Todos prestavam atenção no rapaz em cima do palco. Olhares fixados. Oliver parado, olhando para o vago. Seu corpo se move lentamente. A tristeza em seu peito o consome, fazendo com que lágrimas caíssem ao chão. Seus movimentos são belos. Seus passos são próprios, nada programados, apenas sentidos. Depois de segundos Oliver não enxerga nada, apenas seu corpo se movimentando. Era como se ele estivesse ali sozinho. Sua camisa é rasgada com força por suas ambas as mãos. Seu corpo está à mostra. Ele se vira, ainda se movimentando. Todos ficam surpresos. Havia uma tatuagem cobrindo toda a extensão de suas costas. Era bela, sublime. Não havia nada parecido. Traços rabiscados, sem sentido, mas que no final formava algo impossível de se decifrar para as pessoas. Apenas Oliver sabia.
Ele ainda dançava. O solo de Saxofone se inicia, desencadeando ainda mais a dor de Oliver, que começa a se apertar, a se arranhar, tirando tudo de ruim que estava sentindo no momento. Ele chorava. Se debatia contra o piso. Algumas pessoas mantinham o olhar fixo, praticamente sem piscar. Outras sentiam o que estava acontecendo, choravam, percebiam o sofrimento transferido por ele. Era como se os pesos nos ombros de Oliver estivessem sendo removidos.
Seis minutos depois, Oliver estava parado, com seu corpo suado, recebendo aplausos de pé por toda a platéia. Ele sorri timidamente. Todos gritavam, ovacionavam Oliver. Lentamente ele faz reverência a platéia, que aplaude ainda mais o jovem rapaz.
Oliver volta para o camarim. A porta estava aberta. Seus olhos se tornam assustados.
- Tomando meu lugar? – O dono de um belo sorriso fala.
- Ai meu Deus! – Oliver exclama tentando conter um enorme sorriso. – Eu não acredito. Micael!
- Você se lembra de mim? – Micael sorri ainda mais e pula em cima de Oliver e o abraça. – Pensei em você este tempo todo Oliver. Desde que nós beijamos aquele dia eu não consigo te tirar da cabeça.
- Micael...
- Eu te vi dançando agora. Sei que está acontecendo algo com você... Eu consigo sentir tudo... Conte-me se você se sentir a vontade. Mas não vou desistir de te conquistar independentemente do que for. – Micael segura a cabeça de Oliver, fazendo com que o olhar de ambos se encontrem.
- Eu não estou bem Micael. Não posso... Eu não devo me envolver com nada neste momento. Não quero te magoar.
- Eu já sou um homem crescido. Sei me cuidar e sei o que quero. E eu quero você. Nada do que falar vai me fazer mudar de idéia Oliver. Se acostume. – Micael abraça Oliver, que retribui, deixando uma lágrima escorrer.
- Nossa!
- Você parece triste gatinho. Eu vou ficar ao seu lado. Não se preocupe.
Micael parecia um anjo. Seu corpo definido com algumas tatuagens era um charme a parte. Seu olhar penetrante. Seus cabelos castanhos e ondulados caindo sobre o rosto o deixavam ainda mais belo. Micael era como o paraíso. Seu corpo era convidativo a um abraço. Seus cabelos eram obrigatoriamente acariciáveis. Seus lábios altamente beijáveis. Seu sorriso encantador. Ele era um perfeito cavalheiro. Realmente gostava de Oliver. Aquele beijo havia mudado sua vida. Foi tão calmo, mas ao mesmo tempo tão intenso. Micael parecia ter sido pego pelo amor a primeira vista, e falava sério quando disse que não desistiria.
- São os olhos mais belos que já vi em toda a minha vida. – Micael diz ao cessar o abraço a olhar para Oliver. – Eu passaria dias contemplando você. Perderia-me em seu olhar. Você é lindo sabia?
- Obrigado Micael. E você parece um anjo. Não apenas na aparência, mas algo em você me conforta. Não consigo entender. É como se eu o conhecesse a vida inteira. Sinto-me bem em sua presença.
- Sinto o mesmo. Você dominou meus pensamentos de uma forma que no começo achei assustadora. Mas acabei me acostumando e entregando tudo nas mãos de Deus. Ele trouxe você para mim. Sei que você tem cargas, coisas a resolver, mas vou te esperar. Sinto algo bom vindo de você. Sinto que está triste só de olhar para seu olhar pesado.
Eles se abraçam novamente. Ambos de olhos fechados.
- Que sair daqui? Comer alguma coisa? – Micael oferece. – Adoro a pizza que a dona Dolores da pizzaria da esquina faz.
