O namorado da minha filha 11. O chantagista

Dormir foi algo que eu não fiz naquela noite.

Depois de receber aquela maldita ligação, fiquei ansioso demais e até o amanhecer acabei com todos os meu cigarros.

Fiquei pensando na possibilidade de esse meu caso com o Lucas me prejudicar profissionalmente. Todos os anos de dedicação para chegar onde cheguei iria por ralo abaixo.

Eu ainda teria as minhas concessionárias e tenho alguns patrimônios valiosos. Fome eu não passaria, mas eu gosto de exercer a minha profissão.

E mesmo depois de depositar o dinheiro, as chantagens ainda iam prosseguir. O vagabundo iria me tratar como uma fonte de conseguir dinheiro fácil e isso estava me deixando muito puto.

Contudo, o pior era que eu não sabia quem era o infeliz. Será que veado do Lucas está por trás disso? Como alguém iria ter acesso ao celular dele?

Maldito veado! Eu não acredito que caí nesse golpe! Filho de uma puta! Eu fiz de tudo por esse moleque. Até cheguei a me apaixonar por ele! Quase estou perdendo a minha mulher.

Eu sou mesmo um otário.

Assim que amanheceu, fui direto para o apartamento.

Quando eu entrei, Lucas ainda estava dormindo.

Estava só de cuecas deitado com a barriga para baixo.

Miserável! Como pode fazer isso comigo?

Confesso que me veio um desejo homicida. Esganar aquele pescoço até a sua vida miserável ir embora.

Lucas despertou. E ao me ver, sorriu espreguiçando os braços.

_ Você por aqui, amor? Melhor imagem para começar o dia.

_ Lucas, cadê o seu celular?

_ Está na ali na escrivaninha. Por quê?

Realmente o IPhone estava no local indicado por Lucas.

Eu tomei posse do objeto e comecei a procurar por alguma conversa nossa, o que facilitou era que o aparelho não tinha senha.

_ Eu recebi uma ligação de um desconhecido me dizendo que está com o seu celular e que tem conversas nossas. Esse vagabundo de merda está me chantageando.

_ Quem tá fazendo isso? Lucas perguntou surpreso.

_ Isso quem vai me dizer é você, seu bostinha! Você tá me tirando de otário?

Eu segurei os seus braços o sacudindo com força.

_ Fala, seu filho da puta.

_ Eu não fiz nada. Para! Você tá me machucando.

Eu o joguei na cama e armei o punho com a intenção de socá-lo. Lucas se encolheu.

_ Por que você está fazendo isso comigo? Eu nunca faria chantagens nenhuma com você. Nem dinheiro eu nunca te pedi. Não é porque eu sou pobre que eu sou interesseiro.

Eu desisti do soco, ao lembrar que antes de eu presentear o Lucas com o IPhone ele tinha um Android.

_ Lucas, cadê o outro celular? O que você tinha antes de ganhar o IPhone.

_Ficou na casa da minha tia.

_ Puta que pariu! Exclamei socando a cabeceira da cama.

_ Eu ia buscar, mas você não me deixou ir lá.

_ Lucas, aquela porra tinha senha?

Lucas me olhava assustado.

_ Lucas, aquela merda tinha senha? Responda, caralho!

_ Bom…. como eu sempre estou com os meus celulares eu não costumo pôr senhas e...

_ Você é uma anta, mesmo! Um energúmeno! Cara, vai ser burro assim na puta que te pariu!

De repente tudo ficou claro. Com certeza o primo dele pegou a porra do celular e agora está me ameaçando.

_ Lucas, você contou para alguém sobre nós?

_ Só para uma amiga, mas ela é de confiança.

_ Confiança?! Você não era para ter falado para ninguém, seu merda.

_ Ela não falou nada para o Josias. Eles nem se conhecem…Mas, uma vizinha comentou para a minha tia que me viu numa BMW com um homem. E depois eles ficaram me interrogando para saber como eu consegui o IPhone . Eu menti dizendo que achei, mas eles não acreditaram.

'Ficaram insinuando que estava tendo um caso com algum coroa rico e ficaram me pedindo dinheiro. Como eu neguei, o Josias me bateu.… creio que devem ter procurado dinheiro nas minhas coisas e achado o celular.

Me desculpe, Rogério. '

O que o Lucas dizia fazia sentido, o que me deixou um pouco aliviado em saber que ele não era um traidor.

Mas, eu ainda precisava me livrar desse problema.

Eu sempre gravo as ligações que recebo e mostrei ao Lucas, que reconheceu a voz do primo.

Moleque miserável! Ele me paga!

Liguei para o crápula celular do Lucas.

_ Alô.

_ Eu sei quem é você.

_ Oi, doutor. Beleza?

_ Josias, esse é o seu nome de merda. Olha, aqui. Eu tenho uma proposta. Eu posso te dar 600 mil reais ao invés de 500 mil, mas você terá me entregar o celular.

_ Estou gostando de ver, doutor. Negócio fechado. Mas, você vai ter que me dar o dinheiro hoje mesmo.

_ Beleza. Eu pegar o dinheiro e mais tarde a gente marca um ponto para fazer a troca.

_ Ok, mas sem fazer gracinhas, doutor. Ou você vai tá fodido comigo.

Eu desliguei o telefone e o entreguei a Lucas.

_ Não é justo você dar todo esse dinheiro para esse vagabundo. É isso que ele quer. Parece que você me considera uma vergonha tão grande que precisa pagar tão caro para ninguém saber sobre nós.

_ Você é muito burro mesmo. Oh imbecil, você ainda é um pirralho e eu sou um juiz. Você tem noção o quanto isso pode me foder?

