O Garoto Diferente Cap.1 de 2
Cap.1 de 2
Um garoto afetado. É assim que todos me classificam. Apenas por eu não ser másculo como todos os garotos. Por eu não gostar de barba. Por eu não ter uma voz tão grossa. Por eu gostar de cores tidas como femininas. Por eu ser quieto. Por andar sempre bem vestido. Por usar roupas ligeiramente incomuns para homens. Por ser sensível. Apenas por eu não ser igual a todos, vivem me criticando, me magoando, me xingando.
Mais uma aula terminava. Guardava meus cadernos na minha bolsa marrom estilo carteiro. Usava um moletom branco de mangas longas e uma calça verde e um tênis também branco. A sala já estava ligeiramente vazia, então eu aproveitava para partir sem olhar para trás. Achei que seria tudo em paz, mas bastou eu virar o corredor para começarem as zoações. Não vi quando um garoto colocou o pé no caminho. Resultado, fui direto para o chão. O chão estava sujo, e acabou sujando meu moletom branco.
- Presta atenção por onde anda Marica ! Ninguém é obrigado a te ver andando por ai - eu apenas baixava a cabeça. Não tinha força para enfrentar eles. Apenas saia andando de cabeça baixa
Tá, não sou hétero. Mas mesmo assim, isso não justifica tudo o que eles fazem comigo. Eu nunca fiz nada contra eles, pelo contrário, sempre busquei ser amigo de todos. Mas algo faz com que eles não me deixem em paz. Eu tinha apenas uma amiga, Celina.
- Você precisa denunciar esses garotos para a diretora !
- Para que ? Todos eles são ricos, os pais tem influência. É capaz da diretora me suspender por Provocar eles com a minha bichice - falei, fazendo aspas.
- E o que você vai fazer então ?
- Vou ficar quieto. Aguentarei tudo calado. Estou aqui para estudar, não serão alguns loucos que irão me atrapalhar !
E assim eu seguia. Calado, quieto. Estudava, fazia tudo o que tinha que fazer e aguentava algumas provocações.
Estava dentro do banheiro. Quando terminei o que tinha que fazer, sai e fui até a pia lavar a mão. Quando ouço a porta de um dos box ser aberta, e quem sai de lá é um daqueles que mais me provoca.
- O que está fazendo aqui ? Gosta do que vê ? Que eu saiba o banheiro feminino é do outro lado - eu como sempre ficava quieto. Apenas terminava de limpar as minhas mãos com o papel e logo estava andando em direção a porta novamente. Porém, assim que eu passei ao lado dele ele me empurrou - você não me ouviu falar viado ? - se aproximou tão perto de mim que me assustou. Eu apenas Fechei os olhos, com medo. Nessa hora a porta do banheiro foi aberta, era um professor. Imediatamente ele se afastou de mim. Mais que rapidamente eu saí dali
Óbvio que tudo aquilo que me incomodava. Eu só queria entender, o que de mais eu tinha feito para aqueles garotos ? Porquê eles faziam tudo aquilo comigo, sendo que eu nunca fiz nada de mal para eles.
DIAS DEPOIS
Tudo continuava acontecendo como sempre, quando num dia atípico a porta da nossa sala foi aberta no meio da aula. E o diretor entrou.
- Cumprimentem o diretor alunos - o professor falou.
- Boa Tarde diretor -todos disseram.
- Boa Tarde alunos, eu apenas queria dizer uma coisa. Vocês terão um novo aluno, então o recebam de braços abertos e façam com que ele se enturme logo. Entre, Eduardo Galvão - e então entrou. Um colírio para os olhos. Alto, branco, musculoso na medida certa, bem vestido, de olhos azuis, loiro, lindo. Era um garoto que eu nunca havia visto igual. De beleza completamente superior a todos os outros da escola. As meninas, assim como eu arregalaram os olhos. Comparado a mim, médio de altura, magro, também branco porém com a pele não tão perfeita, olhos castanhos, exalando inferioridade, ele era um Deus. E o pior, a cadeira que ele escolheu foi justamente a que ficava atrás de mim. Eu não sabia o que fazer. Apenas tentei continuar estudando sem olhar para trás.
MINUTOS DEPOIS
O professor falava de ligações químicas lá na frente e eu só prestava atenção, quando de repente ouvi o barulho de uma caneta caindo e ela parou bem a minha frente. Apenas peguei e olhei. Quando de repente senti alguém me cutucando.
- É minha a caneta - era o garoto. De voz suave e calma, porém arrepiante. Eu apenas o devolvi - obrigado. Qual é o seu nome ?
- Gabriel...
- Prazer, Gabriel - falou, me cumprimentando... Eu apenas virei-me, com aquela cara que sempre fazemos quando conversamos com o crush. Cara de vergonha.
MINUTOS MAIS TARDE
Na hora do intervalo acabamos por ficar apenas nós dois na sala. Eu normalmente não tinha fome, e também não gostava de sair, com medo. Então ficava na sala, quieto.
- Você não vai sair ? - perguntou
- Não... Não tenho fome - falei, virando-me para olhar.
