Feliz Dia dos Pais Vol. 1
O vento batia forte nos meus cabelos, assim como nos cabelos do meu filho, olhei para ele observando sua beleza, Daniel não era mais um garoto, agora no auge dos seus 18 anos, era um homem já feito, com barba na cara. Ele sorriu ao me ver sorrir para ele. O sorriso exato que meu pai sempre fazia para mim. Eu não podia acreditar que o destino havia preparado para mim a mesma história que tive com meu pai. Eu havia divorciado a pouco mais de dois meses, não tínhamos brigado, nem nada do tipo, eu e Selena, minha ex esposa, simplesmente não compartilhavamos dos mesmos sonhos, dos mesmos desejos. Por isso, de maneira amigável, resolvemos nos separar.
Nessa loucura toda, resolvi que eu e meu menino precisávamos de uma folga da realidade, não existia lugar melhor do que a casa do meu pai.
Papai sempre foi um homem da natureza e quando se divorciou da minha mãe, ele se mudou para uma casa de campo, num lugar quase inabitado, onde não tinha Internet, e o telefone era luxo. Lembrava do meu pai como um grande herói, sempre foi meu cumplice nas aventuras e sempre foi meu grande ídolo.
Chegamos na sua casa, sai do carro, esticando as pernas por conta da longa viagem, enquanto meu filho pegava as malas eu fui ver onde estava meu velho.
Lá estava ele, a barba sempre grande e e cheia agora apresentava muitos pelos brancos, o que não anulavam sua beleza máscula. Usava uma camisa xadrez aberta no peito peludo, mostrando, além dos seus músculos, os muitos pelos brancos. Fiquei ali parado durante um tempo, ele estava cortando lenha, seus braços ainda mais fortes do que eu lembrava, e a sua força inacreditável, cortava lenha como se tivesse cortando isopor. Quando seus olhos verdes bateram no meu, ele sorriu mostrando as poucas rugas ao redor de seus olhos.
Aos 57 anos, meu pai ainda tinha uma bela aparência, o tempo, e acredito que a natureza, haviam feito muito bem a ele.
—Pedro! - ele gritou, todo alegre- Não acredito que você está aqui!
Ele veio até mim, nos abraçamos com força, sentir o cheiro dele, uma mistura de madeira, suor e cigarro, foi como reviver a juventude.
—Onde está o meu neto? - ele perguntou sorrindo para mim.
—Estou aqui, vô - disse meu filho, largando as malas no campo e correndo para abraçar meu pai.
—Meu Deus, mas você está um homem- Meu pai disse, passando a mão no rosto do meu menino, os dois rindo, felizes por se reencontrarem depois de tantos anos.
—Vejo que a barba é uma coisa da família - disse meu filho, olhando para mim.
—E músculos - eu disse, piscando para o meu pai.
Na frente da casa do meu pai havia uma lagoa, meu filho arrancou a sua roupa com naturalidade, e se jogou na lagoa, usando apenas uma cueca branca.
Meu pai chegou perto de mim, sorrindo, colocou a mão forte no meu ombro, apertando com força.
—Eles crescem rápido, eu te falei - ele disse com uma risada gostosa- Vamos beber?
—Achei que nunca ia falar isso - eu disse.
—Sei bem como é um divórcio, a bebida se torna nossa melhor amiga- ele disse rindo- Já volto.
Fiquei assistindo meu filho, brincando na água como se fosse um moleque, meu pai chegou com dois copos.
—Whisky? - eu perguntei.
—Meu Melhor whisky! - ele disse.
Brindamos, olhando meu filho nas águas.
—E você com medo de não ter a minha barba, olha só, além de barba tem um rapagão barbado...
—É pai, se eu soubesse, não tinha me preocupado com essas coisas antes da hora...
—Normal, filho! Todos nós perdemos tempo pensando em coisas que não devemos...
Foi a nossa primeira troca de olhares, singela, mas estava ali, era tudo que eu precisava para saber que ele não tinha esquecido do que havia acontecido entre nós dois anos atrás.
—Ele está a sua cara- disse meu pai, quebrando o silêncio que havia surgido entre nós - Impressionante! Tão lindo quanto o pai!
—Quando você elogia meu filho falando que ele parece comigo, você está se elogiando, mamãe disse esses dias que estou a sua cara...
— Que saudades da sua mãe, mulher maravilhosa, pena que não demos certo, as vezes eu penso nela, mas sei que ela está muito bem!
—Está sim- eu disse - E o senhor?
—Vai me chamar de senhor agora? Estou oficialmente velho, meu Deus, meu filho, não me venha com essa agora!
—OK, você está bem, pai? - eu perguntei rindo.
—Estou, eu gosto daqui, meu filho - ele disse pegando na minha mão - Fico solitário muitas vezes, mas é bom para mim...
Olhei sua mão forte em cima da minha, meus olhos foram até os olhos dele, eu sorri, ele sorriu.
—Pai?
—Não é hora de falar sobre isso, meu filho! Teremos tempo, ou já está de partida?
—Claro que não, vim para passar umas semanas com você - eu disse.
—Então, não tenha pressa, entendeu? Agora vamos cair nessa água, a temperatura deve estar maravilhosa.
