🙉O Silêncio do Amor🙉 Capítulo: 21
Os mudos não agridem com palavras
Os surdos não são por elas feridos.
Por isso ambos estão protegidos,
Contra o escorregão de dizeres irrefletidos.
Roberto Matheus da Costa.
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🙉O Silêncio do Amor🙉 Capítulo: 21
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Assim que Daniel subiu a rua, Lola já gritava pra ele se juntar a ela e a Márcia. Queria saber as novidades.
E Daniel contou...
E Lola disse: - Mas só rolou um boquete?
Daniel: - Fazer o quê? - Ele não quis saber de sexo, disse pra irmos com calma.
Márcia: - Hiii, já tô vendo que é borracha fraca. Coitado, novo, novo, ainda... E já tá assim...
Daniel: - Nada disso. Quando chupei, ele tava bem firme. Acho que ele passou por alguma coisa. Disse que teve uma decepção. Alguma coisa aconteceu.
Lola: - E você não perguntou viado?
Daniel: - Eu não. Deixa ele me contar aos poucos. Quando ele se sentir seguro pra isso.
Márcia: - Tá certo viado, num preciona o garoto não. Ele vai te contar uma hora ou outra.
No dia seguinte como de costume Daniel foi pegar o ônibus, mas a fila estava pequena e por um milagre desses da vida naquela manhã o ônibus saiu quase vazio. Ao lado de Daniel o lugar estava vago. E ele com seus fones de ouvido, escutava algumas músicas que ele tinha baixado o áudio no celular. Entre elas uma antiga do grupo LS Jack (Amanhã, não se sabe). Era do tempo em que ele estava lá com seus 9 anos e trazia a lembrança do rádio tocando e sua mãe tão jovem e bonita cantarolando pela casa.
Mas agora anos depois aquela música que trazia saudades pra ele. Tinha um novo significado. Um significado diferente e ao invés de ser uma recordação de saudade, a letra falava do que ele estava sentindo por Fernando no momento.
E então ele fechou os olhos e viajou na canção acompanhando a letra que dizia:
Como as folhas com o vento
até onde vai dar o firmamento
toda hora enquanto é tempo
vivo aqui este momento.
Hoje aqui amanhã não se sabe
vivo agora antes que o dia acabe
este instante nunca é tarde
mal começou eu já estou com saudades.
Me abraça, me aceita
me aceita assim meu amor
me abraça, me beija
me aceita assim como eu sou
e deixa ser o que for.
Como as ondas com a maré
até onde não vai dar mais pé
este instante tal qual é
vivo aqui e seja o que Deus quiser.
Hoje aqui não importa pra onde vamos
vivo agora não tenho outros planos
e é tão fácil viver sonhando
enquanto isso a vida vai passando
Daniel viajava na letra pensando em Fernando, quando sentiu puxarem um lado do seu fone de ouvido, ele abriu os olhos surpresos e viu Fernando sentado do lado dele com o fone de ouvido, na orelha de olhos fechados e balançando a cabeça como se estivesse curtindo a música. Daniel ao ver a cena riu. Foi divertido ver ele de gaiatice fingindo ouvir e curtir a música.
Fernando abriu os olhos e riu pra Daniel que ria também. Ele pegou o caderno e escreveu perguntando:
- Essa música é boa?
Daniel escreveu a resposta: - Sim, estava ouvindo e pensando em você.
Fernando sorriu feliz e disse: - O que ela fala?
Daniel escreveu o refrão:
-Me abraça, me aceita.
Me aceita assim meu amor
me abraça, me beija
me aceita assim como eu sou.
E deixa ser o que for.
Fernando leu e escreveu: - Você me aceita, assim como eu sou?
Daniel: - Sim!
Fernando: - Mesmo eu sendo deficiente. Você me aceita assim, do jeito que eu sou?
Daniel: - Sim! - Eu te aceito e te quero do jeito que você é. Nada me importa nesse Mundo, só você.
Fernando leu e Daniel viu seus olhos marejados de água, mas o garoto se segurou, pois não derramou uma lágrima, embora se via que elas queriam sair de seus olhos aos montes.
Daniel passou a mão sobre os cabelos cumpridos de Nando e ele pegou a outra mão de Daniel e beijou as costas da mão de Daniel sem se importar se as outras pessoas olhavam pra ele.
Beijou a mão de Daniel e ficou queto segurando ela e olhando para frente. Parecia estar pensativo.
Daniel ficou observando ele por uns segundos e escreveu: - Está, tão longe! - O que houve?
Fernando saindo do seu estado de transe temporário, viu o que ele escreveu e respondeu:
- Nada, só estava pensando no que você disse.
Daniel: - E o que tem no que disse? - Falei alguma besteira?
Fernando sorrindo escreveu: - Não tem nada, mas porque eu? - Porque você gosta de mim, quer namorar comigo? - Tem muitos meninos lindos, mas bonitos que eu, que são perfeitos, podem falar e te ouvir, já eu... Eu sou deficiente. Porque?
