Infravermelho

O primeiro flash de consciência alterou a cor da minha visão. A principal mudança de todas não aconteceu por eu ter visto o corpo do Ulysses de costas, tampouco por ter percebido a mesmíssima mancha que eu também possuía na parte traseira de sua coxa torneada e peluda. Não. Estávamos num quarto de hotel cinco estrelas, situado na orla da zona sul do Rio de Janeiro, iluminados apenas pela luz negra do ambiente, do jeito que o Deus Neon gostava de ficar. E, inacreditavelmente, a energia ao redor ameaçou morrer, como se começasse um apagão. Eu ainda sentia a ardência do pós sexo, tanto quanto o fogo dormente no corpo dos 18 anos que tinha agora, mas a mente continuava girando e oscilando que nem a energia indo e vindo. Até que os geradores do hotel foram acionados e, por qualquer razão metafórica existente, a luz negra não estava mais em tom ultravioleta. O ambiente estava numa cor vinho, uma paleta de cores escuras dominando, mas perto de um tom cereja fosco e cheio de sombras. Eu tinha que fazer a pergunta antes que ele saísse pra fumar na varanda.

- Ulysses..

Do outro lado do quarto, agora eu quase não o vi de costas pra mim, completamente nu e somente com a deliciosa silhueta marcada no gradiente de cores entre nós. Um charuto na mão e o rosto hesitando pra virar na minha direção, como se, por qualquer razão, o safado estivesse em alerta sobre o que eu ia perguntar.

- Me mostra essa mancha que você tem na perna?

Ele acendeu o isqueiro e isso deu luz suficiente pra que eu conseguisse ver o sorriso de deboche, enquanto começava a queimar a ponta do charuto e me olhava de rabo de olho. Jogou a fumaça no escuro e respondeu.

- Só se você me mostrar a sua primeiro, pivete abusado!

Então ele realmente estava ciente de tudo que eu estava pensando. Aquele homem na minha frente não era apenas o empresário truculento que havia tirado minha virgindade, não. Ulysses era algum parente de sangue. E, no fundo da mente, eu sabia bem o que ele era meu.

- Cara, a gente é da mesma família!?

Não sabia por onde começar, de tanta empolgação. Levantei da cama num só pulo e fui direto no frigobar enquanto continuava a série de perguntas, tentando entender qual era a probabilidade de conhecer meus parentes biológicos numa cidade tão grande como a nossa. Só que, ao contrário de mim, ele só continuou fumando e me olhando, agora nu e sentado de pernas abertas numa poltrona do outro lado do quarto. A fumaça iluminada por vários tons escuros de cores menos brilhantes que o carmesim, uma coxa por cima do braço do móvel e um ovão mais caído que o outro no saco pendurado. Tudo era muito conveniente ao raio infravermelho que passaria na minha vida a partir de agora, tal qual um pente fino.

- Como você pode ficar tão tranquilo com isso, Ulysses!? E se você for o meu pai!?

Aí ele deu a primeira reação, bem quando eu lhe entregava um copo de uísque pra beber junto comigo.

- HAHAHAHAHA!

A gargalhada que antes me enojava, agora eu conseguia deixar passar batida, mesmo sabendo que era puro deboche dele. E isso me deixava até meio receoso, porque aquele cara não demonstrava o menor interesse em saber do porquê de nós dois termos a mesmíssima marca de nascença.

- Eu já não te falei que não sou teu pai, moleque? Não tenho nenhum filho, ainda mais pivete assim que nem tu.

E bateu na coxa, indicando meu lugar. Isso sim me deixou animado, então atravessei a fumaça e sentei. Ele brindou no meu copo e virou toda a bebida de uma vez, passando a mão grossa por trás da minha cintura e puxando pra si. Deu um beijo safado na minha boca e me deixou sentir o gosto do álcool misturado ao do charuto que fumava.

- Então, você é o que meu?

Ele me tirou de seu colo e ficou de pé, andando pra perto da varanda.

- Eu sei lá, pivete! Tu faz muita pergunta difícil, vê se dá um tempo.

Seu tom sério só mostrava o quanto se sentia incomodado com as minhas dúvidas. Mas era injusto que talvez o Ulysses soubesse de coisas a meu respeito e não me contasse, já que eu mesmo não o sabia e só começava a descobrir agora mais velho.

- Mas eu preciso saber, pai! - provoquei.

Aí sim ele ficou visivelmente desconsertado, prestes a dizer algo, mas sem saber o que. Andou lentamente até o frigobar, abriu algumas garrafinhas de vodka pura e foi virando uma à uma. Se estava querendo ficar bêbado, então havia sentido no que eu dizia, porque isso o deixava necessitado de bebida, talvez pra fugir da realidade.

- Eu não sou pai de pivete, Jonathan!

- É sim. Você é o meu pai e ainda por cima tá me comendo, olha que situação!

Pra mim eram só brincadeiras, mas o Ulysses se viu irritado de verdade com as provocações e, num determinado momento, segurou meu rosto de forma séria e falou olhando no meu olho.

- Me promete uma coisa, Jonathan. Tu vai confiar em mim, não importa o que eu te diga. Me promete isso.

- Como posso prometer isso pra um cara que sabe de muita coisa e não quer me contar?

- Porra, mas tu só sabe fazer pergunta!? Só responde, para de perguntar!

Eu queria, mas não tinha como. Se dissesse que confiaria, seria da boca pra fora. Isso pra não falar do fato dele ser casado e estar ali comigo, além de frequentar puteiros, ou seja, era praticamente impossível acreditar nas palavras de alguém com tais atitudes contraditórias.

- Tudo tem seu momento, Jonathan. Eu só preciso que você confie em mim.

- Mas por que você não pode me contar tudo agora?

Ele pôs as mãos na cabeça, como se estivesse ficando sem paciência. Ao mesmo tempo, foi outra vez até o frigobar e pegou mais vodka, virando tudo purinha, sem nem diluir em alguma outra bebida. Isso me fez perceber que, quanto mais nervoso, mais o Ulysses bebia e também se mostrava um pouco mais solto pra conversar. Pensando nisso, disfarcadamente, voltei a acompanhá-lo a beber só pra poder continuar no clima amistoso da conversa.

- Se você me contar tudo, eu juro que vou entender, aí prometo qualquer coisa.

- Não funciona assim, moleque! Confia em mim quando eu digo isso!

O tom era cada vez mais arrastado e pesado, mas tomar vodka talvez tenha me deixado menos paciente, ainda mais sentindo que não saíamos do lugar em relação aquele assunto e a tudo que eu queria saber.

- Eu confio, Ulysses! Agora conta logo!

- Já te disse, Jonathan.. Não é assim.

- Se você continuar me tratando igual criança, eu não vou ter como confiar em você.

Pra evitar uma discussão maior, ele não falou mais nada. Caminhou lentamente até à cama e começou a se vestir.

- Onde você vai?

- Tenho que ir em casa.

- E eu?

- Você fica por aqui, oras. Só falta querer ir comigo né moleque!

- Agora olha que justo, você me deixa aqui sozinho, sabe de várias coisas e não me conta. E ainda quer que eu fique aqui, te esperando voltar sorrindo, né?

Ele me segurou pelos braços de forma apertada, achei até que ia tentar fazer algo sério comigo. Mas aí falou tão perto que senti o hálito quente e pesado de álcool.

- Faz o que você achar melhor, eu não sou seu pai mesmo.

Pegou um capacete de motoqueiro e se preparou pra sair.

- Então é só isso, né Ulysses? Pode deixar que eu vou ficar aqui te esperando voltar sim.

Mas ele ignorou, bateu a porta e saiu, me deixando pra trás cheio de dúvidas e perguntas pra esclarecer. Aquele era meu vínculo sanguíneo mais próximo, alguém que eu ainda não sabia quão próximo era de mim, mas que não me falava nada do que sabia. Enquanto isso, essa sensação de falsa realidade só me consumia, como se eu estivesse num desses filmes cults com paletas de cores alternativas só pra dar um ar de conceitual. Por que era tão difícil ele me falar da minha vida? Estava quase sempre diante de mim durante todo esse tempo e não falava nada do que eu queria saber. Não tinha como confiar, muito menos como não ficar revoltado com esse tipo de índole.

Naquela mesma noite, poucos minutos depois que o Ulysses foi embora e me deixou pra trás, eu sabia que não ia conseguir simplesmente deitar e dormir, então decidi tomar um pouco de ar fresco e colocar a mente pra trabalhar. Troquei de roupa e vesti algo mais confortável que trouxe na mochila, e aí saí pra correr pela orla, pensando que seria o ideal pra espairecer e deixar os pensamentos esvaziarem da cachola. Se não fosse pelo ranço que havia tomado da minha família adotiva, com certeza apareceria lá pra fazer um milhão de perguntas sobre tudo que estava acontecendo. Uma péssima ideia pra se ter, depois de tudo. Corri por uns 300 metros só acompanhando a beira da praia, tomado pelos pensamentos e também pelo cheiro da brisa marítima noturna. O vento da noite era frio, o ideal pra dar aquela refrescada mental. Mas nada durou muito. A claridade e o som da sirene policial atravessaram meus ouvidos e meu rosto, e aí eu fui parando aos poucos, já no cantinho da calçada da pouco movimentada avenida. Um pouco do lado, sentado num banco grande desses de pracinha, reconheci Ulysses tomando uma dura do PM que estava de pé. Fui na direção deles.

- Boa noite. - falei enquanto passei.

- Boa noite, meu amigo.

- Licença.. Ulysses?

