A música sumiu. Não era possível escutar mais nada. Eu tava mesmo passando por aquilo? Vi o sorriso de César sumir aos poucos em câmera lenta enquanto ele se virava e levava o copo raso e redondo à boca. Eu não acredito que toda aquela implicância era por dinheiro. Ou melhor, pela falta dele, no meu caso. Eu continuei parado sem saber o que fazer, parecia que se eu movesse um dedo provavelmente o faria errado. Tudo estava errado. Era a sensação que eu tinha.
Assisti César pegar uma pequena mesa de metal e colocou próximo à piscina onde as cadeiras de madeira ficavam. Os primos começaram a se aglomerar em volta.
Todos começaram a tirar as peças de roupas que usavam e ficar com trajes mais específicos pra ocasião. Sol, piscina, churrasco, fim de semana... Engraçado como tudo se encaixava pra eles. Talvez eu fosse mesmo o estranho dalí. A mesa começou a ser preenchida com bebidas e pequenos petiscos enquanto eles riam de conversas que eu nem imaginava sobre o que poderiam ser.
Rômulo estava retornando da casa e me viu no mesmo local onde havia me deixado. Imóvel. Agora sozinho. Na mesa grande onde minutos atrás o almoço havia sido servido.
- Você tá bem? - ele me olhou estranho.
Eu acenei que sim com a cabeça. Não sabia onde minha voz havia ido parar.
- Você tá pálido.
Neguei com a cabeça e murmurei um "Um um...".
- Leva os sapatos pro meu quarto e vem pra piscina. Eu tô te esperando. - ele seguiu pra perto dos primos.
Eu fui em direção à casa sob os olhares de César ao longe. Rômulo sentou do seu lado. Se antes ver aquele garoto me observando era ruim, agora era dez vezes mais. Sentia como se tivesse algo entalado na minha garganta. Entrei na casa passando pela sala e cozinha rápido. Uma vontade de chorar me abateu. Que péssimo lugar pra isso acontecer. Eu deveria ir embora.
Quando cheguei ao corredor que dava as escadas a porta do quarto do Dr Oswaldo se abriu e ele saiu de dentro.
- Victor.
Eu engoli o choro. Mas acho que meus olhos não eram convincentes o suficiente.
- Doutor...
- Tá tudo bem? Você não parece bem.
- Tá... Tá sim. Só vou tirar os sapatos no quarto do Rômulo.
- Como está sua mão?
- Bem! - eu a ergui - Nem está doendo nem roxa.
- Fique a vontade.
- Ok. Obrigado...
Essa mania de agradecer por tudo. Eu não lembro em que vez falei com o Dr Oswaldo e não agradeci por algo... Subi as escadas e destranquei a porta pesada do quarto do Rômulo. Fechei de volta e respirei fundo. Na cama ainda estava meu jeans, logo abaixo no tapete as sapatilhas do Rômulo. Eu tirei meu tênis e deixei ao lado. Fui até o banheiro e lavei o rosto, me olhei no espelho e prometi a mim mesmo que iria ser firme até o fim da tarde. César deveria ser um cara metido, acostumado a ter tudo o que sempre quis na mão na hora que quer. Deveria ser mimado e daqueles que não admite ser contrariado. Deve achar que pode comprar todo mundo. Eu não ia dar esse gosto pra ele.
Voltei aparentemente melhor até o jardim e fui de encontro ao pessoal.
- Senta aqui. - Ana disse se afastando na cadeira de madeira me dando espaço.
Peguei um copo de refrigerante da mesa e comecei a beber de leve. Os demais estavam com suas cervejas. Rômulo e César mais especificamente com whisky. Não tenho problemas com bebidas ou amigos que bebam mas não tenho o hábito de consumir e venho de uma casa onde minha mãe apenas mantém vinho na geladeira pra rituais específicos de magia.
Eles riam e falavam de histórias envolvendo pessoas com nomes que eu não fazia a mínima noção de quem eram. Lugares que eu não sabia onde ficavam.
"Na nossa casa em Curitiba." "Eu não quero mais ir na Disney..." "O big bang não é tão grande quanto aparenta ser por foto."
O que eu poderia conversar nesse meio?
- Você faz faculdade Victor? - Josi perguntou.
- Sim. Eu faço Direito.
- Ah eu e Beto também! A mamãe é promotora pública.
- Então existe um padrão na família de vocês. Os filhos vão seguindo a profissão dos pais.
- É verdade... Não tinha reparado.
- Eu sou a bastarda da família. - Ana disse. - Faço artes plásticas.
- Bastarda por quê? - eu quis saber.
- Mamãe diz que esse curso não dá futuro pra ninguém. Fica me comparando com a Josi, o Rômulo e o César...
- Mas você gosta?
- Amo.
- Então vai ter futuro sim. Fica tranquila.
Ela sorriu.
Dava pra ver conflitos. Ana provavelmente era a filha torta. O comportamento diferente, o jeito mais desleixado de ser. A escolha do curso fora do "padrão" dos demais. Os tios bem sucedidos com seus filhos bem encaminhados enquanto ela era a única que seguiu por um caminho diferente. Isso junto ao fato de que naquele meio ela era a única que não tinha um corpo em forma pra ser exibido, completamente diferente de Josi. Pensar isso me fez querer me aproximar dela.
A medida que o papo ia rolando eu acho que me soltei um pouco mais e a tensão de mais cedo passou. Ok. Eu poderia sim ser só amigo do Rômulo e mostrar que o César estava errado. Eu não era idiota.
O pessoal decidiu ir pra piscina. César, Josi, Beto e Ana entraram.
- Pode entrar com essa bermuda aí mesmo. Não tem problema não. Depois te empresto outra - Rômulo avisou se levantando.
