Love is the only game that is not called on account of darkness. (3)
Love is the only game that is not called on account of darkness.
Parte 03 – SAM E DEAN
Sam hesitou em frente à porta do quarto de motel onde Dean estava. Era bem cedo, mas ele sabia que Dean estava acordado porque ele ouvira os movimentos no lado de dentro. Ele levou três dias indo e voltando, seguindo o confuso rastro que seu irmão tinha deixado. Mesmo cego Dean sabia como cobrir seus passos, mas Sam se manteve determinado e se negou a desistir e finalmente sua teimosia o compensou. Sam encontrou seu irmão, ele inclusive falou com o motorista que levou Dean até o motel e o assegurou que seu irmão estava bem.
Sam não conseguia deixar de estar nervoso. Tentando se controlar, ele levantou a mão e bateu à porta. Sem resposta. “Dean,” ele chamou. “Sou eu, Sam. Me deixa entrar,” Sam bateu mais uma vez. Silêncio. “Dean,” ele falou mais alto, “Se você não me deixar entrar eu vou botar essa porta abaixo,” e bateu com mais força para causar efeito. Sam não teria vindo tão longe para seu irmão ignorá-lo. Ele esmurrou a porta mais uma vez.
A porta abriu de vez assustando Sam e fazendo-o dar um passo para trás.
“O que é?” Dean rosnou.
Ele sabia desde o começou que quem batia à porta era Sam. Ele tinha ouvido o barulho do Impala do lado de fora. Aquele barulho da porta do carro abrindo e fechando o fez querer gritar e quebrar tudo dentro do quarto e teve que controlar a raiva que sentia por saber que nunca mais iria dirigir seu carro de novo. Mais uma vez sob controle, ele abriu a porta.
Sam só queria abraçar seu irmão, abraçar e nunca mais deixá-lo ir embora, mas ele relutou e tentou falar em tom descontraído. “Pensei em vir e saber como estava, cara.” Sam falou entrando no quarto, antes que seu irmão batesse a porta na sua cara.
“Bom, já me viu.” Dean falou cruzando os braços. “Foi mal aí, mas não posso fazer o mesmo.” Ele disse amargamente.
“Dean.” Sam repreendeu.
“Eu sei que você está fazendo sua cara de ‘Sammy está com raiva’.” Dean fala girando a cabeça para o lado. Ele praticamente podia ver o olhar enraivecido que o irmão sempre dava quando estava chateado.
“Como sabe?” Sam não conseguiu evitar a surpresa em sua voz.
“Você é muito previsível Sammy.” Dean respondeu. “Então, agora que já me viu, pode ir.” Ele diz apontando para a porta.
“Não, acho que vou ficar.” Sam diz sentando em uma das camas. “E é Sam.” Ele fala olhando o quarto.
Era como qualquer outro que eles já ficaram. Duas camas, um criado mudo com algumas gavetas, um armário, mesa e cadeiras e um pequeno banheiro. Dean estava fazendo as malas e Sam suspirou em alívio por ter chegado a tempo. Ele voltou sua atenção para Dean e o olhou de cima a baixo, ele ainda estava muito pálido e os machucados por mais que estivessem desaparecendo, ainda eram perceptíveis na sua palidez. Ele notou também um machucado novo na bochecha de Dean e fez nota de perguntar como ele o conseguiu, mas já tendo idéia de como foi. Sam xingou silenciosamente seu irmão cabeça dura.
“O que quer Sam?” Dean perguntou olhando feio na direção do irmão, sabendo exatamente onde ele estava sentado. Ele podia sentir sua presença, seu cheiro único. Dean tentou se controlar para não tocá-lo. Seu coração estava tentando tomar conta, mas sua mente foi mais forte e determinada a mostrar à Sam que ele estava bem sozinho. Dean apenas esperava que seu cérebro idiota cooperasse e não o deixasse gaguejar ou até mesmo o pior, causasse uma convulsão.