Ele levantou a cabeça e vi os olhos marejados, o cabelo bagunçado e a cara nítida de embriagado ao máximo. A calça toda suja, furada, meio rasgada, e a moto caída de lado sobre a pista de ciclistas, ainda ligada.

- Pivete? - ele me reconheceu.

O PM não se conteve.

- Pivete!?

- Não, moço, a gente se conhece. Ele não tá muito bem.

- Tira ele daqui, Jonathan. - Ulysses tentou falar, mas estava muito ruim. - Dá logo o que ele quer.

E pôs a mão no bolso interno do paletó, como se fosse tirar dinheiro. O policial viu isso junto comigo e já foi anunciando o quão fodidos todos nós estávamos.

- Acho que o senhor está me confundindo.. Será necessário conduzi-lo até à delegacia ou o senhor vai aceitar fazer o bafômetro aqui mesmo?

- Não complica, Ulysses.. - pedi.

Mas não teve jeito. Ele arrancou um bolo de notas que pareciam dólares, todas enroladas num chumaço farto, preso em elástico. Levantou todo trôpego e se apoiou em mim, andando meio que cambaleante. Apontou na cara do PM e falou.

- Tu não merece euro não, seu rato!

Abriu-lhe a mão e colocou o dinheiro todo nela, daquele jeito meio bêbado e com o olhar lutando pra se manter aberto. Sem falar nada, o seu polícia só viu a gente indo em direção à moto e se meteu de volta pra dentro da patrulhinha, onde estava seu parceiro. Falaram alguma coisa e saíram rápido dali.

- Que merda você aprontou, Ulysses? Tá maluco!?

- Ah, tu conhece esses merda..

Ele não se aguentava em pé, totalmente lento e grogue.

- Só parei pra tomar mais umas, nada demais.

- Você ainda bebeu mais? Porra, Ulysses!!

Devagar, o coloquei apoiado num poste e fui pegar a moto. As poucas pessoas que passavam mal se davam o trabalho de olhar pra saber do que se tratava, talvez por medo ou receio de ser algo perigoso.

- E agora, como a gente vai embora?

Ele já tinha pensado em tudo, mesmo naquele estado, ou então era apenas um plano B que já existia pra quando esse tipo de coisa acontecesse. Deixou a motocicleta como se estivesse estacionada ali e enviou mensagem pra alguém. Aí pediu um uber e em poucos minutos estávamos de volta ao hotel.

- É melhor você subir, Ulysses. Sobe comigo.

- Eu tenho que ir pra casa, seu moleque. Não me pede pra ficar.

- Eu peço. Fica, por favor. Eu prometo que não vou perguntar mais nada. É meu presente de aniversário.

Com aquela cara de destruído, ele ainda sorriu e finalmente se viu derrotado pela noite, talvez por mim e pelo meu pedido inesperado, que confesso que nem eu mesmo imaginei que pediria daquela forma. Ele pagou ao motorista e saiu do carro. Sem muitas palavras, subimos pelo elevador e eu me controlei pra não quebrar a promessa que fiz de não enchê-lo de perguntas outra vez. Me senti bastante culpado por tê-lo dado mais bebida e depois deixado que saísse pra dirigir. Eu queria saber de muita coisa, mas nada justificava essa atitude imprudente e que colocou em risco a vida de outra pessoa. Eu era muito egoísta e idiota mesmo, tinha que aprender a pensar numa coisa de vada vez. Ou tentava entender o Ulysses ou procurava detalhes da minha história, então tinha que andar devagar em prol desses objetivos, sem sede ao pote.

Quando chegamos no quarto, eu o coloquei sentado na cama e fui tirando sua roupa lentamente. No começo, quando tentei remover a blusa, ele resistiu um pouco até perceber do que se tratava, mas aí viu que era eu e até abriu um pouco os olhos, me observando enquanto o despia por completo. Lentamente, ajudei que ficasse de pé e fui com ele pra dentro do banheiro. Liguei o chuveiro no frio e o pus debaixo, deixando que a água caísse livremente e fosse bem distribuída pelo corpo, iniciando pela cabeça tonta de álcool. Ele não estava machucado, só um pouco ralado nos joelhos e ombros, mas nada muito sério. E continuava sorrindo ao ver meu esforço em prol de sua melhoria.

- Você quer me matar, né? - falei.

- E desde quando tu se importa, moleque?

- Ah, para de brincadeira, Ulysses! A gente não é coleguinha de escola, não! Tu é um homem, porra! Né criança!

- Tu que tá querendo me matar, Jonathan.

E me puxou pra baixo d'água num abraço, caindo em cheio com a boca no meu pescoço e logo alcançando a minha. Ali estava eu, sentindo a língua e o hálito alcoólicos do homem que tanto me deixava em dúvidas, com a roupa do corpo toda molhada e me entregando a ele debaixo do chuveiro frio, que eu nem gostava tanto. Mexendo a cabeça de um lado pro outro, deixando que ele me possuísse onde bem entendesse, se é que entendia. Nós tomamos um banho gostoso nesse clima de reconciliação pós briga e susto e o Ulysses foi voltando um pouco a si, mas ainda bem bêbado pela quantidade grande de álcool que ingeriu num curto espaço de tempo. Ele voltou ao quarto antes de mim e fiquei um tempo no banheiro ainda terminando de me lavar. Quando retornei, ele estava sentado na cama e com os olhos cheios d'água.

- Ulysses?

- Por favor, Jonathan.

Abriu os braços e fui até ele devagar. Aí fui abraçado e fomos caindo lentamente na cama, até ficarmos completamente deitados, ainda nus, ele agarrado com o meu ventre como se fosse uma criança em desespero, começando um choro sincero e carregado. Nos momentos mais difíceis, o homem sempre se mostra tendente à posição fetal, que tanto o protege do mundo durante a gestação. E há quem duvide da psicologia humana. Eu estava prestes a testemunhar seu lado interior. Uma bagunça!

- Diz que tu não vai me abandonar. Por favor!

De uma hora pra outra, eu vi o menino que Ulysses era por dentro. Não. Aquele na verdade era o verdadeiro homem dentro dele. Aquela sim era a pessoa frágil escondida por trás de toda a aparência, arrogância, ego e marra que aquele empresário rico ostentava a todo momento. O resultado de tanto tempo sendo ocultado atrás de inúmeras defesas e barreiras construídas pra se viver nesse mundo injustamente dominado por homens. Homens que acreditam em deuses. Deuses que governam desde meninos. Meninos que choram no ventre de outros homens quando a coisa complica. Um ciclo metafórico que, no fim das contas, me deixava perguntando se de repente eu não era o pai do Ulysses, dadas nossas posições naquela situação.

- Diz que vai ficar sempre do meu lado, diz pra mim!

Eu acarinhei seu cabelo curto e senti as lágrimas descendo pela minha barriga, ao mesmo tempo que a barba roçava minha pelve. Antes ele sabia que o que era dele sempre voltava, agora precisava de ouvir minha confirmação. Era realmente uma análise em infravermelho, mas não só da minha vida, das nossas e do que o fez ser aquele homem que estava ali comigo. Talvez, e talvez esse seja o talvez dos talvezes, nossas existências fossem mais interligadas do que eu mesmo imaginava.

- Quando foi que você esqueceu que eu sou seu, ein? - perguntei.

Isso o fez soluçar no choro, me apertando ainda mais. Ulysses realmente me precisava, assim como eu também precisava dele. Ele continuou descarregando as frustrações em lágrimas durante bastante tempo, eu nem percebi quando o silêncio se instalou por completo e nós dois pegamos no sono. Quando acordei pela manhã, estava completamente sozinho. Nenhum sinal do empresário por perto, nem roupa, bilhete, recado, nada. Pior que eu não tinha nem o número dele pra mandar mensagem, então estaria à mercê de sua próxima visita. Só eu e a luz negra, agora abaixo do vermelho.

Passei o resto dos dias com aquela cena do Ulysses chorando no meu colo durante a noite no hotel. Nós dois na cama, apenas sob o canhão castanho avermelhado do ambiente, um aproveitando a companhia e o calor do outro e eu garantindo a ele com minha palavra que era dele, só porque me senti comovido por seu desespero, sua súplica. Ainda assim, seguia cheio de dúvidas e perguntas sem respostas, ciente de que ele provavelmente as tinha todas, mas ainda não estava pronto pra me dá-las. Pra não falar que ficava socado naquele quarto e sem nada pra fazer, querendo sair, aproveitar a maioridade, ver gente, mas ainda assim totalmente limitado e lidando com o tempo. No fim de tarde da sexta-feira, Ulysses entrou pela porta do hotel, eu tava acabando de sair do banho. Assim que me viu, deu um sorrisão.

- Paai! - exclamei e já gargalhei.

Ele fechou a cara na hora, mas não perdeu a animação.

- Já vai começar de novo com isso, seu moleque?

- Ah, relaxa, vai! Eu finjo que não tô curioso pra te encher de pergunta e você finge que não liga de eu te chamar assim, combinado?

Ele levantou uma sobrancelha, mas sem desfazer a cara amarrada. Ignorou e continuou falando.

- Bora dar uma volta? Quero te levar num lugar.

- Finalmente, pai. Já tava cansado de ficar dentro desse inferno. E vem cá, até quando eu vou ficar aqui?

- Lá vem você com as perguntas. Tua sorte é que eu tô de bom humor hoje.

E aí essa foi minha deixa pra comentar sobre nosso último encontro, no qual ele desabafara tudo em forma de choro, que nem um menininho.

- Também, né? Depois de tanto chororô naquele dia, não tinha como continuar triste!

