Minha história com o PM caralhudo

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 10590 palavras
Data: 17/10/2020 08:48:09

Minha história com o PM caralhudo

A primeira vez que nossos caminhos se cruzaram foi desastrosa. O bairro simples onde minha família morava em São Paulo experimentava uma decadência sem precedentes. As casinhas de trabalhadores começaram a ficar rodeadas de ocupações irregulares nos terrenos que as empresas iam abandonando devido ao alto custo de se manter na região. Drogas eram consumidas por jovens sem perspectivas junto a muros vandalizados que abriam brechas para os terrenos tomados pelo matagal, postes de iluminação nas calçadas que tiveram suas lâmpadas destruídas por pedradas ou tiros e, sob os quais, na escuridão da noite se juntavam delinquentes, bandidos e criminosos, esperando pela passagem de incautos ou dos moradores que precisavam circular pelas ruas do bairro indo ou voltando do trabalho, da escola ou do que quer que os obrigasse a sair de casa sem a luz protetora do sol.

Eu era um deles. Trabalhando durante alguns dias como técnico de enfermagem num hospital privado e, fazendo plantões no Hospital da Polícia Militar nos dias em que estava livre, só me restou o período noturno para cursar a faculdade de enfermagem, o que me obrigava a passar por aquelas ruas com o coração na mão toda vez que tinha que voltar para casa sem carona. Rondas policiais podiam ser tão perigosas e assustadoras quanto as abordagens dos próprios bandidos. Foi o que constatei numa noite em que voltava para casa um pouco mais cedo, acompanhado de dois colegas da faculdade. Foi quando o vi pela primeira vez.

Ao passarmos por dois postes sem iluminação, a viatura encostou junto ao meio-fio numa freada brusca e, dela saltaram quatro PMs com as armas em punho.

- Mãos erguidas e apoiadas no muro, pernas abertas e qualquer gracinha o cacete vai descer! – berrou um deles, aparentemente no comando.

- Somos trabalhadores e estudantes, estamos voltando da faculdade. – alegou um dos meus colegas que, imediatamente, recebeu um safanão do pescoço que o fez gritar.

- É o que todos dizem! Todos inocentes! Bando de filhos da puta! – berrou outro PM postado ao meu lado.

Eu tremia feito uma vara verde. Já tinha visto essas abordagens truculentas e presenciado algumas surras de cassetete que deixavam os indivíduos caídos no chão implorando por clemência e confessando até o que nunca fizeram, só para parar de apanhar. O que estava aparentemente no comando era jovem, alto, parrudo, sobre os ombros largos a farda mostrava duas estrelas, um cassetete rodopiava numa de suas mãos e, eu podia sentir o deslocamento do ar daquele bastão girando a centímetros do meu corpo.

- O que tem nessa mochila? – perguntou autoritário, com uma voz grossa troando no meu ouvido.

- Meu uniforme de trabalho, apostilas da faculdade e alguns pertences pessoais, senhor. – respondi gaguejando, conforme vi outras pessoas respondendo quando abordadas, chamando humildemente de senhor quem lhes dirigia a pergunta.

- O bagulho está aonde? – questionou.

- Não tenho drogas, senhor! Pode verificar. – respondi. No mesmo instante, senti o cassetete deslizar ameaçadoramente entre as minhas pernas rumo aos meus genitais. Eu que já vinha caminhando apressado para aliviar minha bexiga assim que chegasse em casa, quase me mijei todo naquela hora.

- Todos abrindo as mochilas, anda! – ordenou, deslizando o cassetete sobre minhas nádegas carnudas como se estivesse abusando de mim.

Mostrei-lhe o conteúdo da mochila, sem encará-lo, embora de soslaio, conseguisse observar nitidamente seu risinho sarcástico com a minha paúra descontrolada.

- Está com medo? – indagou firme, tripudiando ainda mais sobre meu estado de terror.

- Estou, senhor! – respondi sincero, pois seria ridículo tentar esconder o que estava evidente.

- Se não tem culpa no cartório, por que está com medo? Está escondendo o quê? Já teve passagem pela polícia? Foi enquadrado nalgum crime? – continuou, sem parar de esfregar aquele cassetete na minha bunda, aproveitando-se do meu pavor e de sua superioridade tanto numérica quanto de autoridade.

- Não, senhor! Eu já disse que sou trabalhador e estudo à noite. Nunca cometi nenhum delito! – quem falava por mim era aquele terror que fazia me faltar o ar e deixava meu coração disparado pulsando dentro do peito.

Constatando que o que dizíamos era verdade, havia algo de decepcionante na expressão daqueles rostos carrancudos e daquela pose toda. Pouco antes de nos liberar, ele chegou bem junto ao meu ouvido e sussurrou.

- Não tem medo de andar tão tarde da noite por aí com essa bundona gostosa dando mole?

- Bastante! – respondi. Ele sorriu, deu mais uma pancadinha sutil nos meus glúteos com o cassetete e ficou nos observando sair apressados dali.

- Filhos de umas putas! – exclamou meu colega, assim que estávamos a uma distância segura daqueles policiais.

- Fora aquele meio barrigudo, os outros até que eram bem interessantes! – confessou o outro que, como eu, era um homossexual discreto mas ligado em machos exalando testosterona.

- Estou tremendo até agora! – admiti. – Quase me mijo todo quando aquele cara começou a me ameaçar com aquele porrete. – emendei.

- O safado estava é se aproveitando do seu bundão, isso sim! – disse o homossexual.

- Até quando são humilhados vocês não conseguem tirar os homens das suas cabeças ocas! – exclamou o outro, sentindo-se ultrajado pela abordagem.

- Engano seu! Eu estou puto com o que aquele atrevido fez comigo. Mas, o que você queria? Que eu começasse a protestar, a discutir com ele? Seria muita tolice da minha parte, eles iam nos ferrar na certa. Além do mais, eles estavam cumprindo com sua obrigação. Pode não ter sido da maneira mais gentil, mas não os censuro por abordarem bandidos de forma truculenta. – afirmei. Meu colega não concordou com a minha opinião e, alegando não sermos bandidos, não devíamos ter sido abordados daquela maneira. – E como eles vão saber quem é e quem não é bandido? – questionei.

No entanto, a imagem do rosto daquele policial não saiu da minha mente. Semanas depois, eu ainda me lembrava de cada detalhe da expressão daquele rosto, e me questionava o porquê disso.

A segunda vez que o vi foi num sábado no início da tarde. Ele e mais dois colegas, que também estiveram presentes naquela abordagem, chegavam ao batalhão da PM que havia na região e, que fazia parte do meu caminho quando tinha que ir a um supermercado onde costumávamos fazer compras. À luz do dia, deu para ver que eram homens bem interessantes, inclusive aquele que naquela noite me pareceu meio barrigudinho, o que a claridade permitiu constatar que ele estava apenas ligeiramente acima do peso e, aliado a seus músculos, o transformava num sujeito bem intimidador, tipo aqueles lutadores de MMA, sujeitos truculentos e donos de uma força descomunal. Já o que tinha passado o cassetete na minha bunda era puro músculo transbordando do uniforme e, o que o nervosismo da abordagem nem me fez notar, foi que entre suas coxas grossas havia um tremendo de um cacete que se amoldava junto à sua coxa direita dentro da calça bem ajustada. Eles estavam falantes e sorrindo, o que desmistificou aquela imagem de carrancudos que eu havia guardado na mente. Estavam tão entretidos na conversa que nem notaram a minha presença e, muito menos, me reconheceram. Não que eu esperasse por isso, pois era óbvio que eles deviam ver inúmeros rostos durante seu trabalho e, certamente não se recordariam de três sujeitos que abordaram rotineiramente e, que não tinham cometido nada de excepcional. Se a fisionomia dele já não me saia da cabeça antes desse segundo encontro, agora é que ela se fixou definitivamente em mim. Meu questionamento quanto a isso continuava tão velado quanto antes.