Sam tremeu um pouco ao ver o irmão, seus olhos tão expressivos agora estavam sem vida alguma. “Por que fugiu?” Sam decidiu ir direto ao ponto.
Dean não deixou o estremecimento passar em branco e tentou ignorar que sua cegueira estava obviamente deixando seu irmão incomodado. Mas a pergunta o surpreendeu e deu de ombros. “Era o que vocês queriam.” Ele respondeu calmamente.
“Não.” Sam disse firmemente. “Era o que o pai queria. Não eu. Ele nem me deu escolha. E acho que ele também não te deu.”
“Talvez.” Dean deu de ombros novamente. As palavras cruéis do seu pai vieram novamente em sua cabeça e ele não conseguiu evitar a expressão de mágoa em seu rosto.
Sam notou. “Dean,” ele disse se levantando. A tentação era mais forte e ele estendeu a mão para tocar o irmão. Para confortá-lo.
Mas Dean sentiu o movimento e se afastou de Sam e se controlou, se ele deixasse Sam tocá-lo ele se renderia. Ele precisava se manter no controle então, deu um passo para trás. “Não me toque.” Ele disse rudemente e usando o braço para afastá-lo. “Apenas não me toque.”
Foi quando Sam notou o machucado na sua mão direita. “O que houve com sua mão?” ele perguntou. Sam viu em um canto uma camisa manchada de sangue.
“Nada.” Dean mentiu descaradamente escondendo a mão atrás dele e tentando lembrar onde tinha jogado a camisa manchada.
“Dean, eu não sou cego.” Sam disse se xingando logo depois e mordendo o lábio inferior pela sua burrice.
“Realmente, você não é, deixa isso pra mim.” Dean respondeu com raiva.
“Me desculpe.” Sam disse dando um passo à frente. “Não foi isso que quis dizer. Diga-me o que fez com sua mão.” Sam deu mais um passo à frente. “Por favor.” Ele pediu.
Dean se manteve teimoso, “Não posso ver sua cara, então não me venha com essa cara de cachorro abandonado porque não vai funcionar.”
“Dean,” Sam implorou. “Eu só quero saber o que houve com sua mão, cara. Não seja tão idiota e teimoso.”
“Eu não sou!” Dean retrucou. Ele percebeu que estavam próximos à mesa e esticou a mão para a direita e pegou um pedaço de papel que sabia que estava lá, amassou e jogou no lixo que estava em um canto do quarto acertando em cheio. “Tá vendo?” Ele riu triunfante sabendo que as três horas de treino na tarde anterior tinham valido a pena. Ele só queria poder ver a cara de Sam.
Sam não pôde deixar de ficar impressionado. Dean sempre teve uma mira boa e mesmo cego sua mira estava excelente. Ele sorriu um pouco e disse, “Impressionante, mas ainda quero saber o que houve com sua mão.”
Dean xingou a teimosia do irmão e sentiu que ele se aproximava e deu outro passo para trás. Suas emoções estavam todas à flor da pele e ele se sentiu indefeso e com raiva ao mesmo tempo. “Quer saber o que fiz com ela? Tá irmãozinho querido eu te conto. Eu estourei o espelho do banheiro porque eu não conseguia enxergá-lo! Feliz agora?” Dean gritou magoado e com raiva.
“Não, claro que não estou feliz.” Sam disse se aproximando mais e mais do irmão. “E foi você quem fez o curativo?”
Dean girou os olhos e Sam não conteve o sorriso da reação característica do irmão. “Claro que foi. Olha aqui, eu posso ser cego, mas eu sei cuidar de mim mesmo ta?”
“Eu sei que pode.” Sam respondeu calmamente. “Mas mesmo assim quero dar uma olhada, pra ver se não tem nenhum caco.”
“Por que? Porque eu não enxergo?” Dean acusou raivosamente.
“Não. Por que eu me preocupo.” Sam respondeu.
