Amor não é sexo. Final.

O apaixonado e viúvo Alberto estava prestes a atingir seu objetivo: terminar a construção de seu homem-robô. Já na etapa final, ele colocou a bateria de rubi nas costas do robô Cristiano. Com tudo pronto, o cientista carregou a bateria. Uma vez pronto o processo, ele resolveu enfim ligá-lo. E no momento em que ele desperta, Alberto pôde voltar a ouvir a voz de que sentia tanta falta.

Sentira medo de que o androide não despertasse, mas aconteceu: os dedos das mãos do robô se moveram, a seguir o tórax do robô inflou e a face foi subindo, deixando a cabeça do androide reta sobre o corpo. Era uma mistura de glória com emoção o que sentiu o inventor. Então, o androide abriu os olhos, captou a imagem do rosto em lágrimas de Alberto e lhe disse um: Olá, Alberto.

Ah o humano sorriu feito criança quando abre a caixa com um bom presente de aniversário! Ele observava e sentia-se estasiado por causa da máquina que parecia viva.

Logo começaram os primeiros diálogos; a criação e o seu criador.

Até o olhar de Cristiano o androide possuía. Ficou incrível, na opinião do gênio. Alberto costuma usar um jaleco branco quando fica em seu laboratório. O seu androide foi vestido por ele e estava bastante bonito - fashion.

****

- Repita mais uma vez para mim... Qual é o seu nome, ham?! - pediu alegre.

- Cristiano. O meu nome é Cristiano. Que lugar é este? - comunica-se junto de uma plataforma com contorno de led, na qual esteve deitado até ser suspenso e ligado por Alberto.

- Vo-você esteve longe. Muito tempo. Este tem sido como o nosso quarto agora. E você também vai poder ficar aqui comigo.

- O meu quarto não é esse - disse manso.

- São, são somente lembranças. O importante é que você voltou! Me poupe de muitas explicações agora, eu... Eu te esperei tanto tempo, meu querido... Eu, eu só preciso saber se tudo deu certo. É, é isso sim, eu, eu preciso ter certeza de que é você que tá aqui. Vem comigo. Tem outra pessoa que precisa te rever.

- Esse vaso com as rosas... - percebeu o androide o vivo vermelho. - Eu plantei muitas rosas na nossa casa. Alberto.

Abismado e muito contente, Alberto olhou para as rosas no vaso transparente sobre um suporte.

- Não apenas plantava... Você também pinta lindos quadros! - falou aproximando-se mais.

O androide andou perfeitamente e pegou uma rosa vermelha, então ficou analisando-a. Ele quase não piscava os olhos, fechara a mão no caule longo e simplesmente fitava a completa e viva rosa dos humanos.

- Cristiano, meu amor... Agora eu sei que você voltou... - disse Alberto emocionado e sorrindo. - Há muito tempo, você me disse que a rosa vermelha é o símbolo dos apaixonados... Que simboliza amor, paixão, respeito e adoração. Você tentou me convencer de que as rosas falam, nos entendem... e que até choram.

- Alberto, eu preciso entender o que tá acontecendo. O que houve comigo? Eu lembro de coisas, mas me sinto distante delas. Posso segurá-la, mas… Não consigo aspirar seu perfume - virou-se para seu criador. - Você me ama, não ama? - disparou para surpresa do outro.

- Claro que te amo! Com todo o meu amor eu te fiz voltar pra mim! É que são muitas informações, muitas conexões que você tem que fazer. Ó, mas eu prometo que com o tempo você vai se readaptar, vai entender tudo. É... - ele deu uma pausa e ficou pensando, então conversou: - Às vezes me sinto como um jardineiro zeloso, que se entristeceu ao ver as folhas de sua árvore preferida serem levadas pelo vento, e passa o tempo tentando recolhê-las na ilusão de lhes trazer a vida outra vez...

O androide ouviu e permaneceu com os olhos nas pétalas rubras.

Alberto acrescentou com voz carinhosa:

- Cris, meu amor, com você aprendi que as rosas mais belas não são aquelas que o jardineiro corta suas raízes e leva para casa, são aquelas que o jardineiro dedica todo seu amor deixando ela livre em seu jardim.

- Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno - ajuntou o androide falando devagar.

- Eu... estive preparando a tua chegada, como o jardineiro prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera.

- O corpo é como um jardim, e a mente é o jardineiro - falou o robô com um demorado fechar e abrir de olhos.

- Amor e vida andam juntos, querido.

- Amor. Isso é o amor. Certo? - referiu-se à rosa em sua mão.

- É um sentimento que chamam de amor. Eu acabo de provar meu amor por você.

- Minha pele... Eu lembro da minha pele. Mas a minha pele está diferente da minha lembrança. Não tem a mesma textura. Eu posso me ver no espelho?

- Claro. Atrás de você. O espelho está aí atrás de você, meu querido - apontou.

O robô virou-se e ficou frente ao grande espelho. Seu movimentar não parecia duro ou lento demais, pelo contrário.

- As minhas lembranças. Eu lembro de coisas que eu fazia, mas são imagens tão confusas. O que sou eu agora?

- Você acabou de ser religado, meu querido. Nasceu pra mim. Eu sou o responsável por todas essas perguntas. Deixei nossa história acumulada em você... Nossas felizes lembranças.

- Então eu sou apenas um amontoado de lembranças? Alberto, eu preciso de algo que seja meu, entende? Algo que eu sinta; como meu.

Alberto estava satisfeito, paciente e disposto.