No terceiro encontro, tão por acaso quanto o anterior, ele me reconheceu. Foi quando eu cheguei correndo à plataforma do metrô na estação que embarcava para seguir rumo à faculdade. Eu havia saído um pouco tarde do hospital e me atrasara um pouco, o que me faria chegar também atrasado à primeira aula. Só me dei conta da presença dele quando o vi me encarando. Pela expressão de seu rosto, notei que estava tentando se lembrar de onde tinha me visto. Não sei o que me levou a sorrir para ele, mas, de alguma forma, funcionou, pois não pareceu não só se lembrar daquela noite como me devolveu o sorriso. Àquela hora o metrô estava lotado, mesmo assim consegui me sentar depois de verificar se não havia ninguém ao redor com mais precisão daquele assento vago do que eu. Assim que me acomodei, ele deu um jeito de se aproximar, postando-se bem diante de mim e do meu olhar que, imediatamente, se dirigiu para aquela coisa roliça que chamava a atenção entre suas pernas. Ele carregava uma mochila que, devido ao vagão lotado, se transformou num trambolho incômodo e desajeitado. Ofereci-me para segurá-la. Ele aceitou me lançando um sorriso econômico, e depositou a mochila pesada sobre as minhas pernas. Eu não percorria mais do que cinco estações para chegar ao meu destino e, assim que ela se aproximava, me levantei e lhe devolvi o trambolho. Antes de descer, tive tempo de ver o nome bordado acima do bolso de sua camisa, Ribeiro. Ele desceu na mesma estação, me agradeceu a gentileza e desapareceu na multidão.

Fiquei meses sem revê-lo. Até já quase nem me lembrava dele, entre tantos afazeres e preocupações que priorizavam meus pensamentos. No entanto, um fato fez nossos caminhos se cruzarem mais uma vez. Era uma noite de garoa fina, eu voltava da faculdade já perto da meia-noite, andava apressado não só pela garoa acompanhada de um vento gelado que me fustigava o corpo sem um agasalho, como pelo temor de passar por aquele trecho mal frequentado e iluminado pelo qual tinha obrigatoriamente que cruzar. Ao passar por dois sujeitos, pivetes ainda, que estavam na calçada oposta, meu sexto sentido me fez perceber que estava caminhando direto para uma emboscada. Os pivetes atravessaram a rua e caminharam apressados atrás de mim. Não cheguei a percorrer trinta metros quando, de repente, mais dois sujeitos como que brotaram de um daqueles buracos que havia ao longo do muro que cercava os terrenos abandonados. Mesmo à pouca luz, as lâminas de duas facas brilharam ameaçadoras diante dos meus olhos.

- Perdeu! – berrou um deles, bloqueando minha passagem e, dando tempo para que os outros dois pivetes se aproximassem pelas minhas costas. – Passa a mochila! – berrou o outro. Fiz o que mandaram e sem encará-los tentei seguir meu caminho.

- Vai para onde, seu merda? – perguntou o primeiro. – Cadê o celular? Só tem isso de grana, seu puto! Passa o cartão do banco, filho da puta, se não quiser que eu te fure aqui mesmo.

- Não estou com o celular e, não tenho cartão de banco! – balbuciei apavorado. A primeira parte da resposta era mentira, o celular estava num bolso interno da minha calça e, eu torci para ele não emitir nenhum som que me contradissesse; enquanto a segunda parte da resposta era a pura verdade.

- Cê tá mentindo, viado! Tá a fim de ver suas tripas saindo pelo furo que vou fazer na tua barriga, seu merda? – ele gritava tão próximo do meu rosto que deu para sentir o bafo daquela boca podre.

- É verdade, juro! Eu já entreguei tudo que tinha. – gaguejei.

- Tudo o quê? Não tem nada que presta nessa merda dessa mochila! – retrucou, ao constatar que nada daquilo que estava nela lhe interessava.

Algo me dizia que ele ia cumprir a ameaça que me fizera, só de raiva por não obter nenhum lucro com aquele assalto. Sem pensar nas consequências, comecei a correr feito um louco ensandecido gritando por socorro, tendo os quatro no meu encalço. Ao chegar na esquina e, antes de virar o quarteirão, uma viatura policial notou o que estava acontecendo e os policiais que saltaram dela partiram para cima dos sujeitos. A ordem de parar foi totalmente ignorada por eles, o que resultou em dois disparos. Logo escutei os gritos. Um dos pivetes e um dos homens foram atingidos pelos disparos e caíram no chão se contorcendo. Os outros dois desistiram da fuga quando perceberam que provavelmente também seriam alvejados. Eu fui o primeiro a parar e erguer os braços, pois não sabia o que podia estar se passando de suspeitas na cabeça daqueles policiais. Coincidentemente, eram os mesmos quatro policiais que haviam me abordado alguns meses antes. Não só o tenente do encontro no metrô como outro deles me reconheceu, assim que me viu mais de perto e com o pavor estampado na cara lívida e aliviada por vê-los.

- Ai, meu Deus! Ele disse que ia me furar com aquela faca! – exclamei atordoado, assim que o policial se aproximou de mim e, noutro gesto desatinado, eu o abracei com força. Subitamente, aquele rosto anguloso, onde uma barba bem escanhoada não escondia a hirsutez, e aquele corpão másculo que parecia ganhar um reforço em sua solidez com o uniforme, me pareceram o mais seguro dos abrigos. Dentre todos ele tinha a aparência mais sólida e viril, por isso meu ato impensado me levou a abraça-lo com força, como se naquele tronco vigoroso eu estivesse tão seguro quanto na minha cama. Soltei-o devagar quando me dei conta da cena que estava protagonizando. Porém, o primeiro-sargento Jonas parecia não ter pressa alguma em soltar meu corpo de seus braços, o que acabou por me deixar ainda mais sem graça.

- Calma! Está tudo bem agora. – a voz grave dele me incutiu a serenidade e me fez recobrar do desatino. Soltei-o imediatamente e pedi desculpas. Ele sorriu discretamente.

- Roubaram alguma coisa de você? – perguntou o tenente Ribeiro, que também esboçou um sorriso discreto quando me viu abraçado ao colega.

Enquanto os outros dois bandidos levavam uma bela surra dos outros policiais, eu fazia meu relato numa voz esbaforida. Outra viatura veio reforçar a captura dos meliantes e, todos fomos parar na delegacia do bairro, onde os policiais deram sua versão sobre o ocorrido e sobre os tiros disparados em legítima defesa, depois de apresentarem uma arma supostamente usada por um dos bandidos contra eles. O delegado ouviu a estória, depois de ouvir a minha versão sobre o assalto. Notei que ele estava acostumado a ouvir versões pouco ortodoxas contadas pela polícia, mas que serviam para enquadrar os criminosos naquilo que depois, a justiça não os imputaria nesse país onde a marginalidade regia todos os níveis da sociedade. Perguntado se a versão apresentada pelos policiais correspondia ao que tinha se passado comigo, eu apenas acenei positivamente com a cabeça. Numa consulta rápida à tela do celular, vi que passava das duas da madrugada. Meu dia seguinte seria ainda mais cansativo com aquela falta de sono.

- Vem, vamos te levar para casa! – disse o tenente, quando deixamos a delegacia. Eu tinha “n” motivos para aceitar a carona, mas me contentei em justifica-la para mim mesmo com o receio de caminhar àquela hora pelas ruas perigosas da cidade.

- Obrigado! Muito obrigado por tudo! – agradeci, quando a viatura estacionou diante do portão de casa.

- Você está bem? – perguntou o tenente quando desci do carro. – Tem certeza? Vai ficar bem mesmo? – insistiu ante a minha resposta positiva, como se quisesse prolongar aquela despedida. Eu não estava bem e, nem ficaria bem. Aquele assalto ia me atormentar e me deixar inseguro por meses. No entanto, era a resposta certa a se dizer naquele momento.

- Procure não andar por aí a essas horas. – aconselhou o policial a quem eu havia me agarrado quando fui salvo por eles.

- Não tenho outra opção! Volto para casa da faculdade nesse horário e tenho que percorrer necessariamente esse caminho. – esclareci.

- Vamos reforçar as rondas por aqui por volta desse horário, ok? – garantiu o tenente Ribeiro. O sorriso que lhe dirigi carregava mais do que um mero agradecimento, ele notou isso no clima que se instalou quando nossos olhares se cruzaram.

Desde aquele dia passei a evitar a volta para casa sem carona. Ao contar o ocorrido para alguns colegas da faculdade, não faltou quem seguia mais ou menos na mesma direção que se propusesse a me dar carona. Também notei que as rondas policiais haviam sido realmente intensificadas, pois vira e mexe, cruzava com alguma viatura e, sempre procurava me certificar se eram os mesmos policiais que me acudiram que estavam na viatura. Quando os reconhecia, acenava para eles e ganhava um breve acionamento da sirene como resposta.