Dean se sentiu cansado e ele sabia que era um perigo, ele podia gaguejar. Ele respirou calmamente algumas vezes e se recompôs, agradecido por ter escutado quando o médico disse o que podia controlar a gagueira. Ele não queria gaguejar na frente de Sam.
“Vai pra casa Sam, ou então volta pra faculdade ou qualquer outra coisa que queira.” Dean resmungou derrotado enquanto encostava-se à parede atrás dele e segurando sua mão machucada contra o peito. “E me deixa em paz.” Ele se cumprimentou em silêncio por não ter gaguejado e respirou calmamente mais algumas vezes.
Sam sentiu a raiva subir, mas se controlou. “Vá pra casa. Vá pra faculdade.” Ele disse o mais calmo que pôde. “O que quer dizer com vá pra casa e me deixe sozinho? Eu significo tão pouco pra você? Esses últimos três anos juntos não foram nada pra você?”
Dean estava de cabeça baixa. Ele sentia culpa por magoar Sam, mas era para o bem dele. O pai dele disse isso. Sam poderia ter uma vida normal de novo. Dean sabia que podia magoar Sam, mas nunca em sua vida mentiria para o irmão de propósito. Podia esconder a verdade, mas nunca mentir. Ele suspirou. “Até agora é o melhor.” Ele murmurou.
Sam deu mais um passo à frente, sabendo que Dean não tinha mais para onde ir. “Acho que não ouvi direito.” Ele gritou, finalmente deixando a raiva tomar conta. “O que disse mesmo?”
Dean ergueu a cabeça, mesmo cego, Sam ficou surpreso com a intensidade do olhar dele. Mesmo sem visão os olhos de Dean eram as portas para sua alma e Sam pôde ver todas as suas emoções.
“É eu disse isso mesmo!” Dean gritou. “Claro que significaram algo pra mim….. E você significa-… Você é o mundo pra mim. Sempre significou isso. Mas você não tem que ficar comigo… Não quero ser um fardo. Eu não vou ser.” Dean cruzou os braços em determinação. “Você merece uma vida normal. Não tem que ficar com um cara cego que é inútil pra todo mundo até pra ele mesmo.” Ele fala amargamente.
“Fardo?” Sam gaguejou confuso ao ouvir as palavras cruéis. “Você não é um fardo. E eu definitivamente não percorri quase três países por obrigação. Aonde no mundo você teve essa idéia tão idiota?” Sam disse tentando controlar a raiva.
Dean baixou a cabeça novamente. “Pa-pa-papai.” Ele finalmente gaguejou. Ele odiava admitir que Sam ficaria irritado e não se enganou.
“Eu não acredito!” Sam explodiu andando pelo quarto. “Ele é um idiota!” ele disse sentando na cama de novo. “Eu nunca vou perdoá-lo por isso.” Sam murmurou para si mesmo. Ele sabia que o pai tinha culpa em alguma coisa, que ele tinha dito algo pra Dean ir embora sem dizer adeus, mas ele não acreditava que seu pai pudesse ser capaz de tanto.
“Pa-pa-papai s-s-ssssó fe-fez o-o-o quê-ê a-a-a-acho-o-u me-me-lhor-r” Dean gaguejou.
Só de pensar no que o pai fez, ele gaguejava mais ainda. Ele se odiava por mostrar sua fraqueza na frente de Sam. Ele ficou vermelho e começou a andar pelo quarto, ignorando o irmão enquanto tentava se acalmar e se controlar.
Sam notou a gagueira e sabia bem o porquê. Ele decidiu deixar Dean tentar se controlar e o assistiu silenciosamente fascinado pelo fato do irmão andar pelo quarto e não bater em nenhum móvel. Ele quase esqueceu que o irmão era cego, e ele sabia que as qualidades de caçador de Dean agora estavam aguçadas e Sam achou que agora ele mais que nunca estava contando com elas. “Eu nunca pensaria que você é um fardo,” Sam continuou. “Como você acreditar nisso? Nós somos irmãos e isso significa muito pra mim.”