- Você tem um amigo. O Sérgio! Vocês foram bons amigos. Ele acabou de chegar e nos aguarda. Você gostava de conversar com ele e dar boas gargalhadas. Quem sabe, voltando a vê-lo, você se sinta uma pessoa?

- Sim. Amizade. Eu preciso abraçar um amigo. Abraço. Amigos.

O androide andou um pouco pelo espaço à sua frente, parecia mapeando, captando tudo ali no laboratório.

- Eu consegui. Valeu a pena.

- Por que você fica aqui, Alberto? E quando poderei ver o Sérgio?

- Eu sei o quanto o Serginho te fazia bem. Então você pode abraçá-lo o quanto você quiser. Até por minutos! - falava excitado.

- Minha amizade com o Sérgio é minha maior recordação. De quando eu era... uma pessoa.

Alberto seguiu em frente procurando ganhar a confiança do robô:

- Você fez o jardim desta casa. O borboletário continua igual. Você gosta de pintar seus quadros no borboletário. O jardim vai voltar a ser como antes… Eu fiquei te observando, imaginando você ficar pronto e me chamar pelo meu nome.

O androide deixou a rosa cair ao chão, sem querer.

- Leve-me até o meu amigo Sérgio - solicitou olhando-o no rosto.

Alberto apanhou a rosa e a devolveu ao vaso, e só então, respondeu:

- Iremos agora! Venha... - e, feliz da vida, Alberto o guiou a seu lado.

Criador e criação saíram, devagar, do laboratório, um abraçado ao outro. O robô parecia cada vez mais curioso, olhava para tudo e em todas as direções. Alberto, por sua vez, estava muito emocionado.

***

Sem mais demora, Alberto surgiu na sala, ainda de jaleco, e foi rapidamente notado pelo amigo.

- Caramba. Por que me deixou esperando aqui, Alberto? O que fazia de tão importante assim em sua caverna de cientista maluco? Estou há quase uma hora esperando por você - reclamou o de calça jeans e camisa verde.

- Serginho… Você não vai acreditar!

Fazia tempo que ele não via Alberto tão sorridente.

- Não vou acreditar no quê? - e afastou-se do estofado, após largar o celular.

- Espera… - pediu espalmando a mão no ar a ele, então se virou. - Cristiano, você já pode vir, meu amor. Venha - chamou de frente ao corredor.

Sérgio sentiu seu corpo enrijecer e ficou apreensivo, já suspeitava de que seria o androide tão falado nos últimos tempos. Imaginar como tenha ficado é diferente de ver terminado.

- Você tá com o robô pronto e…?

Então o androide apareceu dando passos lentos, em seguida olhou para os dois.

Sérgio não conseguiu mais piscar os olhos, ficou de olhos arregalados e boca aberta. O androide aparentava ser o próprio Cristiano de três anos atrás e tinha um rosto afável.

- Eu não te disse que meu robô ficaria como nós? Aqui está ele - abriu as mãos na direção do homem-robô.

O androide piscava os olhos e movia-se como um corpo humano inquieto.

- Meu Deus!... Meu Deus!... Parece… ele parece vivo, Alberto! E como ele faz pra te entender e parecer que está pensando?

- Ele não faz parecer, ele pensa, Serginho.

- Você o fez muito parecido com o Cris… Parece até que está vivo, veja! Eu não tinha ideia de que era possível fazer robôs tão perfeitos! Fico até emocionado porque é como se fosse o Cris! Cabelo igual, tudo; tudo.

- Você pode chegar mais perto - disse Alberto a Sérgio.

O robô sorriu para o amigo do Cristiano humano e falou:

- Eu quero abraçá-lo. Você ainda gosta dos meus abraços?

Serginho continuava mais espantado.

- Jesus Cristo… Estou até assustado. Você nem precisa dizer o que esse androide deve falar… Ele me recon… sabe quem eu sou? Mas como?... Olhando de perto, a pele é lisa e perfeita demais. Ainda assim pode ser confundido com gente - observou admirado.

- Eu quero um abraço. Você quer me abraçar, meu amigo Sérgio?

Ele olhou para Alberto, a seguir andou até parar de frente para o androide.

- Abrace-o, Serginho. Você também pode matar a saudade agora.

Sérgio então chorou, derramou lágrimas brilhantes. O olhar de Alberto também ficou melancólico.

Aí o androide entendeu.

- O meu amigo está chorando. Vou dar um abraço e com isso ele vai poder parar de chorar e vai sorrir…

O robô abriu os braços, chegou mais perto e fechou os braços nas costas de Serginho ainda emocionado.

- Você está vendo, meu amigo? Ele é como o meu Cristiano, o meu amor!

Um pouco hesitante, Sérgio também abraçou o robô. Ficaram abraçados por vinte segundos, e depois desfizeram. Serginho deu passos para trás e parou de chorar.

A versão robô de Cristiano olhou para Alberto e soltou:

- Estou com fome? Devo comer?

- Não pode, meu querido. Seu alimento é elétrico. Mas também será o meu amor por você. Você não pode levar chuva nem tomar sol, nem se afastar muito desta casa. Não podemos deixar que você descarregue na rua e seja levado, roubado por algum ladrão... Você é feito de materiais muito caros - explicou Alberto.

Serginho ficou pensativo, reparando nas reações do robô.

- Eu não posso fazer mais nada do que está nas minhas recordações? E chorar igual a ele? Vou poder?

- Você é uma máquina - afirmou Sérgio.

- Uma máquina? - o robô não gostou.