Após a formatura da faculdade, não quis mais continuar trabalhando como técnico de enfermagem no hospital privado. Como não havia vagas no quadro de enfermeiros graduados, resolvi pedir demissão. Intensifiquei meus plantões no hospital da PM e comecei a enviar currículos para outros hospitais. No hospital da PM fui imediatamente promovido e passei a chefiar a equipe de enfermagem do Pronto Socorro e, nos dias livres, cobria colegas de outros setores que precisavam fazer alguma troca na escala, o que me ajudava financeiramente a compensar parte do que deixei de ganhar depois da demissão.

O plantão no Pronto Socorro raramente trazia algum caso mais grave, por estar dirigido aos membros da PM e seus familiares e não ser um Pronto Socorro público de referência. Mas, naquela tarde de sexta-feira, pouco antes do fim do expediente, a coisa explodiu. Três policiais em duas ocorrências distintas, foram baleados num confronto com criminosos. O médico plantonista prestava atendimento ao primeiro caso de um soldado baleado na coxa quando os outros dois casos entraram, ainda mais urgentes que o primeiro. Assim que me desloquei para receber os feridos, precisei respirar fundo e ignorar a vertigem que se apoderou de mim quando vi que o tenente Ribeiro era o caso mais grave dos dois. Ele havia sido alvejado no abdômen e no ombro, perdera muito sangue pelo ferimento de saída do projétil na lateral da barriga e, segundo os colegas que o trouxeram, estava inconsciente havia mais de dez minutos. A atuação do médico plantonista e da equipe foi rápida, assim como seu envio para o centro cirúrgico para uma cirurgia de urgência. Ao entrega-lo à porta do centro-cirúrgico para o colega que o recepcionou, ainda segurando sua mão, fui tomado por um sentimento tão intenso, como se aquele homem que estava ali naquela maca fosse alguém que fizesse parte da minha vida, uma parte mais importante do que eu podia imaginar. Tive que disfarçar as lágrimas enquanto voltava para o meu setor, com o peito oprimido por uma dor sem tamanho. Não tive sossego enquanto não soube que ele havia saído da cirurgia, que seu estado continuava bastante crítico, que ficaria na UTI até seu quadro se estabilizar. Embora não pudesse fazer nada por ele, permaneci no hospital por toda a noite, ligando de tempos em tempos para a colega que estava na UTI para ter notícias dele.

- Você o conhece? – perguntou ela, quando já devia estar de saco cheio das minhas ligações

- Sim, somos amigos! – não sei porque menti, talvez por achar que assim ela me deixaria continuar ligando. O fato é que a recuperação dele se tornara a coisa mais importante para mim naquele momento. Eu precisava que ele voltasse a me dirigir um daqueles seus sorrisos, para que minha vida continuasse a fazer sentido.

- Então sobe aqui quando quiser, assim você vê com seus próprios olhos como ele está! – devolveu ela. Em menos de cinco minutos eu estava ao lado do leito dele, após ter dado um abraço apertado nela e um beijo em suas bochechas que a deixaram desconcertada com tanto carinho.

O tenente Ribeiro estava pálido, seu rosto apático estava longe daquele enérgico que eu conhecia. Voltei a pegar a mão dele entre as minhas, não houve reação, ela estava fria e flácida. Voltei a sentir as lágrimas descendo pelo rosto, e desviei o olhar quando um enfermeiro veio aplicar algumas medicações no tubo que entrava num de seus braços, para não dar vexame, ou ter que dar explicações que nem eu mesmo tinha como dar. Não deixei de visita-lo na UTI um único dia sequer, diversas vezes, tantas vezes quanto me permitiam as escapadas do meu setor. Fora me atualizar sobre seu estado, eu não podia fazer mais nada além de segurar sua mão por aquele breve período que ficava ao lado do leito, observando aquele homem mais detalhadamente. O peito peludo que subia e descia com a respiração dele, reforçada pelo ventilador pulmonar ao qual estava entubado. Apesar da bandagem que cobria parte de seu ombro esquerdo e o bíceps daquele lado, eles continuavam lindos e sedutoramente atraentes. Sob o lençol caído sobre a parte inferior de seu corpo, notava-se a protuberância de seu sexo, mesmo flácido e, de onde saía a sonda uretral presa a um coletor amarrado à cama. Eu o achava cada vez mais lindo, cada visita reforçava essa sensação. Pequenos detalhes como alguns pelos sobre suas falanges, o tamanho dos pés com um dedão bem gorduchinho, as panturrilhas musculosas como as de um jogador de futebol, tudo me seduzia naquele corpo másculo. Fazia mais de uma semana que eu o encontrava inconsciente sobre aquele leito, a garantia que o plantonista me dava que ele estava estável não me dizia nada, pois eu só pensava nele abrindo aqueles olhos e voltando a ser o tenente Ribeiro que passara o cassetete na minha bunda, o tenente Ribeiro que me acudiu naquele assalto, o tenente Ribeiro que me deixou no portão de casa, são e salvo, ao me dar uma carona da delegacia até em casa naquela fatídica madrugada.

Eu chegava ao hospital pelo menos uma hora antes de assumir meu plantão, correndo direto para a UTI para saber dele. Foi assim naquela manhã, quando o sol passava pelas paletas da persiana que estava próxima ao leito dele e se espalhava sobre seu corpo. Assim que minha mão se fechou sobre a dele, senti um aperto forte agarrando-a com determinação, meu coração quase saltou pela boca. Eu pronunciei seu nome com cautela para não me mostrar um completo descontrolado. Ele abriu os olhos, me encarou, tentou balbuciar alguma coisa que o tubo entrando em sua boca tornou ininteligível e, esboçou o mais lindo e encanador sorriso torto que eu já tinha visto. As lágrimas que desciam pelo meu rosto pingavam sobre o lençol, e eu me reencontrei com a paz que estava perdida desde que ele deu entrada no hospital.

- Doutor! O paciente acaba de acordar. – avisei, fazendo com que o médico viesse ligeiro até a beira do leito.

- Ótimo! Tenha calma, não se agite, sei que esse tubo na garganta incomoda, mas vamos ver se já podemos te livrar deles, ok? – disse, dirigindo-se ao Ribeiro. Ele pareceu não o ouvir, e continuava tentando agitar os braços para se livrar daquela coisa. Como se não houvesse mais ninguém ali, eu comecei a acariciar seus braços e seu peito procurando acalmá-lo. Não podia ter dado mais bandeira do que essa. O que faria um homem acariciar outro daquela maneira, tão meiga e carinhosa, que não uma paixão avassaladora?

Algumas horas depois, com a chegada dos resultados de alguns exames, o Ribeiro que, pelo prontuário descobri ser seu sobrenome e, que se chamava Paulo Roberto, pode ser extubado. Os sedativos que controlavam sua agitação puderam ser suspensos e, ele finalmente despertou. A troca de plantão com o colega da UTI naquele dia foi providencial, pois pude ficar ao lado dele boa parte do tempo.

- Você? – balbuciou ele, comprimindo os olhos com a luminosidade que os atingia e esboçando algo parecido com um sorriso de alívio.

- Como está se sentindo? – perguntei, enquanto sentia sua mão apertando a minha.

- Desorientado, com a boca seca e feliz por te ver. – respondeu. Por pouco não me inclino em sua direção para colocar minha boca naqueles lábios.

- Você precisou fazer uma cirurgia de urgência, ficou alguns dias inconsciente, mas está melhorando dia-a-dia, o que é ótimo. Também estou feliz por você ter acordado. – devolvi, contentando-me em acariciar aquela mão quente e pesada. – Vou pegar um pouco de água para você tomar. – emendei.

- Não! Não saia de perto de mim. Deixe-me olhar para você, meu anjo da guarda! Você é lindo, sabia? – sussurrou, com a voz um pouco rouca devido ao tubo que estivera alojado em sua garganta durante aqueles dias.

- Ih! Acho que vou precisar chamar o médico outra vez, você começou a delirar. – devolvi sorrindo. Ele retribuiu, sem dizer nada, apertou minha mão.

