Uma vida de esperança - Parte 2
PARTE 2
Depois de toda a formalidade pedi a Afonso e à minha irmã para irmos para casa. Apesar de ainda estar suado e a precisar de um banho preferia fazer isso na minha banheira e puder relaxar à vontade em vez de tomar nos balneários do estádio. Fomos então para o estacionamento e já lá estavam os meus pais à nossa espera.
Um pequeno à parte o nome de minha mãe é D. Antónia e de meu pai é Sr. Francisco.
D. António: Oh meu filho lindo, parabéns! Me dá um abraço orgulho da mamãe!
Sílvia: Se ele é o orgulho da mamãe eu sou o quê?!?!
Diz Sílvia em tom de brincadeira.
Sílvia: Abraça ela, vai lá menino da mamãe. Vai lá. Enquanto você abraça ela eu fico com o papai rsrsr
Sr. Francisco: Mas Sílvia, ele também é o menino do papai rsrsrs
Sílvia: Ai é? E eu sou a renegada?
Sr. Francisco: Claro que não, você é a menina do papai.
Sílvia: Melhorou rsrs
Sr. Francisco: Mas quando digo menina é menina mesmo. Eu bem vi você de olho noutros atletas.
Sílvia tentando parecer desentendida.
Sílvia: Quem? Eu? Oh papai eu só estava perguntando se eles tinham sede, depois de uma corrida daquelas é normal rsrs
Sr. Francisco: Pois sim, eu bem te conheço. Mas venha cá e me dê um abraço para ver se fica com menos ciúmes do seu irmão.
Enquanto isso acho que a minha mãe me deu uns mil beijos e disse umas mil vezes que eu estava de parabéns e que tinha sido incrível, quase me sufocando. Mas como devem saber mãe é mãe rsrs
Eu: Mãe já entendi que sou incrível rsrsrs mas não sei se já reparou é que eu estou a precisar de um banho, vamos para casa?
Apesar de já viver à quase um ano num apartamento só com o Afonso ainda me referia à casa dos meus pais como minha casa, força do habito.
D. Antónia: Vamos sim meu filho, você deve estar cansado. E hoje janta lá em casa, vou fazer o seu prato preferido.
Sílvia: Assim esse menino vai ficar ainda mais mimado.
Afonso: Do que depender de mim mimo nunca lhe vai faltar.
Todos se riram.
Afonso foi buscar o carro e depois de a minha mãe me deixar respirar rsrsrs foi a vez de meu pai me abraçar. Ele não era muito de elogiar exageradamente como a minha mãe rsrs mas também não era frio, nada mesmo. Logo me abraçou e disse não muito alto, só para eu ouvir.
Sr. Francisco: Mais uma vez provou a cada um de nós que com esforço tudo se consegue. Eu tenho muito orgulho de você. Muito mesmo.
Mais uma vez as palavras de meu pai tinham um poder avassalador em mim, eram melhores do que qualquer medalha. Eram palavras que me completavam. Ainda por cima ele tem aquela voz de pai, não sei explicar como é a voz de pai mas acho que me entendem rsrsr
Eu: Obrigado por tudo. Você sabe que é o meu exemplo.
Embora não conseguisse ver, senti que ele sorriu.
Afonso: Tudo pronto, entrem no carro porque esse menino ainda precisa de um banho e eu já estou a morrer de fome.
O meu pai deu-me um abraço mais forte e foi-me encaminhando para o carro.
D. Antónia: Mas se quer comer vai ter de ajudar a cozinhar.
Sílvia: Mãe eu acho que ele quer ajudar de outra maneira. Acho que ele prefere ajudar o Pedro a tomar banho.
Pode parecer estranho para alguns mas a minha família é um pouco liberal, às vezes até demais rsrs
Eu: Eu não preciso de ajuda.
Digo um bocado incomodado.
Eu: Mas só vou querer a companhia dele porque, alem de ele ter corrido tanto como eu e estar precisando de um banho, eu estou precisando de uma massagem rsrsrs
Todos riram.
Sílvia: Pois, eu sei bem o que você quer.
D. Antónia: Sílvia já chega, para de infernizar o seu irmão.
Sílvia: Já parei.
A minha família sempre foi bem disposta, estamos constantemente a brincar uns com os outros. Isso me fez um bem danado. É como se fosse o meu carregador de baterias.
Abri completamente o vidro do carro e pude sentir a brisa suave daquela noite de verão. Adoro sentir o vento, faz-me sentir livre. No outono gosto de ouvir o vento soprar as folhas da calçada. Gosto de sentir aquele arrepio quando o vento frio me toca na pele, mas gosto principalmente do vento numa noite de chuva, onde parece um uivar aflito. Então com Afonso a meu lado muito melhor rsrs
Chegamos a casa e pequei na minha vara guia que estava no carro (vara que ajuda os invisuais a desviarem-se dos obstáculos). Mas continuei com ela fechada, pois já conhecida cada canto da casa, cada posição de cada móvel, cada obstáculo. Tanto a casa dos meus pais como o meu apartamento ou a pista de corrida eram os locais onde me sentia menos invisual e era bom sentir-me assim. Às vezes bate um desespero porque, vocês não imaginam, mas para os invisuais uma pedra solta na calçada pode ser um obstáculo.
A minha irmã abriu a porta e eu subi o pequeno degrau logo entrei. Voces nunca devem ter reparado mas cada casa tem o seu cheiro e eu adoro o cheiro da casa dos meus pais, é aquele cheiro que me faz pensar “Lar doce Lar”.
Fui para o meu quarto. Sim, o meu quarto, porque apesar de já não viver lá em casa continuava tudo na mesma. Afonso entrou atras de mim com o saco de desporto com a roupa para vestirmos depois do banho. Deitei-me na cama e suspirei.
