Ultravioleta

Eu sabia que aquele não seria o fim da minha vida, mas ainda não havia entendido bem como parei diante daquela portinha pequena, apagada e até jeitosinha. E no Centro da cidade, prestes a pegar o horário de rush, no qual as ruas ficariam temporariamente lotadas de pessoas saindo de seus trabalhos, procurando linhas de ônibus ou bares de esquina pra tomar uma cerva antes de ir embora. "Trabalho", pensei. Talvez, implicitamente, fosse essa a palavra que me levara até ali. Na verdade, parando pra pensar, eu sabia bem como havia chegado e posso dizer que tudo foi uma mistura de oportunidade, calor do momento e inconformação geral com o ritmo de vida até então. O clima quente daquela mercearia já não servia mais pra mim, porém não tinha escolha senão passar todos os meus dias ali, com a luz do sol sendo refletida em parte do meu corpo sentado no balcão, esperando por qualquer alma viva e burra que tivesse se perdido por ali e quisesse comprar alguma coisa. Mesmo abafado e pacato, era uma paz que só durava até o infeliz do meu padrasto chegar e começar a beber as cervejas que minha mãe tanto lutava pra comprar e vender. Naquele dia, em específico, minha cabeça estava mais quente do que o normal.

- De novo isso?

- Cala a boca, seu viadinho!

Eu já não suportava aquela vida de merda, ainda mais tendo que conviver com um imprestável e arrogante como ele. E apesar de saber que minha voz dentro de casa era a menos ouvida sempre, ao mesmo tempo era exatamente isso que me dava ainda mais motivação pra fazer o que mais queria fazer. Eu não hesitei.

- Tu acha que tá me ofendendo, seu merda!?

Pulei do balcão tomado pelo ódio, lembrando de todas as humilhações pelas quais meu indesejado padrasto tentou me submeter desde que veio morar com a minha mãe. As mentiras que colocava no meu nome, os pequenos roubos de caixa, até as traições caíam na minha conta.

- "Esse teu filho me odeia!" - ele dizia.

E passei a odiar mesmo. Fechei a mão num soco e fui pra cima dele. O filho da puta quebrou um casco de cerveja sem nem pensar duas vezes e apontou pra mim, preparado pra se defender com violência, caso fosse necessário.

- VEM, SEU MERDA! PODE VIR!

Eu era rebelde, revoltado e os caralhos, mas não era burro. Desarmado, cheguei ao limite e não tinha mais conversa. Qualquer vida seria melhor que aquela, então simplesmente saí dali e deixei que o filho da puta fizesse como bem entendesse. Logo após o almoço, quando minha mãe veio pra mercearia e encontrou aquela zona, me procurou.

- Que bagunça é aquela, Jonathan?

- Pergunta pro seu marido. Pergunta onde tá o dinheiro do caixa também.

O suíno nem perdeu tempo. Visivelmente bêbado por conta do assalto à loja e ainda tentou me incriminar.

- Esse merdinha é um pivete, já te falei! Agora rouba cerveja e dinheiro também, tá que nem o pai!

Eu não havia conhecido meu pai, já que minha mãe o abandonou no altar grávida de mim e fugiu sem mais nem menos. Na verdade, isso foi o que ela me contou quando eu ainda era criança, porque já tinha descoberto que não passava de uma mentirosa. Se envolveu com um garoto novinho, engravidou dele e fugiu sozinha, mas me levando junto e o deixando pra trás. Sabe aquelas coisas que você pergunta inocentemente e sem querer encontra algo de anormal? Foi exatamente assim.

- "Ué, por que eu não lembro dessa foto?"

Eu devia ter uns 15 anos quando encontrei uma fotografia dela de mãos dadas com um cara, ambos de costas pra câmera e pelados na praia. Ele tinha uma pinta escura na parte traseira da coxa esquerda, bem abaixo da bunda, parecida com a minha, por isso confundi e achei que fosse eu. Ela ficou toda nervosa e acabou me contando tudo. Talvez já fossem as dicas necessárias do que eu mesmo deveria fazer já naquele momento, por viver no meio de tanta mentira. A culpa de tudo aquilo era dela, pra ser sincero.

- Lava a boca pra falar do meu pai, seu lixo! Seu bêbado do caralho! Você que é um merda! Um merdalhão, por sinal!

- Seu pai era mesmo um merda, Jonathan! - ela disse. - Abaixa sua voz!

Silêncio. Senti o sangue fervendo e fechei a mão pra não sair quebrando tudo dentro de casa. Mas preferi transformar essa ferveção em energia pra fazer o que tinha que ser feito imediatamente. Corri pro quarto sem ser seguido, juntei umas roupas poucas na mochila e pequei o dinheiro que ainda tinha na carteira, junto com os documentos e um biscoito pra quando a fome batesse. Passei direto pela sala e ela ainda tentou me chamar.

- Vai aonde, seu pirralho? Espero que esteja indo limpar aquela bagunça!

Não respondi, qualquer palavra minha nunca tinha efeito e nada mais me irritava do que isso. Eu podia falar o que fosse que minha mãe continuava do lado do atual macho dela, mas eu não teria que me submeter a isso, se era o que ela pensava. Então saí. A vida na rua podia ser impossível, mas impossível pra mim era continuar dentro daquela casa, cercado de mentira e falsidade. A porta da rua é a serventia da casa.

Perambulei a esmo até o final da tarde, completamente perdido sobre o que fazer ou pra onde ir. Lembrei que no centro tinha alguns abrigos temporários pra pessoas em situação de rua e talvez por isso tenha ido até lá. O início da noite estava chegando e muita gente já circulava voltando pra casa, mas eu não podia desistir, se não ia dormir na rua. Andando por algumas ruelas em direção à Avenida Rio Branco, observei um cara desses típicos empresários entrando por uma porta minúscula, no maior estilo detetive investigando algum crime. Pra completar, essa porta era bem discreta, não fosse pela imagem de duas cerejas feitas de LEDs apagados por conta da tarde. Aliás, toda a iluminação ao redor estava apagada, mas mesmo assim o cara entrou e logo a portinhola fechou abruptamente. Curioso, eu parei e li o pequeno letreiro acima do portal. "Luz Roxa".

- "Será que é um puteiro?" - pensei.

Agora que estava na rua e só por mim mesmo, era a oportunidade ideal pra conhecer um local onde as mulheres fariam o que eu quisesse por dinheiro, mesmo que não tivesse tanto e ainda assim não negando meu interesse parcial em homens. Mas foi aí que lembrei que ainda faltavam alguns dias até completar 18 anos, ou seja, provavelmente não me deixariam entrar. "Foda-se, vou tentar". Assim que pisei na calçada do outro lado, a porta tornou a abrir e dois caras saíram, me deixando mais certo de que era realmente uma casa noturna. Aproveitei essa deixa deles e adiantei o passo, chegando antes que ela pudesse se fechar novamente. O corpo imediatamente se arrepiou com o frio do ambiente completamente escuro, já que o lado de fora era brilhante e quente. Curioso, andei um pouco até à frente e fui me guiando por uma quantidade enorme de luzes neon, com várias formas em LED, convidativas e em tons coloridos de azul, roxo, vermelho, verde e amarelo. Eram desenhos de frutas, drinques, palmeiras, flamingos e corpos nus que indicavam a direção até um balcão, que foi onde parei. Antes de aparecer alguém pra me atender, observei um aviso numa folha de papel pendurada na parede de trás.

- "CONTRATA-SE AUXILIAR DE SERVIÇOS GERAIS (HOMEM) C/ EXPERIÊNCIA".

E aí surgiu um homem baixinho, com aparência de já ser coroa e usando um vestidinho curto, lilás, que brilhava intenso em reação aos canhões de luz negra ao redor, dando um efeito semelhante ao ultravioleta. Até sua maquiagem reluzia atraentemente.

- Hm, olha só o que temos por aqui! Mais um punheteiro doido pra perder o cabaço, né?

Eu já sabia que aquilo ia dar errado e muito provavelmente seria colocado na rua. Mas já que estava ali, não tinha como voltar atrás, aproveitaria a chance. Lembrando que tinha que passar aquela noite debaixo de qualquer teto que fosse, arrisquei.

- Boa noite! Não, na verdade eu vim pela vaga, senhor..

Esperei. Ficamos um tempo nessa troca de olhares, como se o cara me avaliasse fisicamente e julgasse minha índole e intenção através do comportamento e linguagem corporal.

- E você lá tem idade pra isso, moleque?

Quando percebi que seu tom era falsamente amigável, já sabia que meu plano havia ido por água abaixo. Não deu outra, o cara deu a volta no balcão e foi me levando pra fora pelo mesmo corredor escuro por onde entrei.

- Rala daqui, seu pivete!

Empurrou-me pela calçada e bateu a porta atrás de mim, que agora estava toda iluminada em luz roxa pelas cerejas em LED.

- Incrível como entra todo tipo de rato aqui na folga do segurança.. - ainda escutei.

Mesmo eu tendo ficado pouco tempo lá dentro, do lado de fora o céu já estava escuro e a movimentação no Centro era maior, característica do horário de pico. O mar de gente era infindável, com todos os tipos de pessoas passando e circulando de um lado pro outro. Perdido no meio dessa muvuca, eu não sabia bem pra onde ir, então só procurei sair da bagunça e fui me escorando pelo muro lateral da casa noturna pela qual entrei poucos minutos atrás. Independente do que faria a partir de agora, teria que pensar algo longe daquela falação. Andei poucos passos pra depois da porta com a cereja iluminada e sentei no parapeito da calçada. Abri a mochila e peguei o único biscoito que lembrei de trazer, sabendo que uma hora ou outra a fome apareceria. Só que, junto dela, mais alguém apareceu. A portinhola da casa noturna abriu e ele saiu falando.

- Passa o olho nessas garotas que eu já volto, não vou demorar.

De lá de dentro, alguém tornou a falar.

- Tá levando o dinheiro?

- Tô, tá tudo aqui. - apertou o pesado bolso da calça, marcando o malote. - Qualquer coisa só me passa um rádio!

O mesmo cara que me recebeu, porém com outra roupa. Parece que o dono do puteiro só usava vestido lá dentro.

- Já não mandei tu ralar, seu moleque?

Ele me viu ali, mas não fez questão de discutir. Virou e começou a andar pelo canto da calçada, rumo em direção à avenida principal que tinha no fim da ruela onde estávamos, por sinal meio vazia. Eu me mantive o observando, até que senti um vulto passar pela minha frente e desviei um pouco o foco. Um cara aleatório, que mal tive tempo de avaliar como estava vestido, veio pelo lado oposto onde estávamos e foi em direção ao dono do bordel, que estava de costas e por isso não o percebeu. Eu não sei bem o que me deu, mas desconfiei que, pelo jeito furtivo e silencioso, com certeza estava aprontando alguma. Talvez tenha sido o acúmulo de vontade de ter lutado fisicamente contra meu padrasto, não sei dizer. Levantei e dei passos firmes e largos até onde os dois estavam indo. Quando o cara fez que ia pular em cima do cafetão, eu pulei antes e o peguei no ar, parecia cena de filme.

