As vantagens de ser Cachorro - Parte 1
30 de maio de 2013
Querido amigo,
Estou escrevendo porque ela disse que você me ouviria e entenderia, e não tentou dormir com aquela pessoa naquela festa, embora pudesse ter feito isso. Por favor, não tente descobrir quem ela é, porque você poderá descobrir quem sou eu e eu não gostaria que fizesse isso. Chamarei as pessoas por nomes diferentes ou darei um nome qualquer porque não quero que descubram quem sou eu. Não estou mandando um endereço para resposta pela mesma razão. E não há nada de ruim nisso. É sérioEntão essa é a minha vida. E quero que você sabia que sou feliz e triste ao mesmo tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim. Vou tentar começar do começo, assim você poderá me entender melhor.
Eu contraia todos os meus músculos por causa do frio, apesar de ser verão. O vento gelado batia contra minhas costas e eu sentia o arrepio percorrer meu corpo.
-Calma calouro, só mais um balde. - Ouvi uma voz gritar, mas meus olhos estavam fechados.
Senti a agua gelada contra meu corpo e não pude deixar de gritar. Minhas mãos estava juntas em frente ao meu corpo, na linha da cintura e por mais que tentasse não conseguia soltá-las. Abri os olhos e olhei para minha calça jeans e os sapatos completamente ensopados. O líder dos veteranos veio até mim com uma toalha e me cobriu.
-Parabéns calouro, seus trotes acabaram por hoje. - Ele disse rindo e eu não sabia se eu agradecia ou dava um murro em sua cara. No final, apenas assenti com a cabeça.
Ele me levou para a fila onde os outros calouros estavam exatamente como eu, ensopados e com um cobertor em cima do corpo. Olhei para o cara ao meu lado e ele parecia estar realmente mal. Seu queixo não parava de bater e seu rosto estava branco. Ele olhou pra mim e tentou um sorriso, que eu retribui. Logo depois os veteranos se colocaram a nossa frente.
-Muito bem, os trotes acabaram. - Ouvi aguns poucos calouros comemorando por um momento. - Agora chegou a hora mais esperada. Como vocês sabem, os calouros são chamados de Cachorros na nossa escola, e o motivo é simple: Vocês realmente serão cachorros.
Olhei para os outros com cara de duvida e eles fizeram o mesmo.
-Vou explicar. - Continuou o veterano. - A escola tem uma regra que diz que um calouro tem que dividir o quarto com um veterano. Então cada um de nós escolherá um calouro para dividir o quarto e, quando escolhermos, nós seremos seus donos. Você não poderão fazer nada sem a nossa permissão. Nós teremos que alimentar vocês, mandar para o banho e todo esse tipo de coisa. Depois seus donos explicarão as regras para vocês com mais calma. Como o lider, eu escolherei primeiro. - O garotou nos analisou minuciosamente até que escolheu um menino um pouco longe de mim. - Muito bem. Esse é meu cachorro. Os outros podem escolher seus cachorros. Nos veremos na festa de boas vindas.
Eu estava assustado. Não tinha entendido isso muito bem e o medo de ser um Cachorro tomou conta de mim. De repente vi um veterano muito alto e forte. Seus cabelos e olhos eram pretos e ele sorria pra mim como se fosse me matar. Ele começou a andar em minha direção mas, pouco antes de chegar em mim um outro cara segurou meu braço.
-Qual é Kaique, eu vi esse primeiro! - O gigante falou com raiva.
-Se segura ai, Mauricio, você ta fazendo isso todo ano. Sempre quer o cachorro que eu escolho.
-Mas eu tinha visto primeiro. - Ele falou e eu quis me esconder.
-Faz o seguinte, eu fico com esse e te dou aquele CD que você tanto queria.
-Um Cachorro por um CD? Não acho uma troca muito justa.
-Mas você ta me devendo uma, lembra?
O gigante encarou o cara que me segurava por um tempo, mas depois bufou e virou as costas. Senti um alivio percorrer meu corpo quando ele finalmente escolheu outro cara.
-Obrigado. - Eu disse.
-Ele provavelmente iria infernizar sua vida. - Ele disse sorrindo.
Olhei para Kaique e me prendi nos seus olhos verdes. Eram o tipo Verde Esmeralda que deixam a pessoa misteriosa. Seus cabelos castanhos e longos quase tampavam seus olhos que contrastavam com a pele branca e os labios vermelhos.
-Desse jeito eu vou ficar com vergonha. - Ele disse rindo.
Senti minhas bochechas queimarem e olhei para baixo.
-Meu nome é Kaique, como você deve ter ouvido. - Ele disse ainda rindo. - E você é...?
-Fernando. - Falei envergonhado.
-Bom Fernando, bem vindo a faculdade. Você deve estar com frio depois disso tudo, melhor tomar um banho quente. Bora pro alojamento. - Ele disse começando a andar.
