Certa noite, após fazerem sexo, Benário contou uma histona enquanto Yolanda se entregava ao sono lentamente. Ele disse:
- Um sujeito conhece uma mulher numa festa Fica atraído por sua beleza, sua energia, seu sorriso e suas roupas. A partir de então, faz de tudo para conquista-la, até que consegue e agradece a Deus pela graça alcançada. Mas algum tempo depois, a excitação da conquista diminui pois é natural do ser humano se acostumar a tudo, inclusive as tragédias e também as graças. E aquilo pelo qual ele tanto lutou e se desesperou, passa a ser comum. A primeira coisa que ele faz, é proibi-la de ir a festas com os mesmos vestidos que a conheceu. Essa é a receita para o desastre. E o mesmo que ficar admirado pelo canto de um passarinho na natureza e querer colocá-lo numa gaiola em seguida
- Porque está me contando isso?
- Porque eu gosto de como somos e de como nos conhecemos. Seria uma pena nos tornarmos comuns um para o outro.
Yolanda adormeceu sem pensar muito na parábola. O velho Benário a beijou na testa e ficou observando por mais alguns instantes, até que ele mesmo pegasse no sono também.
Já fazia quase um ano que Yolanda estava morando no casarão, pois não fazia mais sentido morarem em casas separadas. Ingrid morava com eles, porém o filho mais novo de Yolanda tinha ido morar com o pai, segundo sua vontade.
Pouca coisa mudou na rotina do artesão, pois ele e Yolanda tinham personalidades parecidas, gostavam do sossego. Eram pessoas de poucas palavras e não gostavam de barulhos e desperdícios. Mas Ingrid era outra história. Por mais que ela soubesse como a mãe e o senhor Benário gostavam das coisas, tinha sua própria personalidade e a sua juventude não era algo que pudesse ser colocada dentro de um pacote e etiquetada.
Ao ver a filha se arrumando para festas, ouvindo som alto e andando pela casa dançando, Yolanda lembrou-se da história que Benário contou. Ela temia que, mesmo sem querer, as atitudes de Ingrid perturbassem a paz do casal, mesmo que Benário nunca tivesse lhe dito qualquer coisa diretamente.
O velho se trancava no atelier quando havia barulho pela casa e só saia quando tudo estava em harmonia novamente. Além disso, o relacionamento pouco comum entre os três parecia compensar qualquer contrariedade que por acaso a jovem causasse.
Aos poucos outras mudanças foram acontecendo lentamente. Ingrid começou a trabalhar num escritório e um dia apareceu com um convidado em casa. Era Jader, um colega de trabalho. Pelo menos foi assim que ela o apresentou, mas tanto Yolanda quanto Benário logo perceberam que era mais que isso.
Não demorou muito para que ela dissesse que agora estavam namorando. Jader era um cara legal, uma pessoa sossegada. Simpático e muito atencioso. Essas qualidades fizeram com que tanto Benário quando Yolanda prontamente aceitassem o namoro dos dois, mas à medida que o namoro de Ingrid evoluía, também rareava seu interesse pelas antes ardentes visitas que fazia ao quarto do velho Benário.
Ele sentiu falta, mas ao mesmo tempo achou aquilo algo natural, pois não nutria a ilusão de manter o relacionamento com as duas indefinidamente. Sabia que mais cedo ou mais tarde, Ingrid se interessaria por outras coisas. Por mais que fosse um homem de outro tempo e gostasse de seu mundo particular, Benário era lúcido o suficiente para aceitar as mudanças fazem parte da vida.
Um dia, Benário e Yolanda estavam namorando no quarto do casal. Já era tarde da noite quando ouviram o som de passos na escada. O velho logo se animou ao ver a figura de Ingrid aparecer na porta e passou a penetrar Yolanda com vontade redobrada. Mas Ingrid não entrou no quarto de imediato. Ela estava usando apenas uma camiseta e calcinha, mas ficou parada na porta, olhando a cena, por alguns instantes e em seguida fechou a porta e foi embora.
Benário e Yolanda olharam para ela e em seguida um para o outro e sem dizerem nada, até que ela sumiu no corredor, mas alguns minutos depois, Ingrid voltou e tomou seu Iugar na cama, como tinha feito tantas vezes antes. Ela nunca tinha hesitado até aquele dia.
Concluíram que aquilo significava talvez o fim de um capitulo em sua história. Ambos aceitaram sem fazer dramas. Talvez fosse melhor assim. O sexo foi bom, como sempre, mas não igual. No dia seguinte, Ingrid avisou aos dois que estava planejando morar com Jader. Em pouco tempo se mudaria para uma nova casa com ele. Yolanda e Benário desejaram boa sorte e se comprometeram a ajudar no que fosse possível. E assim, sem maiores acontecimentos, Ingrid se mudou e saiu da vida do casal. Quando isso aconteceu, Yolanda se lembrou da historia que o companheiro tinha lhe contado algumas noites antes.
Pouco mais de dois meses depois que Ingrid tinha se mudado, Yolanda conversou com Benário sobre a necessidade de arrumar alguém para ajudar com as tarefas da casa. Ele relutou um pouco a principio. Tinha, demorado a se acostumar ás presenças de Yolanda e Ingrid e agora teria de ver outra pessoa perambulando pelos corredores e interferindo em sua rotina.
Mas ele era um homem justo e sabia que não seria correto pedir que sua agora esposa cuidasse de tudo sozinha e assim, concordou que ela trouxesse alguém, Tudo o que ele pediu foi que não arrumasse ninguém tagarela. Detestava pessoas que falassem demais e que se metiam em assuntos alheios. Yolanda sorriu.
-Não se preocupe, querido. Tenho uma amiga que também trabalha fazendo limpeza e é discreta e competente. Tenho certeza que vai gostar dela.
-Isso é o que vamos ver. Respondeu ele com um meio sorriso.
-Não confia no meu julgamento? Eu, mas do que qualquer outra pessoa, conheço seus gostos.
E foi assim que Juliana passou a trabalhar no casarão.
CONTINUA
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