“Pra mim também.” Dean sussurrou enquanto continuava a andar. Ele se sentia mais calmo e a gagueira sumiu tão rápido quanto apareceu e ele suspirou em alívio. “Eu só pensei-”
“Você pensou,” Sam interrompeu, “Que você faria qualquer coisa que o pai dissesse. Como o bom soldadinho que você é.” Sam não conseguia mais controlar sua raiva. Ele virou e olhou feio para Dean de novo, esquecendo que seu irmão não podia enxergar. “De novo.”
Dean virou com um olhar de raiva para Sam. Ele sentiu Sam estremecer antes e agora a sensação de desconforto com a sua cegueira foi o suficiente. Ele caminhou seguindo a voz de Sam e se inclinou, sabendo onde seu irmão estava. “Bom, isso não importa mais, não é mesmo?” e se inclinou mais, “Um soldado cego é pior que inútil. O pai não disse isso, mas nem era preciso, eu já sabia o que ele estava pensando.” Ele mordeu o lábio inferior e sentou na cama de frente para Sam cansado de ter raiva e brigar.
“Dean,” Sam disse cautelosamente enquanto colocava a mão no joelho do irmão. Dean se retraiu um pouco, mas não fez nenhuma menção de tirar a mão de Sam. Ele fez uma nota mental de sempre avisar a Dean quando você tocá-lo, assim não o assustaria. “Desculpe, ele nunca deveria ter dito isso. Você não é inútil.” Sam disse sorrindo um pouco. “Hey, você chegou aqui sozinho! Nenhum homem inútil seria capaz disso!”
“É, mas você me achou.” Dean resmungou.
“Aprendi com o melhor,” Sam respondeu. “Você.”
Dean ficou em silêncio por um tempo, tentando manter seu humor no controle. “Talvez...” ele respondeu movendo os olhos sem vida para o irmão e colocando sua mão por cima da de Sam, que ainda estava em seu joelho. Dean respirou fundo, ele tinha que de alguma maneira, mostrar para o irmão que não precisava se sentir desconfortável com sua cegueira. “Eu tenho medo... medo-” Dean sussurrou, baixou a cabeça e a apoiou com a mão que estava livre. Ele sentiu que ia chorar de novo e se xingou por essa fraqueza idiota, mas estava determinado a se manter sob controle. Dean sentiu seu corpo começar a tremer e a cama balançar quando Sam sentou próximo a ele. “Eu nunca tive medo do escuro,” ele murmurou. “Nunca. Mesmo sabendo o que tem lá fora, mas agora eu tenho.”
Sam ficou em silêncio, impressionado com a confissão do irmão. Impressionado que Dean falou sobre seus medos sem ser pressionado ou se sentir culpado. Sam não se importava se Dean o chamasse de mulherzinha. Ele se aproximou mais de Dean, sentindo o tremor do seu corpo. Ele colocou uma mão nas suas costas e começou a alisá-la levemente em pequenos círculos. Dean retribuiu o gesto não se afastando. “Você não tem que ter medo.” Sam sussurrou. “Porque eu estou aqui. Assim como você esteve por mim quando eu era criança e tinha medo do escuro.”
“É?” Dean sorriu um pouco. Ele virou o rosto para Sam. “Mas eu quero que você tenha uma vida normal, Sam... Você merece isso depois de tudo que você passou... Eu não quis te magoar indo embora, me desculpe se magoei... E eu queria me despedir, mas... pa-pa-papai… Eu só…” Dean não tinha mais palavras.
“Tudo bem...” Sam fala confortando-o ainda alisando as costas do irmão. Ele xingou John Winchester de novo, ele não entendia como seu pai pudesse ter sido tão cruel com Dean, o filho que o idolatrava tanto.
“Isso... Isso tá me assustando... de verdade…” Dean admitiu. “Eu odeio isso. E essas porcarias de convulsões me deixam em pânico. Pareço que não tenho mais controle da minha vida.”
