Cinco verões... Um outono FINAL
O quarto ano de relacionamento entre Pedro e Ewerton, foi comemorado pelos dois no Hospital em que Pedro voltara a se internar naquele que seria o último verão dos dois. A sonda pela qual ele se alimentava tinha sido trocada numa cirurgia feita três dias antes.
Pedro passava a maior parte dos dias sedado por conta de dores fortíssimas que sentia em toda a cabeça. Ele em nenhum momento, nem mesmo os mais críticos, se desesperou diante da sua doença. Ewerton por sua vez, sempre que tinha um tempo fora de suas vistas, chorava e se desesperava perdendo totalmente o controle e a confiança que tinha que demonstrar ao amado.
No trigésimo nono dia de internação de Pedro, uma junta médica foi designada para avaliar o seu caso e as conclusões a que chegaram não foram nada animadoras.
_ Todo o tratamento que esta sendo ministrado ao Dr. Pedro Lins, não esta mais dando nenhum resultado. Ele já esta aqui na Unidade Intensiva há pouco mais de 30 dias e a junta médica que o examinou ontem, disse o médico que cuidou do seu caso desde o primeiro dia, decidiu suspender o tratamento, uma vez que o mesmo é muito agressivo e pode comprometer mais ainda seu estado por conta de sua nula imunidade. O Dr. Pedro permanecera sedado e a dosagem de morfina terá que ser aum ...
_ Morfina... Sem resultados... Suspensão do tratamento...O senhor tem certeza do que esta me falando? Perguntou Ewerton.
_ Entenda Dr. Ewerton, a dose ministrada desde o último dia 05 só vem aumentando... E pode chegar o dia que nem ela será suficiente para atenuar as dores que ele já sente... Sentimos muito.
_ Não mais que eu, Dr. Eduardo Santos... Não mais que eu...
Ewerton não teve a menor vergonha de chorar diante desse homem que com toda a paciência esperou que seu auto controle voltasse...
_ Alguns órgãos do Dr. Pedro já começaram a falhar. O corpo dele esta cansado demais pra poder prosseguir.
_ Só falta então o senhor me dizer que ele terá apenas alguns dias de vida, é isso?
_ Não Dr. Ewerton, na verdade ele terá apenas algumas horas...
O mundo de Ewerton, aquele mundo ao qual ele se agarrava com todas as suas forças, dia após dia, semana após semana, ano após ano, simplesmente desmoronou.
_ Então foi por isso que me deixaram ficar aqui mesmo o horário de visitas tendo terminado?
_ Sinto muito...
Nesse momento, o aparelho ao qual Pedro estava ligado, começou a dar um alerta e Ewerton virou-se em sua direção sem conseguir sair do lugar em que estava. O Dr. Eduardo e toda a equipe da UTI correram para seu leito e procedimentos começaram a serem feitos logo após a cortina ser fechada.
_ Não ainda Pedrão... Por favor não, cara... Gentilmente uma enfermeira pediu que ele se retirasse e o ajudou a sair da sala em questão.
Ewerton sentou numa cadeira da sala de recepção e fitou o vazio por um tempo que ele julgou infinito... 20 minutos depois seu nome foi chamado e ele se voltou para ver quem era...
_ Eu tive que vir. Eu soube...
_ Obrigado pela sua visita... Temo que tenhas chegado tarde demais... Acabo de ouvir que ele tem apenas algumas horas...
_ Queria muito pedir perdão... Eu apenas queria que ele soubesse que eu ainda o acho um ser humano impar e que ele fez uma ótima escolha ao ficar com você e não comigo... E eu me arrependo de ter estragado tudo... Nossa amizade, nossas vidas... E Jc não mais aguentou e chorou copiosamente abraçado ao primo Ewerton.
Eduardo Santos vinha pelo corredor em direção à sala de recepção e assim que viu Ewerton o chamou:
_ Sinto muito, o Dr. Pedro Lins nos deixou.
JC não se moveu do lugar em que estava.
Ewerton sentou e cobriu o rosto com as mãos e chorou sua perda sem se importar com mais nada, nem ninguém. A dor que sentia, era algo simplesmente insuportável.
_ O senhor acredita, Dr. Eduardo, que eu perdi o homem, o único homem que amei em toda a minha vida? Um homem fabuloso? O melhor amigo que alguém poderia ter? Pois acredite Dr. Eduardo... Eu perdi. E o Senhor acreditaria em mim se eu lhe dissesse que isso dói demais? Pois saiba que dói muito mais do que eu poderia imaginar...