Alberto parou na frente de seu Cristiano e disse-lhe:

- O que é uma pessoa? Ham?... O que sou eu? Eu sou um conjunto das minhas memórias. Tudo o que eu vivi se acumulou dentro de mim, me fez ser assim como eu sou. O que é uma pessoa senão o resultado de tudo o que ela viveu? Das suas memórias! Memórias, Cristiano. Você também tem memórias. Seu corpo é diferente, mas pra mim é como se você fosse uma pessoa.

- Como se eu fosse, mas eu não sou. Eu não sou uma pessoa, Alberto. Quero chorar, mas não tenho lágrimas.

O seu criador disse-lhe mais:

- Tudo o que você viveu no seu antigo corpo humano continua aí, e você pode continuar sendo o meu Cristiano. Viver novas experiências que vão se acumular aí e... E você vai poder continuar seguindo em frente. Novamente ao meu lado. Somos casados e nos amamos muito. Juramos nunca nos separarmos.

- Então eu sou uma máquina mesmo... Não estou vivo, é isso?

- Me desculpa eu ter falado assim, na lata, que você é uma máquina.

- Não deve me pedir desculpas. Eu sou vazio, não sou a pessoa que fui.

- Mas você é uma pessoa.

- Eu não sou uma pessoa, Alberto. Eu sou uma máquina. Como você mesmo explicou, um amontoado de recordações acumuladas em placas eletrônicas.

- Não. Não foi muito bem assim que eu pensava enquanto te construía, ou melhor, reconstruia para voltar a estar comigo.

- Eu tenho uma bateria. Mas eu não lembro de ser assim. Não posso ser. Antes eu tinha um coração... É disso que eu lembro. Um coração que pulsava. Eu lembro que eu... que eu sabia o que era amar.

Surpreendido e impressionado, Sérgio falou:

- Ter um coração não é tão bom assim. O Alberto e eu também temos curtos circuitos, quando sofremos. Ele sofreu por amar você. Os humanos têm muitos curtos circuitos, e isso faz nosso coração sofrer muito. Acredite, você tem é sorte de ser um androide. O ser humano machuca o outro, e sabendo que o outro está sentindo dor. Fazer tanto mal é ser mais vazio e morto como um objeto ou uma máquina. Consegue compreender?

- Na minha memória, amar é a coisa mais bela que pode acontecer com alguém - retrucou o androide.

- Nem sempre - começou Sérgio. - Eu já amei quem não me quis e amava outra pessoa. Dizem que Deus criou um homem e uma mulher, e seus nomes foram Adão e Eva. E dizem que depois de desobedecerem ao Criador, a tristeza foi passada deles para todos nós.

- Mas só ama quem tem coração. Por que eu voltei, se eu não tenho um coração?

- Ei, eu estou feliz por você voltar. Não fale desse jeito - respondeu Serginho.

- Está? E por que você está? - quer saber o androide.

Sérgio corou e, depois de alguns segundos, disse ao novo Cristiano:

- Mesmo você sendo um robô, eu estou gostando de você, que é idêntico ao Cristiano.

- Sérgio, você é nosso amigo. Como um irmão. Há coisas sobre você escritas no meu sistema. Lembro de você no meu casamento. Você está na metade do curso de medicina.

- Eu já me formei. Sou dermatologista. Pra uma máquina, você fala como se tivesse neurônios e memória como a de nós humanos.

- Eu não quero ser uma máquina, Alberto. Então você é o meu dono?

- Não sou seu dono, sou o seu criador - corrigiu.

- Ainda é meu esposo?

- Sim. Eu sou.

- Vocês dois estão me deixando bugado - falou Serginho com um breve sorriso. - Então foi pra me mostrar seu androide que você pediu que eu estivesse aqui esta manhã, Alberto? Olha, vou confessar que achei que não daria certo e que ele não seria tão perfeito e natural assim. Como conseguiu? - pergunta cruzando os braços.

- Seja paciente, amigo. Ele ainda não sabe se é um homem ou um robô, as informações se misturam, compreende?

- Então você errou ao criá-lo?

- Do que é que você entende de robótica?

- Entendo que você errou em ligá-lo e tratá-lo como uma máquina. Deveria ter fingido que ele apenas acordou no quarto de vocês, e agido naturalmente. Você está confundindo ele.

- Tem razão - Alberto concorda e dá uma ajeitada no óculos de grau.

- Eu quero ser humano.

- Você vai viver como uma pessoa. E quem sabe vai me amar - falou o inventor.

- Se você quer que eu diga que te amo, eu digo que te amo. Mas vai ter que me programar pra isso.

- Eu não quero que você repita eu te amo, como uma máquina.

- Ele só vai se sentir humano se interagir com quem não sabe que ele é um robô. Você o trata como uma caixa de lembranças... Se você ficar o comparando com o Cris verdadeiro, ele vai se sentir um substituto, caramba.

- Você me compara com outro? Eu nunca vou ser igual ao verdadeiro Cristiano? Mas eu sou ele, ou não sou?

- O Cristiano não é um homem de carne e ossos, é um androide, mas também é o amor da minha vida. Eu nunca consegui superar a perda do homem da minha vida. E pra diminuir um pouco minha saudade, eu resolvi criar um androide que é a cópia fiel dele.

- Essa fantasia vai mesmo te deixar melhor? - questiona Sérgio.

- Ouça... Ele é cheio de componentes e, ao invés de veias, ele possui circuitos... Mas eu estou feliz... Como uma criança com seu brinquedo consertado... O carrinho novamente com todas as rodinhas.