“Foram delas que veio esse machucado?” Sam perguntou gentilmente, sem esperar resposta.
“Eu bati no criado mudo quando caí.” Dean murmurou. “Os remédios ajudam, mas... não o tempo todo. Acho que eu não devia ter sido tão teimoso e devia ter ido pro Centro de Reabilitação como o pai queria...”
“Shhhh” Sam confortou ainda não acreditando que pela segunda vez, seu irmão admitia alguma coisa. “A gente vai dar um jeito nisso. Vamos superar tudo, como sempre fizemos. Juntos. Eu prometo.”
“Não.” Dean respondeu balançando a cabeça e sentindo seu coração doer. “Não é justo com você. Vá para faculdade e seja… bem… o que quer ser, seja lá o que for. É o que sempre quis. É o que você merece Sammy. Eu vou ficar bem…” ele disse. “Você me deixa lá no Centro, se eles ainda quiserem me aceitar.” Ele não conseguiu impedir um tremor só de pensar nisso. “E você pode me visitar nos fins de semanas e feriados.”
“É o que você realmente quer?” Sam perguntou. “Você quer que eu te deixe lá e vá pra faculdade como se nada tivesse acontecido??” Dean balançou rapidamente a cabeça em afirmativo. Sam tentou controlar as lágrimas, mas não pôde. Ele sabia que seu irmão estava desistindo dele e isso o fazia amá-lo ainda mais, se é que era possível. “Dean?” Sam já não conseguia mais esconder o tremor em sua voz. “Tem certeza?” Dean balançou a cabeça mais uma vez. Sam não agüentava isso, Dean estava mandando ele embora e era doloroso demais.
Dean inclinou a cabeça na direção do som da voz de Sam. Ele odiava aquela escuridão, mas odiava ainda mais o fato de não poder ver o rosto de dele. Dean inclinou mais uma vez a cabeça ouvindo atentamente o tom de voz do irmão. Sam parecia perdido, triste e sozinho. Seu instinto tomou conta. Hesitante, Dean levou uma das mãos no rosto do irmão mais novo e seus dedos tocaram sua bochecha sentindo o molhado das lágrimas. “Acho que está pingando,” Dean brincou suavemente. “Parece uma mulherzinha, Sammy.”
Sam tentou suprir uma risada e segurou a mão de Dean. “Por favor, não me manda embora,” ele soluçou. “Por favor. A gente pode superar isso. E… eu tenho um plano.”
“Sam,” Dean começou a protestar tirando a mão do aperto firme da mão de Sam. Ele podia sentir o desespero na voz do irmão. Sua cegueira o deixou sensível até na vibração das vozes das pessoas. Era quase como ver suas expressões faciais.
“Por favor, Dean.” Sam implorou enxugando as lágrimas. “É um ótimo plano. Só me escute e... e se você realmente odiar, eu te deixo no Centro, está bem?”
Dean suspirou e passou a mão pelos cabelos. Ele realmente não queria ir para o Centro de Reabilitação e Sam parecia tão esperançoso. Ele queria ficar perto de Sam. Ele precisava estar perto de Sam. E Sam o tinha encontrado, tinha percorrido todo esse caminho atrás dele ao invés de voltar pra faculdade e esquecer o seu irmão idiota. Dean não pôde deixar de sentir um pouco de esperança, talvez ele não ficasse sozinho de um todo. Dean respirou fundo. “Ok.” Ele respondeu. “Me conte do seu plano.”
“Bom,” Sam sorriu. “Enquanto te conto do plano, me deixe olhar sua mão.” Ele pegou gentilmente a mão machucada e começou a tirar o curativo.
Dean rolou os olhos, mas não pôde deixar de perceber a alegria no tom de sua voz. “Vadio,” ele murmurou enquanto se rendia aos cuidados do irmão.
“Idiota.” Sam respondeu com um riso.
