Amolecendo o coração do bad boy. (Clichê) V
Alguma coisa esse bicho tava aprontando sendo tão prestativo - pensei.
Junior saiu com meus dois irmãos e me deixou com uma incognita na cabeça.
- simpático esse rapaz né!? - disse minha mãe.
- oooh! Muito. A senhora não faz nem ideia. - falei sarcasticamente.
Minha mãe saiu do quarto, e eu voltei a dormir. Acordei um pouco mais tarde, ouvindo batidas na porta.
- meu amor? – disse minha mãe entrando no quarto.
- senhora? – perguntei.
- você não quer me fazer companhia lá na cozinha não? – perguntou.
- eu não. – sorri. – to com preguiça.
- pois trate de espantar essa preguiça. Quanto mais tempo você passar na cama, mais tardará sua recuperação.
- eu to ligado. – sorri me espreguiçando.
- então se desligue e vamos pra cozinha. – ela sorriu. – Antes que eu coloque você pra dar uma arrumadinha na cozinha.
- beleza. – falei ainda deitado.
- então cuida. – disse ela antes de sair do quarto.
- tô cuidando. – falei me levantando sem um pingo de disposição.
Assim que cheguei na cozinha, minha mãe me pôs para limpar a mesa e distribuir os pratos.
- não posso fazer esforço físico. – comentei.
- passa um paninho na casa também. – disse ela fazendo alguma coisa na beira do fogão.
- tava demorando pra senhora começar a me explorar. – sorri.
- aí é ‘’reclamão’’. Quando morrer vai ser uma caixa de palito de fosforo pro corpo, e um caixão pra língua. – disse ela animada. – eu to brincando com você, precisa ta fazendo força não.
Enquanto eu distribuía os pratos na mesa, a porta foi aberta e meus irmãos entraram correndo, seguidos por Junior.
- voltamos. – disse Junior jogando a chave do carro sobre o sofá da sala. – demoramos? – perguntou enquanto colocava umas sacolas sobre a mesa.
- chegaram na hora certa. – disse minha mãe apagando o fogo das panelas que estavam no fogão.
- mãe, mãe? – disse Kauã segurando pelo vestido da minha mãe.
- o que foi meu filho? – minha mãe perguntou.
- No carro do Junior tem uma arma desse tamanhão. – disse Kauã usando as mãos para demonstrar o tamanho da arma.
- que? – minha mãe engasgou. – arma? – perguntou espantada.
- não é bem uma arma. – disse Junior um pouco sem jeito. – quer dizer. É uma arma sim, mas é de pressão. Meu pai estava caçando e esqueceu no carro. – completou Junior.
- entendi. – disse minha mãe limpando as mãos no avental. – entendeu também né Kauã? Aquilo lá não é coisa de criança, o pai dele usa apenas pra caçar.
- mas o Junior deixou a gente pegar nela. – Kauã complicou ainda mais a situação do Junior.
Minha mãe deu uma encarada no Junior, depois de um forte suspiro.
- Junior, eu não quero meus filhos mexendo com essas coisas. – disse ela seria.
- eu entendi senhora. Desculpe mesmo. Não vai se repetir.
- tudo bem, sei que não foi por mal. Estão todos famintos? – minha mãe perguntou.
- morrendo. – falei. Não sei por que, mas eu queria mudar logo de assunto. Não queria que minha mãe tivesse uma má impressão do Junior.
- então vão lavar as mãos que eu já vou servir o jantar. – disse minha mãe dando um leve tapinha na bunda do meu irmão caçula.
- eu trouxe sorvete. Onde coloco? – perguntou Junior.
- não precisava se incomodar Junior. – disse minha mãe.
- que isso senhora. Não foi incomodo algum. Trouxe de chocolate, as crianças falaram que é o preferido aqui da família.
- sabia que isso tinha o dedo deles. – minha mãe sorriu. – obrigado viu!? Vou colocar no congelador pra comermos depois do jantar.
Junior lavou as mãos na pia da cozinha e sentou à mesa logo em seguida.
- você come frango, Junior? – perguntou minha mãe servindo o jantar ao rapaz.
- como sim senhora. – disse educadamente.
- modéstia a parte, esse é o melhor frango que você vai comer na sua vida. – falei sentando ao lado de Junior.
- bom, a cara esta ótima. – disse Junior me fitando.
Meus irmãos foram o últimos a sentarem-se à mesa.
- você pode puxar uma oração pra nós, Kauã? – disse minha mãe tirando o avental e sentando-se em seguida.
- em nome do pai, do filho e do espirito santo, amém! Vamos atacar. – disse ele.
Junior sorriu. – esse cheiro ta uma maravilha. – falou referindo-se ao jantar.
- espero que aprecie. Esse é um tempero da minha bisavó.
- sério? Então é praticamente um patrimônio da família. – disse Junior.
- isso. Foi passando de mãe pra filha. - disse minha mãe.
- olha a responsabilidade hen Eduardo!? – disse Junior fazendo eu me espantar.
- ah, o Dudu não quer aprender não. Ele é mó preguiçoso. – disse Kauã.
- teu toba. – falei.
- o teu. – ele retrucou.
- respeita fila da puta. Sou teu irmão mais velho. – brinquei.
- hey gente. Que conversa mais feia no horário do jantar.
- ele que começou. – disse Kauã com um pedaço de coxa na boca.
- teu cu que começou seu otario. – falei por fim.
- gente. Por favor, nós temos visita. – pediu minha mãe.
- não seja por isso. Eu to me amarrando. Lá em casa o jantar é um tédio só. – disse Junior sorrindo.
Eu fui o primeiro a terminar o jantar, e pedi licença para se retirar.
- não vai querer sorvete? – perguntou Junior, segurando por meu braço.