- PORR!-

Ele reclamou, mas não teve tempo. Eu não era artista e nem estávamos no cinema, ou seja, caí por cima dele e a gente saiu rolando no chão. Com a porrada da cabeça, fiquei bem tonto, mas o cara também se ralou sem jeito e não conseguiu levantar tão rápido. Isso chamou a atenção do coroa que me botou pra fora da boate, que olhou pra trás assustado pela agitação repentina.

- Que merda vocês estão fazendo?

- Esse cara.. - comecei, tentando me recobrar da tonteira. - Ele ia te assaltar!

E só consegui apontar pro suposto marginal.

- Tá maluco, seu bandido? Eu te quebro aqui mesmo!

E começou a andar na direção do maluco, que só teve tempo de levantar e correr pelo meio dos carros da avenida, caso contrário com certeza seria pego. Vendo que não conseguiria alcançá-lo a tempo, o coroa parou e ficou me olhando caído no chão.

- Tudo acontece quando o segurança não vem, puta que pariu!

Meio pensativo sobre o que fazer, ele esticou a mão e me ajudou a levantar.

- Bora, moleque, acorda! Foi só um susto, já foi!

Passou a mão por trás da minha cabeça e senti a dor e o galo já proveniente da queda sem jeito.

- Tá conseguindo andar?

- Sim, sim..

- Melhor a gente voltar.

Agora me incluiu no diálogo, sendo que há poucos minutos me enxotara da boate. Ainda me ajudou a ir andando devagar, porque as costas também doíam um pouco. Eu não tinha nenhum problema de coluna, mas a maneira como não planejei aquele salto me fez cair todo dobrado no chão, talvez isso tenha dado o famoso e doloroso "jeito", o torcicolo. Mas, por outro lado, agora era conduzido outra vez pra dentro daquela casa noturna, ou seja, provavelmente o dono do bordel ia só me agradecer pelo que fiz.

- Senta aí..

Indicou-me uma poltrona aconchegante no salão principal, escuro e frio, com aquelas cores em neon piscando e várias mulheres semi-nuas ensaiando alguns passos conforme uma música sensual seguia, estilo reggaeton. Mesmo quebrado, não consegui parar de olhar e o coroa riu de mim.

- Você é novinho, né moleque? Mercedes, traz um refrigerante pro garoto.

Uma das mulheres, justamente a morena que eu mais olhava, desceu do palco e foi atender o pedido.

- Por que você me ajudou? - perguntou.

- Não sei, senhor. Acho que tava com raiva desde cedo, tive que fazer alguma coisa.

Ela retornou com um copo de guaraná e me deu. Tão próximos, não consegui disfarçar a olhada enquanto voltava ao restante do grupo de mulheres.

- E tá na rua desde que horas?

- Tem um tempo, moço.

No breu quase absoluto do ambiente sexualmente noturno, conversávamos baixinho, vira e mexe competindo com o volume suave da música lenta nas caixas de som e eu ainda sem conseguir parar de olhar pras garotas no palco, algumas com seios fartos e quase de fora.

- Tu tem alguma experiência em limpeza, moleque?

Não tinha muita, mas com certeza teria que mentir pra conseguir a vaga. Antes de eu responder, ele continuou.

- Aliás, tu tem idade pra tá aqui dentro?

Pensei muito e acho que isso o fez ter a certeza de que era melhor eu realmente não dizer a verdade. Como minha intenção era só ficar por um tempo até arranjar um teto pra ficar, pensei que poderia limpar qualquer quarto daqueles sem reclamar muito, então menti.

- Sim, de novinho eu só tenho a cara mesmo.

O coroa riu, totalmente desacreditado, mas entrando na minha dança. Se queria causar boa impressão, eu tinha que me empenhar.

- Prazer, moleque. Eu sou o Pacha.

E apertou minha mão.

- Jonathan.

- Muito obrigado pelo que você fez hoje, Jonathan. Mas, de qualquer forma, a gente vai ter que fazer um período de experiência contigo pra ver se você consegue se adaptar à rotina. Se der certo, você fica. Se não, cai fora. Entendeu como funciona?

- Sim!

A oportunidade havia sido dada e eu não podia recusar. O bom é que, até o período de experiência terminar, eu já teria tido espaço suficiente pra encontrar um lugar melhor pra ficar, então, enquanto isso, o Pacha foi legal comigo e me deixou dormir no chão de uma espécie de oficina que tinha no fundo da casa noturna, por cima de uns jornais. Podia parecer um péssimo agradecimento a quem o livrou de um possível assalto, mas o lugar estava mais do que lotado de mulheres, então era o melhor no momento, caso contrário dormiria na rua.

No dia seguinte à minha chegada, já fui introduzido ao ritmo de trabalho do bordel, que funcionava à noite e servia como moradia pra maior parte das meninas durante o dia. Era nesse horário diurno que a limpeza precisava de ser feita e foi aí que fui sendo instruído e treinado até mesmo por elas, sempre naquele efeito de não ficar muito tempo observando pra não acabar sendo tratado ainda mais como o intruso que eu era no meio de tanta mulher mais velha, mais experiente e exalando sexualidade. A mais legal delas, que inclusive era a mesma morena que me pegou refrigerante e cujos quadris não consegui tirar da cabeça desde então, era quem mais me ajudava a lidar com a falta de experiência naquilo.

- Você nunca trabalhou com isso, né?

Não sabia o que responder e fiquei com medo dela me expor, mas sua risada gostosa acabou me quebrando.

- Pode falar, seu bobo! Acha que nunca vi esses olhos de menino perdido na vida antes?

E levantou meu queixo com os dedos, usando as unhas longas e pintadas bem coloridas. Ao longo das horas, ela foi me levando de uma ponta à outra da boate, que só não ficava fria e escura durante o dia, quando abriam-se as janelas e portas pra facilitar a entrada de sol e ar fresco e natural. O lugar era bem grande, mas verticalmente: 3 andares divididos em salas, quartos e alguns banheiros e bares. Os cantos mais chatos de limpar eram justamente esses quartinhos, porque eram onde rolavam os programas sexuais entre as funcionárias da casa e os clientes, que em sua maioria eram empresários sempre muito bem vestidos, engomados e sempre acompanhados de seguranças. Eu havia acabado de limpar o hall da entrada e, pra causar uma boa impressão tanto aos outros quanto a mim mesmo, me dediquei ao máximo pra deixar tudo bem limpo. Os toldos escuros pareciam novos, até as figuras de flamingos feitas em LED e espalhadas pelo corredor brilhavam, mesmo apagadas à luz do dia. Até que, lá no começo, a porta abriu de repente e eu só tive tempo de me esconder atrás de uma estante, atento ao que estava acontecendo.

- Passaram cera no chão dessa espelunca?

O cara quase escorregou, portando-se todo engomado e sério, com as mãos grossas ajeitando a frente do paletó apertado em seu corpo protuberante. Não era gordo e sim alto e forte, tanto que os músculos dos braços eram definidos pelas dobras da blusa até à altura do ombro massudo. Sua pele tinha uma tonalidade clara. No rosto, o olhar oculto por óculos completamente escuros, um cavanhaque ralo delineando o queixo masculino e bem definido, e o cabelo cortado curtinho, talvez na máquina 2. O tipo de homem que a gente olha e logo vê que se trata desses "alfas" da vida, ou quem sabe ômega.

- Lembraram que são gente? - insistiu enquanto terminava de se ajeitar.

Como ninguém o respondeu, ele fechou a porta e veio andando com cuidado pra não cair, dando passadas longas e firmes. O sapato social preto brilhando tão lustrado quanto o chão, escondendo talvez pés tamanho 42 ou maiores. Atrás de si, ainda pude ver um puta carrão parado na frente do prostíbulo antes da portinhola bater, ou seja, aquele com certeza era alguém conhecido e importante.

- Senhor Ulysses! Que ótima surpresa!!

Pacha surgiu de trás do balcão e veio ao seu encontro. Não precisei de muito pra perceber que seu tom de voz trazia algum tipo de medo. Assim que o alcançou, o tal Ulysses estendeu a mão e o dono do bordel a beijou bem na parte de cima, tal qual faziam súditos aos reis na hora de mostrar sua lealdade. O brilho dourado de uma aliança de casamento foi algo que não tive como não notar. Essa cena já foi me dando certa náusea por conta do comportamento do cara, que agora era tratado tão respeitosamente, sendo que chegou e criticou o lugar, pra não falar do fato de ser comprometido e estar ali, mesmo que eu não soubesse ainda quais eram suas intenções ou o conhecesse direito. De alguma coisa tinha certeza, ele era no mínimo hipócrita.

- Cadê minhas meninas? - perguntou.

E só precisou fazê-lo uma única vez, porque Pacha deu um assobio e logo algumas delas foram aparecendo, todas bem devagar, sem qualquer verbalidade necessária da parte de ninguém. Uma a uma, 5 mulheres ficaram lado a lado, todas meio acuadas com o que aconteceria a seguir, enquanto eu me sentia da mesma forma e continuava observando por trás da estante. O fato de uma delas ser a tal Mercedes que eu tanto olhava, me deixou ainda mais apreensivo, porque me sentia interessado nela de alguma forma.

- Nuas. - ordenou calmo.

Imediatamente, 4 delas começaram a remover suas peças de roupas enquanto o empresário andava curtamente de um lado pro outro diante delas, observando as moças se despindo. Mercedes foi a única que não o fez rapidamente, chamando sua atenção. Ele então segurou o decote do vestidinho dela bem no momento em que desfazia os nós, interrompendo o processo. Se olharam e ele deu um sorrisinho malicioso. No segundo seguinte, deu um único puxão que acabou por rasgar todo o resto da roupa da coitada, que levou um susto com a rapidez e força do movimento e só teve tempo de ficar com os seios balançando pela velocidade.

- HAHAHAHAH!

O babaca deu gargalhadas altas enquanto todos ao redor se mantinham apreensivos sobre o que fazer. Alisou a pele sedosa do rosto da morena com a mão grossa e um relojão preso ao pulso, aproveitando pra dar uns tapinhas de leve, como se mostrasse pro restante delas que poderia fazer o que quiser com qualquer uma. Todas essas sensações estranhas voltaram a se misturar dentro de mim, de forma que não poderia simplesmente continuar assistindo tudo aquilo e compactuar com o que ocorria. Eu nunca tinha ido num prostíbulo, mas sabia que o dinheiro envolvia o sexo, só que não daquela forma humilhante, pelo menos na minha mente. Quando o cara fez que ia dar um tapa mais forte no rosto da Mercedes, eu não me aguentei e saí de onde estava, revelando-me dentro daquele cenário.

- CHEGA!

Nesse momento, todo mundo olhou pra mim, incluindo o empresário que ainda a segurava pelo rosto. A cara do Pacha foi a mais assustadora o possível, porque eu estava ali de favor e agora começava a confrontar a atitude arrogante de um de seus clientes, que pelo visto era um dos mais respeitados da casa. Um silêncio enorme e estremecedor, até que o dono do bordel começou.

- D-Desculpa, Senhor Ulysses! Eu não sei o que aconteceu..

