas mãos de seu primo, está em sua posse?”
“Isso não te diz respeito. Você é muito intrometido.”
O modelo tenta tomar à força a carta das mãos de seu amigo. Sem muito êxito, pois a todas as tentativas, o empresário se desvencilhava de seu amigo. Nesse momento passa pelo corredor, o seu primo Taumaturgo, e pela porta entreaberta, ver que os dois amigos estão discutindo sobre algo. Quando no exato momento em que distraído Dadá sede a pressão de seu amigo, e vendo que a carta lhe tomada. Entra Taumaturgo no quarto e pergunta o que está acontecendo ali.
“Posso saber o que está acontecendo aqui?” Fala Taumaturgo espantado com briga.
“Não é nada, apenas o Virgílio que está teimando comigo, nada, além disso.” Enquanto isso o modelo tenta esconder a carta com a mão para traz.
“É melhor você falar toda a verdade para o Taumaturgo.” Disse Dadá olhando para Enzo.
“O que ele tem pra dizer pra mim? O que você está escondendo de mim, primo?”
“Nada primo, apenas um pedaço de papel...”
“Me mostra agora, quero ver o que tem escrito ai.”
“É melhor você entregar para o teu primo Enzo.”
“Cala a boca, primeiro que você não tem nada haver se metendo com essa história. E para de querer de dar uma de Madre Teresa.”
“Não seja estúpido, Enzo. Procure agir certo pelo menos uma vez na tua vida.” Exclamou Dadá irritado com o cinismo do seu amigo.
“Como sempre o senhor Dadá sendo o bom samaritano. Aquele cara certinho que procura resolver os problemas de todos. Sendo o bom moço.”
“Para com o teu cinismo. Deixa de ser assim tão egocêntrico pelo menos uma vez na tua vida. O mundo não gira em torno de seu umbigo, Enzo.”
“Não sei o que está acontecendo aqui, estava passando pelo corredor e vi o bate boca de vocês aqui. Agora vejo que tem algo a mais nisso. O que realmente está acontecendo aqui?”
“Vou dizer o que está acontecendo aqui Taumaturgo. O teu primo estava tendo um pesadelo e fui ver se tinha algum medicamento para ele. Mas quando eu abri a gaveta dele...”
“Cala a boca, seu fofoqueiro...”
“Não vou calar mesmo, ninguém vai me impedir de dizer a verdade... Como eu estava dizendo encontrei uma carta na gaveta. A carta é do Miguel pra você, Taumaturgo.”
“Isso é verdade, Enzo?”
O modelo tenta enrolar novamente seu primo, mas com a sua voz começa ficar embargada, titubeia nas palavras e não consegue mais esconder a verdade. Senta-se na cama e olhando para Taumaturgo entrega-lhe a carta de MiguelNo hospital São Lucas.
Alan/ Ítalo fica de longe olhando Romeu ainda acamado na UTI. O médico que cuida do caso se aproxima do modelo.
“Oi, você veio ver como está o rapaz?”
“Sim doutor, ele está apresentando alguma melhora?”
“Por enquanto, não apenas se mantém em coma. Na verdade ele foi induzido ao coma para que não sofresse muito.”
“O senhor tem ideia de que ele possa se recuperar algum dia?” Falou Alan/ Ítalo preocupado com o estado de saúde de Romeu.
“Quanto a isso não sei o se ele terá alguma resposta. Ele sofreu um acidente muito grave. Como disse anteriormente, ele pode se recuperar a qualquer momento, como também nunca mais sair deste estado. O que acontece com o cérebro é imprevisível. Temos apenas que esperar.”
“Entendo, é por que tinha muitas esperanças...”
“Sinto que você está preocupado. Você o conhece?”
“Necessariamente não o conheço, apenas sei que ele se chama Romeu. Apenas sei que ele tinha algo a me contar. Mas que devido ao acidente ele ficou assim.”
“Compreendo. Mas não podemos perder as esperanças. Qualquer coisa, qualquer sinal de melhora eu aviso o senhor.”
“Obrigado, doutor. Aqui está o meu cartão, por favor, qualquer coisa me avisa.”Na Fazenda Paraíso.
O seu Fernando está na sala de estar conversando com Humberto sobre o cotidiano. Quando de repente aparece Miguel com varias malas. Todos ficam espantados com a atitude do peão.
“Meu filho aonde o senhor pensa que vai?”
“Seu Fernando, desculpa pegar o senhor de surpresa, mas estou de malas prontas pra ir embora.”
“Não faça isso meu filho. Fica, sei que não está sendo fácil pra você nesses tempos. Mas acredito que tudo vai mudar.”
“Seu Fernando entendo que o senhor não quer que vá embora. Na verdade nem eu quero ir embora. Mas está muito difícil ficar debaixo do mesmo teto que o Taumaturgo e me sentir um lixo.”
“Miguel tem certeza que isso é a solução?” Indagou Humberto sobre a atitude de Miguel.
“Espero que vocês me entendam. Hoje estou deixando uma parte de mim aqui. Afinal foram vários anos que dediquei aqui na fazenda. Mas está muito complicado mesmo está aqui próximo de Taumaturgo e ao mesmo tempo tão longe. Acredito que a melhor coisa que eu possa fazer é sair daqui.”
“O que você vai fazer meu filho?”
“Ainda não sei bem o que vou fazer. Primeiro tenho que colocar minha cabeça no lugar. Depois verei o que vou fazer da minha vida.”
“Pelo visto não vou mudar você de ideia não é verdade?”
“Não seu Fernando, o senhor sabe como eu sou. Quando eu coloco algo na cabeça, ninguém muda.”
“Sei disso, meu filho. É uma pena, você é o melhor peão que já tive aqui na fazenda e também tinha muitas esperanças sobre o namoro com o meu filho. Pena que ele é parecido com você, também tem cabeça dura.”
“Eu tinha muitas esperanças de ser feliz com o seu filho. Mas a vida é assim mesmo talvez não era pra ser.”
Seu Fernando se aproxima de Miguel, o abraço fortemente e lhe diz: “Acredito que isso ainda não acabou. Acredito que aqui é apenas uma vírgula e não um ponto final nesta história.”
“Muito obrigado, seu Fernando, o senhor foi o pai que eu nunca tive.”
“Você está precisando de alguma coisa? Dinheiro?”
“Não seu Fernando, está tudo certo.”
“Meu filho deixa de ser orgulhoso. Se estiver precisando de alguma coisa é só me dizer. Outra coisa a casa vai está sempre aberta pra você, caso mude de ideia.”
Humberto se apressa e ajuda Miguel a carregar as malas até o carro. O peão volta abraçar seu Fernando já com os olhos marejados.
“É melhor eu ir embora antes que eu me arrependa.”
“Vamos...” Disse Humberto já carregando algumas malas.
Quando Humberto estava no porta-malas colocando as malas de Miguel. O peão Miguel ficara olhando toda fazenda com um jeito saudosista. O seu semblante firme deu vez para uma ternura tocante nos olhos daquele homem que estava se despedindo de parte de sua vida da mesma forma quando se perde alguém muito especial. Miguel entra no carro e dá um giro como se fosse um laço pra agarrar um touro no rodeio. Deixando para traz apenas poeira.
Continua...