Ele riu e foi me falando de como é sua turma e eu mostrando interesse, queria enfermagem… Aulas do curso… Colegas… Professores… O assunto novamente flui. Percebemos que estávamos no banheiro e que não era o melhor e mais perfumado lugar para se estar… saímos, conversando e sentamos em uma escada, no degrau melhor dizendo… falamos mais um pouco até que o horário da turma dele ir almoçar chegou… a minha, era a última então…
- Tchau Edu ! -
- Tchau Gustavo.
-Até – Ele sorriu de novo com aquele sorriso… dele.
- Até
De onde ele tirou intimidade para me chamar só de Edu… Nunca ninguém me chamou assim. Não gostei disso.
Fui para a sala esperar o horário da minha turma sair para almoçar. Chego sento na minha cadeira e aguardo, tinha uma atividade para fazer e fui resolvendo com o lápis, troco o lápis pela caneta, ponho o lápis de lado, copio a questão, e o lápis cai, quebra a ponta. Aquilo me deu uma leve irritação. Pego o estilete e vou fazer a ponta, como eu sou lesado e tenho muita sorte, meu dedo estava próximo demais e me cortei, foi rápido, devido a esse rápido, e graças a física. Quanto mais veloz mais forte. Foi profundo, e começou a sair muito sangue. Fui rápido no banheiro. Quando chego lá, Gustavo estava lá escovando os dentes, ele olhou para mim, e fui direto para a torneira lavar a mão. Ele não deixou, segurou meu braço, negou com a cabeça, lavou a boca e me levou para sala dele. Pegou uma maletinha que ele tinha na parte de baixo da cadeira, abriu e me fez sentar no chão, junto com ele e de dentro da maleta ele tirou algodão.
- Como isso aconteceu? - Ele perguntou e olhou para o meu corte preocupado.
- Estilete – Respondi fazendo careta enquanto ele limpava com algodão o excesso de sangue.
- Estava enferrujado? - Me perguntou enquanto pegava um vidrinho marrom, molhou o algodão e colocou no meu dedo. Ele fazia uma cara de quem estava muito preocupado.
Fui para outro mundo. Fechei o olho e apertei a primeira coisa que eu vi. Quase gritei, mas consegui fechar a boca a tempo e o grito saiu mudo. Quando abri meus olhos e vi o que tinha apertado, até ignorei a dor. Sempre tive unha grande e tinha acabado de arranhar o braço do Gustavo tava em vermelho vivo, naquela pele clara dele.
- Me desculpa, foi mal, ai, eu só faço besteira!! - Falei nervoso
- Relaxa, era para eu ter avisado que ia arder – Ele falou fazendo uma careta. O arranhão era grande, também estava ardendo. - Agora estamos quites? - Ele riu.
- Não, fico te devendo uma, eu tinha quase certeza que isso ia inflamar se duvidar até infeccionar, não posso ir na coordenação, eles me matariam se soubesse com quê eu me cortei.- Falei em um tom muito calmo olhando para ele. - Muito obrigado mesmo!! E me desculpa pelo arranhão e por eu ter feito você perder seu tempo.
- Não há de quê agradecer, e é claro que não perdi meu tempo acredite – Ele falou olhando no fundo dos meus olhos. - É o que eu gosto de fazer.
Abaixei a cabeça e olhei para o arranhão, tava muito vermelho. Senti que minha expressão mudou, logo estava ali triste, sentado com ele no chão. Ele tinha acabado de cobrir o corte. Ficou muito bem-feito, ele tinha jeito. Quando ele olhou para mim de novo depois que fechou a maleta, ele percebeu minha expressão.
- O que foi? Está doendo muito? - Perguntou.
-Não, não é isso.- Respondi desanimado – Nunca tive amigos, e os poucos que eu achava ter não se importam comigo, quando me cortei, todos eles lá viram, perguntaram se eu tava bem e só, nenhum realmente se importou ou se ofereceu para ir comigo no banheiro, ou mostrou real preocupação. Você, posso dizer que te conheci hoje e você mostrou preocupação comigo, mostrou o que nunca ninguém demonstrou, realmente seimportar, eu sinto que é sincero. Eu tive a chance de ter um verdadeiro amigo e ainda o machuquei, acho que eu sei porque ninguém gosta muito de mim…
Ele não disse nada, não esperava que dissesse. Ele me abraçou. Não foi apenas um abraço, me senti envolvido, protegido, naquela hora eu não estava nem aí pra o que os outros pensariam. Retribui com a mesma calma dele.
-Você é muito dramático – Ele disse enquanto me abraçava – Foi só um arranhão, não uma facada ou um soco. Você só não será meu amigo se não quiser. Eu já te considero um amigo e é claro que eu me importo com você.
Ele me soltou lento, e quem tava na sala estava olhando e virou a cara rápido. Curiosos. Eu me sentia bem, não por ter aliviado o ardor do corte, mais sim pelo fato de agora, eu poder contar com uma pessoa, ou melhor, com o Gustavo. Eu sorri para ele, ele tem o poder de me arrancar essa ação que eu não fazia quase nunca. Eu me sentia envolvido por uma coisa que eu tinha certeza que era amizade. Mas meu inconsciente não. Ele sorriu para mim, o melhor sorriso dele, ele sempre quebrava o recorde.
-É claro que eu quero ser seu amigo, e pode ter certeza que vou fazer de tudo para que não se arrependa de ser meu amigo. - Falei para ele – Futari wo musunde kudasai .
- Ahn? - Ele riu – Não te dei o direito de me xingar ok? O que você disse?
-Um dia eu te conto hehehe- disse
- Ei vá almoçar que tá quase acabando o horário. - Ele disse se levantando e me fazendo fazer o mesmo.- Corre antes que o comércio chegue lá, você conhece.
- Ok, ok, me expulse, até mais !
Saí de lá sabendo que eu tinha conseguido uma amizade para toda a vida. Mas acima de tudo isso saí de lá sem saber de muita coisa aqui dentro.
Deu tempo almoçar. As aulas seguiram normalmente até o fim do dia. Esperei o ônibus, ele chegou e eu fui para casa.
Nem me despedi.
Continua…
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Desculpem por sumir, época de provas parciais e os professores estão se superando.
Nada comparado as provas Globais semana que vem T.T
Muito Obrigado a todos que leram!!!
Geomateus, Ramom, Gustavinho e R.Ribeiro Muito obrigado, Abraços a todos ^^