Até cruzei os braços pra fazer uma certa pose de marrento pra cima dele. Mas Ulysses era imbatível na arte do cinismo, conseguia fazer cara de desentendido como se nem estivesse na situação.

- Não sei do que tu ta falando, Jonathan.

- Ah não, né? "Por favor, não me abandona!" - comecei a imitar um chorão.

E aí ele veio pra cima de mim, me derrubando nu na cama e caindo por cima do meu corpo molhado. Isso também molhou sua roupa toda engomadinha, só com a parte do colete e da blusa do terno, sem o paletó por cima e calça social. Estava bem arrumado, então imagino que se preparou pra algo grande. Deu-me um beijo gostoso e mordeu meu lábio inferior, forçando ainda mais o corpo no meu.

- Se arruma direitinho, moleque. Bora aproveitar a noite.

Eu não tinha muita roupa, mas fui fazendo o meu melhor com o que trouxe pra conseguir não ficar parecendo um pivete, como o próprio Ulysses dizia. Enquanto ia me arrumando, ele sentou na poltrona, cruzou a perna e acendeu um charuto, me observando com aquele corpo enorme e todo elegante, admirando minhas curvas e movimentos lentos.

- Se a gente não tivesse atrasado, eu te mandava parar agora mesmo.

- Ah, é?

- É. E como eu sou um sujeito de palavra, não tolero atraso. Sabe o que isso significa, né?

Virei de costas e abaixei pra suspender a cueca, ficando com a bunda virada em sua direção, o cuzinho bem exposto. Subi puxando os elásticos e só então o respondi.

- Não. Sei não.

Ele só faltou lamber os beiços, apertando a mala marcada pelo tesão já latente entre nós. Não precisávamos de muito, o pouco já se mostrava surpreendente.

- Ah, não? Então lá em baixo eu te explico.

O corpo pegou fogo com aquela incitação clara de putaria. Terminei de me vestir num minuto e passei perfume, me adiantando pra sair. Aí ele me parou.

- Pode juntar tudo pra levar, tu não volta mais pra cá.

- Ué? É sério?

- Vê se eu tô rindo.

E estava, mas propositalmente. Obedeci e comecei a guardar tudo, me sentindo feliz por dentro, mesmo sem saber pra onde iríamos depois dali. Estava com mais perguntas ainda pra fazer, mas a todo momento me lembrava da promessa de não perguntar mais nada, só ser paciente, então era o que cumpria. Além disso, naquele instante algumas inquietações sossegavam dentro de mim, como por exemplo o fato de querer saber até quando ficaria vivendo naquele quarto de hotel. Então começaríamos por partes, sempre com calma e cuidado.

No elevador mesmo a gente já foi se beijando, mas parou quando chegou ao hall do hotel pra não chamar muita atenção. Eu só com a mochila nas costas, de bermuda, all star e blusa preta, ele todo engomadinho e elegante, ambos bem cheirosos, mas o safado de pau durão e bem marcado na calça, de tanto que veio me roçando no elevador. Assim que entramos no carro e eu fui colocando o cinto, ele me parou de novo.

- Não, não. Eu disse lá em cima que não ia te parar por causa do tempo, mas aqui são outros quinhentos. Já estamos a caminho.

- Como assim?

Ele subiu os vidros totalmente escuros, ligou o ar e abriu o zíper da calça social, se aconchegando no próprio assento e passando à primeira marcha pra poder deslocar o veículo. Como eu não acreditei naquela ousadia e não me movi, ele também não saiu do lugar com o carro. A caceta pulsou firme e veio pra fora, toda grossa e veiuda, com a cabeça já respirando firme e forte.

- É sério?

- Eu tô rindo, moleque? Bota logo essa vara na boca, porra!

Aquele pedido era uma ordem, mesmo eu tendo perdido a virgindade há pouco tempo e não sendo tão experiente. Mas era safado, mais que o necessário. Abaixei com tudo em sua virilha, abri a boca e engoli a cabeça do caralho meio adocicado e cheiroso do Ulysses, tão robusto quanto ele mesmo e sua personalidade também o eram. Se visse o pau dele antes, com certeza saberia que pertencia a si, só pelo jeito grosso e estúpido de tentar foder minha cara enquanto dirigia.

- Ssssss! Tu sabe bem o que faz, né seu safado?

Ele conduzia o volante e às vezes parava pra me olhar, revezando entre observar os retrovisores, a pista e minha cara de pidão, com a bochecha estufada por sua pica marrenta e o saco deixando cheiro no meu queixo. Até que saímos da estrada principal e paramos num sinal fechado, aí ele aproveitou pra brincar de esfregar a vara na minha boca e língua, como se escovasse bem a cabeça nas paredes internas, fazendo bastante atrito. Eu cheguei a sentir o gostinho doce da baba saindo.

- Hmm! Que boquinha deliciosa!

- Gosta, né?

- Tenho que gostar, moleque! É rara uma dessas! Nem as piranhas lá do Pachola fazem essas graças!

Eu era comparado às garotas de programa e endeusado pelo próprio Deus Neon que eu mesmo venerava, ao mesmo tempo em que me mantinha abaixado diante de sua imagem ao volante e engolia seu cacete com força, dedicação e maestria, totalmente devoto ao seu prazer naquele ritual de luxo promovido pela minha mamada. Mais e mais ele foi se soltando, a ponto de suspender o quadril do próprio banco só pra ir mais lá no fundo e brindar minha garganta aflita, dançante em sua glande, quase que em prece.

- Hmmmm!

Com a mão, segurei o talo daquele caralhão, botei tudo na boca e comecei a engolir firme e forte, com movimentos de vai e vem e na intenção de mostrar que gostava muito do que fazia. Ulysses endoidou, deu de virar o volante rápido, como se a qualquer momento fôssemos bater em cheio num muro.

- Tá maluco, Jonathan!? Porra! Sssss!

Mas eu tava ocupado demais pra responder, só saciando minha fome de rola e o desejo sexual dele. O puto ainda me deu um tapa na cara, mas não parei. Virei ainda mais o rosto em sua direção e continuei voraz na chupada, que nem bicho. Dois homens se dando prazer pela estrada, que nem animais noturnos. Senti seu corpo estremecendo e a pele arrepiando toda.

- Ssssss! Piranho! Para com essa porra!!

Nunca pararia, venerar era comigo e nossa combinação resultava nisso. Ele suspendeu o corpo e encheu minha garganta de porra quente, tantas jatadas que mal dei conta de engolir tudo, por mais fundo tivessem ido. Quatro ou cinco, umas poucas acabaram saindo e escorreram por entre os pentelhos que há poucos minutos só sabiam o que eram minhas narinas, tanto é que eu só sentia o cheiro deles. Antes mesmo de engolir todo seu leite quente, o puto ainda me puxou pra dar um beijaço. Era tão safado que queria sentir e se lambuzar com a própria porra diretamente da minha boca, seu local de despejo. Quando dei por mim, já estávamos até estacionados, só o carro ligado.

- Piranho!

- Eu sei que você gosta!

- Limpa essa boca que isso aqui é um teatro.

- Teatro?

Eu nunca imaginaria que um homem do tipo do Ulysses frequentaria esse ambiente cultural, de repente era até uma ideia preconceituosa que eu tinha com o fato dele ser alfa e não poder ser instruído. Era sem fundamentos pensar assim, porque desde que o conheci, o empresário só mostrou o quão inteligente era, apesar de desconfiado e carente à beça. Mas ali estávamos nós, limpando a boca pra entrar num teatro e assistir um espetáculo.

A peça não durou muito, mas em todo o momento ele pareceu focado no palco. O enredo descrevia uma família marcada pelo complexo de Édipo reverso do filho mais velho, no qual ele se livrara da mãe só pra ter um caso afetivo com o próprio pai, algo que me fez ter a certeza de que Ulysses era meu pai, mesmo que continuasse a negar isso. Eu até tentei perguntar o porquê daquela peça, mas ele disfarçou e disse que recebeu convites de amigos e prometeu que iria, então não poderia descumprir com a própria palavra, além do fato de querer me levar pra sair. A gente passou num restaurante cinco estrelas, já tarde da noite, e jantamos só nós dois ali. Eram luxos e condições que seu dinheiro proporcionava, mas que na realidade eu não precisava ou fazia questão, mas o acompanhava com toda a vontade possível. Minha única necessidade era apenas estar com ele, independente da onde, e ele com certeza sabia disso. Já no começo da madrugada, depois de várias voltas pela parte alta da cidade, ele nos conduziu à uma região mais reservada da zona sul, onde só tinha apartamentos. Eu fui ficando cada vez mais nervoso com a ideia de provavelmente estar prestes a conhecer a família do meu pai, ainda mais pelo fato de ter um relacionamento com ele, tal qual o Rei Édipo da peça que assistimos. "E se for outro hotel?", pensei. Subimos uns cinco andares pelo elevador e andamos por um curto corredor de portas elegantes até chegar à última. Ele abriu e me deixou entrar primeiro. Veio logo atrás de mim e acendeu a luz. Estávamos numa sala espaçosa e aparentemente vazia de pessoas, mas bem mobiliada, com tv de plasma na parede, alguns quadros, tapete no chão, sofás e uma divisória para a sala de jantar. Estantes, livros, abajures em formatos chiques.

- Uau!!

Não tive como esconder o espanto pela beleza do apê do meu pai. Ele com certeza tinha excelente gosto, por mais casca dura que parecesse por fora.

- Gostou, moleque?

- Porra, olha essa vista!