No dia seguinte o Paulo foi transferido para um quarto, pois dispensava cuidados mais intensivos. Eu passava por lá algumas vezes durante o dia e, para minha alegria, ele se recuperava numa velocidade espantosa. Alguns dias depois, já reclamava de eu ter demorado a aparecer, fazia comentários sobre a falta de carícias que sentia das minhas mãos macias, olhava descaradamente para a minha bunda, reclamava por não ser eu o enfermeiro a trocar seus curativos e, na maior cara de pau, sugeria que sua recuperação seria ainda mais rápida se eu passasse a noite deitado ao seu lado.

- Para um estropiado você está bem saidinho! Trate de controlar essa tara toda! – devolvia eu, comemorando aqueles gracejos como um sinal de sua recuperação.

- Se eu soubesse que você seria meu enfermeiro, eu já teria dado um jeito de tomar um tiro antes. – brincou.

- Não diga bobagens! Que besteira é essa? Você deu entrada no hospital em estado gravíssimo, sabia?

- Você ficou preocupado?

- É obvio!

- A gente mal se conhecia, por que você ficou preocupado comigo?

- Ora, por que sim. A gente se preocupa quando um paciente chega em estado grave. – eu não olhei para ele ao responder, eu sabia que estava corado, pois meu rosto parecia estar queimando.

- Só por isso?

- Você acha só?

- Pensei que talvez você estivesse interessado em mim, depois daquela noite na delegacia. Eu me fixei uma meta naquele dia, conquistar você e colocar meu pau nessa bundinha tesuda. – afirmou.

- Deixa de ser atrevido! Não te dei essa confiança!

- Não precisou, eu vejo no seu olhar que me curte. Daí o porquê da sua preocupação toda comigo. – afirmou, ciente da verdade.

- Até pode ser. Talvez!

- Eu sabia! – exclamou com um risinho petulante.

- Sabe de nada! Agora trate de ficar parado para que possamos trocar esse curativo. – devolvi, puxando num movimento abrupto o adesivo que cobria o curativo e, arrancando alguns daqueles pelos sensuais que revestiam seu abdômen.

- Ai! Isso dói! Está querendo terminar o serviço que o tiro não conseguiu?

- Isso é para você deixar de saliências, e se lembrar que continua a ser um estropiado!

- Confessa para mim que nesse tempo que cuidou de mim e, em que estive inconsciente, você andou espiando meu pau. – continuou, atrevido.

- O que é que eu ia querer com essa mixaria? Vou deixar outro enfermeiro fazer as trocas de curativos se você não parar de falar besteiras. – ameacei.

- Como você sabe que é mixaria, sem ter dado uma espiada?

- Chega dessa conversa boba!

- Você espiou e viu que não é mixaria, confessa! Aposto que gostou do que viu, por isso está todo nervosinho agora que te peguei. – asseverou.

- Pegou o quê? Acha que vou me abalar só porque vi o pinto de um homem? Estou cansado de ver isso na minha profissão. Não ia ser essa coisa aí que ia me abalar? – desdenhei. Ele riu.

- Foi só profissionalmente que você viu o pinto de um homem, ou já sentiu um em você?

- Deixa de ser enxerido! Que liberdades são essas?

- Responde, vai! Você é um tesão de cara, vai me dizer que nunca te deram uma cantada, que nunca tentaram nada com você? Sabia que desde a primeira vez que te vi fiquei a fim de você? E, não fui só eu, meus colegas não pararam de falar do quanto você é gostoso. Por isso, duvido que ninguém tenha te assediado antes e te levado para cama. – sentenciou.

- Deram! Mas, nunca deixei rolar nada! – respondi. – Ainda sou virgem! – emendei, encarando-o propositalmente para ver qual seria sua reação ante essa revelação. Não sei o que me fez confessar algo tão íntimo naquele momento. Hoje sei que foi para atiçar o desejo daquele macho que não me saía mais da cabeça e, com o qual eu queria estar pelo resto da minha vida.

- Virgem? Tipo assim, virgem de tudo? Completamente virgem? – questionou, com o tesão subitamente despertado pela confissão.

- Que eu saiba só tem um tipo de virgindade! Ou você conhece outras?

- Quer dizer que o cara para quem você der uma chance vai ser o felizardo a te ganhar intacto? A mixaria está ficando dura aqui embaixo, quer conferir? – provocou com um risinho sarcástico.

- Bobão! – exclamei, devolvendo-lhe o sorriso. E, pensando comigo mesmo, existe uma grande probabilidade de você ser esse felizardo, pois nunca um homem mexeu tanto comigo como você.

Após a alta hospitalar o Paulo ainda precisava de cuidados com a troca do curativo onde havia sido instalado o dreno em sua barriga. Como ele morava numa edícula de quatro cômodos nos fundos da casa de um irmão e sua cunhada, eu ia diariamente cuidar dele. Foi a partir daí que começou o que se podia classificar de início como uma paquera, depois, como algo parecido com um namoro, pois começaram a rolar beijos e trocas de carícias carregadas de significado. Estávamos ligados um ao outro por um sentimento que crescia à medida que o tempo passava e ele voltava ao pleno vigor de sua força e condição física. Mesmo assim, nossos encontros ainda eram fortuitos. O fato de eu tê-lo apresentado à minha família não teve o objetivo de firmar um compromisso mais sério, foi só uma maneira de deixa-lo ver como era simples o meu cotidiano. Embora saíssemos juntos algumas vezes, não tínhamos a obrigatoriedade de fazê-lo constantemente. Era estranho ver como o entrosamento entre dois homens acontecia muito mais vagarosa e cautelosamente do que num casal homem-mulher, onde um único encontro, mesmo que ligeiro, podia acabar na cama poucas horas depois. Talvez até fosse assim com outros gays que procuram uma trepada descompromissada, mas não era o que estava acontecendo conosco. Havia o desejo latente por parte de ambos, mas creio que tínhamos algo mais duradouro em mente em relação às expectativas de um relacionamento futuro e, isso nos acautelava e fazia a progressão ser mais lenta, porém firme.

Com um vínculo remanescente com alguns colegas da faculdade, fui a uma balada onde rolaria um sertanejo universitário até determinada hora e, depois, um DJ que fazia um tremendo sucesso entre a galera jovem. A casa de shows estava lotada; à porta, alguns interessados que não haviam adquirido os ingressos antecipadamente, disputavam a preços estratosféricos os ingressos com cambistas. A turma com a qual eu estava tinha conseguido uma mesa privilegiada próxima ao palco e à pista de dança. Havia tempos que eu não me sentia tão feliz, minha vida parecia estar sendo impulsionada por um vento benfazejo que só me proporcionava alegrias, tanto em relação ao Paulo quanto profissionalmente. Como aquela era uma saída para matar as saudades do tempo de faculdade, não cheguei a mencionar com o Paulo que iria à balada. Por volta das duas da madrugada, findo o show da banda que tocava o sertanejo universitário, começaram a rolar incríveis sequências dançantes que o DJ ia soltando e, que deixavam a galera eletrizada. Eu sempre gostei de dançar, tinha feito alguns cursos e, sem modéstia, tinha um bom gingado numa pista de dança. Sabendo disso, muitas amigas me disputavam como parceiro e, naquela noite não foi diferente, eu mal encontrava tempo de voltar à mesa, tomar uma água para me refrescar e já partia com a próxima para a pista de dança lotada. Uma amiga em particular, também havia feito balé, dança contemporânea e, paralelo à sua profissão ainda mantinha uma forte ligação com a dança. De repente, estávamos eu e ela embalados pela música dando um show, enquanto o pessoal abria espaço e batia palmas para a performance daquele dueto tão entrosado. Eu, que era bastante tímido, comecei a me desconcentrar e, mesmo sob aplausos, deixei os holofotes que estavam sobre nós para dar um tempo e, me recuperar do cansaço de todas aquelas horas dançando.

Foi quando me dirigi ao balcão do bar que vi o Paulo, o sargento Jonas e mais outro colega deles. Quem primeiro me reconheceu foi o sargento Jonas. Sem o uniforme, com uma camiseta colada ao tronco largo e os braços musculosos transbordando dela, ele parecia ainda mais másculo e, tanto a descontração da roupa quanto seu sorriso durante a folga, davam-lhe um ar de garanhão pegador, algo que não se deixava de notar.