Daniel leu e respondeu: - Eu não sei! - Não sei te explicar. - Meu coração te escolheu, foi isso. Ele não viu sua deficiência, ele apenas viu seu coração. Além disso os outros meninos podem ser mas bonitos que você, eles podem falar e até ouvir mas eles não são perfeitos também, porque nenhum deles consegue me dar esse sorriso lindo que me encantou. Só você tem esse sorriso que me faz tão bem..
Fernando leu e agora ele se emocionou, fez força, mas dessa vez foi em vão e lágrimas brotaram do seu rosto e então ele deu um beijo repentino de selinho em Daniel colando sua boca com a dele com força. E sem nem se lembrar que estava dentro de um ônibus cheio.
Quando terminou, ele deu outro sorriso de felicidade completa, olhando para Daniel com ternura. Daniel devolveu o sorriso sem graça e se encolheu no banco olhando para as pessoas que estavam de pé e faziam expressões de ódio e repúdio por verem dois rapazes se beijando na boca.
Felizmente ninguém disse uma única palavra. Mas a cara de raiva e de ódio de cada um deles intimidava Daniel, que se sentiu diminuído e sofrido perante aquela carga de ódio e preconceito lançados sobre ele.
Fernando que estava alheio a tudo apenas escreveu:
- Acho que estou te amando.
Daniel sorriu lendo tentando ignorar aqueles olhares de raiva e preconceito, apenas para proteger Fernando e não deixar que ele sentisse aquela coisa pesada que Daniel estava sentindo sozinho.
Daniel sorriu feliz do comentário e escreveu respondendo:
- Eu já te amo muito. Você é a melhor coisa que me aconteceu.
Fernando: - Você também é pra mim!
- Há minha tia quer falar com você!
Daniel: - O que ela quer dessa vez, eu te devolvi inteiro não foi?
Fernando riu e respondeu: - Ela quer falar sobre o nosso namoro! - Eu contei que estamos ficando juntos.
Daniel: - E ela tá contra?
Fernando: - Não! - Só quer conversar com você. Você sabe como ela é.
Daniel riu pensando em mais um sermão que ela ia dar. E realmente não foi diferente. Quando eles soltaram, ela foi no caminho até o outro ônibus falando nos ouvidos dele, que seu sobrinho era deficiente, e que ela não queria que ele sofresse nas mãos de um aproveitador qualquer. Que ela ia deixar o namoro rolar porque estava vendo o quanto Fernando está gostando dele, mas que ia ficar de olho. E no fim, ela gentilmente fazendo uma leve pressão, convidou Daniel pra ir almoçar na casa dela pra eles se conhecerem melhor no próximo Sábado.
Daniel aceitou, mas previu o pior e por isso ele procurou a Lola pra dar concelhos a ele a noite contando tudo pra ela:
- E o problema todo é que não sei o que dizer pra essa mulher. Eu não posso falar pra ela que era estrupado, que meu pai foi contra a mim, e que fugi de casa e acabei fazendo vida pra poder viver!
- Se falar isso, ela nem vai deixar mas o sobrinho dela me ver. Que dirá namorar. Do jeito que ela é superprotetora, vai me achar uma má influência pro sobrinho deficiente dela.
- Eu pensei em contar uma mentira, dizer que meus pais morreram. Isso funcionou com Santiago não foi? - Lembra que te contei isso? - Ele morreu e ninguém, nem a família dele soube a verdade.
Lola parada estava só observando Daniel e escutando ele. A Lola era louca de pedra, mas quando ela parava pra ser séria e dar concelhos ela dizia coisas certas que precisávamos ouvir. E dessa vez não foi diferente. Ela ouviu tudo calada e quando Daniel terminou ela falou:
- Realmente você poderia fazer igual ao Santiago, essa seria uma idéia ótima. O problema é que você não é o Santiago, e falar um monte de mentiras você não estaria sendo o Daniel que nós conhecemos, um cara verdadeiro e que não gosta de mentiras.
Daniel: - Você esta certa, mas o que eu faço então? - Me ajuda!
Lola: - Simples! - Não minta pra eles, mas omita!
Daniel: - Mas como assim?
Lola: - Você conta a verdade, mas sem dizer todas as verdades.
- Diga o principal, que sua mãe faleceu, que seu pai arrumou uma outra mulher e preferia ela do que você. Dai você arrumou um emprego. E não fale que você arrumou emprego na prostituição, mas já pula essa parte e diga que arrumou o emprego na empresa de Santiago. O emprego que você tem até hoje, e do qual você paga a sua faculdade. Assim você está falando a verdade. Quer dizer quase toda a verdade, porque a sua faculdade já está toda paga. Mas eles não precisam saber do seu envolvimento com seu falecido patrão.
- Então é basicamente isso, você fale pouco, só responda o necessário sem mentir pra eles, mas também sem contar sua vida inteira.
Daniel pensativo respondeu: - Você esta certa. - Vou fazer isso mesmo.
A semana passou e finalmente o sábado chegou...
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