E veio na minha direção pronto pra me tirar dali e talvez me dar uma surra. Mas antes de sair do lugar, o empresário marrento sorriu e o segurou pelo ombro, impedindo-o de fazê-lo. Devagar, veio andando na minha direção e eu sabia que estaria completamente morto em poucos minutos, o coração quase saindo pela boca e o corpo completamente cercado pelo tamanho daquele homem.

- E quem é você? - perguntou parado diante de mim.

A cara das meninas e o semblante de preocupado do Pacha me deixaram ainda mais amedrontado, porque eles com certeza o conheciam mais do que eu e deviam imaginar o que aconteceria comigo agora. Comecei a lembrar da minha mãe e me arrependi com todas as forças de ter saído de casa, sequer tinha fôlego pra responder. Ele tirou os óculos escuros e essa foi a primeira vez que tivemos um contato visual direto. Naquele olhar castanho que vinha de cima pra baixo, eu mergulhei contra minha vontade e senti na pele um milhão de coisas ao mesmo tempo, me arrepiando todo dos pés à cabeça. Era uma aparência tão tranquila, calma e falsamente pacífica, que dava até nervoso de olhar, porque o cara falava e se comportava com total certeza de que suas vontades seriam obedecidas por quem quer que fosse, ou seja, ele sequer precisaria se estressar com a resposta de um moleque rebelde que nem eu.

- Esse é o Jonathan. Ele tá me dando uma ajuda com a limpeza da casa, nada muito sério.. - Pacha respondeu por mim, talvez pela minha demora em fazê-lo.

- Jonathan, né?

Repetiu sem parar de me olhar, nem piscar o cara piscava. Por mais estranho que pareça, manter o contato visual com ele diminuía um pouco do meu nervoso, como se aquela tranquilidade não combinasse com alguém que fosse me fazer algum mal, mesmo eu sabendo que era tudo enganoso e parte do pacote alfa dele. Ele voltou ao lado da Mercedes e, sem deixar de me fitar, tornou a usar a mão pra acariciar seu rosto, me provocando e usando ela pra isso.

- Você gosta dessa daqui, é? - perguntou.

Não soube o que responder. E aí ele riu e mostrou como poderia ser malicioso.

- Podem se vestir. Hoje só vou querer essa daqui.

As mulheres obedeceram e se retiraram, deixando somente eu, eles dois e o dono do bordel ali. Na minha frente, o tal Ulysses começou a tocar o corpo nu da morena de propósito, pra que eu visse e me incomodasse. E conseguiu, só que infelizmente eu sabia que não poderia fazer absolutamente nada, ao menos por enquanto. Virei as costas tomado por raiva e o Pacha veio comigo, deixando os dois pra trás e o empresário rindo alto de deboche. Assim que saímos da sala, ele me cercou e já foi dando o esporro que sabia que levaria.

- VOCÊ É LOUCO, SEU MOLEQUE!? Eu boto você debaixo desse teto e é assim que você me agradece!?

Não tinha nem resposta pra dar, ele estava completamente certo. Mas não conseguia controlar meus instintos, por isso estava dentro de um bordel e naquela situação, caso contrário ainda estaria dentro de casa ou cuidando da mercearia da minha mãe.

- A tua sorte é que o Ulysses deve ter vindo com bastante fome hoje. Se não ele tinha te quebrado ali mesmo, garoto!

- Desculpa, Pacha.. Só me desculpa. Às vezes não consigo ver essas coisas acontecendo e não fazer nada.

- Eu sei bem disso, dá pra ver em você. Mas tem que ser inteligente, se não vai acabar perdendo a cabeça cedo. O mundo é cheio de coisas assim acontecendo o tempo todo, moleque, e você não vai conseguir sair por aí resolvendo tudo.

- Eu sei, eu sei.. desculpa de novo. De verdade!

Depois de ter conhecido o Ulysses da pior maneira possível, fiz questão de nunca estar por perto nas vezes em que ele aparecia, só pra não ter o desprazer de estar em sua presença arrogante e insolente. Escutava sua voz e já sentia náuseas por conta do tom exigente e seco, rude, de quem não tinha como ser mais egocêntrico ou mandão. Ao mesmo tempo, cada vez mais me entreguei à rotina da limpeza daquele bordel, ainda dentro do tal período de experiência estabelecido pelo Pacha. Eu limpava desde os cômodos até às roupas de cama onde todo mundo transava, tirando um dia de cada vez pra focar numa atividade diferente, já que eram muitos quartos e também mulheres. Era no meio dessas faxinas que encontrava os mais diferentes objetos perdidos, desde cápsulas vazias de drogas caras até dinheiro de outros países, jóias e outros restos de orgia envolvendo grandes nomes dos negócios e garotas de programa anônimas. Paralelo a isso, também conversava vez ou outra com a Mercedes, que foi se mostrando uma das pessoas mais legais ali dentro, sempre me dando conselhos e dicas sobre como fazer determinadas coisas e também como não arranjar problemas. Mas como toda pequena felicidade não dura muito, outra situação teve que acontecer pra eu recordar de como a realidade era bem mais dura do que se espera.

Era um domingo calmo no Centro, talvez por isso o Pacha tenha dado folga às meninas naquele dia. Eu mesmo aproveitei pra faxinar somente os poucos quartos que não terminei de limpar no dia anterior, não tendo tanta pressa assim. Já era noite quando, por conta do calor, as mulheres fecharam a casa e deixaram tudo escuro, a mando do próprio dono do bordel. Ligaram o ar condicionado central e o ambiente ficou como se fosse dia normal de trabalho, mas só pra gente, já que nenhum cliente seria recebido até então. Nenhum, com exceção do VIP: Ulysses. Ele chegou e ficou lá em baixo, mas eu podia ouvir sua voz alta e impositiva, por isso não desci e só fiquei perambulando pelo terceiro andar, certificando-me de que estava completamente vazio. Chequei todos os quartos devidamente arrumados e prontos pro dia seguinte, entrei em um deles e decidi esperar até que o empresário fosse embora. Enrolei vários minutos fazendo nada e, aproveitando apenas o silêncio repentino que ecoou absoluto por todos os andares da casa noturna, avistei uma espécie de peruca jogada por cima de uma poltrona. Curioso pelo formato curto e franjado da peça, coloquei ela na cabeça e fui até o espelho próximo que tinha do lado de uma estante pra ver como tinha ficado, só pela distração de fazer alguma coisa até poder descer tranquilamente. Totalmente desatento, não reparei que a maçaneta da porta do quarto girou e ela abriu. Pelo reflexo no espelho, vi a sombra enorme entrando pelo cômodo escuro e iluminado apenas por LED em cores frias. Assim que o rosto apareceu, o par de olhos me fitou com certa tranquilidade e a mão grossa afrouxou o nó da gravata. O sorrisinho do Ulysses veio em seguida, desencadeando a sensação de nervoso.

- Que isso!?

Em meu tom já dava pra ver a preocupação latente. Ele não respondeu, só colocou o dedo na própria boca, como quem pede silêncio. Ainda trancou a porta lentamente, ficando a poucos passos de mim, com somente uma cama de casal nos separando. Devagar, veio andando em minha direção e reduzindo a pouca distância entre nós. Eu sabia que agora não teria ninguém pra desviar sua atenção e me salvar, então fiz a única coisa que poderia fazer: tentar ficar calmo e sobreviver à situação.

- Então a gente se esbarrou outra vez, né?

- O que você quer!? - perguntei.

Ele riu e, pela primeira vez, tocou meu braço com o lado externo da mão, bem como fazia com as mulheres do resto do bordel quando estava prestes a conduzi-las a um dos quartos e saciar as próprias vontades físicas.

- Eu é quem te pergunto. O que tu tá querendo?

Sem qualquer pressa, chegou à minha mão e a segurou, puxando-me em direção à cama. Num impulso repentino, eu aproveitei esse puxão pra tentar me soltar, mas o Ulysses era muito mais forte que eu e rapidamente travou meus movimentos. Como eu era mais fraco e menor de altura, ainda assim tornei a me soltar e outra vez ele precisou de me conter, só que agora minha resistência deixou um corte leve em seu rosto, na altura das bochechas. Eu parei quando isso aconteceu e ele também, mas ainda me segurava com apenas uma mão. A outra, ele passou pela pequena cicatriz e constatou a mínima mancha vermelha que deixei ali com um arranhão. Mas nem se fez de rogado, pelo contrário. Lambeu o próprio sangue e riu, tornando a me mostrar quem comandava ali.

- Cê é do tipo difícil, né? Petulância, eu gosto! Você é bem dos meus!

Era um verdadeiro pesadelo. Tentei me soltar outra vez, mas nada dava certo e só me batia contra o corpo imponente do empresário.

- Calma, pivete! Calma que você já é meu, só não sabe ainda.

Mas não tinha conversa, quanto mais em contato eu ficava com ele, mais repulsa sentia, além do nervoso pela possibilidade de sofrer algo.

- Se você não me soltar agora, eu vou gritar!

- E o que vai acontecer? Elas vão vir correndo salvar você? Se poupe! HHAHAHAHAHA

Seu jeito marrento era no mínimo odioso. Num determinado momento, ele parou e ficou só me olhando de frente, curioso por alguma coisa, talvez uma reação minha.

- Diz pra mim do que tu precisa..

Não entendi. Talvez eu preferisse tomar logo uma surra pra sentir dor física do que continuar ali em seu poder, ciente de que qualquer coisa poderia acontecer a qualquer momento. Era um medo fora do comum, ainda mais sabendo que aquele era um homem provavelmente rico e capaz de tudo pra ter o que quer. Muita pressão psicológica. Até que o filho da puta usou uma das mãos pra alisar minhas costas, descendo até minha bunda e a apertando. Fiquei ainda mais puto, mas confesso que essa atitude foi a mais inesperada de todas, ainda mais vindo de um macho alfa que vivia no puteiro e cercado das mais diversas mulheres, podendo ter qualquer uma delas num estalar de dedos, fosse loira, negra, oriental ou ruiva de fábrica.

- Tá maluco, seu merda!? Me solta!!

- Você se faz muito de difícil, pivete! Todo mundo tem um preço e eu sei que você precisa de alguma coisa, se não tu nem tava num lugar como esses..

Agora sim eu tinha entendido sua pergunta, mas se ele pensava que ia me assediar em troco de alguma coisa, estava bem errado. Eu só queria sair logo dali, mas não tinha como me livrar ou lutar contra um cara mais forte. Minha única alternativa foi começar a gritar, mas nem isso consegui direito.

- Já falei, moleque.. Eles não tão nem aí pra você.

Ulysses abriu o bolso do paletó e tirou várias notas diferentes de dinheiro. Enrolou algumas poucas e, na abertura de boca que dei pra berrar, enfiou tudo lá dentro, tapando e finalmente me calando. Senti-me estranhamente controlado e dominado por ele, numa mistura perigosa entre raiva, humilhação e muita pressão por conta daquela truculência. Só que, não sendo negligente comigo mesmo, era inegável a tensão sexual que latejou no ambiente.

- É de dinheiro que você precisa, é? Eu tenho dinheiro, ó..