- fica pra depois. Eu ainda sinto muitas dores nas costas. – falei me esquivando.
- tudo bem. – foi só o que ele falou soltando meu braço.
Do quarto, eu ouvia minha família se divertindo com Junior. Aquilo me deixava um pouco enciumado. Afinal, o que tanto ele queria ali? Que intimidade era aquela que ele criava com minha família?
Não marquei no relógio, mas o Junior ficou ali por mais uma três horas. Antes de ir, ele veio ao quarto se despedir de mim.
- posso entrar? – disse ele batendo na porta.
- entra. – falei.
Junior fechou a porta e sentou na cama no Kauã que ficava ao lado da minha.
- eu já to indo. – disse ele.
- beleza. – respondi evitando encara-lo nos olhos.
- e as costas? – perguntou.
- o que tem?
- ainda dói?
- bastante.
- e medicamentos?
- tô tomando os que o medico receitou.
- isso. Tem que tomar tudo direitinho.
- e tu acha que eu não faço isso? O meu maior medo é ficar sequelado da surra que teus amigos me deram.
- tu fala como se eu tivesse alguma participação nisso. – Junior suspirou.
- sei que tô enchendo o saco com esse papo, mas tu sabe que tem culpa sim. Tu sabe que foi através de tu que aquele cara começou a me perseguir.
- eu tô me esforçando pra caramba! Tô me esforçando ao máximo pra reparar esse meu erro, mas tu nunca vai esquecer né!? Vai ta sempre jogando isso na minha cara.
- não cara. Eu nem lembrava mais. Você que veio aqui, e tocou no assunto. O que eu posso fazer? É involuntário.
- eu vim pra saber como você estava. Fiquei preocupado de verdade com você.
- to do jeito que tu ta vendo. – fui um tanto arredio com ele.
- ah vei, na boa, quando tu tiver pronto pra conversar, me chama que eu apareço aqui. – disse ele levantando e caminhando ate a porta.
- Junior? – chamei pelo rapaz.
- fala. – disse ele virando-se na minha direção.
- eu sei o que tu veio fazer aqui. Acha que sou algum otario?
- de que tu ta falando agora?
- ah cara. Num precisa se fazer de abestado não.
Junior caminhou ate minha cama, e sentou ao meu lado.
- não to entendendo. O que eu fiz dessa vez? – ele me fitou.
- por que tu apareceu aqui do nada e ta agindo como se conhecesse minha família há anos?
- já falei: vim ver você. Fiquei preocupado.
- tu é um ator, cara.
- por que ta me ofendendo tanto, Eduardo? Qual foi o mal que eu fiz em aparecer aqui? Tua família me tratou super bem, quais motivos eu teria para trata-los mal?
Eu suspirei fundo e virei o rosto pro outro lado. O Junior era muito cara de pau.
- olha pra mim, quando eu tiver falando com você. – disse ele puxando meu rosto para frente dele.
- vai embora cara, eu não vou entregar nem tu, nem tua gangue não. Era isso que tu queria não era? Foi por isso que tu apareceu por aqui né!?
Junior ficou vermelho. Olhou para o teto, e depois me deu uma encarada.
- era isso sim, mas não somos uma gangue não. Só queria te pedir pra pensar um pouco no caso do Olavo.
- eu sabia cara. – resmunguei. - Nunca que você iria aparecer aqui querendo saber noticias minha né!? Nem amigos nós somos.
- primeiramente, eu vim saber de você, saber se não está precisando de nada. Não sou tão egoísta como você imagina. Eu sei que estou sendo sem noção ao pedir isso, mas se você entregar o Olavo, a vida dele vai acabar.
- ele é rico. – falei. – Rico sempre acha uma saída.
- não é bem assim, Eduardo. Se o pai dele souber disso, vai deserdar o cara.
- ótimo. – falei.
- hey! – disse ele tocando, mais uma vez, em meu rosto. – Deixa eu te ajudar. Vamos resolver de outro jeito. Quebra esse galho pro Olavo, e eu prometo que ele nunca mais vai te incomodar.
- eu não preciso da tua ajuda, Junior, não preciso. Já disse que não vou entregar o Olavo. Tu tem minha palavra.
Junior me fitou sem falar nada.
- tu pode ir pra casa sossegado, que eu não vou falar nada sobre o que aconteceu dentro do banheiro não.
Junior me encarou, e mais uma vez ficou mudo.
- o que foi agora? – perguntei.
- nada. – disse ele.
- e por que ta me olhando assim?
- to pensando o que diabos deu em mim pra fazer tanto mal a você.
Eu ri sarcasticamente.
- vamos esquecer isso. Cada um pro seu canto, e não precisa mais você vir aqui fingir ser quem não é. – falei.
- mas eu não fingi. Fui eu todo momento. E outra, eu adorei passar a tarde e parte da noite com tua família.
- ah, vá tomar no cu pô. – falei o encarando.
- eu falo serio. É totalmente diferente da minha família. Lá a convivência é outra... Eu quero voltar, Eduardo, quero voltar outras vezes. Quero...
- vai embora, velho. – o interrompi.
- ta... Eu já to indo. – disse com a voz baixa. – Se você precisar de alguma coisa, me dar um toque? – perguntou.
Apenas confirmei que sim com a cabeça.
- a gente se ver lá pela escola? – disse ele em forma de pergunta.
- acho que sim. – falei.
- beleza. – disse ele abrindo a porta.
Antes de sair, ele ainda me olhou mais uma vez, e sumiu da minha visão.
Pedi pra ele ir, mas não queria que ele fosse. Agora ele tinha ido. E se ele não voltasse nunca mais? Nunca mais é tanto tempo.
Continua...