- Sei.

- Por que você me criou, Alberto? Pra eu ser um objeto que você admira?

- Um objeto? Não, não! Eu criei você pra tá sempre do meu lado. Eu sei que você pode e um dia vai descobrir o que é o amor. Comigo.

- Como eu vou descobrir o amor, se a minha vida não é de verdade? Alberto, o meu corpo é o corpo de uma máquina, e você me trata como uma. Eu sou como uma geladeira, um computador ou alguma máquina qualquer.

- Não. Não, não. Você é o meu Cristiano. Pra mim você é como uma pessoa que eu amo!

- Se você quer que ele seja como uma pessoa, vai ter que tratá-lo como gente.

- Alberto, se eu não posso viver como uma pessoa, seja generoso... Delete minhas memórias. E me desligue. Não me faça viver uma vida falsa.

- Cristiano...

- Vocês já estão nesse nível? - e Sérgio quase riu dos dois.

- Suas memórias são do verdadeiro Cristiano, memórias que eu implantei em seu cérebro artificial. Você tem que parecer vivo pra mim. Eu até aperfeiçoei os sensores da sua pele. Você vai gastar um pouco mais de energia, mas já tem a temperatura natural de um homem. Eu te criei, Cristiano, e eu quero que você seja perfeito.

- Você vai ter vergonha de mim? Por eu não ser como vocês?

Alberto fez que não com o rosto.

- Eu tenho orgulho de você. A criatura revela o seu criador. E eu te amo.

- Por que você implantou em mim uma memória de um homem de carne e osso, se vive me lembrando a todo instante que sou uma máquina? Você fica lembrando que tenho componentes, peças, placas e cérebro artificial!

- Mas é o que você tem, Cristiano.

- Ei, não tinha como você ter criado ele menos inteligente não? E o Cristiano não era tão questionador assim nem... Você ligou ele quando?

- Hoje - Alberto respondeu.

O androide parecia pensativo, então se virou para seu criador.

- E o que você tem, Alberto? Um coração, um cérebro? Mas que funcionam da mesma maneira que as minhas peças. Um coração também pode parar. Você dorme; eu fico sem energia; Você é feito de carne e osso; e eu de componentes eletrônicos, mas não é tudo feito do mesmo planeta?

Os olhos dos dois humanos cintilaram com essa. O robô parecia poder sentir tristeza e insegurança.

- Alberto... Meu Deus, o que é isso!... O que ele fala faz completo sentido. O que difere um ser do outro não é a forma física, mas é a capacidade de sentir. Meu Deus, eu tô vendo que ele tem essa capacidade!... Eu sei exatamente o que ele está sentindo... Eu sou feito de carne e osso e várias vezes já me senti que nem um robô. Eu fui tratado como um por pessoas que exigiam demais de mim porque não enxergavam meus sentimentos. Cristiano, você quer ser tratado como um ser humano pra não se sentir menos especial pra nós, não é?

- É. Eu não sabia que sou robô.

- Você não tem noção do quanto é especial pra mim, Cristiano - declarou Alberto.

- Alberto... Eu quero entender o que é o amor.

- Ninguém entende o que é o amor. Não realmente. O amor é quando a gente sente tanta necessidade da outra pessoa, quanto o ar que respira. E a gente fica tão feliz quando a pessoa amada dá um simples sorriso. Porque quem ama, só é feliz quando seu amor é feliz - falou o homem dos robôs.

- Então o amor é isso? Mas, é só um sentimento? - indagou o androide.

Alberto falou mais, levando os dedos ao queixo de sua criação genial:

- É o sentimento que se revela nos gestos... Quem ama tem vontade de fazer carinho... Tem vontade de pegar na mão... Vontade de beijar... O que foi?

- Eu ainda não... - o robô deu um passo atrás.

Vendo que seu robô temeu ser beijado, Alberto atenuou:

- Não, não. Não se preocupe, Cristiano. Eu sei que você ainda tá se adaptando ao seu corpo, descobrindo os seus limites... E eu também tô te descobrindo.

- Mas você não me conhecia antes? - o robô lembrou-lhe.

- Olha, eu achei que você seria igual ao outro Cristiano, mas não, você é diferente. Você tem alguma coisa que o outro Cristiano não tinha - falou Alberto.

- Eu sou pior do que ele? - perguntou o androide.

- Não. Diferente - respondia o cientista. - Ele tinha... um fogo nos olhos. Você tem doçura. Mas por que motivo me perguntou o que é o amor?

- Esse robô tá parecendo mais humano que muita gente que conheço. Estou muito impressionado.

- Não sei. Desde que você me despertou, alguma coisa tá acontecendo aqui dentro. Alguma coisa que eu não consigo entender.

Deus, que tantos milagres já fez, permita que o robô que eu vou construir receba a fagulha da vida, e faça com que o meu Cristiano volte pra mim.

- Isso é porque você está se tornando cada vez mais humano. E isso me alegra muito. O amor pode estar onde menos esperamos, afinal. O seu coração é uma bateria, mas não pense que você é diferente de mim por causa disso. Você precisa ser carregado todas as noites. Nós que somos de carne e osso também precisamos comer, dormir pra repor as energias. No fundo é tudo a mesma coisa.

- Eu fui contra o Alberto te criar. Mas agora, vendo como você é espontâneo, independente e emotivo... Consigo te ver como um humano. Talvez você seja mais humano que eu e ele. Tem tanto humano desumano pelo mundo... Não vai ser problema aceitar você e tê-lo na nossa vida, no dia a dia da gente.