Observei meu pai tirar a camisa, seu corpo estava ainda mais forte do que eu lembrava, o peitoral largo e musculoso assim como seus braços, a barriga um pouco flácida, por conta da bebida, com certeza, ele tirou a calça jeans, e vi ele nu, como a muito tempo não via, e lá estava o seu pau, tão grande, mesmo flácido, no meio de suas pernas. Ele saiu correndo, agarrando meu menino, enquanto eu tirava a minha roupa para me juntar a eles.
Foi divertido esquecer dos problemas, fingir que eu era apenas um moleque, jogando água no meu pai e no meu menino, enquanto ríamos, sem ter horário para nada. Quando a fome bateu, meu pai preparou o almoço, que comemos em uma mesa rústica de madeira, depois meu menino dormiu na rede, apenas de cueca enquanto eu e meu pai sentamos na beira do lago, tomando um licor que ele mesmo havia feito.
—Realmente, esse lugar é lindo, pai- eu disse.
—Escolhi a dedo, meu filho - ele disse - Tenho tudo que preciso aqui, ou melhor, agora eu tenho tudo que preciso aqui.
—Pai- eu disse, olhando nos olhos dele- Eu não devia ter...
—Não filho, eu que não devia ter dito as coisas que eu disse- ele falou - Fui precipitado, fiquei contente que veio me ver...
—Você lembra?
—De tudo, meu filho, de tudo...
Aos 16 anos eu percebi que meus olhares para o meu pai haviam passado do limite, eu sempre o vi com olhos de menino, admirado com sua masculinidade, sua beleza, seu charme. Mas aos 16 anos, minha cabeça mostrou que eu não o via apenas como meu pai, eu sentia muito mais que admiração por ele. Eu sentia um tesão, uma paixão incontrolável por ele. Fiquei perdido, bebia muito tentando apagar aquilo da minha cabeça, meus pais não estavam bem há anos e aquilo sempre pareceu ser minha culpa, eu tinha ciúmes dele, lembro das noites em claro imaginando seu corpo, desenhava ele em um caderno, e ao mesmo tempo que eu imaginava as piores coisas com ele eu me sentia culpado.
Mas nada foi pior do que quando meu pai encontrou seus desenhos no meu caderno, viu a maneira como eu exaltava sua beleza, seus músculos, seus pelos, ele mostrou pra mim, um desenho feito em grafite onde eu beijava seu corpo enquanto minhas mãos seguravam seu falo.
Lembro dos seus olhos injetados de ódio, o modo como ele gritou comigo, perguntando o que ele havia feito de errado, o modo como ele me bateu. Mas o pior foi o que eu fiz, depois de tudo isso, ele veio para me bater, eu segurei seu punho forte com a minha mão.
—Não, chega! - eu gritei - Você não entende? Você não vê? Eu estou apaixonado por você!
—Você é meu filho, meu filho, porra! Como está apaixonado por mim?
—Me desculpe, pai- eu disse baixinho - Eu não tenho culpa, não é minha culpa querer te amar...
—Filho - ele disse - Você perdeu o juízo!
Então eu o beijei, com todas as forças, sabendo que era a última vez que eu o faria, eu beijei aquela boca tão sonhada, me jogando nos seus braços, apertando o seu corpo, e ele me beijou de volta, sim, senti suas mãos me puxando para ele com força, ele me queria, eu sei disso, mas ele me empurrou, cai no chão.
—Quero você fora da minha vida- ele gritou.
Nunca mais nos vimos, eu me joguei na vida, bebendo, trepando, usando drogas, me perdi no mundo. Foi quando conheci Selena, e durante uns bons anos aquilo foi esquecido, guardado para sempre. Mas para sempre é muito tempo.
—Me desculpe por tudo - eu disse mais uma vez.
—Não, meu filho- ele disse- Chegou a hora do seu pai falar, eu me assustei com aquilo, achei que eu era o culpado de tudo isso, nunca fui chegado em roupas, você sabe, achei que fosse minha culpa...
—Pai?
—Me escuta, eu nunca soube o que fazer, eu, eu também, como posso dizer, eu também, filho- ele respirou fundo, olhando dentro dos meus olhos- Eu te amo.
—Eu também te amo - eu disse na hora.
—Não, você não entendeu - ele disse - Eu também te amo, eu te amo do jeito como você me amava naquela época, eu fiquei assustado porque compartilhei dos mesmos desejos, e porra, você é meu filho, me sentia um canalha, um homem sujo, eu briguei com você, te afastei de mim, porque não achei certo, não, você era apenas um jovem, eu não poderia...
—Você me amou? - eu perguntei sem acreditar.
—Não, eu não te amei- ele disse - Eu te amo, como sempre amei, como sempre vou amar, acha que me isolei porque? Filho, o que nos fizemos de errado?
—Do que vocês estão falando? - era meu filho, rindo atrás de nós.
Meu pai fechou os olhos, vi duas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
—Que a gente quer mais bebida- eu gritei para o meu menino.
Enquanto meu filho pegava mais bebidas, eu e meu pai nos olhávamos, sem falar nada, sem conseguir falar nada, só encarando um ao outro, no mais pleno silêncio.