SUBLIME
Ela começou nas delícias sexuais como a maioria: no autoestímulo. Na primeira vez em que se masturbou, gozou logo. Não tinha nenhuma dificuldade para gozar, independentemente do tipo de prática. Era desfrutar uma nova, e o orgasmo vir facilmente. Contudo, havia um detalhe intrigante: nunca gozava a segunda vez se seguisse na mesma modalidade sexual. Se repetisse a experiência, não sentia nada, nada mesmo. Por essa razão, avançava cada vez mais no sexo.
Descobriu essa particularidade, ao tentar, inutilmente, obter a volúpia repetindo a masturbação. Nenhuma coceirinha sequer. Apressadamente, deu outros passos nas delícias. Experimentou sexo oral. “Humm, bom!” Entregou-se à esse prática outra vez, e nada. Tratou logo de perder a virgindade. “Humm, muito bom!” Desfrutou o gozo de novo, mas só essa vez. Agora, sexo anal. Orgasmo novamente. “Humm, gostoso!” Mas o delírio acabou nessa experiência. O prazer aumentava, mas não se repetia. O seguinte era sempre mais intenso, mas também, único. Dupla penetração. “Humm, muito gostoso!” Três homens de uma vez. “Delicioso!” Depois, orgia. Sempre bom, entretanto essa maravilhosa sensação morria ali. Tinha que todas as vezes caminhar mais adiante para senti-la novamente.
O problema é que a variedade de prática estava se esgotando. Já havia passado pelo sadomasoquismo; experimentara a coprofilia, a zoofilia. Suas taras se tornavam cada vez mais loucas e bizarras. Descobriu uma perigosa forma de volúpia: restringir a respiração com um saco plástico na cabeça no momento do orgasmo. Segundo lhe afirmavam, a falta do oxigênio no cérebro dilatava o prazer sexual. Mas a prática era arriscada, poderia levar ao óbito. Mesmo com todos os riscos, ela estava disposta a experimentar. “Nada é mais certo do que a morte, que morramos assim.” Disse para si mesma. Ao fim, seria até positivo, pois a morte traria fim a sua angústia, seria o fim de tudo; morreria gozando; sem problemas. Estava preparada; curiosa até.
Achou um adepto e experimentou. “Maravilhoso!!” O melhor gozo da sua vida. Desmaiou, precisou de socorro, mas não morreu. Estava disposta a repetir o ato. Talvez seu corpo buscasse exatamente a sensação que existia perto da morte. Ali encontrava-se o ápice. No limiar da vida, estava o seu real prazer. Ele só se repetiria nessa zona. Era sua teoria. Enganosa, por sinal. Repetiu a modalidade, quase morreu, mas nada sentiu. Frustrante, muito frustrante! Será que teria que avançar mais? Será que teria que morrer? Que eu morra, se for esse o meu destino! Do que adianta viver insatisfeita, infeliz? Concluiu para si mesma. Daria curso ao que seu corpo e sua mente pediam.
Comprou uma arma: uma espingarda, calibre 12. Clamou ao namorado. Ele não aceitou. Tanto procurou que achou um desconhecido que, em troca de dinheiro, assentiu. Tudo foi planejado para que ele fugisse sem deixar pistas. Nenhuma suspeita recairia sobre ele.
Tudo pronto. Chegou o dia. Preliminares sempre é bom, nunca prescindiu delas. Beijos e carícias a inflamaram. O matador contratado já empunhava a arma. Ela conduziu a mão dele para que introduzisse o cano em sua vagina. Movimentos lentos, que se aceleraram aos poucos. Ela gemia. Estava muito bom, melhor do que ela pensava. Não pense que ela não sentia medo. Sentia sim, e muito, mas o medo servia de combustível para o seu tesão. Era um delicioso misto de tensão e relaxamento; relaxamento e tensão. Pediu que o homem acelerasse um pouco mais. Um dedo solidário agitava o clitóris. Os sentimentos antagônicos duelavam ainda com mais vigor. Prazer e terror num desafio macabro. Até que o prazer prevaleceu. Ela gemeu mais alto, gritou: “Delícia, vai, vai! Mais rápido e mais forte! Ai, que loucura! Vai, vai, vou gozar! Agora! Atira! Pow! AAHH!
Sangue e secreções do gozo se misturam e escorrem por suas coxas. Ela sente suas forças se esvaírem. Sorri. Antes que desfalecesse definitivamente, puxa seu adorado algoz, beija-lhe na boca um doce beijo de gratidão e sussurra sua última palavra: “Sublime!”
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