- É assim que se fala, Sérgio! Muito obrigado, meu amigo - Alberto agradeceu.

- E digo mais a você, Cristiano... Você tem a inocência de uma criança, fala e olha o mundo como se estivesse vendo pela primeira vez. Deus é puro. Só é puro quem tem uma alma. Você é puro, então deve ter uma espécie de alma. Quem procura o amor tem alma.

- A única coisa que importa é que eu te criei e te amo. Ninguém ensina o que é o amor, a gente descobre.

- O Sérgio me deixa em harmonia. Isso é o sentimento chamado amor?

- Se você diz que sente harmonia, isso é um sentimento. Você também sempre me animava, Cristiano - retribuiu Sérgio.

- Cristiano, meu amor. Eu amo você exatamente como você é, sabendo das suas limitações.

- Você me criou para te amar?

- Para escolher me amar - redarguiu.

- Tantas pessoas vivem uma vida sem sentido e sem saberem o que é um sentimento verdadeiro. É melhor ter algum sentido do que não ter nenhum. Se o Alberto te criou para ele... Aceite e viva para este nobre sentido: O de amar e ser amado.

- Eu amo vocês dois - disse o robô tentando alcançar a essência do que seja amar.

- Ah Alberto... Que fofo esse novo Cris! Parece até todo feito de ternura.

- Obrigado.

- E minha criação também é educada - brincou Alberto dando um tapinha no ombro de Sérgio.

- Ô, estou vendo. Ei, quando eu e o Alberto formos bem velhinhos, idosos… Você vai cuidar da gente? Dar nossos remédios e pegar coisas pra ele?

- Não me recordo de ter sido o empregado desta casa. Nós já temos uma governanta e cozinheira. Ela se chama dona Julieta. É assim que eu a chamava.

- Não ria, Alberto. Esse androide é mais afiado que uma lâmina. Você exagerou, hein?

- Foram vinte meses construindo ele e tudo o mais. Ele é o bom resultado de muita dedicação e… do amor. Eu conheci o sentimento verdadeiro quando casei com o Cristiano.

De repente, Julieta surgiu apressada e eufórica. Ao avistar os dois humanos de costas, foi falando, e suas mãos tremiam:

- Meninos, meninos! Aconteceu um milagre! Acabei de falar com ele! Com ele pelo interfone! Vocês não vão acreditar! Ele está entrando e vai explicar tudo, seu Alberto!

Sérgio e Alberto se viraram para ela, tentando entender o que ela acabara de disparar.

O androide fez o mesmo e sorriu para ela.

- Mas quem é… o que… - ela congelou e franziu o rosto cheio de linhas de expressão.

- Ah Julieta, este é o androide criado pelo Alberto. Nem se assuste, ele é tão natural como eu, você e ele.

- Como vai, dona Julieta? Sentiu minha falta?

Dura feito uma estátua, a pobre senhora não conseguiu fechar a boca e desmaiou, caindo em uma poltrona.

- Julieta?! - Alberto gritou.

Ele e Sérgio correram e a cercaram, preocupados. Ela estava pálida e verdadeiramente desmaiada.

- Ela teve uma síncope! - informou-lhes Alberto.

- É, eu sei. Vamos fazê-la voltar - disse Sérgio, também agachado e com um joelho apoiado no carpete.

Pioneiros, os dois viraram o rosto dela para o lado, em seguida retiraram o relógio e um colar dela. Depois avaliaram sua pulsação e se olharam apreensivos.

- Somos médicos, foi o susto - antecipou-se Sérgio. - Foi bom ela ter caído sentada e não no chão.

Julieta estava com o pulso fraco, respirando artificialmente, seus braços e pernas ficaram frios.

- A culpa é minha. Droga - culpou-se o de jaleco branco.

- Ela tem... medo de mim - sofreu o androide consigo.

- Julieta? Julieta? Acorda, por favor… - pedia Alberto preocupado.

- Geralmente a síncope na idade dela dura uns dois minutos, ou talvez menos, ou mais. Esperamos um pouco ou a levamos agora ao hospital? - Serginho deixou para seu amigo decidir.

- Julieta?... Acorde, minha santa. Não precisa ter medo, é só um robô inofensivo... - Alberto tentava acordá-la.

Segundos depois, com a empregada ainda pálida e sem os movimentos, alguém passou pela grande porta da sala de estar e os avistou ajoelhados ao lado da senhora desmaiada. O inesperado sujeito parou e manteve-se silencioso.

Quem primeiro o percebeu foi o androide. O homem de carne e osso, idêntico ao Cristiano, largou uma mala preta e fincou um punho fechado na cintura de seu corpo vestido com um longo sobretudo marrom. E ele parecia indiferente, e continuava sem olhar para trás e ver o homem-robô. Antes de se fazer notado, o Cristiano de sobretudo, camisa branca e calças jeans, deu uma reparada nos porta-retratos próximos a ele, parecia cauteloso.

O androide estava confuso, pois já tinha visto o próprio reflexo naquele espelho do laboratório, e agora sabia que alguém igual a ele acabava de surgir.

Então, o Cristiano humano fingiu tossir, assustando os homens.

- Olá... - disse o de sobretudo marrom.

Sérgio e Alberto olharam para trás e tomaram um baita susto, e ambos sobressaltaram, vestindo uma expressão pior do que a que vestira a face de Julieta quando vira o androide.

Os amigos se olharam boquiabertos.

Pela distância, o homem igual ao Cristiano ainda não havia notado o androide.