- Estou até agora encantado com o que acabou de fazer na pista de dança. Que corpão, hein? – disse ele, dando uma secada nas minhas nádegas dentro da calça justa.

- Olá sargento Jonas! Oi Paulo! Oi! – devolvi encabulado, olhando na direção de cada um deles.

- Oi Gabriel! Não sabia que você também viria para o show, caso contrário, poderíamos ter vindo juntos. – disse o Paulo, procurando deixar evidente que o relacionamento que os demais sabiam existir entre nós já estava mais estreitado do que eles supunham.

- Ah, é mesmo! Eu já havia me esquecido de você mencionar que foi o Gabriel quem cuidou de você enquanto estava internado. – sentenciou o Jonas.

- Fui apenas um dos enfermeiros que cuidou dele algumas vezes! – esclareci, para que não começassem a criar fantasias em sua imaginação.

- Pelo visto o que o Paulo mais gostou! Não o censuro! – retrucou o Jonas, atrevido.

Enquanto fazia meu pedido ao barman e aguardava ele trazer as bebidas, senti o Paulo me dando umas encoxadas firmes contra o balcão. Disfarcei com um sorriso meio perdido, mas entendi o recado – não se engrace com as palavras do Jonas – numa evidente demonstração de ciúmes e posse. Não sei se os outros dois sacaram o lance, mas passei a controlar a espontaneidade dos sorrisos que dirigia a eles.

- O cano da sua arma está fazendo pressão contra as minhas coxas! – exclamei disfarçadamente para o Paulo.

- Não estou com nenhuma arma! – devolveu ele, dando um risinho descarado. Eu engoli em seco, nem me atrevi a continuar a conversa. – Voltamos juntos para casa? Eu te dou uma carona, está bem assim? – emendou, ao perceber como eu tinha ficado desconcertado.

- OK! Estou naquela mesa com uns amigos, a hora que você quiser ir, é só me avisar. – respondi, apontando para onde estava com a galera. Eu sabia que minha noite terminaria dali a pouco, só o tempo de ele dar uma disfarçada e vir ao meu encalço. Não deu outra! Três quartos de hora depois, ele veio me chamar para irmos embora.

Ele rodou uns quinze minutos antes de voltar a conversar comigo. Dava para notar que estava armando alguma coisa e, pesando os prós e contras do que intentava fazer.

- Você e a garota arrasaram na pista de dança. Vocês ensaiaram aquilo tudo? – começou, quebrando o silêncio.

- Obrigado! Acho que estávamos inspirados, só isso.

- Foi coisa de profissional. Você estudou dança?

- Frequentei alguns cursos, mas só por diversão. Minha amiga, no entanto, está num nível bem mais profissional. – esclareci.

- Dançando sua bunda fica ainda mais gostosa!

- Será que você só consegue reparar nela? Fico constrangido quando você faz menção ao fato de eu ser bundudo. Já penei bastante por conta disso, sabia? – devolvi, achando que tudo o que lhe interessava em mim era esse detalhe anatômico.

- Eu e todo mundo que estava lá! Não faltou quem afirmasse o desejo de meter uma pica no seu rabo! – retrucou.

- Não seja exagerado! Só podem ter sido aqueles seus amigos, um bando de tarados!

- Eles também, não nego. Mas, teve outros caras te secando. Fico com ciúmes, sabia?

- De alguém me ver dançando?

- Não! De saber que querem te foder!

- Posso te pedir um favor? Não fica falando isso o tempo todo, eu sou mais do que uma bunda volumosa, e gostaria de ser reconhecido pelas minhas outras qualidades.

- Você mexe muito comigo! Gosto de verdade de você, e queria te namorar, ou qualquer coisa do tipo, seja lá que nome se pode dar a isso entre dois caras.

- Também gosto muito de você! – afirmei, no mesmo tempo em constatei que ele não estava me levando para casa. – Aonde está me levando? É tarde!

- Para a minha casa! Quero ficar sozinho com você. – meu coração disparou. Talvez fosse mesmo hora de deixar nosso envolvimento assumir outra perspectiva.

Quando passamos pela casa da frente, do irmão e da cunhada dele, percebi que não estavam em casa, o que a ausência do carro na garagem já sugeria. Minhas mãos estavam suadas e, meu corpo tremia da cabeça aos pés, cada vez que ele olhava para mim e me dirigia aquele sorriso enigmático vertendo cobiça.

- Enfim sós! Você e eu, e infinitas possibilidades de nos conhecermos a fundo. O que acha disso? – Esse – nos conhecermos a fundo – era o que ardia há tempos dentro de nós, e me fazia querer aquele homem como nunca quis outra coisa na vida.

- Bom! – balbuciei, pois ele cingia sensualmente minha cintura com suas mãos.

- Só bom?

- Não! Maravilhoso! – ele sorriu satisfeito.

Deixei-o me despir na morosidade que lhe dava tempo de examinar cada parte do meu corpo que ia ficando exposta. Era algo aflitivo e, simultaneamente, excitante. Enquanto tirava minha camiseta pela cabeça, seus lábios úmidos tocaram nos meus. Com o tronco nu, veio o beijo avassalador que fez minhas pernas ficarem bambas e minha boca receptiva àquela língua que entrava em mim sorrateira e gananciosa. Apoiei minhas mãos sobre seus ombros e deixei que me puxasse para junto dele. O beijo se prolongou até que nos faltasse o ar. Depois de me encarar por alguns minutos, outros beijos úmidos foram descendo pelo meu pescoço, tocaram meus ombros que ele acariciava, desceram até os mamilos onde meus biquinhos enrijecidos mostravam o quanto aqueles toques estavam mexendo comigo.

- Com tesão? – sussurrou ele

- Muito! – respondi, quase gemendo.

- Isso é só o começo! Vou te deixar maluco, pedindo para eu entrar em você. – continuou a sussurrar. Meu cuzinho se contorcendo era a prova de que ele estava conseguindo seu intento.

Após minha calça e minha cueca caírem aos meus pés, aquelas mãos vigorosas se fecharam sobre as minhas nádegas, agarrando-as e amassando minhas carnes, não consegui mais esconder meu pau duro, outro traidor daquilo que eu estava me deixando doido. Corei quando ele conferiu minha pica e deu uma risadinha safada.

- Agora acredito que você é mesmo virgem. – balbuciou.

- Você duvidava?

- Um pouco, afinal quantos anos você tem, uns 24? Mas, vendo toda essa timidez agora, que por sinal é um tesão, sei que falou a verdade.

- Não costumo mentir! E, nem teria razão para isso. E, qual é o problema de eu ser virgem aos 24 anos?

- É que saber que quem estamos a fim de enrabar é virgem, deixa tudo mais especial. Machos se ligam muito em serem o primeiro a colocar o cacete numa fendinha. – afirmou. – E, a tua, é deliciosamente estreita. – emendou, no mesmo instante em que soltei um gemidinho por sentir seu dedo entrando no meu cu.

Minhas mãos tomaram sua cabeça e eu colei minha boca na dele, tão afobado que já não disfarçava o quanto eu o queria. Instantes depois, estávamos na cama, eu completamente nu, ele sem camisa. De bruços, eu tinha minha bunda explorada por suas mãos cobiçosas, vagando sobre a pele branca, abrindo meu reguinho profundo e lisinho para ter minha rosquinha rosada exposta e disponível para sua língua assanhada, que a lambia num tesão incontrolável. A iminência de ser possuído por aquele macho também fazia arder o tesão que estava no meu corpo trêmulo. Vez ou outra, ele enfiava um, dois dedos no meu cu e os movimentava em círculos lá dentro, sobre as vilosidades anais que se tornavam cada vez mais turgidas à medida que meu cu ansiava pelo caralho dele. Eu gemia excitado, praticamente suplicando por aquela rola dura que se esboçava dentro da calça dele. Ela devia estar incomodando o Paulo, sem espaço para se expandir, pois ele se pôs em pé ao lado da cama e começou a se livrar da calça. Ainda se equilibrando sobre um dos pés para que a calça e a cueca passassem, eu levei minha mão até a benga pesada e cabeçuda que balançava sensualmente entre suas coxas peludas. Ela e aquele sacão formavam um conjunto viril e atraente, e minha mão não se conteve enquanto não afaguei e segurei aquela rola latejante. Coloquei-a na boca tão logo o Paulo se estabilizou sobre ambos os pés, abrindo sutilmente as pernas para que eu pudesse alcançar seus genitais. A glande já estava melada quando terminei de retrair o prepúcio, exalando um perfume viciante. Da uretra calibrosa escorreu um fio viscoso e translúcido que aparei com a ponta da língua antes de suga-lo. Um gemido longo escapou dos lábios cerrados do Paulo, quando me sentiu sorvendo e chupando sua cabeçorra estufada. Com ambas as mãos ele agarrou meus cabelos, forçou minha cabeça para dentro de sua virilha, enfiando meu rosto contra aqueles pentelhos densos e sedosos. A pica foi parar na minha goela, me sufocando e me fazendo espalmar as mãos contra suas coxas na tentativa de fazê-lo tirar aquela verga grossa da minha garganta. Tossi antes de conseguir recobrar a respiração assim que a rola saiu da minha boca, mas foi por apenas alguns segundos, pois ele tornou a enfiar o cacetão todo na minha garganta, enquanto o pré-gozo não parava de escorrer, me brindando com seu sabor másculo.