Ele abriu cada um dos bolsos internos e tirou bolos inteiros de muitas notas embaralhadas, todas com valores altos e cores diferentes, jogando pelo ar e por cima da cama escura. Até que, pra me deixar ainda mais nervoso, Ulysses começou a se desengomar, iniciando pelo paletó. Lentamente, ele removeu a peça e também foi tirando a blusa social por baixo, tudo isso enquanto me olhava sob um único canhão de luz ultravioleta que deixava vários detalhes fluorescentes no quarto escuro. Sua calça mesmo, por exemplo, parecia até moletom de tão cinza e brilhante. Pra não falar de sua expressão tranquila e muito decidida, de quem subiu ali pra ter algo que não desceria sem. Quando saí desse transe guiado pela luz negra do ambiente, o empresário já tava sem blusa e me mostrando toda a definição do próprio corpo. Ele não aparentava ter mais de 30 anos, talvez fosse até bem mais jovem. Seu peitoral era liso de raspado, mesmo naquela distância podia perceber isso. E enquanto se preparava pra remover o cinto de couro, já mostrando a estampa da cueca de marca pra fora, ele veio me cercando no canto do quarto.

- Diz logo pra mim qual é o teu preço, moleque!

Fiquei tão acuado que me encostei contra a parede sem responder. Ele colocou o corpo contra o meu e pressionou pra que eu sentisse sua força, seu poder, sua imposição contra mim. Pra não falar do volume do pau sarrando minha coxa. Sobre nós, só a claridade colorida das figuras desenhadas em LED nas paredes, além do frio do ambiente e da respiração do Ulysses no meu pescoço, no meu cangote, suando minha pele pelo hálito quente. Com as pernas meio bambas de nervoso, falei qualquer coisa da boca pra fora.

- Eu só tenho 17 anos, cara! Por favor..

Ele deu aquele sorriso meio maníaco, exibindo bem os dentes pra mim, que nem um predador mostrando as presas. Talvez eu tivesse escolhido a pior frase possível pra dizer a alguém que não conhecia limites do que não fazer. O empresário então enfiou a mão por trás da minha bermuda e achou minha carteira. Rapidamente a pegou e abriu, procurando por alguma coisa, até que encontrou minha identidade e tirou pra ler, tendo certa dificuldade pra fazê-lo naquela baixa iluminação. Depois disso, guardou meu documento consigo no próprio bolso e me devolveu só o restante.

- Vou ficar com isso aqui só pra ter certeza que você não vai fugir de mim.

Virou de costas, vestiu de novo a roupa completa com a qual entrou e saiu sem mais nem menos, não dando nenhuma explicação, mas sempre bem calmo e tranquilo. Eu ainda fiquei um tempo ali pensando no quão esquisito era o mundo das pessoas com poder e dinheiro, porque não entendia nem um pouco o comportamento obsessivo do empresário para comigo. Antes de sair do quarto, confesso que não resisti em pegar boa parte do dinheiro que ele jogou pelo chão, mesmo que fosse em moeda estrangeira. Se era pra ser exposto ao seu jeito escroto e ditador, pelo menos iria tirar o meu próprio proveito da situação.

Por mais que quisesse trocar a grana que catei do Ulysses, precisava do meu documento de identidade pra fazê-lo no banco, pra não falar que ele havia o tomado de mim e eu não sabia o que poderia fazer com aquilo. Sendo assim, guardei o dinheiro na mochila e a deixei escondida pra não acabar perdendo. Esperei a volta do empresário no bordel do Pacha e tramei furtivamente pra mexer em suas coisas e pegá-lo de volta. Isso muito provavelmente aconteceria quando ele estivesse transando com alguma das meninas, e aí eu precisaria de ser rápido o suficiente pra executar o plano sem ser visto por ninguém, caso contrário daria a maior merda de todas. Por que, mesmo estando com a razão, a gente acaba escolhendo a maneira difícil de tentar solucionar as coisas? Quem dera eu pudesse chegar pra alguém e contar o ocorrido, talvez não precisasse de recorrer ao risco do que faria. De qualquer maneira, teria que fazê-lo e não tinha outra jeito. Na outra vez em que o babacão apareceu pela casa, eu esperei que bebesse e se sentisse bem à vontade antes de começar a observá-lo de longe, apenas estudando seus movimentos. Tão risonho quanto mandão, ele se divertia com algumas das mulheres nuas em seu colo, enfiando o rosto entre seus peitos expostos e mordendo os mamilos, fazendo aqueles tipos de brincadeiras humilhantes e objetificantes que tanto lhe davam prazer. Sádico. Elas riam, recebiam dinheiro no elástico da meia e se entregavam ainda mais ao jogo barato de sedução dele e isso só me causava mais nojo e repulsa, mas mantinha o foco no que precisava fazer. Assim que ele se mandou pra um dos quartos do andar de cima, eu subi junto e fiquei do lado de fora escutando os ruídos internos, só aguardando uma possibilidade de entrar. Num determinado momento, o barulho de gemidos femininos começou e, na pontinha do pé e com o maior de todos os cuidados, eu espiei pela fresta da porta. A cena que vi foi arrasadora: a mulher que estava de quatro na cama era Mercedes, a minha morena favorita. Ela vestia só uma calcinha, que no momento estava completamente esticada e enrolada num nó sob a mão fechada do Ulysses, que a puxava pra si como se fossem rédeas de uma égua. Em pé atrás dela, ele investia abruptamente com o corpo e com o quadril, impondo todo o calor e vontade contra ela, que gemia aflita de tesão. Por sorte, ambos estavam de costas pra mim e as roupas do empresário se encontravam pelo chão, justamente atrás dele, ou seja, se eu fosse esperto o suficiente conseguiria entrar e sair sem ser visto. Suspendi a porta pra não fazer barulho e a abri lentamente. Nervoso e tentando não prestar atenção naquela putaria intensa que tava acontecendo bem na minha frente, andei devagar até à calça social dele e foi nesse momento que percebi que tava excitado pra caralho.

- "Só pode ser brincadeira" - pensei.

De repente era por conta da Mercedes ali toda exposta e tomando na bocetinha, eu não sabia bem explicar. Peguei a peça de roupa nas mãos e comecei a analisar, enquanto Ulysses continuava grunhindo e fazendo aquele barulho proveniente do choque entre os corpos. Olhei pra ele e pude perceber seus glúteos e músculos das coxas contraindo e relaxando de tanta pressão investida, ao mesmo tempo em que o cara dava vários tapas espalmados no lombo da garota de programa. Senti o tecido de sua calça nas minhas mãos e tive a impressão de também ter sentido o cheiro de macho que saía dela, mas me contive.

- ISSO! ISSO, CARALHO!

Quem gemeu foi ela e isso me deu ainda mais excitação, mas com vontade de sair logo dali. Encontrei a carteira no bolso de trás, abri e, por alguma razão, minha identidade estava solta logo na parte da frente. Guardei ela comigo, deixei tudo do jeito que encontrei e saí dali. No instante em que passei o corpo pelo espaço da porta que usei pra entrar, arrastei alguma coisa que não vi quando entrei antes e derrubei um celular que estava carregando sobre uma estante. Isso fez um barulho mínimo, mas que foi suficiente pra chamar a atenção do empresário, e daí ele me olhou a tempo de me ver saindo que nem um gatuno após o delito. Não precisou nem ver o que eu havia levado pra parar o que fazia.

- Volta aqui, seu moleque!

Saí correndo escadas a baixo, preparado pra passar pela garagem, pegar minha mochila e sair dali pra sempre, independente de pra onde iria depois. Só esqueci de tramar o plano B, para o caso de ser visto, que foi o que aconteceu. Agora me encontrava diante da sala fechada e sem ideia de onde me esconder, até que o Ulysses me encontrou. Ele tava só de calça e com o peitoral e os pés de fora, suado pelo esforço sexual e ainda ofegante, todo vermelho e marcado pela intensidade da foda com a Mercedes, que deixou lá em cima toda aberta sobre a cama.

- E agora? - perguntou.

O sorriso malicioso logo apareceu, mas o Pacha veio junto e isso me deu certa segurança, mesmo sabendo que as coisas não ficariam por isso.

- O que tá rolando aqui?

- Ele.. - comecei, mas fui interrompido.

- Esse pivete tava roubando meus documentos.

Fiquei puto.

- O que? Que mentira!

- Então abre a mão!

De longe, o Pacha não conseguiria distinguir de quem era a identidade que eu segurava, então a princípio o empresário estava na vantagem. Isso me deixou com muita raiva, porque o fato dele não me deixar argumentar era semelhante ao que acontecia comigo dentro de casa, quando meu padrasto me incriminava por suas atitudes ridículas e eu sequer tinha a chance de me defender das acusações . Nada pior do que não ter voz.

- Deixa comigo, Senhor Ulysses!

O dono do bordel fez aquela cara de quem ia tentar mais uma vez me salvar da situação, mas dessa vez o babacão foi mais rápido e tomou uma decisão diante da situação.

- Não, já chega disso.. Eu quero esse pivete fora daqui agora mesmo.

E veio até a mim pra tomar a identidade de volta pra si, mesmo eu tentando esconder.

- Vou lá em cima terminar meu serviço. Se "isso" ainda estiver aqui quando eu voltar, quem sai é você, Pachola.

Essa foi a última coisa que escutei antes do coroa me levar até à porta do bordel e dar aquelas lições de morais que eu já conhecia.

- Eu te avisei, Jonathan. Agora não tenho mais o que fazer pra te ajudar, infelizmente.

- Tudo bem, Pacha. É melhor mesmo eu ir.

Agradeci ao coroa por todas as oportunidades que me dera até então. Peguei minha mochila e saí dali muito puto por ter ficado de vez sem minha identidade. Mas nem tudo estava perdido, porque ainda poderia solicitar a segunda via, só que teria que ir em casa pegar alguns documentos necessários e isso que era realmente chato. Por hora, como ainda era noite, precisava arranjar algum beco ou ruela aparentemente segura pra me manter vivo no Centro da Cidade até o nascer do sol.

Fiquei uns 10 minutos pensando nos próximos passos antes de finalmente dá-los. Sentia uma raiva enorme, queria brigar com qualquer um que encontrasse, mas tinha que segurar a onda. Andei pela calçada da boate até à avenida principal no começo da rua e um carrão desses do ano passou por mim devagarzinho. Com medo de ser assaltado e perder a única grana que eu ainda tinha na mochila, acelerei o passo e o veículo fez o mesmo, ficando lado a lado comigo, com o motorista ainda todo fechado em vidro fumê. Até que a janela começou a descer e eu vi a última pessoa que imaginaria ver.

- Tá perdido, pivete?

Sim, era o Ulysses. E falava comigo como se nada tivesse acontecido, enquanto acendia um charuto e lançava a fumaça cheirosa e pesada no ar entre nós, ainda de dentro do carrão.

- Você tem problemas!? - perguntei.

Não aguentava mais ficar calado, principalmente depois de tê-lo deixado me interromper ainda dentro do bordel, e por causa disso não consegui reaver meu documento. Só que o trouxa começou a rir, tirando sarro do meu sofrimento.

- Foi por causa de você que eu vim pra rua, seu merda! Isso é tudo culpa sua!

- Eu sei, moleque!