Os homens estarrecidos não conseguiam falar, e Alberto largou a mão da empregada. Aí, ele e Sérgio foram ficando em pé ao mesmo tempo.

Sem olhar para o lado, o homem que parece ser o Cristiano deu dois passos a frente, e sua feição parecia a mais tranquila; estranhamente tranquila.

- Vão ficar aí, vocês dois, com essas caras? O que houve com ela?... Mas que caras são essas? O que foi? Nunca me viram? Eu moro aqui, não moro aqui? Minhas malas estão no carro, ele está parado lá fora. E você? Não deveria estar no seu consultório, Sérgio?

Silêncio... o coração dos homens pertinhos da mulher desmaiada batia acelerando um pouco mais. Parecia surreal a chegada do verdadeiro Cristiano, e justamente naquela hora.

- Mas… Você está mesmo? Vivo? - Alberto ajeitou os óculos, incrédulo. Parecia o discípulo Tomé.

- Ah claro que eu estou vivo. Olha eu aqui, Sérgio e Alberto. Você me desculpe, Alberto, mas parece que você entrou em outra dimensão, homem.

- Mas é que isso é inacreditável… - disse Sérgio à direita de Alberto.

- Do quê que você está falando? - o homem que fora dado como morto questiona.

- Mas você sumiu no mar esse tempo todo - falou Sérgio. - Sumiu, desapareceu desde que...

- Graças a Deus, Sérgio. Mas graças a Deus! Foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida. A melhor coisa. Eu fiz uma viagem longa e estou louco pra tomar um banho.

Agora, ali, Alberto ficou perturbado, abalado mentalmente, como se estivesse a ver um fantasma. Muito pálido, sentiu o corpo enfraquecendo, uma tontura e a visão ficar turva, logo perdeu abruptamente a consciência e o tônus postural.

Ao perceber que Alberto começou a desmaiar, Sérgio o sustentou nos braços.

- Alberto! Você não! - o amigo rogou se desesperando. - Ai não desmaia agora, pelo amor de Deus... - abaixou-se com ele.

Com um ar altivo e jeito impaciente, Cristiano girou os olhos e falou-lhes:

- Gente, mas o que é que está acontecendo aqui? Que todo mundo vai desmaiar nesta casa? - questionou o que parece ser o esposo desaparecido.

Alberto estava inconsciente nos braços de Sérgio; o androide mantinha-se calado e confuso, buscando por respostas nas suas memórias; Cristiano franziu o canto da boca, entediado.

A empregada permanecia desmaiada na mesma poltrona em meio a ampla sala muito mobilada. No chão, Alberto começava a voltar à consciência amparado pelo melhor amigo. Foi aí que o dermatologista encarou à distância a pessoa do Cristiano.

- Você quer matar a gente?! - Sérgio gritou para o humano que não morrera no mar.

O que acabara de surgir do mundo dos mortos levou a mão ao peito, correndo-a pela sua gravata fina e fez cara de injustiçado.

- Eu? Mas eu acabei de chegar.

Sérgio ficou mais bravo.

- E, e onde é que você ficou esse tempo todo? Três anos, porra! É louco? Por que não voltou? - interrogou em alto som.

- Ah não... Não. Agora não, Serginho. Mande que peguem minhas malas. Depois eu vou explicar tudo com calma.

- Alberto? Que bom, você tá acordando! - alegrou-se com o braço esquerdo em volta de suas costas.

O homem que desmaiara começava a abrir os olhos, mas ainda parecia chocado e abalado.

- Vocês me dão licença, eu vou pro meu quarto. Daqui a pouco volto - falou aos dois dando passos a frente. - Vocês dois se formaram em medicina, façam logo a Julieta voltar. Até já... - e ensaiou dar-lhes as costas.

- Cristiano? - chamou o robô quase dando um passo a frente, do ponto onde estava.

O humano evocado parou. Mas então havia mais alguém ali, além de Julieta, Sérgio e Alberto? E por que esta voz lhe pareceu tão familiar ao chamá-lo?

Ao mesmo tempo em que o de sobretudo se virava para ver quem o chamou, o androide falou mais a este:

- Você voltou? Mas eu já estou aqui. Só existe um de nós. Eu tenho que ser como você.

O Cristiano sentiu o coração acelerar e permaneceu imóvel; Seus olhos pareceram mais petrificados que os da máquina antropocêntrica.

Sérgio olhava o rosto de Alberto, condoído e solícito, e acariciava seu rosto. Os óculos do dono da casa já estavam quase caindo de seu rosto.

- Fica bem, Alberto, abre os olhos, o Cristiano vai explicar tudo pra gente. Ele não morreu. É. Veja, ele não morreu! Ele voltou! - tentou animá-lo e suavizar o baque. Julieta parecia como quem apaga depois de tomar um porre.

Humano e androide se encaravam, enquanto Sérgio continuava no chão com Alberto.

O aparente Cristiano ficou atento e deu passos para trás, sua esperteza e conhecimento o fizeram entender rapidamente.

- Essa coisa fala?... Isso é tipo um androide? - questionou como que horrorizado. - O Alberto me humilhou a esse ponto? Criou um robô muito parecido comigo?

Alberto estava melhor e ficou pensando com os olhos para o teto, quase deitado no chão, aninhado em Sérgio, que observava a reação de Cristiano ao conhecer o robô criado por Alberto.

- Ele me criou para amá-lo. Sou o amor dele.