- Chupa minha pica, chupa, meu virgenzinho da bunda gostosa! – grunhiu ele, cheio de tesão. Ele nem precisava pedir, eu ansiava por esse momento desde há muito.

Não sei quanto tempo fiquei lambendo, mordiscando e chupando aquele cacete, o sacão macio com seus testículos enormes e ligeiramente alongados, que conferiam uma aparência viril àquele escroto gigantesco, quase taurino. Por algumas vezes ele tirou rapidamente o cacetão da minha boca para não ejacular o gozo que estava ameaçando jorrar. Quando o Paulo soltou o peso de seu corpo sobre o meu, me encarou com um olhar que eu nunca tinha visto antes em seu rosto e que, ao mesmo tempo, me fez estremecer, eu comecei a me entregar enquanto ele me enlaçava cada vez mais vigorosamente em seus braços e roçava a benga ao longo do meu rego. A glande parou exatamente sobre a minha rosquinha. Eu segurei a respiração, meu corpo tremia. Senti a primeira forçada na porta do cu e as pregas se distendendo. Gemi. Veio a segunda, mais bruta, mais incisiva. Gemi álacre. Inspirei fundo, os esfíncteres relaxaram e o Paulo meteu o caralhão no meu cuzinho relaxado fazendo-o atolar na maciez morna e úmida. Eu gritei.

- Ahhhh, Paulo! – foi inevitável, por mais que eu me controlasse, deixar a dor que acabara de arrebentar minhas pregas aflorar nos meus lábios.

- A mixaria te machucou? – perguntou ele, ávido por continuar enfiando sua pica em mim.

- Então era isso que você estava querendo, me provar o quão dotado você é? Está me dando uma lição por ter desdenhado do seu pau, é só isso, não é? – devolvi, atormentado pela dúvida recente de que ele talvez só quisesse me mostrar do que era capaz.

- É o que eu devia ter feito no dia em que você fez o comentário, mas agora eu só penso em te fazer todinho meu, seja com a mixaria ou não. – retrucou ele.

- Você é um bruto, sabia? Pensei que gostasse de mim, e não que estava a fim de me dar uma lição. – afirmei.

- Eu não gosto de você, eu te amo, seu tesudo! Ou você achou que eu não sabia o quanto você estava impressionado com o meu pau enquanto cuidava de mim naquele hospital. Acha que eu não percebia com que cuidado e delicadeza você o manipulava para trocar aquelas sondas que só de relembrar me causam arrepios. Confessa que sonhou com a minha rola bem aí onde ela está agora, te dando todo esse prazer em meio a dor que sei que está sentindo. – murmurou, me encarando na mais cúmplice docilidade.

- Você é mesmo um convencido! Eu tinha que desdenhar dessa estrovenga enorme para não te deixar ainda mais convencido e, para disfarçar o quanto eu te desejo. – revelei. Ele sorriu e forçou a pica num impulso vigoroso que a colocou por inteiro no meu rabo.

Ele meteu em mim de bruços, enquanto eu me agarrava ao lençol tentando aplacar aquela dor e gemia tentando dar vazão ao prazer que estava sentindo. Meteu em mim de quatro, em pé ao lado da cama, o que tornava suas estocadas ainda mais potentes e dilaceravam minhas pregas. Meteu em mim deitado de costas com ele encaixado entre as minhas pernas abertas e suspensas no ar, enquanto metia sua língua na minha boca e me roubava os mais vorazes beijos que eu só tinha realizado em sonhos. Meteu em mim me chamando de seu amor, me fazendo jurar que eu seria só dele, me socando a próstata até eu ganir de dor e prazer, completamente entregue à sua lascívia predadora. A felicidade que eu estava sentindo mal cabia em mim. Enquanto homossexual discreto, jamais imaginei que perderia minha virgindade com um macho como o Paulo e, que esse macho o faria completamente apaixonado por mim e eu por ele, na mais comungada simbiose. O gozo com o qual lambuzei meu ventre teve origem nessa felicidade que eu estava sentindo, nesse prazer que ele me proporcionava. Foi a porra mais gostosa que fluiu do meu pinto, foi, para ele, a prova de que eu estava me sentindo nas nuvens com seu desempenho.

- Esse rabão está bem contente com a minha mixaria, pelo que estou vendo! – disse, sarcástico

- Bobão! Convencido! Tarado! Amo você, seu safado petulante! – sussurrei, enquanto sentia ele me bombando o cu num vaivém potente.

- Você é meu! Vendo você naquela pista de dança hoje, eu não podia deixar passar mais nenhum minuto para te fazer meu. Precisava garantir tua posse, antes que algum gavião o fizesse antes de mim. – confessou.

- Tolinho! Você é o homem que eu sempre quis, o único! – balbuciei, ao cobrir seu rosto preso em minhas mãos com uma infinidade de beijos pousados carinhosamente.

Essa revelação, saída diretamente do meu coração, foi o gatilho que fez explodir todo o tesão acumulado nele. Duas últimas estocadas, profundas e doloridas, precederam o gozo dele. Uma abundância de jatos de porra pegajosa que iam aderindo às vilosidades da minha ampola retal, foram me encharcando com sua virilidade. O ar do quarto cheirava a sexo, à volúpia, à luxúria. Havíamos nos fundido um no outro para todo o sempre, embora naquele momento não soubéssemos disso. A única coisa da qual tínhamos certeza, é que nos amávamos.

Comecei a passar muitas noites fora de casa, mais especificamente na casa do Paulo. Ele havia aberto o jogo para o irmão e a cunhada, que me receberam de braços abertos, embora o irmão dele tenha estranhado esse repentino gosto por homens. Ambos eram muito próximos, uma afinidade que vinha desde a infância, mais do que com seus outros dois irmãos, e isso fazia com que o Paulo não guardasse segredos para com ele, revelando seu súbito interesse por mim e seu tesão pelo meu corpo, cuja necessidade de satisfazê-lo o levara a ousar nesse caminho, e ter experimentado uma gama de prazeres com os quais jamais havia sonhado.

- É de uma intensidade sem igual. O fato de você ter outro homem, particularmente um tão gostoso como o Gabriel, debaixo de você, submisso e refém das tuas vontades, faz com que você se sinta mais macho. É diferente do que estar com uma mulher, elas se amoldam naturalmente a esse papel, até por que isso lhes foi incutido desde a mais tenra idade. Já um cara, precisa ser levado a isso por meio de sedução, uma certa dominância, uma sutil coerção para que se deixe enrabar, mesmo que ele esteja afim e gostando de você. – afirmou ele ao irmão, num trecho de uma conversa entre eles que, por acaso, acabei ouvindo sem que eles o soubessem.

Enquanto com a família do Paulo tudo transcorria sem grandes problemas, com a minha as coisas não pareciam tão tranquilas, tanto que eu me mantinha calado quanto àquelas noites e dias que passava fora de casa sempre com uma desculpa que estava cada vez colando menos.

- Você nunca foi disso! Que tanto tem que ficar enfurnado na casa de amigos? Eles e suas famílias já devem estar de saco cheio de você viver aboletado por lá. – disse minha mãe quando avisei que ia passar outro fim de semana fora.