Afonso: Então meu amor, está tudo bem?
Eu: Com você a meu lado tudo está bem.
Afonso: Então levanta logo e vamos para o nosso banho porque estou morrendo de fome e parece que ainda tenho de fazer uma massagem a uma pessoa que se encontra muito cansada. Rsrsr
Eu: Eu quero sim essa massagem, mas você também merece uma, afinal correu tanto quanto eu.
Afonso: Vamos lá então porque senão não jantamos hoje rsrsr
Logo me puxou da cama e me levantou quase á força. Mas também se ele não fizesse isso acho que já não me levantava mais rsrsrs
Cada quarto lá em casa tinha um banheiro privado. Felizmente a minha família vive muito bem. Meu pai é um advogado muito respeitado, assim como meu avô, um dos melhores do país. Sempre tive tudo o que quis, caro ou barato. Mas também eu não era de pedir muito.
Entramos no banheiro e logo comecei a tirar a roupa. Afonso pôs a banheira a encher veio ter comigo. Não sei como mas ele já estava sem roupa, nem reparei que ele já a tinha tirado, eu tava mesmo cansado para não ter reparado rsrs
Afonso: Vamos meu amor? Eu faço a massagem na banheira.
Eu: Espera um pouco.
Coloquei-me de frente para ele e estávamos os dois nus. Comecei a passar as mãos no seu peito, nas suas costas, nos seus braços. Puxei-o para mim e os nossos corpos se tocaram. É bom demais sentir o corpo dele junto ao meu. Sentir o seu coração bater no peito. Encosto os meus lábios no seu coração e dou um beijo suave. Ele não se move. Subo os lábios para o seu pescoço e volto a beija-lo. Ele suspira. Procuro a sua boca e sou imediatamente correspondido. Um beijo lento, mas apaixonado. Sinto as mãos dele nas minhas costas nos juntando ainda mais. Vamos terminando o beijo aos poucos.
Afonso: Eu te amo!
Eu: Eu te amo ainda mais.
Afonso: Não começa porque senão não saímos daqui hoje. rsrs
Eu: Pronto nós dois amamos igual.
Afonso: Mas eu amo mais um pouco.
Eu: Ei, você quer guerra.
Afonso: Pronto, pronto. O nosso amor é igual rsrs vamos lá para a banheira que ela já encheu o suficiente para o nosso banho.
Entrou ele primeiro e se deitou numa ponta. Eu entrei e fiquei na outra ponta. Ele pegou na mina perna e começou a massajar os meus músculos, fiz o mesmo com ele. Ficamos assim uns minutos em silêncio. Sentia cada músculo relaxar. Mais uns minutos e era capaz de adormecer sentindo as suas mãos me massajando. Mas aí pensei na corrida e falei.
Eu: Às vezes você deve sentir injustiçado..
Afonso: Então porquê?
Diz ele admirado.
Eu: Você é o meu guia nas corridas, nós os dois vencemos ou perdemos juntos. Mas sempre que vencemos quase ninguém lhe dá os parabéns, e quando perdemos quase ninguém o reconforta. Sou sempre o centro das atenções.
Afonso: Quando ganhamos não sinto falta dos elogios, só de ver você sorrir, você feliz, é o suficiente para mim, é o meu maior prémio. E quando perdemos o que mais me custa é ver você desanimado mas aí toda gente te bota pra cima e mesmo que eu também precise de apoio, quando chego a casa e nos deitamos na mesma cama, no nosso ninho, tudo melhora. Basta sentir a sua cabeça descansando no meu peito e logo começo a pensar que para a próxima será melhor.
Eu: É por tudo isso e muito mais que eu te amo. Não sei o que seria da minha vida sem você.
Subi para cima dele e dei mais um beijo, mas desta vez foi mais forte e logo senti o meu pau ganhar vida.
Afonso: Meu amor festa agora não, logo logo vão estar chamando a gente. Acalma um pouco que no nosso apartamento eu vou cobrar.
Eu: Odeio quando você tem razão, vamos rápido então porque a D. Antónia já deve estar a pensar que ou estamos a fazer o que não devíamos ou nos afogamos rsrsrs
Terminamos o banho o mais rápido possível nos limpamos, vestimos e fomos para a sala.
Sílvia: Demorou! Esse banho devia estar muito animado rsrs
Eu: Irmãzinha não comece, ou quer que eu fale umas coisas que eu sei?
Ela ficou sem saber o que dizer de boca aberta. É que cerca de um ano atras eu quase a apanhei na banheira do quarto dela com o seu namorado na altura. Só não vi nada porque eu sou cego rsrsrs Ela corou e quando voltou a si mudou logo de assunto.
Sílvia: Vamos jantar que já está pronto a ser servido.
D. Antónia: Rápido, tudo pra mesa.
Sílvia: Não falei? rsrs
D. Antónia: Cadê o vosso pai?
Sílvia. Foi ao escritório aqui de casa, disse que precisava confirmar umas coisas.
Sr. Francisco: Estavam falando de mim?
D. Antónia: Que tem assim de tanto importante para confirmar que não podia esperar para depois?
Sr. Francisco: Só precisava de ver um mail, mas falamos depois de jantar.
Sílvía: Ah pai, agora fala, fiquei curiosa.
Eu: Eu também.
Ele ficou um pouco em silencio. Conhecendo o meu pai como conheço o assunto devia ser serio mesmo, porque para ele querer deixar para depois do jantar era porque o assunto podia ser daqueles em que todo mundo perde o apetite. E a minha intuição estava certa.
CONTINUA…