Da sacada, tinha visão de parte da orla um pouco distante, fora o cristo redentor e algumas serras ao fundo. O céu escuro com milhões de estrelas brilhantes iluminou meus olhos.

- Que bom que tu gostou..

Levantou a mão e estendeu uma chave, que jogou em minha direção.

- Porque é teu.

Eu não fiz nada, só pisquei e o continuei encarando, sem reagir. Ele então deu um sorrisinho por causa disso.

- Que?

- Não precisa perguntar se é sério só porque eu tô rindo. - continuou.

Mas eu me mantive estático. Não tinha o que dizer praquela piada.

- Fala alguma coisa.

- O que você disse!?

- Esse apartamento é teu. Antes que tu comece com as pergun-

- COMO É MEU? VOCÊ É LOUCO!?

Tarde demais, eu já comecei.

- Calma, Jonathan!

- COMO VOU FICAR CALMO, ULYSSES!?

Ele riu de verdade do meu desespero pela notícia. E aí foi se permitindo falar um pouco mais do que tava rolando.

- Esse é o teu presente de aniversário atrasado. Agora que tu tem 18 anos, vai precisar de um lugar pra ter a própria vida.

- E por que você tá me dando esse presente?

Antes dele responder, tornei a falar.

- Ah, que pergunta né? Só pode ser porque você é meu pai!

Ele riu ainda mais e pôs a mão no rosto, mas com aquele tom de brincadeira de quem não aguenta mais.

- Tu não desiste, né?

- Que motivo você teria pra me dar um apartamento na zona sul se não fosse por ser meu pai, Ulysses?

- Ué, moleque! Eu sou rico, posso dar um desse pra quem eu quiser.

E ainda balançou o relojão no pulso, todo marrento e se achando. Aquele era mesmo um macho alfa egocêntrico que me fazia rir de amores.

- Eu não sei se posso aceitar. Mas obrigado mesmo assim, pai.

- Claro que sabe e vai aceitar sim. É tudo teu, só me pediram pra te dar.

- Ah, pediram né? - ri.

- Sim, pediram. Pode rir mesmo. Vou te deixar no teu novo apartamento porque a noite foi boa, mas amanhã alguém acorda cedo.

E foi virando pra sair.

- Isso é sério mesmo?

- Tu não desiste, ein!? Porra, pivete!

Era muito difícil de imaginar, mas ali estava eu, aos 18 anos, saindo da vida merda na mercearia da minha mãe adotiva com meu padrasto e indo pra um apartamento da zona sul do Rio de Janeiro, presenteado pelo pai biológico do qual eu havia sido separado há anos por qualquer razão que talvez ele soubesse, mas que ainda não me contaria. Pode parecer que, ali, eu tinha me encontrado, porém era exatamente o oposto: nunca estive tão mais perdido, sentindo-me completamente à deriva do meu próprio ser, da minha própria história. Ao ponto de não saber se devia me sentir feliz ou preocupado pelas coisas que estavam acontecendo e também pelas que viriam depois. Passei o resto dos dias pensando, mas fiz isso num apartamento espaçoso e todo mobiliado, com uma suíte enorme e equipada até com computador e hidromassagem.

Tornei a ficar alguns dias sozinho, só que dessa vez o Ulysses me avisou que teria que fazer algumas viagens e por isso levaria um tempo até aparecer. Ele me fez prometer que não sairia do apartamento pra nada e que, caso saísse, não iria longe. Eu prometi, mas arrependido, porque estava procurando emprego e sabia que se fosse chamado, com certeza sairia. E não deu outra, recebi um e-mail com uma entrevista marcada e não desperdicei a oportunidade, sabendo que o empresário ficaria muito puto se descobrisse o que fui fazer.

- "Tu ainda não precisa trabalhar, vai estudar moleque!" - ele dizia.

Mas eu tinha que ganhar meu próprio dinheiro, não ia ser o tipo de filho bancado pelo pai o resto da vida, muito menos tendo o descoberto agora. Sendo assim, me informei sobre os ônibus que precisaria tomar até o Centro e fui. Estava um pouco preocupado pela minha roupa, já que ainda não havia feito compras e tinha poucas peças, mas ainda assim fui confiante. Não levei 20 minutos lá e a mulher me dispensou, dizendo que entraria em contato dentro de uma semana. Fiquei esperançoso, mas confesso que um pouco puto por ter me deslocado tanto por algo tão vago assim. Até que lembrei de um lugar que poderia visitar e era ali pertinho. Não deu outra, meti o pé pra lá e, em 15 minutos, estava diante da mesma portinha com cerejas de led apagadas pelo sol do dia. Entrei e estava tudo escuro, bem como nos dias de trabalho das meninas. No balcão, vestido com roupas femininas, estava o coroa que me deu lar quando precisei.

- E aí, Pacha?

Ele não acreditou quando me viu. Primeiro sorriu, depois se espantou.

- O que você tá fazendo aqui, Jonathan!?

Sua resposta me disse que algo não estava certo.

- Ah, eu tava passando e resolvi vir visitar.

Veio na minha direção e se preparou pra me fazer dar meia volta.

- Lembra do que pode acontecer se o Senhor Ulysses te encontrar aqui, pirralho?

- Ah, ele já esqueceu disso, Pacha! Relaxa! E ele nem precisa saber que eu tô por aqui.

E aí ele parou, com aquele olhar de sem saber o que dizer, perdido em palavras. Olhei pra trás e não vi nenhuma das meninas no palco dançando, sendo que o ambiente estava todo ligado por dentro. Pensei um pouco e não precisei de muito pra entender o que tava acontecendo. Eu mesmo já tinha visto o bordel funcionando em plena luz do dia antes e só uma pessoa tinha poder pra fazê-lo.

- Ele tá aqui, não tá?

O coroa não respondeu, só continuou me olhando e entre meu corpo e a passagem pras escadas, como se desse a entender que era melhor não subir.

- Como você tá, Jonathan? - tentou disfarçar.

- Responde, Pacha! Se não eu mesmo vou lá ver.

Sem muita dificuldade, passei pelo curto vão disponível pra que alcançasse os degraus atrás dele. De dois em dois, logo eu tava lá em cima, vasculhando de porta em porta até que os olhos alcançassem o que tanto queriam: Ulysses. O Pacha até veio atrás de mim, mas nada me impedia de continuar procurando e abrindo quarto por quarto, interrompendo várias fodas de pessoas diferentes só pra encontrar meu pai. Quando cheguei ao terceiro andar, não precisei de muito pra saber onde era o lugar certo. Escutei de longe o gemido aflito e assustado dela. Corri na direção e girei a maçaneta a tempo de vê-lo dar um tapa em cheio no lombo da Mercedes, de quatro na cama e com o corpo indo e vindo pra frente e pra trás com os trancos e porradas, os braços puxados. O quarto escuro e todo brilhante, com aqueles detalhes em neon sendo evidenciados pelo canhão de luz ultravioleta. Ao redor deles, lotado de mulheres nuas e todas me olharam assustadas naquele movimento repentino de abrir a porta. O Ulysses me olhou também, mas continuou o que fazia. Eu vi na Mercedes a cara de quem não queria estar ali.

- Ulysses.. - comecei.

Mas nem era com ele. Ainda botou as mãos pelas ancas da morena e começou a meter firme, fazendo questão de me olhar, mostrando que não se arrependia do que estava fazendo, pelo contrário. Fazia e fazia bem feito, pra eu e todo mundo ver e saber que aquele ali era ele. Se um dia conheci seu extremo sensível e vi seu choro, agora estava prestes a conhecer o outro extremo, o físico e possessivo. A vontade do quadril, o desejo de possuir, a libido irreparável e o poderoso ego de um homem lascivo. Coisas que você nunca encontraria num rapaz puro, sem conhecimento de mundo. Tudo parte da complexa e fragilizada psique do meu macho.

- Devagar!! - ela pediu, mas não foi atendida.

Algo não me deixou ficar mais puto do que o normal. Quer dizer, eu tava bem puto por vê-lo ali novamente, ainda mais com a impressão de que o cara tava visivelmente bêbado àquela hora do dia e também pelo fato dele ter mentido pra mim quando disse que sumiria por algum tempo, e no fim das contas estava ali com elas. Por que não estava comigo, se tinha tempo pra elas? Só que, ao mesmo tempo, se tudo isso estava acontecendo, era porque talvez aquele homem realmente precisasse e muito de mim, da minha ajuda, do meu apoio e afeto. Era nessas situações que as respostas das minhas perguntas apareciam, ainda que nem todas e também nem sempre nítidas pra eu entender de cara.

- Vamos pra casa? - falei.

- O que tu tá fazendo nessa espelunca, seu moleque?

- Eu vim te buscar. - menti.

E aí ele olhou pro Pacha atrás de mim.

- Foi tu, né Pachola? Como tu conseguiu ligar pra esse pivete?

Só então parou de foder e veio de pau durão na nossa direção, preparado pra fazer alguma coisa. O coroa se encolheu atrás de mim e eu deixei que meu pai viesse, ficando bem posicionado entre eles.

- Relaxa aí, Ulysses! Eu nem tenho celular, lembra?

- Então como ele te achou?

Parado na minha frente, ele bufou de raiva, tanto por ser impedido de tocar o dono do bordel, quanto pelo esforço sexual que fazia há poucos segundos. O caralho ainda ereto e batendo na minha cintura, os braços cruzados e os olhos castanhos me encarando com disposição pra qualquer coisa. Mas eu não tinha o que temer, era tudo questão de conversa.

- Eu vim no Centro procurar trabalho..

- E tu quer trabalhar num puteiro, seu putinho? Tá precisando de um cafetão?