No caminho para o quarto ele me explicou como funcionava essa coisa de Cachorro e eu me perguntei se isso era permitido ou se eles faziam isso por de baixo dos panos. Resumindo eu não poderia agredir nem verbalmente nem fisicamente meu Dono e ele também não poderia fazer isso. Eu deveria pedir permissão para fazer qualquer coisa e era ele quem deveria me alimentar e cuidar. Eu era literalmente um cachorro.
Quando chegamos no quarto ele me mandou tomar banho enquanto iria preparar algo para comer. Peguei uma muda de roupas na minha mala que já estava no quarto e corri para o banheiro. Tirei a roupa mais que depressa e só quando senti a agua quente tocar meu corpo consegui relaxar um pouco. Depois de um longo banho, sai do chuveiro e me enrolei na toalha. Limpei o espelho embaçado e olhei para o novo eu. Meu cabelo loiro estava raspado por causa do trote, mas até que não estava tão ruim. Minha pele branca agora estava vermelha por causa da agua quente mas não demoraria muito para voltar ao normal. Olhei para o reflexo dos meus olhos castanhos claro e tudo o que conseguia pensar era no meu futuro nesse novo lugar.
Quando sai do banheiro fui direto para a cozinha. Não tinha de dado conta do quão faminto eu estava. Kaique estava preparando uma macarronada e o cheiro do molho estava divino.
-Espero que goste de massa. - Ele disse picando alguma coisa.
-Gosto sim. - Falei meio sem jeito.
Ele olhou para mim e não pude deixar de ver que ele encarou meu corpo, foi quando lembrei que ainda estava só de toalha.
-Hoje tem a festa de boas vindas, então acho melhor você vestir algo mais apropriado. - Ele brincou.
-Poxa, pensei que podia ir assim. - Tentei fazer uma piada.
Ele olhou para baixo e soltou uma risada, mas não disse nada, apenas voltou a picar os temperos. Fui para o quarto e coloquei uma calça jeans, camiseta xadrez e tênis, uma roupa casual, mas estilosa. Quando voltei para a cozinha, Kaique estava colocando a mesa. Perguntei se ele queria ajuda mas ele já estava terminando. Enquanto comíamos ele me contou do curso, que era o mesmo que o meu, e ele me falou sobre a vida no campus e coisas do tipo. Logo que terminamos ele me pediu para lavar a louça enquanto ele tomava banho. Quando terminei ele saiu do quarto vestindo o mesmo que eu, mas a cor da camisa dele era diferente.
-Temos que vestir o mesmo, pra mostrar que sou seu dono. Regras idiotas. - Ele resmungou.
-Tudo bem. - Falei meio sem jeito.
-Por falar nisso, sobre você ter que pedir permissão pra tudo, esquece isso. Eu lembro que odiava isso e não acho que você vá gostar também. Quer dizer, em publico você tem que fazer isso, mas quando estivermos aqui em casa, não se preocupe com isso.
-Obrigado. - Falei envergonhado.
-Você fica vermelho muito fácil. - Ele falou rindo.
-Sei disso. - Sorri.
-Bom, vamos. Não quero me atrasar.
A festa foi no salão principal do campus. Eles dividiram em duas partes, a dos Donos, que tinha tudo do bom e do melhor, e a dos Cachorros, que tinha agua e bolacha. Os donos podiam levar seus cachorros para a parte deles, mas só por 15 minutos. Quando Kaique me chamou, ele me apresentou seus amigos. Flavio era realmente o presidente dos veteranos, já que o ultimo líder tinha passado o poder pra ele. Kaique era o vice-presidente, o que lhe dava direitos maiores sobre os outros veteranos. Depois de conhecer todos, Kaique me apresentou as garotas, que tinha o mesmo sistema, mas ao invés de terem cachorras, elas tinham Gatas. Eles me explicaram que um Cachorro não pode namorar ou ficar com uma gata, mas pode ficar com as donas se elas quiserem eles, e mesmo assim, não é nada sério, apenas por diversão. E o mesmo para as gatas.
Depois de um tempo de festa eu precisava muito ir no banheiro, mas não encontrava Kaique para pedir permissão então sai escondido e fui para o lado de fora. Quando tive certeza de que ninguém estava por perto me enfiei num arbusto. Quando sai de lá, tentei voltar pra festa, mas vi alguns veteranos saindo, então tentei me esconder, mas não tinha nenhum lugar ali perto. Foi quando ouvi alguém me chamar.
-Aqui! - Ouvi uma voz.
Olhei em volta e vi uma menina escondida atrás de uma estatua, então corri pra lá. Depois de algum tempo os veteranos passaram por nós, mas pareciam estar tão bebados que nem nos viram. Quando eles foram embora, saimos de trás da estatua.
-Obrigado. - Falei um tanto ofegante.
-De nada. - Ela olhava para os lados, conferindo se não tinha ninguém. - Sou Alice. - Ela disse estendendo a mão.