- Adoraria... Mas me explica uma coisa. – Oliver pensa. – Tomando seu lugar? – Oliver se referia o que Micael disse quando se encontraram novamente.
- Sim. – Micael ri. – Prazer Oliver. Caleb, ao seu dispor. – Micael dá uma deliciosa gargalhada, fazendo com que Oliver também sorria.
- Não acredito! Caleb é você?
- Sim senhor Maximiliano! O próprio.
- Então o Juan já te contou?
-Sim. Fiquei feliz por finalmente ter alguém com quem dividir o palco. Fico honrado de ser você Oliver.
- Eu também.
- Agora vamos. É logo ali, então podemos ir a pé. Você vai adorar aquele lugar. É um de meus pontos preferidos. – Micael diz já saindo de mãos dadas com Oliver.
Micael e Oliver andavam pela rua de mãos dadas. Ninguém que passava por eles estranhava. Todos sorriam e cumprimentavam. Era como se estivessem em um mundo diferente, onde o preconceito não existia. Os sorrisos. Os olhares de felicidade plena. Tudo tão diferente.
- Porque aqui é diferente dos outros lugares? – Oliver pergunta olhando para suas mãos junto as de Micael.
- Eu nunca consegui entender. Parece surreal. As pessoas se tocam, se beijam, demonstram carinho... Isso é normal por aqui. Ninguém discrimina. Todos os lugares são frequentados por pessoas heteros e pessoas abertamente gays. Convivem em total harmonia. Conversam entre si. Riem de piadas. É como se este lugar fosse mágico. Por isso me mudei pra cá. O pessoal é mais amistoso. Sempre sorrindo. Trocando favores. É incrível.
- Eu queria morar em um lugar assim...
- Você pode. Acho que todo mundo deve morar em um lugar como esse. Vivenciar essa experiência de plena alegria. Todos os dias acordo sorrindo. Tomo meu café da manhã ao lado de um monte de gente na padaria da cidade. É engraçado. Todos os dias me sento em um balcão extenso com várias cadeiras. Todo mundo sentado lado a lado, conversando, rindo enquanto comem. Pessoas interagindo umas com as outras. Falando de suas vidas. Algumas famílias se juntam aqui todos os dias. Amo este lugar.
- Você está me fazendo querer morar aqui.
- Essa é minha intenção gatinho. – Micael se vira e dá um selinho em Oliver. – Isso é por você ser tão lindo e perfeito. E esse – desta vez Micael usa a língua e tira o fôlego de Oliver com um beijo – é por você ser você. E esse... – Micael caminha com Oliver até uma árvore e o encosta contra ela, levantando suas mãos, ainda unidas, e rouba mais um beijo, desta vez demorado, molhado, quente e prazeroso – é porque eu queria te beijar mesmo.
- Ok... – Oliver diz entre respirações ofegantes. – Acho que posso me acostumar com isso. Você é cheio de surpresas hein!
- Você ainda não viu nada.
Os dois riam ainda caminhando com as mãos dadas. Finalmente entram na pizzaria, e logo são recebidos por uma senhora.
- Boa Noite meninos! – Ela parecia muito bem. – Micael! Que bom que apareceu aqui. Já estava com saudades. – Ela diz ao abraçar calorosamente ambos, Micael e Oliver.
- Estava com saudades também Dolores. – Micael a abraça mais uma vez.
- É seu namorado? – Dolores pergunta.
- Meu futuro marido. – Micael olha para Oliver, que estava vermelho como um tomate. – Formamos um lindo casal não?
- Um casal maravilhoso. – Dolores sorri. – Agora vão se sentar que logo trago à Moda Da Casa para vocês. Receita nova... – Ela diz já saindo e cantarolando uma música qualquer.
- Futuro marido? – Oliver diz dando um sorriso tímido típico.
- Lide com isso Oliver. Você está preso a mim para sempre. Agora que te achei, não te solto mais.
- Por quê?
- Porque você é meu. O que senti por você na primeira vez que te vi foi inexplicável. Meu coração acelerou. Comecei a suar frio. Tive uma puta ereção. E minha boca salivava ao pensar em um beijo seu. Cara, você não pode andar por ai desse jeito, tão gatinho e gostosinho... E com esse visual novo está de matar qualquer um de tesão. Estou tentando não me excitar aqui, mas está difícil com você e essa sua cara de menino pidão. – Micael puxa a cadeira de Oliver para ainda mais perto dele. – E ai gato! Pronto para ter um orgasmo junto comigo?
- O que? – Oliver pergunta assustado.
- Depois que você comer a pizza da dona Dolores você vai entender do que estou falando. – Micael dá um sorriso sexy para Oliver seguindo de mais um beijo.