Ao redor, as mulheres se mantinham atentas e talvez se perguntando o porquê deu respondê-lo insistente e pacientemente.

- Não, Ulysses. Eu vim no Centro, já fiz a entrevista, e aí decidi passar aqui pra ver o pessoal. Só isso. E te encontrei, olha que coincidência!

- Tu não me prometeu que ia ficar dentro de casa, moleque?

- Prometi, mas vim na entrevista. E você não disse que ia viajar e ficar fora esse tempo todo?

A cara de quem não gostava de ser cobrado. Ele bufou na minha face como se fosse um touro, virou de costas e novamente me deixou vislumbrar a mancha escura sob a nádega, atrás da coxa, assim como o trapézio estufado de forma que nunca vi antes. O que tinha de lindo, tinha de marrento. Serviu-se de um copo de rum e virou de uma só vez, batendo na mesa. Virou de frente, me fitou no olho e acendeu um charuto. Sem desviar, puxou a fumaça e falou breve.

- Rala geral.

Com os braços pra trás enquanto esperava, completamente nu e o corpo enrijecido, o caralho ainda meia bomba e o desejo atendido. Todo mundo foi saindo e, ao passar por mim, Mercedes falou.

- Cuidado com esse homem, menino! Você não sabe do que ele é capaz!

- Rala logo, piranha! - ele retrucou.

Pacha fechou a porta e nos deixou ali a sós. Só nós e o canhão ultravioleta do quarto de bordel, que deixavam seus pelos do corpo parecendo grisalhos de tão brancos naquele efeito fluorescente. Um verdadeiro deus neon, que agora me julgaria como um homem pelos meus pecados diante de sua devoção. Eu estava pronto.

Teria que suplicar pra ter minha vida poupada e, sinceramente, me sentia preparado pra isso. Parte de se tornar um adulto tem a ver com encarar as coisas como um adulto, então não tinha como enrolar mais nada. A gente teria que ter aquela conversa, antes ou depois do choque físico.

- Tu mentiu pra mim, moleque!

- Não menti, pai.

- MENTIU SIM! Tu prometeu que ia ficar do meu lado e não ficou!

- Você saiu do meu lado e veio pra cá, Ulysses! Veio ficar com essas mulheres. E agora ainda vai fazer parecer que eu sou o culpado disso? Ah, para!

- O que foi que tu falou!?

Ele não conseguiu lidar com a minha resposta na lata. Veio pra cima de mim como se fosse me agredir, mas só me empurrou e eu andei pra trás me equilibrando pra não cair.

- Não adianta ficar putinho, não! Eu prometi que ia ficar do teu lado e tô aqui do teu lado. Isso sim é dar a própria palavra, ao contrário do que você fez comigo!

- Tu é petulante pra caralho mesmo, né?

- Claro, eu sou teu filho! A gente é igual!

Aí sim ele ficou realmente puto. Virou outro gole de rum puro e jogou o copo no chão, quebrando-o em vários pedaços.

- EU JÁ DISSE QUE NÃO SOU PAI DE PIVETE, SEU VIADO!

Ulysses pulou em cima do meu corpo e nos derrubou no chão com força. Mas eu sabia do que ele precisava, entendia plenamente que aquele era apenas um de seus extremos, então não precisava ter medo. Melhor do que deixar que fizesse o que queria comigo era poder me entregar de vez à sua dança e saber aproveitar a situação. Eu era tão homem quanto meu pai, também tinha meu lado selvagem que queria desfrutar.

- Você não é pai de pivete mesmo não. É pai de viado!

Com ele nu em cima de mim e tentando me imobilizar, fui virando devagar o corpo, até conseguir tomar impulso pra levantar. Só que muito maior e muito mais forte, ele se manteve preso e me impediu de andar, ou seja, tornei a cair, agora de bruços. Essa posição acabou contribuindo completamente pro meu plano, então só deixei rolar. Praticamente de quatro, arqueei as costas e esfreguei a bunda em sua virilha toda, fazendo questão de deslizar o quadril no caralho meia bomba que já conhecia.

- Hmmm! Para com essa porra, Jonathan!

Grunhiu no meu ouvido. Mas ele mesmo não queria mais parar, rebolando em cima do meu lombo e mordendo meu pescoço, minha orelha, ficando sobre meu corpo como se fosse um cachorro em cima da cadela.

- Para com essa porra se não eu vou querer te rasgar aqui mesmo nesse puteiro, sua cachorra!

Falou enquanto cheirava meu cabelo, se comportando igual a um bicho mesmo.

- Eu quero que você me coma aqui mesmo, Ulysses. E quero que você faça isso sabendo que tá comendo um parente seu. Chega de mistério e de enrolação, vai!?

O safado enfiou a mão na minha cabeça e puxou meu cabelo pra trás, me trazendo todo consigo e deixando meu corpo empinadinho em seu controle. Eu era mesmo o putinho que ele queria.

- Ninfeto do caralho!!

Tomei dois tapas na raba e arrebitei ainda mais, preparado pra tudo que acontecesse.

- Lembra do que eu disse quando te conheci? Que ia acabar contigo!? Vai ser hoje, Jonathan!

- Então boa sorte, pai! - dei a largada.

Ele não aguentou mais, me colocou deitado de bruços e suspendeu só meu rabo. Tirou minha calça só o suficiente pra expor meu cuzinho, deu uma cusparada e já foi pincelando a cabeça do caralho na portinha, me fazendo piscar e tremer ao mesmo tempo, de tanto tesão.

- Hmmm! Porra, que delícia!!

O mãozão parou espalmado no traseiro. Não era permitido falar.

- Cala a boca, seu viado! Hoje é melhor tu ficar caladinho, filho da puta!

Junto dele, um pé invadiu minha boca, impedindo que falasse qualquer coisa mesmo. A cabeça insistente tornou a pincelar, mas agora foi mais lá dentro, atravessando meu anel de pregas pulsantes, que começaram a pegar fogo imediatamente com aquela pressão e fecharam na glande do safado. Isso fez um atrito fora do comum que já o deixou ouriçado daí.

- Não adianta tentar relaxar, não! Eu vou acabar contigo!

- Eu deixo! - tentei dizer, com os dedos do pé dele mexendo na minha língua.

Tomei outro tapão por essa resposta, mas tudo isso só me deixava mais e mais piranho pra dançar conforme sua música. Estava mais do que preparado pra ser quem o Ulysses precisava que eu fosse.

- Bate mais, bate! Bate mais forte, pai!

Ele deu tanto tapa que me deixou marcado, justamente nessa intenção de me ver carregando suas marcas, as marcas de sua vontade diante de mim e em mim. Eu pedia que ele batesse da mesma maneira como ele mesmo me pediu pra bater nele quando precisei desabar. Era uma sintonia não verbal estar com meu pai, porque ambos sabíamos bem do que o outro precisava e nos colocávamos ali dispostos a isso.

Quando se cansou de bater, segurou minha cintura e investiu com tudo contra meu cuzinho, que ficou incomodado com a invasão e inflamou de tanto fogo e tesão. Comecei a pulsar forte e era aí que a coisa pegava.

- SSSSSS! ISSO, CARALHO!!

Pela truculência, tava doendo mais do que quando perdi a virgindade, mas eu não ia admitir isso de maneira alguma. Minha intenção era justamente a oposta, mostrar que nada iria me impressionar da parte dele, porque antes mesmo de conhecer o restante do que era feito o Ulysses, eu já havia decidido que era dele, ponto. A rabiola deu tantas mastigadas prendendo naquela vara que isso o impediu de conseguir esperar eu me acostumar.

- Para com essa porra, Jonathan! Assim tu me quebra, moleque!

Eram mais fortes do que eu. A presença colossal do caralho ali dentro de forma tão repentina causava estas piscadelas em sequência, deixando o empresário perdido como sempre. E aí ele não teve escolha senão começar a estocar de verdade, talvez pra não sentir tanto a pica sendo comprimida ao máximo de latência e largura pela minha elasticidade jovial.

- Aarh! Isso!!

Sentia suas mãos prendendo meus ombros e os puxando pra trás e lembrava como era satisfatório estar em seu comando. Ele não conseguia ficar encaixadinho atrás de mim, metendo com tanta puxada que o cu dava, então foi transformando nosso engate numa posição da rã gostosa, ganhando total movimento das pernas pra poder firmá-las no chão e jogar o quadril contra minhas nádegas. O atrito do caralho com as paredes do cu aumentaram junto com a velocidade, e aí gememos juntos.

- Ffffff! Porra, Jonathan!

- Você não falou que ia rasgar, Ulysses!? RASGA! RASGA O TEU FILHO!

Tomei mais tapa, mas nada diminuiu o tesão da submissão ao meu próprio pai. E foi aí que, pra minha surpresa, isso destampou sua boca, sua mente.

- Eu! Vou! Bater!

Ele foi soletrando e revezando tapas no meu lombo, marcando a mão na minha carne, no meu fogo. Eu levava em mim a impressão de sua fome de sodomia.

- Toda vez que tu me chamar de pai, seu moleque travesso do caralho!!

Não satisfeito, foi deitando de ladinho e suspendeu minha perna, caindo de boca no meu pescoço enquanto a suspendia e voltava a socar a vara no fundo do meu rabinho, que eu fazia questão de contrair de propósito, só pra ele ficar louco.

- PARA, FILHO DA PUTA!!

Deu certo, sua reação demonstrava isso.

- Mas você gosta, pai! Por isso que eu faço!

- PARA, PORRA! JÁ MANDEI! OBEDECE!