- Está na hora de você contar para seus pais o que está acontecendo entre a gente! Aliás, não sei porque você ainda se esconde atrás de um personagem que você não é! – questionou o Paulo, quando lhe contei sobre as desconfianças da minha família com essas saídas constantes.

- Por um motivo muito simples, eles não vão aceitar. Consigo até antever o dramalhão que vai ser. – respondi.

- E como você pretende resolver a questão? Eu quero que você venha morar comigo definitivamente. Sou seu macho e quero meu maridinho aqui comigo, ao alcance da minha rola quando pintar a vontade de te enrabar. – retrucou ele.

- O que você sugere que eu faça? Que simplesmente diga que estou indo morar com meu marido? – questionei.

- Sim! É mais fácil dizer a verdade de uma vez, na lata! Vai ser um auê, talvez! Mas resolve o problema. – respondeu ele, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

- Ou cria outros, não é? E, nesse caso, tenho certeza que é isso que vai acontecer. – devolvi.

- Só arriscando para saber!

Eu deixei a coisa rolando por mais alguns meses. Faltava coragem, faltava um motivo justo e plausível que eles aceitassem, enfim, faltava tudo. No entanto, a vida é cheia de surpresas e armadilhas. O Paulo e eu nunca tínhamos ido a uma boate gay. Na verdade, eu nunca me senti atraído a levantar bandeiras, a me refugiar em guetos, a procurar ambientes onde pessoas diferentes tentavam encontrar semelhantes. O que nos levou àquele lugar foi uma festa temática que nos pareceu interessante, e o ambiente seleto onde rolou a balada. O Paulo e eu estávamos ali mais na condição de espectadores, mesmo eu tendo conseguido arrastá-lo uma única vez até a pista de dança, prometendo que dançaria só para ele. Numa seleção de músicas mais lentas e românticas, com os braços enlaçados no pescoço dele, gingando e roçando meu corpo no dele, consegui vencer sua resistência.

- Você está me deixando de pau duro! – exclamou ele, quando sorri por tê-lo convencido a dançar comigo.

- Eu já percebi! Desta vez não fui ingênuo a ponto a achar que fosse sua arma que estava cutucando minha coxa. – revelei.

- Você sabe que vai ter que dar conta disso depois, não sabe? – sussurrou ele, apertando-me em seus braços para que meu gingado sensual se amoldasse ao seu corpo.

- Sei! Vou te recompensar com muito carinho por estar fazendo as minhas vontades. – sussurrei junto à sua orelha que, mordisquei e lambi só para sentir o tesão dele por mim quase se descontrolar.

- Espera só a gente chegar em casa, seu putinho! Hoje você vai gritar na minha vara, pode ter certeza! – rosnou ele, esfregando sua ereção em mim.

De repente, quase desmaiei na pista de dança. Olhando diretamente para nós dois, de uma mesa no mezanino, acompanhada do namorado e outros dois caras, minha irmã não perdia um único lance do que rolava entre o Paulo e eu.

- Disfarçadamente vamos voltar à nossa mesa, minha irmã está aqui e olhando diretamente para cá. – alertei o Paulo, quando ele notou que eu quase me desequilibrei.

- Onde? Qual o problema? Vamos até lá! Se ela está aqui é porque algum gay a trouxe, vai ser mais fácil explicar o que você está fazendo aqui. – argumentava ele, enquanto eu tentava me recuperar do baque.

- Sabe o que isso significa? Que dentro de algumas horas toda a minha família vai saber da gente. – retruquei confuso.

- Ótimo! Assim fica tudo esclarecido.

- Antes fosse tudo tão simples!

-É! Você é que está vendo complicações onde não existem! – ele tinha essa mania de encontrar soluções simples para qualquer problema.

O Paulo praticamente me arrastou até a mesa onde minha irmã estava. Fiz as apresentações bastante constrangido ante o olhar incrédulo da minha irmã e do namorado dela. Apresentei o Paulo como um amigo, o que o deixou furioso, me corrigindo e se apresentando como meu quase marido, acrescentando que só estava esperando eu me mudar definitivamente para a casa dele. Só vi os olhos da irmã ficarem tão arregalados que pareciam querer pular das órbitas.

- Oi Gabriel! – cumprimentou o namorado dela, menos espantado e gentil como sempre. – Acho que nunca te apresentei meu irmão, Fernando. E, esse é o namorado dele, Thiago. Os dois também estão prestes a oficializar o casamento deles. – revelou, o que me deixou de queixo caído, pois eu não sabia que ele tinha um irmão gay.

Terminamos a noite numa conversa animada na mesa deles. O Paulo tinha o poder de cativar as pessoas e, não foi diferente com eles, à exceção da minha irmã que permanecia com o pé atrás quanto à descoberta inusitada. Não consegui relaxar depois disso. O Paulo se queixou que eu estava com a cabeça longe quando me enfiou seu cacetão atiçado e sedento naquela noite. Eu tentava ser o mais carinhoso e atencioso possível com ele, cumprindo minha promessa de satisfazer o tesão que havia despertado nele. Mas, não conseguia me livrar dos pensamentos e do que me aguardava assim que voltasse para casa.

- Você está se esfregando por aí, em público, com machos, seu viado depravado? – berrou meu pai, assim que entrei em casa pouco depois do almoço em família de domingo.

- Calma, Alfredo! Olha a sua pressão! – alertou mais ponderada a minha mãe.

- Calma o caralho! A gente cria um filho com todo sacrifício para ele ficar se esfregando com outro macho por aí. O que é que os vizinhos vão dizer? Vão apontar para nós e cochichar – olha aquele é pai do viadinho que anda para cima e para baixo com os machos a tiracolo! – e, o que nos resta é baixar a cabeça e aceitar os falatórios e o deboche. – sentenciou meu pai.

- Você foi de uma crueldade sem tamanho, Vera! Deixasse eu contar sobre o Paulo. Mas não, você precisava dar a sua versão e se meter onde não lhe diz respeito. – afirmei, encarando minha irmã com fúria.

- Você estava enganando todo mundo! – exclamou ela, com sarcasmo.

- Eu não estava enganando ninguém! Só estava aguardando o momento certo para contar que estou apaixonado pelo Paulo e que queremos ficar juntos. – retruquei.

- Que baboseira de homem estar apaixonado por homem é essa? Isso não existe! O nome disso é putaria, seu safado pervertido! – berrou meu pai, encolerizado depois de saber de tudo pela maneira mais torpe possível.

- Mas é essa a verdade, pai! O Paulo e eu nos apaixonamos um pelo outro. Foi mais forte do que as convenções! Ele é uma pessoa integra e honesta, você vai ver quando o conhecer. – revelei, tirando coragem para enfrentá-lo nem sei de onde. Talvez da umidade máscula com a qual o Paulo havia me inseminado e, que eu ainda podia sentir aderida à minha mucosa anal.

- Você não se atreva a trazer teu macho aqui para dentro de casa! Eu boto vocês dois para correr debaixo de chicote! Onde já se viu a putaria rolar solta dentro dessa casa? – ele continuava descontrolado e incapaz de ouvir meus argumentos. Pior do que eu havia previsto, por conta do veneno destilado por minha irmã.

Só não fui posto para fora de casa naquele dia por conta do meu irmão mais velho, que intercedeu a meu favor, depois de me cumprimentar por ter sido tão corajoso a ponto de assumir uma paixão por outro homem. Ele também censurou minha irmã, assim como o próprio namorado dela, que a lembrou da condição do irmão dele. Minha mãe assumiu aquela posição de neutralidade que lhe era peculiar, sempre em cima do muro, sempre se omitindo de dar sua opinião quando esta não casava com a do meu pai, muito embora ela muitas vezes discordasse dele. O clima em casa ficou pesado desde então. Meu pai mal olhava na minha cara e, quando me dirigia a palavra, descarregava uma porção de impropérios. Minha mãe se calava e, me aconselhava a procurar uma boa moça, casar e ter filhos, que era isso que um homem decente devia fazer, repetindo as mesmas palavras que meu pai proferia.