- Mas eu fiz muito bem em ter desaparecido! - o último a conhecer o androide abriu os braços em ironia. - Cansou de me dividir com seus robôs, invenções, bugigangas, então fez uma réplica minha para abanar o rabinho e aplaudir o vício que ele tem de ficar no maldito laboratório?! Eu vou pedir o divórcio! E ele que case com um robô sem vida. Isso foi tão ridículo! - ele encontrou o rosto de Alberto a olhá-lo.

- Você foi dado como morto, não eu - falou o androide ainda parado.

- Ah e ele responde assim, é? Sérgio, desliga essa coisa. Vai! Isso é diabólico, assustador. Ainda mais falando e sendo tão real.

- Meu amor… você está vi... vivo? - Alberto disse soluçando.

Como no filme O Homem Da Máscara de Ferro, na cena em que o rei Louis fica frente a frente com seu gêmeo Phillipe nas catacumbas, o humano confrontava sua cópia mecânica, como um gêmeo de coração frio rejeitaria a seu irmão por causa do trono. Use-a, até que você a ame. E MORRA com ela!

- Alberto, por que fez um androide do meu, digo, igual a mim? Eu fui substituído por um androide? Deixou de me amar, da noite pro dia? - reclamou olhando-o de cima.

- O que você fez é um absurdo, Cris! Nós choramos sua morte. Imagine ele! - Sérgio bradou com Alberto.

- O Alberto com quem eu me casei deixou de ser o mesmo e ficou igual a essa lata velha ali, sem coração. Acho até que já tinha virado uma máquina também.

Sérgio meneava o rosto, muito surpreso e enojado com o inédito comportamento de sua antiga paixão. O androide, como dissera Sérgio bem antes, seguiu como uma lâmina afiada:

- Eu tenho um coração. É diferente, mas é o coração que meu criador me deu.

- Cale já essa boca! Sérgio, assim não dá. Meu pai! Quer fazer o favor de calar esse monstro ali? Ou jogue água nele! Escute bem, Alberto, de todas as maluquices que você me fez aguentar... - brigava girando o dedo indicador. - Esse androide horroroso foi a pior. Está me ouvindo? E pare de frescura e fique logo de pé! E essa empregada que não acorda? Demite. Pra quê passar por isso? Contrate outra com mais saúde, ora.

Sérgio ficou sério e começou a pensar consigo.

- A Julieta é nossa mãe do coração - revidou o androide.

- Ai, mas que robô irritante! Se eu tivesse uma arma agora... - falou o Cristiano de carne.

- Você vai se ver com a polícia - avisou Sérgio de supetão.

- Eu vi você cair no mar, chovia e ventava, as ondas... Como conseguiu se salvar depois? Eu ainda sofro pela sua morte! - disse Alberto sentando-se.

- Sérgio, eu e ele não brigávamos na sua frente. O Alberto não é nenhum santo. Mas eu prometo que explico tudo daqui a pouco.

Nisso, Alberto fica em pé com a ajuda de Sérgio.

- Não adianta me olhar com essa cara, Alberto. Eu avisei que terminaria sumindo desta casa. Esse robô ali obedece a qualquer um? Ei, ô, lata velha? Vai pra outro canto da casa. Sai daqui.

- Saia você - disse o androide.

- Cris, meu amor... - em meio a lágrimas, Alberto iluminou de semblante. - Estou nervoso, abalado por estar te vendo com vida, mas saiba que estou muito feliz. É, estou chorando de emoção. Cristiano, vá para o laboratório e deite-se na sua plataforma. Eu e o Cristiano precisamos conversar. Depois eu vou te ver e te explico essas novas informações - pediu recolocando seus óculos.

Sérgio fitou um porta-retrato e pensou ter encontrado a resposta, mas ainda esperaria para pôr à prova.

- Não saio. Foi ele quem chegou pra tomar o meu lugar, ele é quem deve sair.

- Sai daqui! Faz o que ele mandou, seu robô maldito! - gritou o Cristiano humano.

- Se ele sair, você vai querer somente a mim, Alberto? - quis saber o robô.

- Eu também gosto de você. Não pense dessa forma.

Ao escutar isso de Alberto, o robô argumentou:

- Eu é que sou perfeito. Ele está insultando, ofendendo a todos nós. Você é que tem defeitos - lançou para o molde de sua aparência. - Sou mais humano que você. Eu amo o meu criador, reconheço que dependo dele, e depender de quem me deu a vida vai sempre me deixar feliz.

- O androide pode querer partir pra agressão física? - Sérgio perguntou somente para Alberto.

- Pode. Mas não vou deixar. Cristiano, eu te peço, faça o que lhe pedi.

- Eu faço. A criatura deve sempre amar o seu criador e obedecê-lo. Eu não vou agredir ninguém, Serginho. Você me falou que os humanos que machucam pessoas são como robôs sem coração. Eu quero viver como gente, mostrar que possuo um coração. Aqui. Eu vou ao laboratório, mas você agora tem o meu amor, você não precisa mais dele. Pode desligar esse que chegou depois de mim.

- Agora essa sucata foi longe demais. Eu exijo que você desligue essa coisa - mandou o Cristiano humanal.

- Eu não sou uma coisa. Fui criado, ganhei vida, um coração, voz e um nome. Sei quem me construiu e de onde vim - retrucou ao se virar para ir para o laboratório; seu Éden.

Cristiano, então, foi andando até o robô e falando no caminho:

- Espera um pouco... Você realmente se acha melhor que eu ou igual? - ele parou no caminho do androide e o encarou.