- Estava falando da pizza então... – Oliver diz aliviado
- Não só da pizza Oliver. – Micael faz Oliver arrepiar com outro olhar. – Sou uma caixinha de surpresas. Umas carinhosas, como presentes e belos passeios, mas outras surpresas são completamente quentes... – Micael lambe o lóbulo de uma das orelhas de Oliver, fazendo com que ele se arrepie novamente.
- Ai meu Deus! – Oliver permanecia atônito.
- Você ainda não viu nada.
Micael e Oliver passam mais algum tempo se olhando, até que a pizza chega. O cheiro era ESPETACULAR. O estômago de ambos roncou na hora. Oliver pega o primeiro pedaço, e ao colocar na boca seus olhos brilham. Realmente ele estava tendo praticamente um orgasmo naquele momento. Nunca havia experimentado algo tão saboroso.
- Ai meu Deus! – Oliver exclama com os olhos brilhando. – Eu nunca comi nada tão bom...
- Eu não te disse. – Micael pega mais um pedaço e sorri para Oliver.
- Deus... Tem azeitona, palmito, ervilha, calabresa, mussarela, presunto, peito de frango, abacaxi... Tem tudo o que mais gosto da parte culinária.
- A dona Dolores é uma ótima cozinheira. Os pratos que ela faz são espetaculares.
- Ótima é pouco! – Oliver diz, logo em seguida pega outro pedaço de pizza e o devora. – Acho que vou vir aqui todo fim de semana.
- Acha nada. Você vai vir aqui todo final de semana. Primeiro que Juan praticamente quer sequestrar você para que possa ficar aqui. Segundo, mesmo que não fique você virá me visitar e não aceito um não como resposta. E terceiro e mais importante... Quando você me conhecer ainda melhor, não vai querer me largar nunca mais. – Micael olhava para Oliver com um olhar vermelho e cheio de desejo.
- Nossa! Esse olhar que você me dá...
- Gostou é? Tem muito mais de onde esse veio. Agora que acabamos de comer, vamos dar um passeio. Dolores! Coloca na conta pra mim. – Micael diz a última frase gritada.
- Pode deixar filho! – Dolores grita da cozinha.
Eles saem novamente de mãos dadas. Oliver estava começando a gostar daquilo. Se sentir desejado, querido, protegido. Micael era como um forte seguro para Oliver. Aquelas tatuagens espalhadas pelo corpo dele faziam com que ele parecesse forte, másculo, e até mesmo perigoso. Oliver estava encantado com tudo aquilo.
Eles caminhavam por uma rua cercada por árvores enormes. Postes com luzes fracas eram responsáveis pela iluminação do lugar, que era lindo. Ao fim da rua, havia uma pracinha que dava de frente para uma ponte sobre o lago. Micael caminha com Oliver, abraçados agora. O leva em direção a ponte, e se sentam, com os pés pendurados. O lago corria por debaixo de seus pés. Podiam se ver alguns peixes passando.
- É um dos lugares que mais aprecio aqui. Venho para pensar. Colocar a mente em dia e meditar. É tranquilo aqui. Me transmite paz.
- É perfeito Micael... – Oliver diz com a voz baixa, olhando para o lago.
- O que lhe chateia gatinho?
- Eu... É... É tanta coisa acontecendo comigo no momento... Eu... – Oliver derruba uma lágrima, e Micael ao perceber, passa seu dedo indicador direito no rosto de Oliver, enxugando a lágrima.
- Não chore gatinho. Eu estou aqui com você. – Micael abraça Oliver.
- Não sei por que você me quer. Eu tenho tanta carga emocional. Sou triste. Tenho tantas coisas para resolver ainda...
- Ei, olha para mim... – Micael direciona o olhar de Oliver para o dele. – O sofrimento faz parte da vida Oliver. Através dele nos crescemos. Evoluímos como ser humano. A angústia também faz parte. Você é quem você é. Simplesmente isso. Eu não me importo com o peso que carrega, eu te ajudarei a se livrar dele caso você queira. Pretendo passar o resto de meus dias ao seu lado Oliver. Sério. Sei que você tem pendências, mas vou esperar com o maior prazer. Não vou fazer cobranças nem nada, vou apenas estar ao teu lado, lhe dando atenção, carinho, lhe dando tudo de bom que eu possa oferecer.
- Obrigado Micael. Nunca ninguém me disse coisa do tipo. Sinto que com você posso me abrir de verdade... Então vou falar algumas coisas. Só te peço que escute tudo primeiro ok? – Oliver chorava um pouco mais.
- Tudo meu anjo. – Micael acaricia o rosto de Oliver.
- Então...