Meia hora depoisEles estavam sentados de frente um ao outro em um diner próximo ao motel, Sam tinha conseguido convencer seu irmão a tomar café da manhã. Ele também teve que prometer explicar o plano durante a refeição. Sam checou e fez um novo curativo na mão de Dean, mesmo com ele protestando que tinha limpado direito inclusive os cacos do espelho que estavam no banheiro. Dean estava extremamente quieto enquanto Sam o guiava até o diner e sentaram perto da janela. Mas Sam percebeu o tremor no corpo do irmão, sabendo que ele provavelmente estava nervoso.
“Você não está comendo.” Sam observou e voltou a olhar pro laptop pegando um pouco do bacon.
“S-s-ssssssem f-f-foo-ome.” Dean gaguejou.
Ele estava nervoso e se xingou por isso. Ele virou o rosto até sentir o sol esquentar sua pele. Ele se concentrou em acalmar sua respiração, se espreguiçando sentindo seu corpo machucado protestar. Ele estava com fome, queria pedir ajuda, mas não sabia como. Ele não suportava a idéia de Sam vê-lo com dificuldade com uma coisa tão simples como tomar um café da manhã sem se melar inteiro. Por dois dias ele pedia para que entregasse em seu quarto ao invés de sair para comer. Era frustrante. De certa forma ele conseguia sentir as expressões e olhares de Sam ou como estava sua postura e onde ele estava parado, mas algo tão simples como achar o seu prato ou caneca de café parecia impossível. Dean suspirou mais uma vez, cuidadosamente mexeu a mão tentando achar o copo de café, ele esticou os dedos, mas não encontrou nada. Suspirou novamente e desistiu.
Sam estava ocupado com o computador planejando o trajeto deles, mas olhou surpreso. Dean sempre tinha fome e então Sam notou que ele nem tinha tocado no seu café também. Então ele se tocou e quase se estapeou por uma coisa tão óbvia. Ele olhou para os lados para ver se alguém estava vendo e virou um pouco o prato de Dean. “O bacon está às 12hs, as panquecas às 12h30min.” Ele sussurrou empurrando o prato até tocar na mão direita do irmão, empurrou os talheres também para tocar a mesma mão. “E o café está bem aqui.” Ele disse pegando a mão esquerda do irmão e colocando na caneca. “Ok?”
Dean o recompensou com um pequeno sorriso. “Eu só queria acabar usando isso.” Ele admitiu quietamente enquanto pegava a caneca de café e contente por sua gagueira ter se controlado.
“Desculpe.” Sam disse se inclinando. “Eu meio que esqueci.”
“Tudo bem, Sammy.” Dean disse tomando um pouco do café. “Vai levar um tempo pra se acostumar...... pra gente se acostumar.” Ele disse colocando cuidadosamente a caneca na mesa. “E isso,” ele disse apontando para os olhos, “Não quer dizer que você vai ter que bancar a mãe chocadeira em mim de cinco em cinco minutos, tá?” Sam balança em afirmativo a cabeça e volta a atenção para o laptop. “Ok.” Dean repetiu alto.
“Foi mal.” Sam se desculpou rapidamente, percebendo o erro.
Dean inclinou a cabeça para o lado, “Deixa esses olhares tristes pra lá.” Ele fala pegando os talheres.
“Foi mal.” Sam repetiu.
Dean rolou os olhos, exasperado e lançou para o seu irmão o melhor olhar irritado. “Sammy...” ele ameaçou. “Quando eu disse pra parar com isso, inclui parar de pedir desculpas o tempo todo, ok?”
“Foi-” Sam já ia dizer automaticamente, mas Dean lançou um olhar feio pra ele. “Ok.” Sam disse rapidamente com um sorriso.
Dean sorriu.
