MINHA VIDA
CAPÍTULO 02
Largado, desprezado, sujo, imundo, era assim que eu estava me sentindo, desde que eu tinha mandado Paulo ir embora da nossa casa. Estava naquela cama do quarto de hóspedes, chorando a horas, esperando que Fátima chegasse. Quase ao meio-dia, alguém começou a buzinar. Corri para abrir o portão e deixei Fátima entrar com seu carro. Naquela altura do campeonato, Fátima já sabia de tudo que Paulo tinha me aprontado, tinha contado a ela rapidamente pelo celular.
- Oh Fê, como você está se sentindo? - ela me perguntou, dando um abraço em mim.
- Péssimo, estou me sentindo um caco - chorei em seus ombros.
Fátima entrou comigo, e olhou para a bagunça, pois desde que Paulo tinha ido, eu tinha bagunçado a casa toda.
- Fernando, você já comeu algo hoje?
- Não, fiquei apenas chorando - disse choroso.
- Sente-se, vou preparar um café bem forte para você.
- Tá bom.
Fátima tirou seu salto alto, lavou a louça, limpou a sujeira que estava na cozinha, fez o café e me entregou.
- Pega, bebe tudo - disse ela se sentando a mesa, na minha frente.
- Obrigado - disse chorando novamente.
- Para - ela me olhou sério - Ele não te merece, então para de ficar derramando lágrimas por quem não te quer.
- A culpa foi minha - disse chorando mais ainda - Se eu não tivesse viajando tanto, não fosse tão frio na cama com ele, se eu tivesse tempo para ele...
- Para - ela estava visivelmente irritada - Fernando, você não é uma máquina de sexo, que está sempre pronta para o Paulo usar.
- Eu sei, mas pensando melhor, eu acho que devo da uma nova chance a ele - disse limpando minhas lágrimas.
- Fernando Ribeiro Duarte, o Paulo te traiu, te meteu chifres, transava com um garoto magrelo que não chega aos seus pés e você ainda vem me dizer que vai dar mais uma chance para aquele canalha - ela se levantou - Você gosta de sofrer, só pode.
- Até hoje eu só tive o Paulo, ele foi meu primeiro em tudo.
- Grandes Merda, você pode arrumar outro, vem aqui - disse ela me puxando pelas mãos.
Fátima me levou até meu quarto, onde Paulo tinha me traído, me colocou em frente ao enorme espelho que tinha lá dentro, ficou ao meu lado, segurando o meu queixo.
- Se olhe nesse espelho e me diga o que você ver aí - disse ela.
- Vejo um homem fraco, que ama sem ser amado, que sofre pelos outros e sempre acaba se dando mal - disse começando a chorar novamente.
- Meu Deus, Fernando! Sabe o que eu vejo - ela olhou para minha imagem refletida ao espelho - Vejo um homem lindo, especial, forte, nem todos tem uma beleza igual a sua, olha esses olhos, que parecem refletir o mar, olhe seu rosto. Você é forte e tem uma vida toda para viver, você prefere amar ou sofrer?
- Amar! - disse.
- Pois se ame, ame a si mesmo. Pare de sofrer por quem não te merece. Você é lindo e pode arrumar alguém muito melhor - ela deu um beijo no meu rosto - Vou deixar você refletir, pense bem antes de tomar alguma decisão.
Fátima saiu do quarto e foi embora, enquanto eu, continuei a me olhar, realmente, eu tinha uma beleza incrível. Olhos azuis escuro, quase violeta, cabelos castanhos escuro, pele branca e sedosa, não era alto e nem baixo, tinha altura normal, meu corpo era magro, mas não esquelético.
- Chega! Eu o amei, ele me traiu - disse limpando minhas lágrimas em frente ao espelho - Agora eu vou viver a MINHA VIDA, vou me colocar em primeiro lugar, sempre.
Sai de frente do espelho, peguei o colchão que era meu e de Paulo, levei para o quintal e joguei perto de um canteiro de flores, depois peguei todos os pertences dele (roupas, objetos pessoais e alguns documentos do escritório de advocacia do pai dele). Peguei todos os pertences de Paulo e os joguei em cima do colchão, depois coloquei fogo nas roupas e pouco a pouco, o fogo foi consumindo tudo, desde as roupas até o colchão. Fui para dentro de casa e comecei a limpar a sujeiras e as coisas quebradas, peguei todas as fotos e porta-retratos que tinha ele e os joguei no fogo que consumia todo o colchão, no fundo de meu quintal. Peguei o cachorro dele de estimação, o Chico e dei de presente para o filho da vizinha, que tinha dez anos de idade. Pode até parecer maldade, mas eu nunca gostei de cachorros, só criava Chico por causa de Paulo, Eu não ia ficar cuidando do cachorro, mas Paulo também não. Voltei para dentro de casa, peguei os livros deles, os que me interessavam, guardei para mim, os que não, joguei na pilha que era consumida pouco a pouco pelo fogo no quintal. Só tive descanço, quando tudo que pertencia ao meu ex-companheiro tinha ido para o fogo.
Após terminar de colocar fogo nas coisas de Paulo, fui para meu quarto, já livre das coisas de Paulo, tinha pegado um colchão de um dos quartos de hóspedes, olhei para a cama, estava doendo bastante, mas eu tinha que superar essa dor para viver, peguei minha toalha, a comecei a banhar, enquanto a água molhava meu corpo, minhas lágrimas se misturavam a ela, pois só quem é vítima de traição, sabe como a dor é grande, após terminar de banhar, vesti meu pijama, fiz minhas orações para Deus, me deitei.