Desligou o motor ali mesmo na avenida vazia, saiu e encostou-se na porta, com uma mão pra dentro do bolso da calça social e a outra manejando as fumadas no charutão marrom, sem tirar os olhos tranquilos e seguros de mim.

- Mas isso tudo também é culpa tua. Se tu não tivesse tentado fugir daquele quarto e só ficasse me espionando foder, eu não teria te exposto.

Então ele sabia! Mas como?

- Culpa minha? Você rouba o meu documento de identidade e eu que sou errado de tentar pegar de volta? Que mundo é esse que você vive, ein!?

- Eu não roubei, só tô tomando conta pra você não fugir de mim.

- E O QUE VOCÊ QUER DE MIM, SEU MERDA!?

Aquela conversa já tava me deixando com raiva. Sentia-me cansado, tanto mentalmente quanto fisicamente, pra não falar das saudades de casa e de ter um teto que fosse meu. Tudo bem que com minha família não era assim, mas ao menos dormia na minha própria cama e não no chão sujo de uma garagem entulhada. Ou, de repente, eu estava saudoso só por causa do sofrimento acumulado. Talvez eu até detestasse ainda mais o empresário, justamente por ele me fazer sentir saudades do inferno que era viver naquela mercearia com meu padrasto.

- Eu quero que você me dê o seu preço, achei que já tinha falado isso.

Sua tranquilidade diante do meu sofrimento era inabalável. A raiva começou a escorrer pelos meus olhos e também nos meus punhos, que se fecharam em represália ao seu jeito.

- Ah, vai chorar? Por favor, né pirralho!? Eu não sou o teu papai pra ter que aturar isso não.

Foram as palavras mágicas pra me fazer explodir. Ulysses não tinha o menor direito de ousar pensar em citar alguém como o meu pai, principalmente sendo aquele homem tão podre e nojento que se mostrara ser até então. No ápice da raiva, parti pra cima dele com um soco que ia pegar em cheio no meio do peitoral, não fosse pela mão grossa que o bloqueou e me segurou no ar. Num só movimento, o puto me virou e ainda me rendeu de costas, travando meus braços com os seus por baixo, maiores e mais fortes, e ainda prendendo as mãos na minha cabeça.

- ME SOLTA, SEU FILHO DA PUTA! ME SOLTA QUE EU VOU ACABAR CONTIGO!

Ele ria da minha raiva e fraqueza, aproveitando pra investir o quadril contra minha bunda. Foi nesse momento que senti o volume protuberante do pau do cara me sarrando descaradamente outra vez.

- Olha o que essa sua rebeldia faz comigo, pivetinho!

Deu uma leve estocada e me deixou sentir livremente o tesão que aflorava em sua pele. Não sabia o que fazer, mas me sentia mais estranho do que o normal, mesmo com a raiva só aumentando por estar imobilizado e sendo conduzido por alguém tão detestável. Por causa desse contato físico, eu senti todo o perfume madeirado que o empresário usava.

- E tu sabe o que é pior? Ter que esperar até tu fazer 18!

Não acreditei naquilo. Ele tava dizendo claramente que ia me comer muito em breve, mesmo eu sendo outro homem que nem ele. Pra esse cara, limite era só entre municípios.

- Você é louco!? Me solta!

- Só se você prometer que vai se comportar.

Prometi, mas sabia que seria impossível. O Ulysses me deixou livre e, na primeira oportunidade, eu meti um soco firme no meio de seu peitoral, só que ele nem fez questão de se defender dessa vez, apenas estufou o peito pra não sentir tanto o impacto. Parado com a mão fincada ali, não perdi tempo, afastei e dei outro, usando agora as duas mãos pra machucá-lo o máximo que pudesse no menor tempo possível, antes que pudesse voltar a me impedir. Mas isso não aconteceu e eu só dei soco atrás de soco, até começar a cansar e sentir a dor consumindo os nós dos meus punhos pelo impacto com seu corpo rígido.

- Já cansou, pivete!? Bate mais forte, vai! Pode bater firme!!

A provocação me motivou a obedecê-lo, então tomei outro fôlego e voltei a socá-lo com vontade, mas novamente não durou tanto e o ritmo foi reduzindo, até o ponto onde eu mais me escorava sobre seu corpo do que realmente tentava agredi-lo. Foi aí que todas as sensações voltaram a se concentrar no meu peito e novamente as lágrimas rolaram, mas pela raiva que sentia da vida e de como cheguei até ali. Devagar, fui descendo e caí ao chão da calçada, onde fiquei só soluçando e repensando os últimos dias vivendo fora de casa, imerso em silêncio, mesmo com o empresário do meu lado. E por falar nele, o puto fez o mesmo e se encostou na porta do carro, sentado do meu lado ao chão, pela primeira vez respeitando nosso tempo sem falar nada. Eu não entendia nada daquilo.

- Nessas horas você não tem que cair junto, mas sim ajudar o outro. - falei meio embargado.

- Olha aqui pra mim, seu fedelho.

Levantei o rosto e o observei entre as lágrimas. Ele abriu o paletó num só movimento junto com a blusa social e me mostrou o peitoral todo vermelho e marcado pela infinidade de porradas que eu dei diretamente ali durante meu acesso de raiva. Mal me deu tempo de olhar e continuou.

- Eu já não disse que não sou teu pai, pivete? E mesmo assim já fiz mais por você do que ele, então não adianta ficar defendendo. Se ele gostasse de você, tu não estaria no meio da rua à essa hora da madrugada conversando com um estranho.

Esse choque de realidade me deixou ainda mais afim de chorar, mas pela primeira vez o Ulysses se mostrava útil com as palavras, por mais que eu ainda o odiasse e odiasse também todas elas, mesmo que fossem verdadeiras.

- Eu tenho que te agradecer mesmo. Se não fosse você, eu dormiria debaixo de um teto hoje.

Ele gargalhou e acendeu outro charuto.

- Não, garoto. Por causa de mim você tá livre agora.

- Livre? Só pode ser piada, né? Eu sou livre pra que, pra morar na rua? Eu deveria mesmo te agradecer, Senhor Ulysses!

E daí ficou só me olhando e fumando, sem responder. Até que sorriu e se pronunciou.

- Livre pra mim.

Pausa. Outra vez aquela bizarrice.

- Livre pra você?

Levantei meio indignado e ele também o fez, só que veio pra perto de mim e ficou andando ao meu redor enquanto falava, mexendo no meu cabelo, na minha orelha e no meu rosto cheio de lágrimas. Fiquei parado, só sentindo seu toque e o calor proveniente da aproximação.

- Só até fazer 18, depois eu te jogo no lixo onde te encontrei.

- Que engraçado! Primeiro você diz que não é meu pai, depois vem com essa de cuidar de mim até eu virar adulto.

- E não sou mesmo, pirralho. Eu disse que vou te levar pra casa ou cuidar de você? Tá entendendo errado!

Cheirou meu pescoço e ajeitou a alça da minha blusa com cuidado, certificando-se de que eu estava bem protegido do frio da madrugada. Era incrível o contraste entre o macho alfa que só me importunou desde que me conheceu e o homem que me dizia aquelas palavras naquele momento.

- Se eu te deixasse lá dentro, cedo ou tarde alguém ia tocar nesse corpinho antes de mim. E eu já disse que vou te guardar até completar 18.

Rodeou-me até chegar nas minhas costas, aí veio por trás e disse no meu ouvido, encaixando o corpo no meu.

- E quando esse dia chegar, vou te usar tanto que você vai ficar seco. Ninguém mais vai te querer depois disso, só eu. Vou estragar esse teu corpinho de ninfeto.

Ulysses tocou meu pescoço com as mãos e, sem necessariamente apertá-lo, as posicionou ao redor dele como se estivesse prestes a me estrangular dentro de qualquer segundo. Aquele controle sobre mim era inacreditável e não consegui esconder a cara de insatisfeito, mas sempre com aquela sensação diferente em meu interior.

- Não faz essa cara não, porque você ainda vai me pedir pra não parar depois que começar.

Continuou circulando sem me soltar.

- Agora mesmo, segurando seu pescoço, eu me controlo pra não fazer uma merda contigo, seu pivete. Podia deixar você solto por aí, mas vou te dar a chance de entrar naquele carro e impedir que eu fique te procurando pela cidade a noite toda. E você já deve saber que não gosto de falar duas vezes, acredito eu.

Lembrei da grana fácil que peguei dele quando ainda estávamos no bordel e pensei que, mesmo o detestando, estava entre passar a noite na rua, voltar pra casa ou tentar me virar ao lado dele, independente do que tivesse planejado fazer comigo nas próximas horas. Ao menos poderia tentar resistir, diferente do que aconteceria caso ficasse na rua e topasse com algum marginal pior e sem nada a perder. Na minha mente, mesmo que o empresário fosse o responsável pelo meu inferno das últimas horas acordado, havia mais sentido estar com alguém que dizia me querer, mesmo que daquela maneira possessiva, do que voltar pro ambiente onde eu era humilhado diariamente e minha palavra não tinha efeito. Não eram tantas diferenças, mas sabia o que fazer. Tomado de medo, mas preparado pra qualquer coisa, entrei no carro lembrando que nem tinha tanta escolha assim, porque ele mesmo avisou que não desistiria tão fácil e rodaria a cidade até me encontrar. "Vamos ver até onde isso vai", pensei.

Diferentemente de como achei que seria, o Ulysses me levou de carro até um hotel situado na zona sul, área nobre da cidade do Rio. Fomos o caminho todo calados, com ele ouvindo música e enchendo o interior do veículo de fumaça de charuto, que aparentemente era um de seus vícios. Mesmo quando chegamos lá, ele nem saiu do carro, só me deu uma espécie de cartão magnético e, por incrível que pareça, devolveu minha identidade.

- Você é maluco?

Ele riu.

- Tu me tira do bordel, rouba meu documento e agora devolve assim, como se não fosse nada demais?

- Eu não preciso te prender, pivete. Já falei que você é meu há muito tempo, só não percebeu ainda. E tudo que é meu sempre volta pra mim, pode ter certeza. Além disso, não sou teu pai e nem tenho filho pivete.

Dito isso, pegou uma bolsa do banco de trás e tirou outro cartão, mas desses de banco. Entregou-me ainda dentro do carro e aí não aguentei.

- Você acha mesmo que vai me subornar, né? Só porque topei essa loucura de vir contigo. Eu só posso estar maluco!

- Claro que não. Não é porque te chamo de pivete que você vai andar como um. - pausa. - Pivetinho! Passa no shopping amanhã e compra uma roupa pra você. Compra um celular também, não se preocupa com preço.

Aquela loucura estava indo longe demais. Pra não discutir, ouvi suas instruções com atenção, mas já convencido de que não me aproveitaria de nenhuma daquelas condições, porque cedo ou tarde o empresário me cobraria por tudo aquilo e eu ia ter que pagar caro. Mas até isso ele parecia ouvir dentro da minha mente.

- Se você não usar o cartão que tô te dando, eu vou saber. E isso não vai te salvar de mim, porque já falei que vou usar e abusar desse corpinho assim que o dia chegar, você usando ou não usando o cartão. Então é contigo, pivete.

Não tive resposta.