Sam ficou assistindo o irmão comendo e se saindo bem sozinho. Ele quis cumprimentá-lo, mas achou melhor ficar quieto. Dean olhou na direção dele, assustando-o um pouco com a intensidade do olhar. “Tá tudo bem Sammy, não se preocupe.” Dean diz pegando um segundo pedaço de panqueca decidindo mudar de assunto. “Você disse que tinha um plano. Então cospe. Praonde a gente vai irmãozinho?”
Sam olhou o irmão por um tempo e depois voltou sua atenção para o laptop. Ele levou um tempo para convencer seu irmão a ouví-lo e tinha receio de que ele não concordasse com o plano. Ele respirou fundo e começou a falar. “A cidade nova que Pastor Jim mora.” Sam respondeu.
“Quê?” Dean disse surpreso. “Não podemos. Nós prometemos.”
Há um ano e meio eles tinham ajudado o Pastor Jim se mudar para esta nova cidade, já que o demônio de olho amarelo estava ameaçando caçar todos os amigos da família. Eles descobriram através de Bobby que o Pastor não tinha morrido nas mãos de Meg. Ele milagrosamente sobreviveu, mas ficou seriamente machucado e ficou em coma em uma pequena enfermaria há 50 milhas da casa dele.
Para proteger o amigo Bobby mentiu para todos os outros caçadores e disse que Jim tinha morrido. Até fizeram um funeral. Mas Bobby confiava plenamente em Dean e Sam e viajou com eles para visitarem o amigo na pequena enfermaria. Eles ficaram com o Pastor até ele acordar um mês depois ignorando as ligações do pai.
Jim se recuperou lentamente, mas ficou com uma cicatriz no pescoço, outros pequenos cortes pelo corpo e uma perna machucada que o deixaria mancando. Então, Bobby tentou convencer o Pastor a se mudar para esta cidade no meio do nada. Jim estava relutante por um tempo, mas concordou, desistiu de ser caçador e se instalou na nova casa. Os três caçadores prometeram nunca mais entrar em contato com ele ou revelar sua localização a menos que fosse uma emergência.
“Eu sei.” Sam concordou.
“Então não podemos ir lá.” Dean pegou sua caneca e tomou um gole. “Não é seguro para Jim.” Ele colocou a caneca de volta na mesa, o Centro de Reabilitação o chamava e ele odiava esse pensamento. Dean se sentiu cansado e sua cabeça começou a doer. Ele esfregou as têmporas e estremeceu quando seus dedos tocaram os machucados na sua testa.
Sam notou o movimento, “Você está bem?” Ele odiava ver Dean doente, “Já tomou seus remédios?”
“Sim… e sim.” Dean disse se arrumando na cadeira. Ele virou os olhos na direção de Sam. “E-e-entã-tão va-vai m-me d-deixa-ar no-no Ce-centro?”
Sam notou que a gagueira do irmão tinha voltado e ele quis tanto se curvar e confortá-lo.
“Não.” Ele disse teimoso. “O demônio está morto. Então Jim está seguro e isso é uma emergência. Nós dois vamos até o Pastor Jim. Já tá tudo certo e ele está nos esperando.”
“M-ma-mas-”
“Nada de ‘mas’, estamos indo.” Sam interrompeu cruzando os braços. Fora que ele tinha prometido a si mesmo que morreria, mas não levaria seu irmão para o Centro. Dean percebeu o temperamento do irmão e notou que ele estava decidido, então mais nada deveria ser dito.
Sam assistiu quieto, sem se mover enquanto Dean inclinava a cabeça para o lado como se tentasse discernir alguma coisa do silêncio do irmão. “Você cruzou os braços,” Dean sorriu um pouco, finalmente controlando a gagueira. “Naquela posição cabeça dura sua.” E inclinou até o outro lado da mesa para checar se estava certo. Ele sorriu um pouco pro irmão e suavemente tocou o rosto dele. “E não faz bico. Não combina com você.”
Sam rolou os olhos tentando ignorar a maravilhosa percepção do irmão e o fato de que Dean tinha tocado nele. “Te odeio.” Ele disse embora estivesse adorando o fato de Dean ter aceitado a mensagem. Sam também sabia que iria lembrar do toque suave no seu rosto e tocou onde os dedos de Dean tinham estado.