A água estava ótima e pra eles que estavam bebendo era muito bom pra liberar um pouco do efeito do álcool. Rômulo e eu tiramos as camisas e entramos na água. Pela primeira vez eu podia admirá-lo. Era um peitoral muito grande com sinais espalhados. Um abdome definido mas não demais o que dava uma cara de mais natural pra ele. Seu short era levemente folgado na cintura e era possível ver a barra de sua cueca. Ele era lindo. Seu cabelo preto e liso, agora molhado, foi lançado pra trás e lhe deu um charme a mais de homem.
- Caiam fora que esse aqui é meu. - Ana disse subindo em suas costas.
Por um momento eu desviei o olhar pra César. Ele não havia tirado os óculos escuros na piscina e estava perto de Josi e Beto. Ele era bonito. Tão definido quanto Rômulo, porém um pouco mais baixo e com o tom de pele levemente mais moreno. Seus músculos eram mais rígidos. Seus braços também eram mais fortes que os de Rômulo. Talvez pela altura mais baixa a distribuição de músculos nele era mais generosa. Nisso de o olhar eu não notei que fiquei tempo demais. Ele continuou parado vendo o que eu estava fazendo e deu um leve sorriso. Ele era um enigma. Deveria estar se divertindo me vendo perdido no meio deles.
A cascata soava alto e junto aos risos a tarde ia passando. Os mais velhos conversavam na sombra da área onde o almoço havia sido servido. As crianças jogavam vídeo game na sala.
Rômulo veio em minha direção.
- Já disse pra não se acanhar... Bebe. Pega um refrigerante na geladeira, sei lá...
- Eu tô bem.
- Já quer ir embora?
César nos observava de longe.
- Não. Tudo bem. Mais tarde...
- Ok então. Vou tomar sorvete, você quer?
- Quero.
Rômulo saiu da piscina e entrou em casa pelos fundos. Voltou com um pote de sorvete e algumas colheres. Nem todo mundo quis, estavam bebendo.
Sentamos eu e ele perto da mesa e começamos a dividir o sorvete aos poucos. César veio ao nosso encontro e pegou uma colher.
- É coco? - ele perguntou.
- É.
Começamos a dividir o sorvete entre os três calados.
- Tá se divertindo Victor? - César perguntou sorrindo inocentemente.
- Tô sim. Tá sendo legal.
- Hum... Que bom. Pensei que você fosse ficar meio sem jeito no nosso meio. Achar estranho e tudo mais... Você é tímido, eu percebi.
Ele estava me testando.
- Não... Não sou tímido não. - Rômulo me olhou vendo claramente que eu estava mentindo - Só sou meio quieto mesmo mas eu tô gostando daqui. Rômulo já até me chamou pra ir embora e eu não quis.
- Nossa... Então devemos ser ótimos anfitriões.
- Você não faz ideia. Vocês e principalmente seu pai são ótimos anfitriões. Gostei das seus primas e das suas tias também. A casa também é linda.
- É sim.
Rômulo continuava pegando as colherada de sorvete calado e receioso sobre aquela conversa entre César e eu.
- Vamos te convidar mais vezes pela consideração que o papai tem pela sua mãe. Ele fala muito bem dela.
Rômulo lançou um olhar implorando pra que ele não continuasse a tocar nesse assunto de convidados.
- Sim. Ela também o admira muito.
- Pois é... Que mundo pequeno não é mesmo? Você o Rômulo no mesmo lugar, no mesmo assalto... Sua mão torcer, Rômulo te ajudar, ter o papai aqui naquela noite...
- Muita sorte, eu diria.
- Muita mesmo. Quando você for dar um almoço assim também convida a gente. Sua mãe já é cozinheira e cabe todo mundo na sua casa, né?
Rômulo ficou vermelho de raiva e olhou pro César que apenas sorria se deliciando com o sorvete.
Jogo baixo! Jogo sujo! Ele sabia de onde eu vinha, sabia das condições da minha casa. Com certeza sabia. Meu Deus, eu não podia com ele.
Eu até pensei em algo pra responder mas me contive colocando uma colherada de sorvete na boca pra me calar. Não iria conseguir responder nada a altura. Sorri e me levantei indo em direção à casa. Se era isso que ele queria, conseguiu. Eu ia embora.
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SafadinhoGostosoo: Como eu disse todo mundo já pode tirar conclusões se quiser.
LUCKASs: Quando se trata de gostar de alguém eu não acho nada surreal.
Jãozinho: Gostei do metidinho rs
Tozzi: Não sei como te responder sem revelar o conto... Mas sim, as previsões virão!
Lytah: Vai chutando! Eu adoro.
tavinhoo: Já pensou certo. Pra mim ele é entranho.
Monster e Geomateus : Own... É. Só uma vez. Se eu tentar postar com mais frequência vou me atropelar e eu tô gostando tanto... Não quero que nada dê errado.
LiloBH e esperança: César pode ser um filho fora do casamento, pode ser adotado... Não sei ainda. A mãe do Victor pode ser desinformada e ele ser filho biológico do Dr Oswaldo. Faça suas apostas.
Tay Chris: Apostas, apostas, apostas... Quem dá mais?
Drica Telles(VCMEDS): kkkkk Coisinha é ótimo.
Tô adorando vocês assim.
Um detalhe. Eu percebi que errei o nome do pai dos meninos no capítulo passado. Sempre escrevi Otávio, daí do nada comecei a escrever Oswaldo. Desculpe... Quando tiver um tempo corrigirei os capítulos passados pra Oswaldo mesmo, porque pegou na minha boca e não sei mais falar Otávio que nem antes.
Especulem! Eu amo isso.
Abraço.
Igor.