Era difícil e fácil. Obedecê-lo era bom, mas enlouquecê-lo era ainda melhor. Fazê-lo se perder em prazer, então.

- Tu me chama de pai, mas tá aqui me dando esse cu né? Se eu fosse teu pai, te dava uma coça!!

- Só se for de rola!

Ulysses apertou meu pescoço e largou de vez o quadril, empurrando meu corpo. Montou por cima dele e usou as pernas pra prender as minhas, entrelaçando as mãos comigo. Em curtos movimento de inda e vinda bem precisos, ele foi de fora até o fundo do meu rabo, batendo bem lá dentro onde parece que a cabeça faz curva, de tão inchada e sem espaço que fica.

- HMMMM!

- SSSS! FFFF

Senti as mãos prendendo nas minhas e a última engatada foi tão gostosa que achei que ia desfalecer de prazer. Fiz questão de prender as pregas em todas elas, só pra levar meu pai à beira do paraíso. E deu certo. Tomei um mordidão no ombro e a piroca engrossou dentro do meu lombo, em contato com meu fogo. Como se fossem labaredas, os jatos de porra quente e grossa explodiram lá dentro de forma megalomaníaca, em muita quantidade. Ulysses esporrava muito!

- Hmmm, caralho!! Olha o que esse teu jeito faz comigo, Jonathan!

- Para que eu sei que você gosta assim.

Devagar, o cacete escorregou pra fora do rabo e ele caiu morto por cima de mim, não se importando com o peso do corpo me imprensando. A sensação do cu dilacerado ficou ainda mais quente conforme o leite começou a escorrer, e aí passou pelas pregas pouco desgastadas e arregaçadas de tanta pressão, dando aquela ardência característica. Ficamos conectados desse jeito gostoso por um tempo, até que fui saindo debaixo do Ulysses e, com todo o cuidado, sentei de lado no chão do quarto do bordel, olhando enquanto ele também se preparava um pouco pra se recompor.

Como sempre, a primeira coisa que veio depois do sexo foi o charuto aceso na mão. Meu pai ia se preparar pra pegar a garrafa de vodka e bebê-la do gargalo, mas eu estava mais perto e a tomei antes dele. Não ia ter escapatória.

- Chega de beber. Eu já sei qual é a sua, Ulysses.

De braços abertos no chão e soprando fumaça de charuto no ar acima de nós, ele me olhou e riu.

- Já sabe, é?

- Já.

O tom duvidoso era notável, mas eu realmente já tinha entendido.

- Quando fica nervoso, você bebe.

Ele parou de rir. Talvez agora começasse a dar a devida atenção pro que eu queria.

- E ultimamente você tem bebido bastante, né Ulysses?

Colocou as mãos nos olhos fechados e forçou como se precisasse de concentração. Não podia desistir.

- Eu não tô aqui pra te perturbar, só quero te ajudar.

Levantei e fiquei parado na frente dele, completamente nu. Se eu o via como um deus neon, agora o faria me ver como um verdadeiro apóstolo, prestes a confortá-lo mais uma vez. Eu demorei a entender, mas tudo que dizia respeito a mim, não dizia respeito somente a mim. Dizia respeito a nós. Não tinha como a minha história ser tão separada da do Ulysses assim, talvez por isso ele precisasse de alguém como eu ao seu lado, como se o fator família fosse apenas parte de um pacote maior. Ou como se o pacote maior fosse apenas parte do fator família, vai entender.

- Tá vendo isso?

Debaixo do canhão ultravioleta, eu me exibia pra ele completamente nu, mostrando todas as curvas e detalhes joviais do meu corpo no auge dos dezoito anos, bem fluorescente. Com exceção de todas as marcas deixadas no meu corpo, que pareciam brilhar em cor laranja, ou talvez algo infravermelho.

- Essas são as provas de que eu sou seu, Ulysses.

Ele olhava incrédulo, completamente desprotegido e desarmado pra tudo que eu dizia. E eu não parava.

- Você é um poeta, eu fui a folha e deixei você me escrever todo. Se essas garotas reclamam quando você faz arte nelas. - apontei pra porta, indicando as meninas do bordel. - Existe alguém que quer ser sua tela.

Eu falava e esfregava as várias mordidas, chupões, tapas e puxões ao longo do corpo. Até a marca das mandíbulas do Ulysses estavam em mim.

- Não sei se existe prova maior de que eu só confio em você. Se você tá confuso quanto a isso, não sei mais o que fazer pra te provar. Se pudesse estar no meu lugar, talvez você sentisse o quão bobos são esses descontroles seus.

Mesmo de cima, pude ver os olhos marejados dele. Estava conseguindo um resultado pra tudo que aconteceu, já era um começo.

- Eu não quero mais parecer um fardo pra você, Ulysses. Então me ajuda que eu também tô aqui pra te ajudar. Alguns passos só podem ser dados juntos.

Abaixei em sua direção e dei um beijo curto e terno, mas bem simbólico na boca, enquanto tocava seu rosto e o acarinhava. Ele foi se sentando e encostou no canto da cama, sendo que eu fiquei sentado entre suas pernas e apoiado sobre seu peito, alisando os pelinhos curtos que começavam a nascer.

- Jonathan..

Ouvi meu nome na voz embargada e sabia que era melhor me preparar.

- Não sei nem por onde começar, moleque..

- Relaxa, Ulysses. Você fala um pouco de você e eu falo um pouco de mim, não tem problema.

Pausa.

- Tem certeza que tá preparado pra escutar?

Ver o empresário me fazendo esse tipo de pergunta me deixou ainda mais ansioso pelo que viria a seguir, porque eu tinha total certeza de que ele era meu pai, só não sabia ainda o contexto do meu desaparecimento da família biológica. Estava preparado pra perdoá-lo independente do que tivesse acontecido, pensando sempre no recomeço.

- Sim. Me conta sobre a minha família. Você é meu pai?

Ele esperou um pouco, controlou o humor e tentou se manter firme pra falar. Eu ouvi sua voz baixinha atrás de mim e continuei acarinhando seu peitoral.

- Eu era moleque, Jonathan. Bem pequeno mesmo, lá pros 7 anos de idade. A minha mãe recebeu uma encomenda na porta de casa, lembro como se fosse hoje. Meu pai ainda tava no trabalho, então ele não ficou sabendo de nada disso na época.

Começou e parou, tomando turnos pra ir contando a história. Eu continuei escutando, mas que não tivesse a ver comigo, e sim com ele.

- Tava brincando na sala e escutei um barulho na porta, então fui o primeiro a ir ver, porque ela tava ocupada com alguma coisa e naquela época não era tão perigoso quanto hoje.

- Verdade.

- Era uma caixa mais ou menos desse tamanhozinho, ó. - fez com as mãos o formato. - E parecia um brinquedo que eu sacudi sem querer, até começar a chorar. Minha mãe veio correndo e abriu, e realmente tinha um molequinho dentro, recém-nascido ainda, enrolado nuns panos. Eu lembro que era pequeno e pensei "como alguém pode deixar um bebezinho assim na rua?".

Conforme ele contava, eu sentia o efeito de cada palavra em mim. Tudo muito detalhadamente, de forma que me permitia viver sua história e ficava ainda mais curioso pra entendê-lo.

- Minha mãe levou o bebê pra dentro de casa e tinha um bilhete junto. Eu não sabia ler, mas lembro dela dizendo que a letra da carta era da minha tia, irmã mais nova dela. E ela leu sem qualquer reação, mas muito desconfiada de alguma coisa. Tu sabe o que aconteceu depois disso, Jonathan?

- Não, nem posso imaginar!

- A minha mãe disse pra mim que ia ficar com aquele bebê e que seria como uma mãe pra ele, como se ele fosse meu irmão. Ela tava mesmo preparada pra isso. Mas foi só precisar trocar as fraldas pela primeira vez que mudou de ideia. A vida realmente foi irônica com ela.

- Como assim?

Ele segurou um pouco a voz e prosseguiu.

- Ela percebeu que o bebê tinha a mesma mancha que eu e meu pai atrás da perna, perto da bunda. Isso só podia significar uma coisa, moleque.

Minha cabeça girou. As informações começaram a entrar e explodir como se estivessem a mil por hora. Eu sabia bem o que aquilo significava e falei ao mesmo tempo que ele.

- A GENTE É IRMÃO!?

Olho no olho, cara a cara. Diante de mim, estava Ulysses, meu irmão biológico mais velho, único membro de sangue da minha família que eu conhecera até então. Eu não sabia bem o que sentir, ele tampouco, então a gente só continuou se olhando em silêncio. Os olhos dele encheram d'água, mas ele foi forte e continuou contando.

- A minha mãe não conseguiu suportar aquilo, Jonathan. Ela praticamente enlouqueceu quando descobriu que nosso pai tinha várias amantes pela rua. Uma delas era justamente a irmã mais nova. Isso significa que a gente também é primo.

- Calma, Ulysses! Uma coisa de cada vez! - pedi.

- A nossa história é muito interligada, mesmo que a gente só tenha se conhecido agora. Esse é só o começo de tudo.

Fez outra pausa e prosseguiu.

- Ela não quis contar pro nosso pai que tinha descoberto o segredo dele. E ficou tão frustrada que disse pra mim que ele era uma pessoa ruim e que eu ia ser que nem ele se o amasse. Ela falou coisas tão perversas depois de um tempo que até ele mesmo percebeu como o clima estava diferente e acabaram brigando feio. Foi aí que ela decidiu jogar na cara dele tudo que estava escondendo até então, inclusive as próprias traições. Contou ainda que ele tinha um filho bastardo e que fez questão de jogar a criança fora, só de vingança. Era você, Jonathan. O bebezinho da caixa que tinha a mesma mancha que a gente era você!

