FIZ MEU AMIGO HETERO SE APAIXONAR POR MIM (HISTÓRIA REAL) - Parte 21.
Não sabia mesmo se ele merecia tudo aquilo de hospital, um quase coma, desmaiar... É, mas também podemos levar pro outro lado: será que ele merecia que eu o socorresse? Tudo bem que eu tinha batido nele, mas lembrei-me que quando ele me encheu de porrada, ele não tinha me socorrido... Mas quis, de alguma forma, me sentir superior. Tinha feito tudo aquilo por impulso, na verdade. Todavia, Ícaro não merecia ficar ali no fracasso, adormecido.
Fiquei horas na recepção do hospital, andando pra cima e pra baixo, prum lado e pro outro, sem nem saber o que fazer. Só pensava que aquilo podia ser alguma coisa grave... Estava indignado com a demora de atendimento de lá. Horas esperando e nenhum médico dava notícias. Mas algumas cenas me deixavam chocado. Por exemplo, uma mulher estava lá com uma mão cortada, sangrando horrores, ela gritando, e ninguém atendia... Mas também, né, o que esperar de um hospital público no Brasil? Só levei o Ícaro lá porque era o hospital mais perto de casa, e eu estava tão preocupado que nem tava aí pra isso.
Eu perguntava na recepção e a moça que ficava lá já estava com abuso de olhar para a minha cara. Ela me olhava muito feio. Passaram-se alguns médicos, perguntei a eles se eles sabiam de algo, mas eles nem davam atenção. Um deles parou para falar comigo, e me disse que era pra eu ficar calmo, esperar um pouco, tomar uma água, relaxar do lado de fora... Fiz o que ele me disse. Tomei uma água ali e fui pro lado de fora do hospital.
Realmente, o clima mudou. Não só aquele clima chato de hospital, mas o meu também. Fiquei menos nervoso, mais calmo... Sentei-me a um banco por ali e fiquei muito relaxado. Fazia frio e isso era apropriado no momento. As cenas eram chocantes demais. Ambulâncias não paravam de chegar com pessoas doentes, acidentadas, ou até mesmo mortas. Só em ver aquilo, fiquei com o coração na mão pensando no Ícaro. Eu o via deitado naquelas macas. Sim, sim, eu estava exagerando demais, mas eu não tinha notícias dele, só fazia pensar besteira mesmo.
Meu celular tocou, de repente. Vi o nome, era a minha mãe. A dona Ruth é legal, mas eu tava tão impaciente...
– Alô? Mãe?
– Oi, Théo! Como é que você tá, meu filho?
– Eu tô bem!
– Nunca mais você ligou pra mim... Eu e seu pai estávamos preocupado. Você nunca passa tanto tempo sem nos ligar...
– É que aconteceram coisas, mãe... Fiquei de cabeça cheia com alguns problemas pessoais... Perdão!
– Mas tá tudo bem com você, não é? Não te aconteceu nada?!
– Não, mãe, tá tudo certo! E o papai?
– Seu pai saiu. Ainda não voltou. Ultimamente, Théo, seu pai tem saído muito. Nós estamos vivendo um inferno aqui em casa. Seu pai tem saído muito, não me dá atenção, nós estamos brigando muito... Não sei o que tem acontecido com ele! Nosso casamento está indo a ruínas.
– Você já conversou com ele? Deve estar acontecendo alguma coisa...
– Seu pai está muito fechado. Ele nunca foi assim! Acho que quando formos aí, ele vai se animar...
– A senhora planeja vir pro Rio?
– Claro, meu filho. Tá chegando o seu aniversário! Esqueceu-se que a gente nunca fica distante nessa data?
– Sei... Sei... A minha cabeça tá tão cheia que nem me lembrava!
– Já é na próxima semana, Théo. Seu pai e eu estamos indo praí. Vamos comemorar no seu apartamento. Fazer uma festinha tradicional. Seus primos, seus avós, todos vão...
Não concordava com isso. Não com tudo aquilo acontecendo comigo. Uma coisa, tecnicamente, não tinha nada a ver com a outra, mas eu não podia permitir que Ícaro soubesse que era meu aniversário. Não tinha motivo, era só birra minha. Tentei cancelar tudo com a mamãe.
– Mãe, mãe... Por favor... A gente não pode comemorar outro dia? Eu tô cheio de compromissos...
– Nada disso! Só se completa ano uma vez ao ano! Todos vamos! Agora, meu filho, me escuta... Fale com o seu pai! Converse com ele, nem que seja pelo telefone. Só converse com ele. Você e seu pai são apegados, veja o que está se passando na cabeça dele...
Um médico – o mesmo que me disse que seria bom relaxar fora do hospital – me chamou, dizendo que tinha noticias.
– Mãe, tenho que desligar agora! A gente se fala mais tarde!
Desliguei o telefone, sem nem ouvir a resposta dela. Caminhei pra dentro do hospital com o médico. À recepção, ele me informou sobre o Ícaro.
– Então, ele tá bem, doutor?
– Pedi informações ao médico que cuidou dele, e ele me informou que não teve nada grave. O paciente só bateu forte a cabeça, e isso causou um leve desmaio, o que é normal nesses casos. Ele diz que está com dor de cabeça, que também é normal. Recomendo esses remédios aqui pra estancar a dor. Vende na farmácia aqui perto. O paciente vai receber alta daqui a pouco.
– Tudo bem, obrigado! Você sabe se ele já pode receber visitas?
– Sim, pode sim! É o segundo quarto à esquerda daquele corredor.
Pedi obrigado mais uma vez a ele e fui ao quarto. Antes de entrar, parei na porta do quarto e respirei fundo. Não sabia o que seria de mim depois que eu entrasse lá. Mas tudo saiu de uma forma inesperada. Entrei lá e Ícaro estava na maca. Ele estava deitado ali, um pouco coberto, com uma expressão facial de dor e sono. Ele tinha acabado de acordar.
– (com remorso) E aí, Ícaro...
– (com dificuldade) Quem é você?
– Sou eu, mano. O Théo!
– (com mais dificuldade) Cê sabe quem eu sou?
Fiquei sem saber o que dizer\fazer. Ele tinha perdido a memória?
– Pô, para com isso! Sou eu, o Théo!
– Não te conheço! Voce é o que? O que você é?
Putz! Quê que eu ia fazer depois disso? Ícaro tinha perdido a memória, mano... Fiquei olhando pra ele, com olhos abertos e atentos, tentando entender o que estava acontecendo.