'E joga essa bosta de chip fora e toma esse dinheiro para comprar outro. Compre e volta para casa e não saia mais por nada. Até eu voltar.'

_ Tá bom. O que você vai fazer?

_ Não é da sua conta. Só me obedece e cala essa boca, que você está me irritando.

Eu não tinha intenção nenhuma em dar nenhum real aquele vagabundo.

Fui visitar um amigo delegado, o Borges. Velho amigo de guerra, que me devia um grande favor pelas inúmeras vezes que livrei o filho dele das infrações de dirigir embriagado e arranjar algumas confusões.

Nós somos grandes amigos desde a época da faculdade. E já estava na hora de pôr em prática aquela frase "Uma mão lava a outra."

Borges sabia das minhas preferências sexuais. E por isso contei a ele o acontecido sem sentir nenhum constrangimento.

Ele ouvia segurando o queixo e batendo a caneta na mesa, me causando agonia. Mas, o assunto a se resolver era mais importante do que as minhas manias.

_ Eu vou dar uma olhada para ver se esse vagabundo tem alguma ficha aqui.

Eu liguei para o Lucas para pegar o nome completo do safado.

Borges constatou que Josias já havia sido detido por portar cocaína em grande quantidade. Ele me instruiu a ligar para o Josias e marcar um encontro a noite, numa rua pouco movimentada.

Mesmo com tudo esquematizado, eu ainda estava tenso. O plano era dar uma surra no desgraçado e prendê-lo por portar cocaína. Borges levaria a droga e colocaria no bolso no vagabundo. Faria parecer um flagrante.

Contudo, eu não confiava no verme e por isso, decidi levar o meu revólver, caso ele tentasse algo. É certo que eu estava seguro ao lado do meu amigo delegado, mas seguro morreu de velho.

A noite estava um pouco fria e não havia uma alma viva naquela rua. Ali reinava o silêncio e a escuridão. O relógio marcava onze e cinquenta e cinco. Nós o aguardávamos no carro de Borges.

Acendi um cigarro para aliviar a tensão e ofereci ao meu amigo, que aceitou. Ao contrário de mim, Borges fumava tranquilamente. Ele estava acostumado com esse tipo de situação. Já eu só tinha contato com esses vagabundos nos tribunais.

Josias chegou ao local caminhando com as mãos nos bolsos. Ele caminhava como um rapper. Vestia uma calça jeans preta, uma jaqueta esportiva, e um boné preto virado para trás.

Era bem jovem e tinha uma expressão de folgado. Um rostinho bom para levar porradas.

Borges saiu do carro e foi em direção dele.

Eles trocaram algumas palavras antes de Borges começar a sessão de porradas.

Lembrei-me do rosto do Lucas machucado e da petulância daquele vagabundo em me chantagear. Isso foi o suficiente para eu deixar o ódio me dominar.

Sai do carro e o puxei pela gola do casaco, o joguei no chão e o soquei o seu rosto com muita força.

À medida, que eu me lembrava de tudo o socava ainda mais. Depositei naqueles socos todas as minhas raivas. Além dos motivos que ele me deu, me aliviei pensando na crise do meu casamento e da raiva que eu tinha de ter que esconder o meu caso com o Lucas.

Quando me senti sem fôlego, parei de socá-lo e percebi que a minha mão estava suja de sangue.

_ Isso é para você aprender a não chantegear gente decente. Tu vai passar a noite no xilindró aprender. Disse Borges, o algemado .

_ Sua bicha desgraçada! Vocês não podem me manter preso para o resto da vida. Tu tá fodido comigo.

Josias tinha razão. Uma hora ele iria sair da cadeia e ferrar com a minha vida. Eu só pensei em tudo que aquele desgraçado poderia arruinar. Tudo que eu conquistei com tanto esforço!

Tomado pelo ódio, saquei o revólver do bolso e dísparei três vezes contra ele, que caiu no chão no mesmo instante.

Duas balas atingiram o tórax e a outra o braço esquerdo.

Borges verificou se tinha pulso.

_ Esse aqui já era.

Ao vê-lo morto com os olhos abertos, fiquei nervoso ao ponto de vomitar ao lado.

_ Que merda, que eu fiz?

_ Fica tranquilo. Eu ponho a droga nele e pego a minha arma de reserva, que está no porta luvas. Digo que tentei prendê-lo e ele reagiu. Não esquenta a cabeça com isso, parça.

Eu vou ligar para a delegacia e depois tu vai pra casa descansar.

Verifiquei se o celular estava no bolso dele e o destrui.

O Borges era um bom amigo e o assunto estava resolvido. Josias era um baderneiro e a história inventada por Borges seria aceita. Eu não precisava me preocupar com isso.

Mas nada disso me acalmava. Eu nunca fui um sujeito bonzinho, mas nunca havia matado ninguém.

Fiquei pensando se realmente teria havido necessidade disso. Como seria a minha vida depois de ter me convertido num assassino?

A minha mente estava muito perturbada e os meus sentimentos muito confusos para voltar para a casa e encarar os interrogatórios de Lucrécia. Eu precisava de paz, depois de viver um dia perturbador.

Mudei o rumo da direção e fui até o apartamento.

Lucas ainda dormia.

Fui tomar um banho e deitei ao seu lado. A imagem de Josias morto ainda estava nítida na minha mente. Os seus olhos abertos me olhando de um jeito condenador.

Abracei o Lucas com força e isso o fez despertar.

_ Você veio dormir comigo? Que bom!

Eu apenas o olhei em silêncio e ele entendeu o que eu queria. Beijou-me e acariciou o meu rosto.

_ Eu te amo, Rogério. Eu te amo.