O médico apenas o olhou demoradamente e ouviu pacientemente tudo o que ele tinha pra falar... Desabafar... Deixou ele dar vasão a sua dor... Sua tristeza.
Após recuperar o controle e deixar a emoção pra depois, Ewerton ligou para cada um dos amigos da Clínica e com a ajuda de JC, começou a tomar providências para o funeral do amado Pedrão.
Ao sair do Hospital São Mateus na companhia do irmão mais velho, ambos seguiram diretamente para casa pois Ewerton fizera questão de falar pessoalmente com os pais e os irmão que para lá se dirigiram. A comoção foi muito grande e intensa pois Pedro era um membro dos mais queridos da família Gurgel leite.
Os avós estavam viajando pelo interior e apesar de terem sido avisados, não compareceram ao funeral.
Diante do corpo do amado que parecia estar em paz, Ewerton falou:
_ O Pedrão foi o cara mais brilhante que eu tive não só o prazer mas também o privilégio de conhecer e conviver por alguns anos. Devo reconhecer que foram poucos se levarmos em conta o tanto de tempo que cada um de nós levará para o encontrar novamente por aí... Ele foi um lutador nato, aquele tipo de gente que jamais se abateu ou questionou a vida miserável que tinha e levou durante alguns anos... Era também um obstinado e em tudo o que tocava, conseguia transformar em algo de bom com seu jeito todo especial de ser... Acredito que cada um de nós que esta aqui, perde um pouco com sua saída de cena... Eu poderia dizer que perdi mais que qualquer um, mas não serei leviano em dizer isso... Aprendi com ele que não se pode ser egoísta ao ponto de querer ser mais ou maior do que ninguém, ou mesmo dizer que o meu sofrimento ou a minha dor, são maiores do que a de qualquer um que esta aqui... Me sinto um afortunado em ter tido a honra de ser amado por ele e por corresponder ao seu amor da melhor maneira que pude... Sinto muito pelo seu fim... Deus sabe o quanto que eu queria ele aqui do meu lado, mesmo sofrendo, mesmo não mais sendo possível... Eu me envergonho de ser um egoísta que esta sendo incapaz de aceitar essa partida porque não queria sofrer...Por favor me perdoem por ser humano demais... Tivemos cinco verões incríveis...Tivemos uma vida a dois, mais ainda... É terrível ter que falar nele no passado... Será terrível não mais receber ligações dele ao longo dos dias... Será um barra ter que seguir em frente sem tê-lo a meu lado... Mas será maravilhoso se algum dia a gente voltar a se encontrar... Ontem dia 20/03 foi o último dia do verão, dia de sua partida... Hoje começa o outono, e ele ta indo embora com sua luz, seu calor, seu frescor, sua jovialidade, sua intensidade e seu brilho nos dando a certeza do dever cumprido... Só posso dizer que ele siga em frente como me mandou fazer um dia e que finalmente mate a saudade de sua mãe como ele também me disse que faria no dia em que recebesse o chamado... Amo você Pedro Lins.
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Nunca escrevi algo tão forte como esse capítulo final, desde que comecei nessa aventura ao lado de todos vocês. Há coisas na vida que são irremediáveis. A morte é uma delas...
Tenham plena certeza de que abri velhas feridas ao relatar esse amor que pouco durou e muita saudade deixou, não por ser uma experiência pessoal, e sim por ter acompanhado algumas histórias semelhantes a essa de pertinho...
Conquistar algo muito cobiçado nunca será mais belo do que a jornada para consegui-lo...
Aprendi que para cada duas coisas boas que levamos conosco, terminamos deixando uma para trás...
Assim é a vida, uma eterna jornada para a dor.
Meus sinceros agradecimento a cada um de vocês, querido POVO DO LADO ESQUERDO.
TODOS OS DIAS É UM VAI E VEM
A VIDA SE REPETE NA ESTAÇÃO...
TEM GENTE QUE CHEGA PRA FICAR
TEM GENTE QUE VAI PRA NUNCA MAIS
TEM GENTE QUE VEM E QUER VOLTAR
TEM GENTE QUE VAI E QUER FICAR...
TEM GENTE QUE VEIO SÓ OLHAR
TEM GENTE A SORRIR E A CHORAR
E ASSIM, CHEGAR E PARTIR... SÃO SÓ DOIS LADOS DA MESMA VIAGEM...
O TREM QUE CHEGA É O MESMO TREM DA PARTIDA...
Miton Nascimento.
Até breve... Nando Mota