As lágrimas vieram à tona. Eu acabara de descobrir que não vivi com minha família biológica porque minha ex-madrasta e também tia me jogou fora, a mãe do meu meio irmão e primo. Não somente, isso depois da minha própria mãe também me abandonar.

- Dói dizer, mas a culpa disso tudo foi da minha mãe. Tua mãe não tinha condições de te criar, ela nem morava aqui, só nos visitava, por isso decidiu te deixar conosco. Mas minha mãe não conseguiu lidar com as traições do nosso pai, por mais dedicado que ele fosse. O resultado foi que eles se separaram e ela voltou a se prostituir nas ruas. É aí que minha história começa.

Vez ou outra o Ulysses ainda tragava do charuto, fazendo pequenas pausas pra seguir adiante. Meu coração não parava de bater, totalmente atento em tudo que escutava e tentando colocar as informações nos lugares corretos aos poucos. Anos e anos de mentiras eram revirados em meu interior, ao mesmo tempo em que as verdades se encaixavam fixa e dolorosamente, mas era o necessário. Um choque de realidade real, por mais redundante que essa sentença pareça, já que pra mim a realidade já fora feita de muitas inverdades.

- Quando meus pais se separaram, eu já tinha uns 10 anos, então tu devia ter 3. Eu vivi o tempo todo escutando que ele era um monstro e que não devia ser amigo dele, então não contei que sabia sobre você. Só depois que minha mãe saiu de casa que ficamos mais próximos e aí sim ele começou a te procurar pelo mundo. Enquanto eu fui estudando pra cuidar das empresas no futuro, ele foi percebendo que não teria sucesso em te encontrar. E aí me passou essa função antes de falecer. Nosso pai morreu com 41 anos, Jonathan. De AVC, por causa de todo o estresse que passou ao longo da vida curta e problemática que teve.

Eu não sabia o que dizer, só me mantinha escutando e sentindo o impacto de cada tijolo que se agitava pra ajudar a construir a primeira parede realmente fixa da casa que seria minha vida.

- Eu tinha 21 anos quando ele se foi. Tinha acabado de me formar e só me prendi às últimas palavras dele: "encontra o teu irmão, não importa o que aconteça". Nosso pai podia ser do tipo que tinha várias mulheres pela rua, mas ele jamais abandonaria um filho. Jamais, Jonathan.

Ulysses começou a chorar e aí nem eu me contive mais, um chorando no colo do outro, usando o ombro amigo alheio que tínhamos.

Meu irmão mais velho era também meu amante e a pessoa abraçada nua comigo naquele momento. Pra não falar que éramos primos, já que nossas mães eram irmãs também. Que vida louca! Mantive-me atento, só prestando atenção na explicação sobre o fardo do Deus Neon. Era muito peso pra uma pessoa só carregar.

- Então, com 21 anos, eu simplesmente decidi que tinha que fazer o que ele não conseguiu nos últimos anos de vida. Mas não possuía nenhuma informação sobre por onde começar, porque nem ele mesmo havia descoberto muito. A única coisa que sabia era que teu nome original era Jonathan, o mesmo que tua mãe te deu, e isso não saiu mais da minha cabeça. A solução que pensei foi encontrar minha mãe pelas ruas e arrancar dela alguma informação, já que foi ela quem te entregou à adoção. Foi por isso que comecei a frequentar ambientes noturnos.

- Jovem, com uma responsabilidade desse tamanho e solto na noite. Só consigo imaginar o resultado.

- Exatamente, Jonathan. Quanto mais eu te procurava, mais me via perdido em falsas pistas e camas de prostíbulos. Foi nessa época que comecei a beber e fumar demais, por conta da falta de progresso nas buscas. Rodei por tudo quanto foi lugar e não cheguei nem perto de te encontrar, nem você e nem minha mãe, ao mesmo tempo que fui virando isso que você vê hoje. Tornei-me um alcoólatra de primeira, um descontrolado sem palavras, que trai a própria mulher porque tem medo de ser traído e enganado primeiro, que nem meus pais fizeram um com o outro.

Entre outras palavras, Ulysses tava me dizendo que permitiu que um de seus medos o transformasse na própria imagem do que aquele medo representava em sua vida. Estava tão preocupado em não parecer com o pai ou a mãe, que acabou fazendo o que ambos faziam: traindo. Um ciclo sem fim.

- Eu não sei nem o que dizer, pra ser sincero.

- Tu queria saber de tudo, não queria? Eu contei. Agora aos 25 eu já tinha praticamente desistido de te encontrar. Acho que já tinha desistido até de mim, mas aí tu simplesmente apareceu bem no meio do bordel que eu frequento. Como pode a vida ser tão irônica assim?

- Mas você não sabia que era eu logo de cara, Ulysses. Não tinha como saber disso!

- Não sabia mesmo. Mas eu já podia desconfiar e desconfiei. O teu olhar castanho me olhando de baixo pra cima quando me viu judiando daquela piranha aqui no bordel me deixou aflito. Pra não falar que tu tem o mesmo gosto pra mulher que eu, ou seja, é muito sangue do meu sangue mesmo. E ainda teve a petulância de me desafiar mesmo sem saber quem eu era. Aquela atitude chamou minha atenção, eu tinha que te ter de qualquer jeito, moleque.

Ele contava mais animado do que no começo, me deixando perceber que eu realmente significava bastante pra si, sem qualquer dúvida. Por mais que toda a história fosse triste até então, ele agora sorria ao falar.

- Eu te persegui, te encurralei várias vezes e mesmo assim tu sempre continuou me olhando com essa paz nos olhos, ó. Essa mesma de agora, enquanto me escuta. Parece que eu não mereço isso, por isso fiz de tudo pra te provocar, pra te ver nervoso, pra te fazer me odiar, mas tu nunca passou dos limites mesmo assim.

Eu sorri e ele sorriu junto. Me deu um beijo estalado e continuou, abraçado comigo.

- Até o dia em que tomei tua identidade e vi aquele nome, Jonathan. Só podia ser brincadeira, eu pensei. E foi por isso que fiquei com ela pra mim, só pra ter a certeza de que tu é o meu irmão mais novo. Pesquisei pelo teu nome em todas as casas de adoção visitadas pelo nosso pai e encontrei pouquíssimos registros de muitos anos atrás numa delas, talvez de quando tu foi morar com teus pais adotivos. Foi quando tive a certeza de que tu era a pessoa por quem eu tanto procurava. E aí só faltou enlouquecer, não sabia se ficava triste ou feliz. Feliz por ter te achado e triste por talvez estar apaixonado, seduzido pelo meu irmão mais novo, chama do que tu quiser.

- Por isso você não queria que eu ficasse no bordel? Por isso demorou tanto tempo pra me contar tudo isso?

- É óbvio! O que o meu irmãozinho tava fazendo dentro de um puteiro? E se alguém tocasse nele? Eu tinha que fazer alguma coisa, não podia te deixar aqui sob o risco de sumir no mundo outra vez. O meu maior medo era contar isso no começo e te ver se afastando de mim, por mais que tu me chamasse de pai o tempo todo e parecesse tranquilo com o fato de sermos parentes. Não só por isso, mas também pelos meus vícios e descontroles. Eu não sou perfeito, estou bem longe disso, Jonathan. E não vai ser de uma hora pra outra que vou solucionar meus problemas.

- Eu não ligo, Ulysses.

Depois de escutar tantas coisas, lembrei do porquê de estar ali: queria conhecer minha história, a história do meu macho e, a partir daí, montar a nossa própria. Era focado nisso que eu estava perguntando, por mais reveladoras fossem todas aquelas informações. A nossa vida fora dos fardos estava prestes a começar, completamente livres do que nossos pais haviam planejado até então.

- Eu não ligo pra nada disso, eu só ligo pra você. Do que você precisa? - perguntei da mesma forma como ele me perguntou lá no começo.

- Só preciso de tu, Jonathan..

- Eu tô aqui. E não ligo se você é meu irmão, meu primo, meu pai, eu sou seu. E agora eu tenho a certeza que você é meu, não importa quantas piranhas você vá na rua comer.

Ele riu.

- É sério. Se você precisar de tempo até se acostumar só comigo, eu vou entender. Não tenho a mesma experiência que elas e você é um homem adulto, precisa de atenção.

Ele calou tudo que eu dizia com um beijão.

- Eu só quero uma coisa, moleque.

Eu sabia bem o que, não precisava dizer mais nada. Apertei o rosto do Ulysses entre minhas mãos e dei-lhe um beijo que estava acima de qualquer laço familiar que tínhamos. Nossas vidas haviam mudado e a nossa relação familiar na verdade começaria a ser moldada a partir de agora, como dois homens que se relacionam.

- Eu vou ser tudo que você precisar. Pode apostar. Você não vai mais ter que sentir as dores desse mundo cruel, meu amor. Eu te amo pra caralho! Não sei nem colocar em palavras.

Os olhos encheram de lágrimas e voltamos a nos beijar. Devagar, senti sua língua procurando e desejando a minha, como se ambas não soubessem mais como ficar distantes. Ou como se na verdade não precisassem ficar.

- E agora? - perguntei.

- E agora o que?

- A gente.. Eu, você.. nossa família..

Ele entendeu minha pergunta, mas pelo visto não quis pensar em nada disso ainda.

- Relaxa, pivete. Já te falei pra aproveitarmos os momentos, um de cada vez.