- Agora rala do meu carro, anda. Mete o pé, seu rato! Toma um banho, come alguma coisa e descansa.

Antes de sair, ainda ironizei.

- Vai querer beijinho de boa noite também?

Ulysses riu e arrancou com o carro, me deixando na porta do hotel. Passei pela recepção, fiz tudo o que precisava de fazer e subi pro quarto. Lá de cima, da varanda, tinha a visão de toda a orla da zona sul, do começo ao fim. Todas aquelas luzes acesas na escuridão da noite me lembraram o cenário colorido de dentro da boate onde conheci o empresário. E foi essa ponte que me pôs a pensar nele novamente, me fazendo perguntar como parei no meio de tudo que estava acontecendo até então.

Ao contrário de como pensei, o Ulysses quase não aparecia no hotel pra me ver, então eu passava a maior parte do tempo sozinho, assistindo alguma coisa ou navegando na internet. Muito hesitante e com meu documento em mãos, lembrei que poderia simplesmente trocar o dinheiro que eu tinha guardado na mochila e fugir, mas sabia que seria só questão de tempo até que ele me encontrasse e trouxesse de volta, bem como já tinha me deixado avisado de que o faria, caso necessário. Ou, de repente, esse era eu não querendo admitir que, bem lá no fundo, algo de diferente começava a acontecer comigo.

- "Já falei que não sou teu pai pra ficar te controlando, seu pivete. Pode ir, se quiser ir, não me importo. Eu sei que tu vai voltar pra mim cedo ou tarde". - ele dizia.

E foi pensando nisso que comecei a dar voltas corriqueiras pelas ruas da zona sul, andando cada vez mais longe, mas sempre retornando ao hotel onde estava hospedado pra comer e dormir, bancado por um empresário que conheci há pouco mais de um mês. Vez ou outra o próprio aparecia, porém não fazia nada além de fumar seus charutos e me observar com aqueles olhos tranquilos e que nem aparentavam o quão pesada era sua personalidade.

- Que foi?

- Nada. Eu gosto de observar o que é meu.

Eu sempre ficava sem graça, mas ainda assim não perdia aquele receio de que algo mais sério pudesse acontecer. Receio, este, que nunca passou de simples preocupação. Depois de vários minutos sentado só me olhando, Ulysses levantou num impulso e eu levei um susto. Ele riu às custas, como sempre.

- Calma, pivete! Ainda falta um tempo, pode ficar tranquilo que eu sou um homem de palavras!

Isso me lembrou que, no fim das contas, eu ainda estava em dívida e que uma hora teria que pagá-la, o que me deixava um pouco tenso. Ainda mais quando as palavras que ele me disse voltavam à mente.

- "E quando esse dia chegar, vou te usar tanto que você vai ficar seco. Ninguém mais vai te querer depois disso, só eu. Vou estragar esse teu corpinho de ninfeto."

Eu imerso em pensamentos desse tipo, ele ainda vinha e passava as mãos pelos meus cabelos, como se mexesse num brinquedo pelo qual esperava há tempos pra poder brincar. Colocava alguns fios por trás da orelha, mas eu sempre ficava incomodado e tentava sair de seu controle, seu toque. E aí ele soltava o riso.

- É muito meu mesmo, né? Como pode?

Um dia antes do meu aniversário de 18 anos, quase não consegui dormir de nervoso pelo que aconteceria em algumas horas. Até então, talvez eu me identificasse levemente como bissexual, porque sentia atração por homens e por mulheres, mas mesmo assim não me via numa relação sexual com um cara arrogante tipo o Ulysses, por mais diferente que ele tivesse se mostrado ultimamente. Nesse momento de introspecção que a gente fica quando está prestes a fazer aniversário e repensa na vida, o peito apertou e senti uma falta enorme da minha mãe, por pior que ela fosse comigo em relação ao marido. Tornar-me adulto naquelas condições tão diferentes dos outros jovens me deixava meio carente, além da solidão por não ter ninguém da minha idade pra conversar. Acabei tomando a pior de todas as atitudes:

- "Preciso ir em casa" - pensei.

Nem que fosse só pra confirmar que minha mãe continuava sendo submissa ao marido em relação a mim, mas eu tinha que vê-la, tinha que sentir o cheiro e a sensação de ter meu próprio teto sobre minha cabeça, ainda que fosse acabar em outra briga, que jurei ser a última. Juntei todas as minhas roupas na mochila, tomei banho, deixei os cartões do Ulysses na recepção e saí do hotel um pouco depois do horário do almoço, decidido, rumo ao bairro onde morava antes de fugir de casa várias semanas atrás. Levei também o dinheiro que até agora não havia trocado, na intenção de mostrar pra minha mãe que, mesmo morando "nas ruas", não estava tão ruim quanto poderia estar. Em menos de meia hora, estaria entrando silenciosamente pelo portão de casa.

Não encontrei ninguém, nem minha coroa e nem o insuportável do macho dela. Tudo estava estranhamente intocado, como se o tempo tivesse parado ali e nada mudado. "Só pode estar na mercearia", pensei. E fui até lá conferir. Da porta do comércio, avistei minha mãe atendendo uma fila de clientes. Estava um pouco mais gordinha que antes, mas todos os detalhes permaneciam intactos, até a falta de atenção pra perceber que quem estava ali era seu filho.

- Mãe?

Ela teve que me olhar duas vezes pra crer na própria visão. Quando isso aconteceu, eu ri de felicidade e senti os olhos enchendo d'água. Até as outras pessoas da fila se emocionaram, exceto uma.. a principal e mais importante delas. Abri os braços, mas a coroa me olhou e fechou a cara.

- Quem é você?

- O que?

Não acreditei naquela resposta. Só poderia ser algum tipo de brincadeira.

- Eu não tenho filho. Botei um ingrato pra fora de mim 18 anos atrás e olha o que ele me fez?

Suas palavras eram como tiros dentro do meu peito, atravessando meu coração e fazendo todo o sangue vazar ao redor e me afogar dentro de mim mesmo. Afinal de contas, de onde eu tirei a ideia de voltar ali depois de tudo que aconteceu? De qual quinto dos infernos eu conclui que, só por ser meu aniversário, todas as coisas boas se fariam presente naquele momento único pra mim, diante da mulher que me fez e me cuidou por 18 anos?

- Mãe!?

Chamei outra vez, mas ela se manteve inabalável. E foi aí que o insuportável do homem dela apareceu de trás do balcão, um pouco afastado de nós, mas rindo de deboche com aqueles dentes amarelados expostos.

- Olha quem voltou, o viadinho! Aposto que tomou uma surra na rua e veio com o rabinho entre as pernas, de tão merda que é!

Mas a inversão já tinha acontecido. Eu custava a aprender algumas coisas, mas depois que aprendia, era tão taxativo que até eu mesmo me cansava de mim e das cobranças que fazia comigo. O estrago mental já havia sido feito, tanto é que perdi a vontade de chorar e toda aquela emoção do momento virou ânsia e nojo da cara deles.

- Na verdade não. Eu vim aqui agradecer por tudo que vocês fizeram, caso contrário eu não saberia tudo o que eu sei agora.

Coloquei a bolsa em cima do balcão, jogando no chão várias garrafas de cerveja que estavam apoiadas. Minha mãe ia começar o esporro, mas dessa vez quem não ia deixar ninguém mais falar era eu. O Jonathan que calava a boca e escutava não existia mais.

- Tá aqui, ó.. Pra compensar o estrago! Se bem que eu acho a vida de vocês irreparável, ein! Boa sorte!

De dentro da mochila, tirei os vários bolos de moeda estrangeira que havia pego do Ulysses no dia em que me importunou no quarto do bordel. Taquei tudo diretamente na cara dos dois filhos da puta que chamei de família. Se ela não tinha filho, eu não tinha mais mãe. Virei as costas e alarguei os passos pra não respirar nem mais um segundo do mesmo ar que eles. A última facada daquela velha bruxa veio certeira, porém agora no meu cérebro, me colocando pra pensar.

- Boa sorte com a vida nas ruas, seu imprestável! Eu sabia que você era que nem a puta da tua mãe biológica!

Preciso dizer que fiquei um caco? Era meu aniversário e eu acabara de descobrir da pior forma que, além de não ter conhecido meu pai, também não tinha conhecido minha mãe. Tem presente melhor? Mas não chorei mais, o conhecimento me libertava de uma forma sem precedentes. O problema mesmo era o ódio de saber que toda minha vida fora uma farsa da qual somente agora eu estava livre, completamente livre. Mais uma vez livre. Mas.. Livre pra que?

- "Livre pra mim". - lembrei.

A pele arrepiou só com a força do pensamento. O mundo poderia ser cruel, mas eu ia ser pior, só pra conseguir viver nele sem perder a cabeça, mesmo que cercado por todas as coisas loucas que existem por aí à fora. E falando em existência, existia um único lugar no mundo no qual todo esse processo de transformação em mim poderia ter um começo. Eu sabia bem pra onde ir.

O céu tava escuro, talvez já tivesse passado das 18h quando cheguei de novo no mesmo hotel do qual saí. Passei na portaria e pedi novamente os cartões que deixei lá, ciente de que não havia me preparado pra esse retorno.

- Alguém já levou, senhor.

- Alguém? - perguntei.

- Sim, mas ele deixou avisado que era pro senhor subir assim que chegasse.

Não era a toa que o Ulysses era um empresário bem sucedido. O pensamento à frente era capaz de predizer atitudes que sequer tinham acontecido, o que era o mesmo que dizer que ele tinha razão: eu voltei. E voltei preparado pra fazer o que havia sido prometido há tempos, como se quem quisesse agora fosse eu. Ou talvez precisasse. Era a dor mundana que ia me fazer sentir humano, então já estava decidido. Subi pelo elevador e já fui sentindo as pernas tremendo, por mais convencido que estivesse. Parei na porta do quarto, respirei alguns instantes, mas antes de tocar a campainha, ela se abriu. Devagar, ele veio saindo do escuro e a primeira coisa que eu vi foi o sorriso de quem adorava estar com a razão. Pela primeira vez, também não vi o Ulysses se gabando por estar certo. Era tão certeiro que sequer precisava tirar tempo pra me lembrar que avisou sobre tudo aquilo, e eu reconheci isso. Sem dizer nada, entrei devagar e passei por ele, sentindo o cheiro madeirado do perfume gostoso. Parei no meio do quarto, sem saber o que fazer, mas querendo mostrar que não era mais o mesmo. Ele veio lentamente e começou a me rodear sem pressa, como quem se preparava pra um banquete, rindo disfarçadamente. Tanto eu quanto o empresário sabíamos o porquê daquele clima. A hora havia chegado.

- Nu.

O coração disparou, mas eu iria adiante, não importava como. Tirei peça por peça de roupa sem parar de olhá-lo, tal qual suas mulheres do bordel. Não rogado, ele manteve o contato visual e parecia tremer com cada parte do meu corpo que via sendo desnuda. Até que fiquei completamente pelado diante de seus olhos curiosos, e aí ele tornou a me circular lentamente, atento às minhas curvas joviais e crescentes pela nova idade.

- Parabéns, pivetinho! - começou.