Alberto e Sérgio ficaram atentos no mesmo lugar, já não preocupavam-se tanto com a empregada que parecia tirando um cochilo esparramada, mas segura na poltrona.

O androide também o encarou e deixou que o descompensado continuasse.

- Você não é ninguém. Não é nada! - gritou.

- Eu sou especial. Eles me querem na vida deles. Você tem defeitos, eu sou feito apenas para amar; tenho todas as suas qualidades, mas nenhum defeito.

Alberto quis agir.

- Calma, meu amor. O que o androide está querendo dizer é que ele não tem defeitos, não como nós seres humanos. Ele só tem qualidades.

- Você ouviu? - perguntou o androide ao homem na sua frente. - Eu sou mais perfeito que você, que é humano.

Cristiano respirou fundo, arqueando o rosto, só faltava soltar fumaça pelas ventas. Então quis dizer ao androide com sua aparência:

- Não, não é! O ser humano é maravilhoso exatamente porque ele tem qualidades e defeitos, e dúvidas! Você é só uma máquina. Você diz que tem sentimentos, mas o que realmente são sentimentos pra você? Hã? A tristeza traz o choro; o choro traz a lágrima, então você pode produzir lágrima, só isso. Mas você não sabe o que é a tristeza real no coração. Porque você não tem um!

- Você está querendo dizer que sou um monstro?

- É, é exatamente isso que você é: Um monstro, um erro do seu inventor! Somente um homem muito vaidoso, um pervertido pra criar um boneco que fala na intenção de te usar como um masturbador ambulante!

Sérgio e Alberto se entreolharam, desconfiados.

- Espera, Alberto... Esse aí não é o Cris. Mas não é mesmo.

O suspeito virou-se para eles e gritou para Alberto:

- Seu louco! Seu doido! Seu lugar é num hospício, Alberto! - com o rosto vermelho de raiva.

- Se você não botar ele pra fora agora, eu mesmo vou chamar a polícia. Você pode ser preso! E tenho certeza que está representando desde que chegou, pra esconder o medo e controlar a situação. Não nos subestime. Quem é você? Um irmão gêmeo do Cris?

Alberto ficou sério.

- Irmão gêmeo? Você é algum irmão do meu Cristiano? - ele voltou-se para sua criação. - E você, na condição de seu criador, vá para o laboratório. Somente agora você não deve estar aqui, é para o bem de todos.

- Estou indo, Alberto. Você sabe que não precisa dele, só de mim.

- Só de você - disse Alberto.

- Foi você quem me criou, e a criatura ama o seu criador.

- E o seu criador ama a sua criatura. Eu não vou te descartar, eu te fiz exatamente como você é, para mim.

- Te espero lá - e o robô foi, desviando-se do homem à sua frente.

Esperaram o androide se retirar, então o Cristiano humano adotou uma postura mansa e falou:

- Sobre essa suposição de eu ter irmão gêmeo, vocês estão errados. Eu sou Cristiano. Não quero esse androide aqui. Ele pode nos matar, eu posso ser assassinado por ele.

- De novo? Que eu saiba você já tinha morrido - ironizou Sérgio.

- Se eu sumi, a culpa é do Alberto.

Ao ouvir mais essa, o que pensava ter ficado viúvo esbravejou:

- Fora daqui. Seja você quem for. Se não consegue respeitar uma dor tão grande e falar a verdade!... Você vai se retirar da minha casa por bem ou à força?!

Sérgio sorriu.

- O quê? Está me expulsando?

- Estou.

- Vá embora. Já foi? - reiterou Sérgio, crente de que o tal não era o Cristiano deles.

- Mas eu sou casado com você, e voltei.

- O que enterramos no jardim depois do nosso casamento? O que era ou o que dizia nele?

- O que foi e o que... dizia?

- É.

- Bem, eraaquele... calma, eu ainda lembro... Ah: Eu sofri um acidente, já tinha me esquecido até desse detalhe. Perdi muitas das nossas lembranças, depois que fiquei em coma e sem memória por muito tempo na casa de um amigo.

- A Julieta parece que está voltando, Alberto - falou Sérgio olhando-a.

- Conta outra. Você não é o meu Cristiano! Não é! - Alberto gritou chorando.

Corta.

Horas depois no laboratório de Alberto...

***

O androide permanecia sentado em uma cadeira de Alberto. O Cristiano sem coração de carne buscou coisas em sua memória de robô… então ele emitiu lentamente as seguintes palavras:

- O amor não é sexo. E o Amor nos trata como pessoas… O amor nos enxerga não como árvores para ser exploradas… O amor não despreza… Esse humano de carne pode morrer dez vezes, eu continuarei aqui para dar amor ao meu criador… ao meu Alberto. O corpo que é para o sexo um dia morre… mas eu não vou morrer. Eu não morrerei… e o amor não é sexo… não é… - disse o androide.

Fim.

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OI, QUERIDOS! VOLTEI! EU TIVE UMA CONTA AQUI ENTRE FEVEREIRO E MARÇO, PUBLIQUEI ALGUNS CONTOS: APENAS FAZ DE CONTA, ESTOU APAIXONADO, LOVE NO METRÔ, entre outros. Perdi meus contos e minha conta aqui, criei outra esses dias. Espero que alguém se recorde de mim. Releiam meus contos lá no Wattpad, se quiserem. Eu quis apenas passar uma rápida mensagem neste do androide. Ainda mais neste tempo de Coronavírus. O ódio e a falta de empatia devem ter atraído esta pandemia mundial, é o que penso. Beijos e me sigam no Wattpad


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