- Igual a mim. Estuda aqui a muito tempo.
- Sim, a uns cinco anos.
- E a estrutura da escola é boa ?
- Sim... Ótima. O que não é bom são as pessoas...
- Ué, como assim ?
- Não, nada... É... Eduardo... Mesmo nos conhecendo tão pouco, você me acha estranho, a primeira vista.
- Como assim, estranho ?
- Ah, estranho. Diferente...
- Não, porquê acharia ? - fiquei mais aliviado. Parecia que ele seria o primeiro a me dar atenção. O primeiro garoto a ser gentil comigo...
HORAS DEPOIS
Era a hora de sair. Fiquei na sala mesmo depois que todos saíram pois ainda copiava a matéria. Quando terminei, guardei as minhas coisas e sai. Andava ligeiramente distraido. Descia as escadas calmamente, quando já perto do segundo andar fui empurrado. Resultado, levei uma queda feia.
- Aí !! - gritei, assim que meu corpo se chocou com o chão. Quando olhei para trás, era um dos garotos.
- Não ande mais na minha frente, bicha ! Pessoas como você deveriam ser abortadas, pois não tem o direito de viver ! - sempre que alguém me batia, mais uma vez meu coração se partia. Mais uma vez tinha vontade de chorar, e só queria que tudo aquilo acabasse - porquê você não vai embora ein ? Ninguém gosta de você, ninguém te quer aqui ! E sabe porquê, porquê você dá a bund... - ele não completou a frase. De repente escutei um barulho, e quando olhei ele tinha caído no chão. Segundos depois, apareceu alguém, o agarrando pelo colarinho.
- Fala isso de novo, se for homem ! Fala ! - quando olhei melhor, era o Eduardo. Sim, era ele quem estava me defendendo - fala, seu covarde ! - falou, dando um soco no garoto.
- Ele é gay porra, você não notou !
- Não me importa ! Peça desculpas a ele agora, ou eu quebro o seu braço ! - falou, dando um golpe nele que o braço ficava completamente exposto. Um movimento brusco e ele acabaria com o ombro do garoto.
- Desculpa ! Desculpa ! - o garoto gritava, de dor.
- E que sirva de aviso para você e qualquer outro. Caso eu ao menos pense que vocês agrediram o Gabriel de novo, vai ser muito pior ! - falou, soltando o garoto que todo cambaleante correu escada abaixo. E então, ele veio para perto de mim - você está bem ? Ele te machucou muito ?
- Não, apenas bati o meu braço e o meu rosto - ele me ajudou a levantar.
- Tá doendo muito ?
- Um pouco.
- Você mora perto daqui ?
- Moro...
- Então vem, eu vou te acompanhar até a sua casa... - falou, me dando apoio.
- Vai mesmo ? - sim, eu não acreditei. Nunca ninguém tinha feito tal gentileza comigo
- Sim, não deixarei você chegar em casa sozinho nesse estado.
- Mas, você não liga para o que ele falou ?
- Não... Não tenho preconceito. Se você é ou não, isso não importa. O que importa é que ele insultou você, e eu não deixarei isso acontecer de novo. Irei te proteger Gabriel.
- Vai... Me proteger ?
- Vou...
TEMPO DEPOIS
Estávamos andando lado a lado na rua. Eu apenas massageava o meu rosto, ainda dolorido.
- Você acha que vai ficar marca ? - perguntei.
- Acho que não. Me diz, desde quando isso está acontecendo ?
- Praticamente desde quando cheguei aqui. Porém de uns tempos para cá eles começaram a me bater.
- Quer dizer que a cinco anos eles agridem você ?
- Sim...
- E porquê você não diz a alguém ?
- Porquê todos eles são ricos. A diretora nunca ficaria do meu lado perante a família deles.
- Mas fique tranquilo. Não vai acontecer de novo. Eu vou proteger você. Ninguém mais vai te machucar, OK ?
- Então você não me acha um covarde ?
- Você, covarde ? Quem está machucando alguém indefeso não é você... - falou, enquanto andávamos. Eu não entendi. Não entendi porque ele estava fazendo aquilo. Qual era o interesse dele...
- Mas... Porquê você vai me defender ?
- Porquê detesto injustiças. Você não merece isso... Não deixarei fazerem isso com você !
Continua
Gostaram ??? Gente... Eu pretendo diminuir as minhas histórias a uma apenas, em vez das quatro que escrevo agora, porquê é cansativo para mim, e acaba ficando um longo intervalo entre os capítulos, o que faz o interesse diminuir. Porém, tenho mais de 7 sinopses prontas, porquê sou do tipo que anota qualquer ideia que considero boa que tenho para depois desenvolver. E as idéias que considero que caberiam melhor em histórias curtas, escreverei separadamente. Também gostaria de dizer que já tenho a sequência de finalizações. A próxima história a ser finalizada é O Primo Desconhecido, em no máximo 4 capítulos. Após, Amor Mudo, Futebol dos Héteros... Ou Não ? e Enzo. Espero que gostem de todas. Beijos :)