Mantive-me calmo e tentando não transparecer nervosismo, mas era bem difícil, ainda mais diante de um homem de terno, cheiroso e com a atenção toda focada ao meu corpo nu, prestes a se fazer nele. Ele tinha se arrumado pra ocasião, evidenciando que dava um valor à situação.

- Você lembra do que eu te falei? - perguntou.

Mas nem precisei responder. Andando ao meu redor, prosseguiu.

- Que uma hora eu ia te usar até te deixar acabado e seco?

Riu, se deliciando da minha tensão.

- A hora chegou, pivete! Eu sabia que você viria pro abate por vontade própria, por isso vou te dar o presente que tu veio buscar. Hoje eu vou acabar contigo!

Ao tocar meu corpo com a mão grossa, o Ulysses com certeza percebeu meu nervosismo explícito. Mesmo querendo fazer aquilo, eu não parava de dar leves tremidas e sentia que seria bastante doloroso, lembrando do que ele fez com a Mercedes na minha frente no bordel, enquanto o espiava. Seu toque desceu pelas minhas costas e chegou nas nádegas, onde parou. E aí me olhou, como quem esperava por algo. E eu tinha mesmo uma coisa pra dizer.

- Por favor, Ulysses..

Seus olhos fitaram os meus com pena.

- Eu.. - comecei. - Eu sou..

Pausa. Ele sabia bem o que eu ia dizer, mas queria ouvir da minha boca. Queria ver seu objeto de posse dizendo o que estava prestes a dizer.

- Eu sou virgem. Por favor, vai com calma. - supliquei quase chorando.

Ele passou o dedo pelo meu lábio inferior e sorriu sadicamente. Engoli a seco e soube que estava acabado.

No próximo segundo depois disso, contrariando todas as cobranças que ouvi pelas últimas semanas que passei ao lado daquele empresário e indo contra todos os seus comportamentos abusivos para com as pessoas ao nosso redor, o Ulysses não me fez mal algum. A boca dele veio devagarzinho e tocou a minha. Eu abri os olhos rapidamente, mas só pra fechar de novo e ser conduzido no beijo mais terno e sentimental que senti em todos os 18 anos de vida até ali. A língua dele não combinava com seu jeito egoísta e agressivo, era quente, grossa e bem deslizante, roçando contra a minha enquanto sua mão posicionava minha cabeça por trás, ditando o ritmo do nosso beijo. Num impulso de não acreditar que aquilo tava acontecendo, usei minhas mãos pra afastar aquele beijo e o olhei cara a cara, olho no olho, segurando seu rosto contra o meu. Ele sorriu outra vez e tornou a me beijar, agora ficando mais intenso, a ponto de eu jurar que aquele era um tipo de sonho que nunca achei que fosse ter. Abaixo de nós, com seu corpo colado ao meu, senti o volume de sua excitação crescendo e arrastando cada vez mais em mim, mas nem isso o fez parar o duelo entre nossas línguas aflitas. Entre os chupões estalados e agarrados, ele virou o rosto e foi cada vez mais fundo dentro de mim, só pelo beijo, ao ponto de não se aguentar e suspender minha perna com a mão pra enroscá-la em seu corpo, que foi o que fiz. Isso o deu meio caminho pra me erguer em seu colo e, devagar e sem interromper o beijo, me levar até à cama, onde me colocou sentado de frente pra si, enquanto permanecia de pé. Só nesse momento percebi que todo o quarto estava escuro e, no teto, ao invés da lâmpada normal, era uma luz negra que nos mantinha iluminados no breu, semelhante às da boate do Pacha.

- Tá preparado, pivete?

Ele riu, mordendo o canto do lábio inferior. Fiz que sim com a cabeça e o safado tirou a gravata junto com o paletó, exibindo aquele peitoral definido e separado, com poucos pelos areando. Lentamente, ele também removeu o cinto da calça e o passou por trás do meu pescoço, puxando-me em direção ao seu corpo. Mais fortemente senti o cheiro madeirado e isso me deixou muito à vontade pra começar a lamber seu tórax, subindo devagar até os mamilos, mediante sua condução com o cinto ainda no meu pescoço.

- Pivete safado! Sabe bem como usar esse língua, ein!

Subi devagarinho e tornei a beijar sua boca deliciosa e docinha, ficando cada vez mais entregue aos toques dele no meu corpo jovem. Aos poucos, Ulysses me deitou na cama e foi me virando de costas, fazendo uma trilha de beijos, chupadas e pequenas mordidas da minha nuca até à bunda. Quando chegou lá, ele afastou as nádegas e veio com a língua em cheio no meu cu, que imediatamente trancou de nervoso e eu me enchi de tesão, ficando de pau durão na hora.

- SSSSS!

Ele percebeu que reagi e tomou fôlego, abrindo todo o corpo por cima do colchão e se entregando ao cunete, ciente de que eu estava adorando. E estava, o empresário me conhecia bem, porque nem eu mesmo sabia que curtia aquilo.

- Aah, Ulysses! Hmmm!

- É bom? Meu pivete gosta?

- Seu pivete adora! - falei.

E foi aí que a língua entrou num outro nível de excitação, indo mais fundo no meu ser. O empresário com certeza gostava de saber que agradava seu objeto. De tão excitado, prendi muito as pregas nele, mas isso só o deixava mais nervoso pra continuar me linguando, como se estivesse numa competição contra meu ânus e, sendo daquele jeito, não poderia perder nem naquilo. Até que, junto da língua, comecei a sentir também um dedo grosso pedindo passagem bem babado.

- Sssss! Isso!

Sem pressa, ele colocou um inteiro e ficou brincando de dedar, girando de um lado pro outro pra poder ir me alargando lentamente. Sem qualquer nojo de mim e de quem eu era, Ulysses tirou o dedo de dentro do meu rabo, chupou pra molhar e enfiou de novo, completamente limpo e dedicado a me dar prazer. Ele já ia colocando o segundo e preparando o terceiro, mas lembrei que se ele podia me surpreender, eu também poderia fazer o mesmo. Sendo assim, me inclinei pra trás e levantei. Ele ia dizer algo, mas não deixei.

- Minha vez.

Ele colocou as mãos pra trás e ficou sentado no colchão, atento ao que eu fazia. Devagar, tirei seus sapatos e o deixei de meias. Cheirei os pezões enormes, lambi, fiz massagem e passei a língua bem entre os dedos enquanto o olhava no olho. Queria deixá-lo ciente de que o novo eu o aceitava por completo, independente dos defeitos e coisas bobas que poderiam ficar entre nós. A minha língua passando pelo espaço exato da base do corpo de um homem, justamente pra deixar claro que eu poderia ir com ele aonde quer que fosse, sendo parte de seu calço e cuidando de si da mesma maneira que cuidava de mim. E ele entendia isso, porque me observava e não se importava de deixar o tesão transparecer, às vezes até virando os olhos. Devagar, subi pela perna da calça e cheguei no volume enorme de rola que já se acumulava na parte da virilha. Segurei tudo na mão e ele riu.

- Olha como você me deixa, moleque!

Abri o zíper, abaixei a cueca dele e deixei que a vara pulasse pra fora, grossa, com a cabeça parcialmente coberta pelo prepúcio e com poucos pentelhos por causa da aparagem, além de sacudo e com dois ovos bem marcados. Ela pulsou veiuda na minha frente e eu não resisti em provocá-lo, passando apenas a ponta da língua quente e molhada na saída da uretra. Isso o deu tanto tesão que o cacete tomou mais vida ainda, ficando completamente ereto e liberando de vez a cabeça bem definida pra fora.

- Ssssss! Não faz isso comigo!

- Faço sim! Tu gosta, não gosta? Então eu faço!

Caí de boca e tentei engoli-la toda de uma vez, o que me fez engasgar e começar a tossir. Ulysses começou a rir e me mandou ter calma.

- Não é tão fácil assim, relaxa.

E aí fui mais devagar, agora conseguindo posicionar bem o caralho entre a garganta e as amígdalas, agasalhando-o por completo.

- Aaaaaa!

Ele levantou a cabeça pra gemer e, quando voltou, me olhou com aquele jeito tranquilo e totalmente sexual, que só agora eu sabia reconhecer bem. Dançou com a pica na minha goela e, me olhando de cima pra baixo, mostrou que estava de corpo aberto ali pra mim. Eu seguia o mamando e olhando, completamente seduzido por aquele jeito de homem egoísta e ao mesmo tempo apaixonado pro sexo. Lembrava de como o empresário me perseguira durante todas essas semanas e eu simplesmente não conseguia entender o porquê. A luz negra do quarto ainda mudava completamente o clima do ambiente, dando a impressão de que tudo reluzia no efeito ultravioleta. Seus olhos, seus músculos, seus poucos pelos do corpo, todos os detalhes pareciam me lembrar do bordel do Pacha e de como parei na cama daquele cara, tão possessivo quanto um deus. Um deus feito de LED e cores em neon. Um deus cuja visão estava além do que os canhões de luz das casas noturnas poderiam iluminar.

- Não aguento mais, pivete!

O tamanho do pau atravessado na minha garganta e também a força com que Ulysses praticamente comia minha boca mostraram que era verdade, ele não conseguia mais ir adiante. Isso só podia significar uma coisa: era a hora. O empresário tornou a me colocar de bruços na cama e, sem pressa, posicionou o cacete grosso e babão na portinha do meu rabo, bem entre as nádegas. Mexeu pra um lado, mexeu pro outro e, sem usar as mãos, bem hábil, engatou com a glande na portinha, fazendo as pregas virgens reagirem e darem leves mordiscadas no caralho.

- Ssss! Calma, relaxa..

Sobre meu corpo todo, senti seu peso e o movimento lento do quadril, que tentava me cobrir sem ser percebido, mas não tinha como. O fogo no anel era gritante, mas o tesão era maior e eu não ia desistir tão facilmente. Me concentrei ao máximo e foi ficando mais fácil conforme ele me dava beijos, mordidas e chupadas no pescoço, no ombro e na nuca, de um lado pro outro, ao mesmo tempo em que o quadril continuava pressionando as nádegas. Devagarzinho, senti o cacete me descabaçando e tomando o espaço necessário pra começar a primeira foda da minha vida. Até que o empresário entrelaçou as mãos nas minhas e veio no pé da minha orelha.

- Eu tô todo dentro de você, Jonathan. Todinho. Tá sentindo?

E começou a mexer com a vara lá dentro pra me fazer senti-lo, como se só assim eu pudesse fazê-lo. Era tanto tesão que nem consegui responder verbalmente, mas prendi o rabo pra mostrar a ele que estava mais do que preparado. Ainda assim, Ulysses aguardou um pouco antes de agachar de vez em mim e iniciar o trabalho do quadril imponente e desejoso.

- Oooh! Hmmm!