-Fernando. - Falei.
-Cachorro? - Ela perguntou.
-Sim, e você?
-Gata. - Ela disse e nós dois ficamos mais aliviados. Não seria nada bom um veterano ver um cachorro ou gato fora da festa. - O que faz aqui?
-Precisava ir no banheiro e não encontrava meu dono. E você?
-Tenho claustrofobia, não aguentava ficar lá dentro. - Ela falou respirando fundo.
Sentamos em um lugar afastado e ficamos conversando. Alice estava cursando moda e me contou sobre o seu dia de trotes.
-Minha dona me disse que os donos dos Cachorros são malvados. - Ela falou como quem pergunta se é verdade.
-Alguns. Por pouco não peguei um que era barra pesada, mas meu dono é bem legal. - Falei sorrindo ao lembrar dele.
-Minha dona também é ótima, apesar de ser rígida quanto algumas regras. É verdade que vocês tem que pedir pra tomar banho?
-Sim. - Falei.
-Nós não precisamos. Acho que é porque gatos se auto-banham.
Antes que eu pudesse responder ouvimos alguém cantando uma musica horrível e sem afinação alguma. Levantamos e fomos espiar quem era. Um homem completamente bêbado vinha andando para perto da gente enquanto nós riamos. Conforme ele chegou mais perto eu percebi que o conhecia.
-Merda! - Falei.
-Que foi? - Ela perguntou assustada.
-É meu dono.
-Aquele Deus Grego é seu dono? - Ela disse olhando pra ele.
-Sim. Eu tenho que levar ele pra casa.
-Ok, eu te dou cobertura.
Corri até Kaique e assim que me viu ele abriu um sorriso lindo, revelando covinhas perfeitas.
-Se não é meu cachorro mais lindo! Vamos beber cachorro, quero ver você correndo atrás do seu rabo. - Depois que falou isso ele caiu na gargalhada, mas eu não vi graça.
-Nada disso, você vai dormir! - Falei.
-Mas são eu que mando em você. - O bafo de álcool dele me dava dor de cabeça.
-Não interessa. A gente vai pro quarto agora. - Falei bravo.
-Tudo bem, papai. - El bufou com raiva.
Ajudei ele a andar até o quarto e assim que chegamos ele sentou no sofá.
-Vem, vou te dar um banho gelado.
-Não, você só quer me ver pelado! E eu to com sono.- Ele disse deitando.
-Não, nada de dormir agora. Você tem que tomar um banho.
-Mas você vai me ver pelado! - Ele falou me encarando.
-Não vou não, prometo não tirar sua cueca. - Falei bufando.
-Mas eu não quero tomar banho. - Ele parecia uma criança.
-Mas vai tomar. Vem, levanta.
Depois de muito esforço, convenci ele a tomar um banho. Quando entramos no banheiro ele se sentou na privada para que eu pudesse tirar sua roupa. Não pude deixar de olhar seu corpo enquanto tirava sua camiseta. Sua barriga era completamente definida e seu peito era perfeito. Depois que tirei suas calças vi suas coxas peludas e definidas. Como havia prometido, não tirei sua cueca vermelha, mas não pude deixar de reparar no volume. Seu penis não estava nem mole, nem duro, estava naquele meio termo, mas tentei não pensar muito nisso. Liguei o chuveiro no gelado e comecei a dar banho nele, que chorava por causa da agua gelada e falava coisas sem nexo. Depois de secar ele, levei ele pro quarto e deitei ele na cama. Quando fui ajeitar o travesseiro ele me encarou.
-O que foi? - Perguntei, esperando a resposta engraçada de um bêbado sonolento.
-Nada. - Ele disse.
Ficamos nos olhando por um tempo e minha vontade de beijá-lo ali era gigante, mas quando eu estava quase me inclinando para fazer isso alguém bateu na porta, então corri para ver quem era.
-O Kaique ta ai? - Flavio perguntou desesperado assim que eu abri a porta.
-Sim, acabei de colocar ele pra dormir.
-Ele ta bem? Se machucou? - Ele estava realmente assustado.
-Não, por que? - Perguntei confuso.
-O Mauricio colocou vodka na bebida dele, não entendi direito, mas o Kaique é muito fraco pra bebida. Quando fiquei sabendo ele tinha desaparecido e eu pensei que ele podia ter feito alguma besteira.
-Eu encontrei com ele andando pelo campus completamente bebado. Ai trouxe ele pra cá, dei um banho nele e coloquei ele pra dormir.
Flavio me encarou por um tempo, mas eu não sabia o que aquilo significava.
-Tudo bem então, obrigado.
-De nada. - Falei sorrindo.
Acho que devo dormir agora. Está muito tarde. Não sei porque escrevo essas coisas pra você ler. Estou escrevendo esta carta porque as aulas começam amanhã e eu estou com muito medo de ir.
Com amor,
Fernando