- Hoje inicia-se uma nova etapa em minha vida - fechei meus olhos e dormiNo dia seguinte, acordei bem cedo, banhei, tomei um rápido café, vesti meu terno, um azul e fui trabalhar na Solar, uma das maiores empresas de publicidade do Brasil, entrei no prédio de dez andares.
- Bom dia, seu José - cumprimentei o porteiro.
- Bom dia, seu Fernando - disse.
Entrei no elevador, e subi em direção ao último andar, na Solar, eu trabalhava como Secretário-Executivo da Presidência, meu papel era auxiliar o presidente, inclusive, eu tinha minha sala. Sai do elevador e fui em direção a minha sala, que ficava ao lado da sala do Presidente da empresa, Patrick Roman.
Meu chefe, o senhor Patrick Roman, tinha me contratado para o cargo de Secretário-Executivo, quando eu tinha acabado de encerrar a minha carreira de modelo, três anos atrás. Ele era gente boa, bastante exigente, as vezes ignorante, rude, mas uma boa pessoa. Já estava em minha sala preenchendo uma papelada, quando Emily, irmã de Patrick e braço direito dele ali dentro da empresa entra com tudo em minha sala, ela era bem arrogante e chata.
- Fernando, o Patrick está te chamando na sala dele - disse ela seca saindo pouco tempo depois.
Após ela sair, peguei meu celular e fui para a sala de Patrick, falei com a secretária dele, que permitiu a minha entrada. Quando entrei, lá estava ele. Sentado em uma poltrona lendo uma revista. Ele era muito bonito, alto, tinha um corpo definido, não musculoso, mas estava em forma, tinha cabelos loiros e olhos castanhos, sua pele era branca, quase tão branca como a minha. Ele me olhou a apontou para uma poltrona que ficava em frente a dele.
- Fernando!
- Sim - olhei para ele que me encarava, ele era jovem, tinha apenas 35 anos - O que o senhor deseja?
- Só queria te agradecer por fechar contrato da nossa empresa em Pernambuco, isso facilitará para que ela se expanda para o nordeste - disse ele se levantando da poltrona.
- Obrigado senhor, mas... - ele interrompeu a minha fala.
- Amanhã vai ter um jantar lá em casa, para comemorar o negócio que nossa empresa fechou em Pernambuco - ele se virou para me olhar - Você está convidado.
- Sim, senhor.
- Agora peça para a Mariana vir aqui, vou demitir aquela secretária incompetente - disse ele rude.
- Sim - disse e sai da sala dele.
Após sair, olhei para Mariana que falava animadamente no celular, quando ela me viu, desligou o celular rapidamente.
- Deseja algo? Perdeu algo por aqui? - ela perguntou para mim.
- Não - olhei e sorri para ela - Patrick lhe chama na sala dele.
Sai de perto dela, e fui para minha sala, Mariana era bem nova na empresa, ela ocupava o cargo, que antes era ocupado por Amanda, que infelizmente teve que ser demitida, após Patrick descobrir que ela tinha um caso com um dos sócios da empresa. Mariana era bem vulgar e não fazia seu trabalho direito. Fiquei em minha sala até o meio-dia, quando sai para almoçar. Entrei no elevador a antes de eu apertar o botão para ele descer. Patrick e Emily entram no elevador.
- Olá Fernando - disse Emily e Patrick ao mesmo tempo.
- Oi - disse.
Emily era bem parecida com Patrick, loira, alta, bonita e tinha olhos castanhos claros como o irmão.
- Fernando, eu demiti a Mariana e gostaria que você ficasse no lugar dela até eu contratar uma nova assistente no final da semana - pediu Patrick.
- Não tem problemas, eu fico no lugar dela.
- Obrigado, eu sabia que podia contar com você - disse ele dando um tapa em minhas costas, antes de sair acompanhado por Emily do elevador.
Sai do elevador e fui almoçar em um restaurante que ficava em frente a empresa, estava com muita vontade de comer uma besteira, escolhi uma mesa perto de uma janela, sentei e chamei o garçom, pedi para ele um hambúrguer, acompanhado de bastante batata frita e coca-cola. Enquanto esperava o pedido, fiquei olhando o meu celular. Paulo já tinha me ligado 47 vezes e tinha me mandado 11 mensagens. Apaguei todas as mensagens sem ler e deletei todas as ligações. Pouco tempo depois o meu pedido chegou e comecei a comer, foi quando alguém se sentou na mesma mesa que eu estava.
- Você nunca foi de comer tanto - disse ele olhando para mim, seus olhos estavam inchados.
- O que está fazendo aqui? Como me encontrou? - tive um acesso de raiva com aquele cara de pau.
- Fiquei te esperando, até você sair da empresa - disse ele me olhando com um olhar de súplica - Precisamos conversar!
- Eu não tenho nada para conversar com você! - disse me levantando da mesa, mas ele se apressou e segurou o meu pulso.
- Sério, Fernando, precisamos conversar - ele me olhou e neste momento minhas pernas tremeram, me sentei novamente a mesa e olhei para os olhos chorosos de PAULO.
CONTINUA???
Oi gente! E ai, estão gostando do conto? O próximo capítulo sairá terça ou quarta feira. Beijo para todos...