“Eu sei, mas ainda assim, não podemos ir.” Dean persistiu.
Sam suspirou exasperado e Dean fez cara pra ele. “Eu já planejei a nossa rota, não tem como alguém nos rastrear. Jim me ajudou com alguns caminhos. E a cidade em si é há milhas de distância de... bom, de qualquer lugar. Você sabe muito bem, foi você quem escolheu.”
“Mas-” Dean tentou controlar suas lágrimas, ele repetiu seu mantra na sua mente.
“É seguro. Ninguém vai procurar a gente ali.” Sam insistiu. “Nem mesmo o pai.” Ele falou o que ambos estavam pensando. “Até mesmo o grande John Winchester acha que Jim está morto.” Sam pegou a mão de Dean e a apertou assegurando-o disso. “Eu não vou deixar que nada nem ninguém te machuque de novo. Eu prometo.”
“Eu sei...” Dean murmurou também apertando a mão do irmão. Ele sorriu um pouco novamente. Ele queria ir. Ele queria ficar com Sam, mas tinha medo. Medo por eles. Medo pelo amigo Jim.
Sam percebeu isso e viu lágrimas se formando nos olhos do irmão. Ele sabia que o irmão estava pensando na vida no Centro de Reabilitação e no perigo que poderiam colocar o amigo. “Nós vamos conseguir Dean. Eu já limpei todas as nossas contas nos bancos. Transferi todo o dinheiro pra uma conta nova... E antes que você diga, as transações não podem ser rastreadas, me certifiquei disso.” Sam disse sorrindo. “Então temos um pouco de dinheiro.”
“Não sei Sam...” Dean disse. Ele tomou um susto quando a garçonete tocou no braço e repôs o café na sua caneca. Se sentindo super protetor, Sam olhou feio pra ela. Ela sinalizou desculpas e saiu rapidamente. “Relaxa Sammy, ok? Ela não sabia.” Dean fala defendendo a garçonete.
“É Sam.” Ele briga de repente se sentindo triste e culpado por seu irmão não poder ver sua expressão. Ele enxugou suas próprias lágrimas, pigarreou e voltou sua atenção para o laptop e para a complicada rota que Jim tinha planejado, levaria cinco dias no total, Decidido a não dar à Dean chance de negar o plano. Ele precisava de Dean na sua vida. Não ia agüentar viver sem ele. “Certo,” Sam diz fechando o computador e guardando na bolsa. “Vamos voltar pro motel, arrumar as malas e cair na estrada. O Impala nos espera.”
“Sammy-” Dean começou a protestar.
“Vai vir por bem ou eu vou ter que arrastar suas malas e o seu traseiro até o carro?” Sam desafiou.
Dean fez cara pra ele, mas a esperança tinha voltado ao seu coração e Dean sabia que ele seguiria Sam praonde ele quisesse ir. Ele precisava do irmão desesperadamente. Essa decisão tinha sido tomada desde o momento que ele apareceu na porta do seu quarto. Dean deu um suspiro teatral. “Você é anormal.” Ele reclamou enquanto levantada com esforço. Dean passou uma mão pela mesa para ver seu caminho e a outra ficou no banco, ele fechou os olhos e tentou se lembrar do caminho até a porta do diner. Ele respirou fundo, se levantou e girou, ele sentiu Sam pegar no seu cotovelo e virá-lo um pouco para a direita e fez menção de soltar seu braço da ajuda do irmão, tentando provar que Sam não era o único Winchester teimoso.
“É o meu braço ou a vara.” Sam sussurrou no ouvido dele. “Eu odeio aquela vara.” Dean resmungou enquanto relutantemente pôs a mão no braço de Sam que o guiou cuidadosamente até o lado de fora, se certificando que Dean não iria bater em nada no caminho.
Gostaram? *---*