- Eu sou um homem decente, pai e mãe! Vocês me criaram assim. Só que eu não sou aquele homem que vocês querem que eu seja! Eu nunca fui promiscuo ou fiz algo do que tivesse que me envergonhar. Eu só me apaixonei por outro cara, um homem decente, como vocês dizem. Nós queremos viver esse amor juntos, só isso. Vocês nunca olharam para mim e me enxergaram como eu sou de verdade, caso contrário, teriam percebido que eu não sou o tipo de homem que procura uma mulher para ter filhos. Eu gostaria que vocês me vissem como eu sou de verdade! Garanto que nunca fiz ou vou fazer algo que os envergonhe diante dos outros. Aliás pai, você está mais preocupado com o que os outros pensam, os vizinhos os parentes, teus amigos, do que com o que eu sinto. – argumentei.

- E o que pode ser pior ou trazer mais vergonha para essa família do que você se esfregando num homem em público? – questionou meu pai.

- Isso foi o que a Vera contou! E, está longe de ser verdade. Ela por acaso já contou que o Fernando tem um irmão que também namora outro cara? Ou isso ela deixou de contar? E vocês adoram o Fernando, não é? Sempre acharam que ele é o marido ideal para a filha de vocês. Só que na família dele também tem um filho desonrando os pais, vizinhos e parentes, segundo a crença de vocês. – afirmei.

- Não me interessa o que acontece na família dos outros! O que conta é a nossa! – retrucou meu pai.

- Então por que você acha que os outros vão se importar com o que acontece conosco? Você deve alguma coisa para os vizinhos, parentes e amigos? – questionei.

- Não seja atrevido moleque! Eu estou a um passo de acertar a mão na sua cara, não me provoque! – ameaçou meu pai.

- Deixa de drama, pai! Ridículo você ameaçar o Gabriel dessa forma, ele sempre foi muito respeitoso e amoroso com vocês, com todos nós. – censurou meu irmão, metendo-se na conversa.

Algumas semanas depois, me contrariando, o Paulo apareceu em casa. Sem se deixar intimidar pela cara amarrada do meu pai, revelou o que pretendia comigo, declarou seu amor por mim, avisou que me queria sob seu teto, e que nossa união era coisa fechada. Eu me mudei poucos dias depois, sob protestos menos ofensivos, mas sob murmúrios velados e contrariados com a situação.

O tempo passou e a rejeição ao nosso relacionamento perdeu intensidade. Quando íamos visitar meus pais, ou os convidávamos para um churrasco em casa, as conversas giravam sobre outros assuntos e, naturalmente eles passaram a nos ver como um casal. No meu irmão eu tinha um aliado e, na minha irmã, aos poucos, convencida pelo agora noivo, ela havia baixado a guarda e não fazia mais comentários maldosos a nosso respeito. Eu e ela nunca seríamos verdadeiros irmãos, amigos ou pessoas que nutrissem um sentimento fraterno um pelo outro. Mas, nos dávamos bem o suficiente para uma convivência social pacífica. Meu pai, quando entabulava longas conversas com o Paulo sobre futebol, a insegurança pública que vivíamos ou a corrupção que se institucionalizara no país, se esquecia de que era esse homem que fornicava comigo no leito conjugal, e via nele um sujeito bem-intencionado e, talvez, até um oponente com opiniões a serem respeitadas.

Há um ano, o Paulo e eu nos mudamos para São Mateus, uma cidade litorânea do Estado do Espírito Santo, onde um dos irmãos dele vivia com a família. Eu sempre expressei minhas preocupações com a profissão do Paulo, desde aqueles tiros que ele levou, eu não tinha um minuto de sossego quando ele saía para trabalhar. Quando, por algum motivo, ele demorava para voltar para casa, eu chegava a ter crises de pânico, ligava para o celular dele a cada quarto de hora e, quando o tinha finalmente nos braços, soluçava feito uma criança desamparada. Ele me tranquilizava com a promessa de deixar a polícia assim que tivesse um pé de meia suficiente para garantir a montagem de um restaurante nalguma praia tranquila, longe do burburinho de grandes cidades e, onde pudéssemos viver nosso amor em meio à natureza. Nossa vida era bastante simples, ambos poupávamos para que esse sonho se transformasse em realidade o quanto antes. Assim que nos vimos em condições de encarar a empreitada, partimos sem olhar para trás. O irmão dele nos mostrou o caminho das pedras, o que facilitou em muito o início do pequeno, mas aconchegante negócio que montamos na praia do Guriri, um destino turístico badalado no verão. Para compensar a queda de faturamento durante os outros meses do ano, ele e o irmão se tornaram sócios adquirindo uma gleba de terra onde plantaram um coqueiral que mantinha ambas as famílias de forma confortável. A poucos passos da praia do Brejo Velho, erguemos uma casa pequena e aconchegante que abrigava nossos desejos, dois cães, um amplo quintal onde cresciam bromélias e orquídeas presas aos troncos e galhos de árvores frutíferas e, todo o amor que tínhamos um pelo outro. Logo percebemos que fora da temporada, nos sobravam longas e deliciosas horas de ócio, mesmo eu tendo arrumado um emprego de meio expediente num posto de saúde local.

Era ao cair da tarde quando muitas vezes até a lua já estava moldando sua silhueta no céu que dávamos nosso passeio diário sobre a areia fina e amarelada da praia. Costumávamos ser os únicos solitários acompanhados dos nossos cães a passear com os pés descalços enfiados na água morna que lambia a areia infiltrando-se nela antes de recuar com a maré. De mãos dadas, não precisávamos falar muito, o toque de nossas mãos se encarregava de falar por nós. Mesmo assim, era onde fazíamos projetos para o futuro, resolvíamos pendências nos negócios ou, simplesmente namorávamos, falando de amor, de sexo e do quanto éramos felizes. Muitas vezes o tesão se instalava em nossos corpos, começavam as trocas de beijos acalorados, as ereções indisfarçáveis que acabavam por nos conduzir nus até a altura onde as ondas, com as cristas espumantes brancas como um lençol imaculado, escondiam nosso despudor. Era onde o calor que ardia em nossos corpos encontrava alento, nos beijos devassos que nossas línguas entrelaçadas tornavam quase imorais; onde o Paulo agarrava minhas nádegas que enchiam suas mãos vigorosas com a carne quente dos meus glúteos; onde ele enfiava um ou dois dedos no meu cu, me fazendo soltar um gemidinho depravado enquanto eu acariciava seu tronco musculoso; onde ele enfiava seu cacetão no meu cuzinho dilacerando minhas pregas anais e me inundando com sua porra cremosa e abundante, enquanto eu permanecia com a bunda empinada contra sua virilha, contraindo os músculos da pelve e do ânus para mastigar aquela verga imensa que me preenchia, rebolando e me deixando foder feito uma cadela no cio.

Voltávamos para casa já sob um céu estrelado, num caminhar lento que meu cuzinho lanhado e ardido impunha, jantávamos um encarando o outro, cheios de paixão e, entrávamos na cama nos abraçando e nos acariciando até o sono nos dominar. Eu não conseguia deixar de bendizer o dia em que ele, pela primeira vez, passou aquele cassetete na minha bunda e, tenho certeza, que o mesmo pensamento passava pela cabeça dele quando me encoxava e me apertava, bem junto ao seu corpo, como se receasse que eu lhe escapasse das mãos.


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Comentários

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Não canso de dizer que essas histórias são uma obra da arte das mais raras hoje em dia! Obrigado por isso 😍🌷

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Oi kherr hoje é meu aniversário ansiosa pra o seu próximo conto adoraria uma dedicatória , muito obrigada!

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Simplesmente maravilhoso, como todos que vc ja postou, fora aqueles que me fizeram chorar kkkk, cara nao tem como te dar uma nota pq nao seria justo ne kkkkk

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Ótimo! Estava sentindo falta de um conto destes na CDC que ultimamente tem andado bastante desinteressante. Com outro bom escritor que também reapareceu agora, é caso para voltar a frequentar o site. Parabéns pelo excelente conto. Ignore simplesmente os comentários dos apreciadores de surubas porque estes têm o resto todo da CDC a seu gosto.

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Perfeito em tudo, quem não gostar escreve um conto melhor! Amei do começo ao fim!

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Maravilhoso. Eu conto os dias esperando cada vez o próximo conto. Só podemos nomear isso de talento.

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Vc já foi mais detalhista. pq raios vc descreve os outros policiais, tesudos, e não faz uma suruba. queria q ele tivesse dado pro Paulo e Jonas ao mesmo tempo

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Ameiiiiiiiiiiii

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