Sem pressa, o vai e vem começou e todo o fogo no cu foi se transformando em puro prazer anal. Sobre mim, um homem casado e rico, cuja aliança de compromisso se encontrava por entre meus dedos, uma vez que nossas mãos se ligavam, sendo apenas um dos vários contatos físicos e íntimos que compartilhávamos naquele exato momento. Ele metia e me olhava pra ver se tava bom, pra ver se tava gostoso e se tava machucando, completamente diferente do homem que disse que me estragaria. Aos pouquinhos, foi aumentando o ritmo e logo eu transava como se fosse experiente, aguentando pressão, peso, força e vontade de outro cara sobre mim de maneiras que nem sabia que poderia. Em poucos minutos, começamos a suar e até isso soava sexual, uma vez que todo o fluído escorria pro meu corpo. Era como se estivesse completamente sob o tesão de um deus que venerava, totalmente acolhido sob a luz do deus neon.

- Hmmm! Tá gostando, tá?

- Tô! Isso! Sssss!

Suas pernas chegaram a imobilizar as minhas, dando mais envergadura pra que ele pudesse alcançar ainda mais fundo dentro de mim. Mais um pouco e estaria nadando, com o saco também querendo entrar na festa, mas sendo barrado na porta do meu cu, e aí batendo contra minhas bolas. Suas estocadas eram tão firmes que me deslocavam pra frente, mas o Ulysses tornava a me trazer pra trás, insaciável e querendo sempre mais. Lentamente, ele foi ganhando empenho pra suspender meu corpo na cama e me colocar de quatro. Aí ficou de pé por fora, com a perna suspensa do meu lado e me comendo por trás, usando as mãos pra controlar os movimentos do meu quadril. Nessa posição, ele ficava mais à vontade e socava mais lá dentro ainda, se é que possível. O que sentia ao redor do anel anal não era nem mais caralho, era o talo mesmo, a base grossa da onde dependia o sacão.

- Fffffff!

E foi aí que, aos poucos, o empresário ganhou velocidade e se mostrou um verdadeiro devasso, ainda que passional, fazendo questão de foder de um lado pro outro e de cima pra baixo, só pra ter a certeza de que explorava toda a elasticidade do meu cu jovem e não deixava nenhuma parte intacta, não tocada ou não visitada pela piroca invasiva e insistente.

- Hmmmmm! Caralho, Ulysses!

- Que foi, pivete? Achou que eu não ia meter, né?

Firmou os pés no chão e botou com pressão, passando a verga cada vez mais rápido pelas minhas pregas e usando meu cóccix como um mero suporte de mãos e auxiliar de puxão. Essa sensação era tão gostosa que meu pau começou a crescer de verdade, sendo que quanto mais isso acontecia, mais difícil de foder ficava, porque era como se meu cu diminuísse pelas contrações, dando leve piscadas ao redor da vara do empresário.

- Que isso, Jonathan!? Para com isso!

Ele pediu, mas aquilo só estava acontecendo por causa dele mesmo, então eu não sabia bem como controlar. Isso o deixou um pouco fora de si e levei o primeiro tapa na raba, mas nada de ficar acuado. A queimação da mão no meu lombo parecer ter acendido uma luz interna que não sei de onde veio, abrindo uma torneira de tesão latente em mim. Mais trancadas anais e Ulysses continuou reclamando.

- SSSSSS! Tô mandando parar, porra! Tá querendo me deitar, pivete?

Três lapadas seguidas com as mãos nas coxas, mas ele não entendia que isso só tinha o efeito contrário, porque mais eu me empinava e comprimia o cuzinho em sua pica nervosa, de tão submisso me encontrava ali. Até que, de forma que nunca pensei que poderia acontecer, senti o orgasmo sendo provocado de lá do fundo das cutucadas que ele me dava no cu, como se pudesse mesmo gozar por lá. Aproveitei e iniciei uma punheta que nem durou tanto, de tanta excitação.

- Vai me fazer gozar, Ulysses!! Hmmmmm!

O que aconteceu depois disso? Ele virou um monstro ao me sentir piscando em seu sexo. A mão se perdeu no meu corpo, alisou meu mamilo, mexeu no meu cabelo, assim como a boca voltou a me morder, chupar e lamber. O caralho ficou tão bojudo e espesso que ele quase não se mexia mais, segurando ao máximo tudo que sentia. Até que, num espasmo totalmente involuntário, o safado desmontou o corpo por cima do meu e me forçou todo contra si. Se não estivéssemos no meio do sexo, eu com certeza teria saído machucado.

- SSSSSSS! PORRA, JONATHAN!

Falando meu nome no pé do meu ouvido, o empresário marrento que tanto me assolou nas últimas semanas despejou um rio de leite quente dentro do meu rabo, inundando meu ser e vazando pelas laterais. Mas não parou de estocar por causa disso, só reduziu o ritmo enquanto continuava me galando lá dentro.

- Sssss! Caralho!!

- Que delícia de rabo! Eu sabia que não tinha errado!

- Sabia, é?

- Eu sempre soube!

Veio pra cima de mim e começamos a nos beijar outra vez, ficando um bom tempo nesse chamego entre homens.

- Feliz aniversário, pivete! Que a tua vida só tenha felicidade a partir de hoje. Começando por mim.

Ele se incluíra nos meus próximos planos do que fazer, ainda que eu mesmo nem soubesse o que fazer em seguida.

- Já começou bem, então. - falei.

Começamos a rir e voltamos a nos beijar, deitados e abraçados no breu ultravioleta de um quarto de hotel cinco estrelas. Ali, em seu peitoral, quase cochilei feito um anjo depois de perder a imaculabilidade. Dormira no chão de uma garagem de bordel até poucos dias atrás, agora estava nos braços do homem que tanto me infernizou. A vida era mesmo louca e surpreendente, e eu ainda nem imaginaria o quanto.

- E agora? - perguntei.

- E agora o que?

- A gente.. Eu, você.. sua família..

Ele entendeu minha pergunta, mas pelo visto não quis pensar em nada disso ainda.

- Relaxa, pivete. Vamos aproveitar os momentos, um de cada vez.

Ele tinha razão. Minha pressa de vida agora era enorme, porque Ulysses me fez descobrir coisas que eu nunca teria descoberto se não fosse ao seu lado, por pior que tenhamos começado. E, por falar em começo, quanto mais eu achava que conhecia da vida, mais ela tornava a me impressionar.

Poucos minutos depois da nossa primeira vez, meu empresário favorito levantou-se e se preparou pra fumar um charuto na varanda, no maior clima pós sexo. Eu não conseguia parar de olhá-lo, então segui seus movimentos com os olhos. Com ele completamente nu e de costas pra mim, pude viajar pela parte traseira de seu corpo másculo e me senti agradecido pelas circunstâncias da vida terem me levado até ali. Estava prestes a pegar no sono quando reparei naquele detalhe. Talvez fosse o efeito ultravioleta, ou o cansaço pelo esforço que me fazia ter aquela visão, mas ela era bem real. Abaixo de um dos seus glúteos, na parte de traz da coxa esquerda, uma pinta enorme de nascença.

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Foto de capa: />

Título alternativo: Sob A Luz do Deus Neon.

Criei uma conta no WATTPAD, que é uma rede social famosa entre autores amadores. Lá eu produzo livremente, sem me preocupar com o tamanho dos textos e estando bem mais à vontade pra criar histórias cada vez maiores e mais complexas, cheias de tramas, que não focam exclusivamente no sexo, como vemos majoritariamente por aqui. Peço a todos que visitem, comentem e, se possível, divulguem! Esse é o melhor apoio que um artista independente pode receber de quem acompanha e curte seu trabalho, por isso deixo este pedido! Desde já, obrigado a todos!

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Comentários

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28/02/2020 02:18:16
Quando eu li a TAG #incesto pensei que talvez o Jhonatan tivesse algum relacionamento com seu padrasto. Mais foi aí que a cereja do bolo veio quando Ulysses apareceu todo pomposo dono de tudo. E só no final fica a dúvida, são pai e filho?. Como sempre conto maravilhoso. Pachá tbem aparece no conto do Renan caçula. Já comentei que gosto desta tua conexão entre teus personagens? #parabens
07/11/2017 14:47:48
Muito perfeito
02/11/2017 22:55:40
Então vem ler a continuação, sssul! />
30/10/2017 21:28:58
Mesmo sabendo que seus contos quase não tem continuação. Esse tem que ter
29/10/2017 14:03:12
Obrigado pelos comentários e votos, amigos! glookxxx, sempre muito bom te ter por aqui, adoro suas observações técnicas. Valtersó, pra chegar no resultado que eu queria, eu tinha que desenvolver o texto dessa exata forma. Não tinha como não escrever tudo que escrevi, por maior que tenha ficado. Como comentei antes, meu foco não tem sido mais só a parte sexual, tenho falado sobre várias coisas nas minhas histórias e talvez por isso pra você ela tenha ficado enorme. Todos os momentos desse texto são importantes pra construção sentimental e psicológica dos personagens, caso contrário vocês só ficariam com a parte sexual deles. Lembrando que: em nenhum momento a idade do Ulysses foi confirmada, a única referência que temos a isso é o Jonathan SUGERINDO que a APARÊNCIA dele era de alguém novo e com menos de 30 anos. Alexsandro Afonso e guilwinsk, cuidado com as reviravoltas da trama, ein.. vocês podem acabar se surpreendendo. Mike Filho, Vitor1021 e adriannosmith, obrigado seus lindos! tiopassivo, continua ser um prazer ter você me lendo e comentando! Estou trabalhando na continuação deste conto, richzach, mas ainda vai levar um tempo.
29/10/2017 00:48:51
Amei!!! Perfect❤
28/10/2017 04:19:54
TERA CONTINUAÇÃO?
27/10/2017 22:35:46
Muito bom cara vou acompanhar pelo wattpad
27/10/2017 15:34:06
A construção do universo dos teus contos é fantástica. É impossível não enxergar cada detalhe, compartilhar cada sentimento, explodir em cada tensão. Na minha opinião, na medida certa, nem a mais, nem a menos. Continua ser um prazer lê-lo.
27/10/2017 12:04:47
Haha sabia q era pai dele
27/10/2017 05:55:10
raramente o faço, mas concordo com o Valter, em gênero, grau, numero e conteúdo! Parabéns, conto muito excitante. Só faltou a dorzinha da perda da virgindade.
26/10/2017 22:26:06
SENSAACIONAL. MAS UM POUCO LONGO. PODERIA TER SIDO A METADE E JÁ ESTARIA DE BM TAMANHO. UM EXCELENTE COMEÇO DE CONTO. MAS ALGUMAS CONTAS DE IDADE NÃO BATEM. A MÃE DISSE QUE DEIXOU O FILHO HÁ 18 ANOS. ISSO NÃO PODE SER. E SE ULYSSES É O PAI, DIFICILMENTE PODE TER APENAS 30 ANOS COMO PENSOU VC. MAS ISSO SÃO DETALHES QUE PODEM SER EXPLICADOS PELO AUTOR. RSSSSSSSSSSSSSSS LEREI COM CERTEZA. ANSIOSO PELO PRÓXIMO CAPÍTULO, A PROPÓSITO CREIO QUE O TÍTULO ESTÁ PERFEITO. CONTINUE LOGO.
26/10/2017 19:38:58
Eu sempre faço uma leitura dinâmica dos teus contos por ficar ansioso pelo final. Depois releio vagarosa e cuidadosamente. Este me deixou com sabor de quero mais... Excelente!!! Grande abraço.
26/10/2017 19:22:37
Sabia que eram pai e filho hahaha

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