Ele tinha razão. Minha pressa de vida se mantinha enorme, mas porque Ulysses me fez descobrir coisas que eu nunca teria descoberto se não fosse ao seu lado, por pior que tenhamos começado. E, por falar em começo, quanto mais eu achei que conhecia da vida, mais ela se empenhou em me impressionar. Numa ótica um pouco mais distante, éramos dois irmãos únicos no mundo, abraçados e compartilhando de um laço também único e totalmente inimaginável. Eu o precisava e ele precisava de mim. Nosso amor era o único remédio pra sarar feridas causadas pelo mundo e seus problemas mundanos, característicos dos homens que não são deuses e, por isso pisam no mesmíssimo chão. Total pecadores e entregues um ao outro, num quarto escuro e fluorescente de bordel, iluminados apenas pela luz ultravioleta do canhão sobre nossas cabeças. Exceto pelo meu corpo, com as marcas todas destacadas em infravermelho. Se aquela era nossa religião única, eu carregava em minha pele o nosso novo testamento, escrito pelo meu próprio Deus Neon.

____________________________________________________

🍒🍒🍒

Foto de capa: />

Título alternativo: Sobre o Fardo do Deus Neon.

Criei uma conta no WATTPAD, que é uma rede social famosa entre autores amadores. Lá eu produzo livremente, sem me preocupar com o tamanho dos textos e estando bem mais à vontade pra criar histórias cada vez maiores e mais complexas, cheias de tramas, que não focam exclusivamente no sexo, como vemos majoritariamente por aqui. Peço a todos que visitem, comentem e, se possível, divulguem! Esse é o melhor apoio que um artista independente pode receber de quem acompanha e curte seu trabalho, por isso deixo este pedido! Desde já, obrigado a todos!

LINK: />

+ twitter:

+ e-mail:


Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive André Martins a escrever mais dando dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Entre em contato direto com o autor. Escreva uma mensagem privada!
Falar diretamente com o autor

Comentários

Comente!

  • Desejo receber um e-mail quando um novo comentario for feito neste conto.
25/11/2017 23:49:06
André, amo a maneira sútil que você entrelaça seus contos, como se fossem easter eggs. Parabéns, tô adorando seus contos.
16/11/2017 23:46:00
Obrigado pela leitura, pelo tempo e também por este comentário, Little Boy. Foi mais ou menos isso que tentei passar pro papel, confesso que gostei bastante do resultado!
14/11/2017 02:47:47
Simplesmente maravilhoso. Conhecer a estória de Ulysses e Jonathan foi mágico. Não era apenas entrega, não era apenas descobertas que vieram a tona. Está mais pra um encontro de almas, onde os dois juntos conseguiram tapar os buracos que a vida os causaram. Foi emocionante. Sem palavras para descrever.
10/11/2017 22:22:34
Não é insistência. Meu nome lá é André Martins, mas o usuário é
10/11/2017 22:02:42
André, ainda não consigo te encontrar no WATTPAD... Você escreve lá como Andmarvin? Desculpe a insistência... abraços.
10/11/2017 19:37:32
Obrigado, sssul e Vini Colombini! Glookxxx, o link é realmente esse / ou esse aqui / vê se consegue agora. E obrigado pela crítica construtiva. Confesso que não manjo 100% da língua portuguesa não, até tento. Em algumas construções eu preciso de errar mesmo, mas é pra manter a verossimilhança e construção de algumas personagens (eu sei que vc não está falando destes casos :p). Sou muito grato a você!
09/11/2017 21:34:37
Que bom que você agora tem conta no WATTPAD, apesar de preferir ler teus contos aqui. Nunca me importei com o tamanho dos contos mas sim a sua qualidade. E os teus são "hors concours", faltando apenas, se me permite, um maior cuidado com os pronomes do caso oblíquo. Claro que vou te acompanhar por lá também. Grande abraço.
06/11/2017 21:57:02
10
06/11/2017 17:17:42
todos os 10 do mundo são poucos, parabéns.
06/11/2017 00:10:57
Caius, dodonis, tiopassivo e Geomateus, obrigado pelas boas palavras. Espero que continuem comigo! / VALTERSÓ, esse conto não vai ter continuação. A mãe biológica do Jonathan é falecida e a do Ulysses sumiu do mapa. Jonathan não tem mais mãe adotiva, ele mesmo afirmou isso em Ultravioleta. Lembrou? / Atheno, é uma pena que você tenha entendido essa trama de 70 páginas de uma maneira tão superficial. Esse conto tem um enredo que envolve muitas coisas, M-E-N-O-S endeusar um cara só por ele ser roludo. / É andmarvin, Plutão. O link tá aqui /
05/11/2017 23:08:27
Qual o teu perfil no wattpad?
03/11/2017 21:17:13
Prefiro quando o personagem é independente, submisso demais me irrita, sempre obedecendo o cara, sendo corno é perdoando a traição, endeusado um cara só pq é roludo, aff. Não gostei desse conto. Bora vê qual vai a próxima temática q vc vai abordar.
03/11/2017 09:50:42
adorei! Muito excitante!
03/11/2017 09:25:53
Muito bom! O ser humano e suas complexidades, ansiedades e medos. Como recheio, a atração sexual, o saciar das vontades da mente e do corpo. Belo enredo André. Cativante, bem amarrado, verossímil. Estou na expectativa das próximas histórias e personagens.
03/11/2017 04:20:37
DE FATO, CASO NÃO FOSSE O PAI SERIA IRMÃO. AS MARCAS DE NASCENÇA NÃO ENGANARIAM. PENA O PAI BIOLÓGICO NÃO O TER DESCOBERTO ANTES. MAS AINDA EXISTE ESSES MÃES TODAS. COMO VAI SER ISSO?
03/11/2017 01:20:33
Cara eu realmente to mega feliz que você deu continuidade ao conto, quando você disse no twitter que seria brevemente não achei que fosse tão rápido, Ótimo conto, que você continue sendo esse escritor fantástico!!
03/11/2017 00:58:57
Muito bom mesmo ta de parabens

Listas em que este conto está presente

Especiais
Os melhores textos que eu já li.


/texto/201306388/denunciaXVídeos Visitei Dermacydinsetovidio mae efilho coroascontos eroticos esposa sodomizada bebada jucaabaixar pornô mãezinha e Fininhowww.xvideo com novia da favela a dora regasa o cu e tem que filma a cara da vadeanovinha engole pau do paulaoporno real fecundando mamaeMeu marido era louco pra me ver com uma picona toda socada dentro de minha buceta e na minha bunda e eu fiz sua vontade!Xvideobibacontos eróticos menina no esconde esconteCONTOS EROTICOS DE JARDINEIRO PIROCUDO COM MAE E FILHAScachorro pausudo e seu donoGAROTINHA DA PRAÇA CONTOSEROTICOSCNN.COMxividio comendo mocinha tao novinha gue nen peito nao tinhalinguinha contoscnncontos eróticos cantada na rua não resisti e traímasturbando o cuzinhocontos eroticos mulher com peito cheio de leiteconto erótico escrito meu padrasto me comeu dormindo eu adorei gozei até amanhecer o diaContos eróticos:noviça amamentandovidiopornodemulhe dabucetaenchadadeixo unegao desmarcado goza dentrocazro goozando juntosxvideos mao em sinado ofilho atrasaPadre não é homem conto eróticosXividios .com brincano delutar com o irmaocontos erótico cu apertado piscando do cachorroconto erótico comi uma mendiga maluca. ano novocontos erotico chantagiei e depilei minha sograMulher da buceta bem qrande e inchadalesbicas se vingando da rivalmeu marido me chupava enquanto outro me gosava vidiodou o cuzinho mas sofro muito ele tem um pauzaocasa dos contos xxxrapaz lisinho dando uma de valentao leva rola casa dos contosxvideos sobrinhopega tio de pau duroLevantaram o rabo da egua e mostrou a buceta dela03homenss de trocandoenteada acanhada masturba o padrastofilme porno home reprodutoconto erotico de espacamentoporno. meu. caxoro. crebrou. meu. cabasomeu tio adorava tirar uma casquinha passando a mao na minha bucetinha porno contos/texto/201202668baiana fragada gostandocontos professor novinhavideos porno esposa e marido cagando juntos falameufioconto gay virei a puta de varios machos na saunaSocorro me apaixonei pelo meu filho sexo incesto videosmulheres bano a bucetinha para os mulequies fudevideo mendingas sentando na cabeceiracontos eroticos em que irma confessa para cunhada que seu irmao ten rola grandesexo em familìa safadao ver novinha de roupas curta e fica b punheta pensando nela e ela nao gostouporno mae tranzado com o filho na cozinacontos eiroticos leilapornfilho deseja sua mãe pelada dormindo para poder comer ela com a b***** toda arreganhada e melecada de tanto gozarcontos eróticos​, praia de nudismocontos de sexomarido bebadoDeixei a miha muher dar o cuzinho pra o cara estrahodei pro professor pra passar contosfotos de gordas gostosas de cho tinhos amostran do abocetaporno muito beidona no paucangapor hd pronmarcelo strause aguilarwww.brincandodaquilo.com vídeos pornoVirgem chora na cama com velho taradoprica cavalavideos de mulheres ficando toda impinadinha ao perceber a encoxadaCheiro de rola de machos de academia suado contos gaysMandei foto da minha buceta pro cunhado do meu maridoloiras coroas levando gozadas boca xvideocaConto erotico arombei minha enteada novinha magrinhreginagozandoConto erotico velho taradohomen andando de ponba dura mulheres ficam de olho