Eu sempre soube que havia algo errado comigo. Essa amnesia que eu tenho, esse buraco na minha memória, talvez não tenha sido causado só por um trauma, no fundo eu sempre soube disso. Só que sei lá, não acho que uma lavagem cerebral seja a causa disso. Perdido em pensamentos ouço o telefone da sala tocar. Viro para o lado e vejo a hora: 23:23. Quem liga na casa dos outros uma hora dessas?
Bem, não importa. Minha mãe deve atender... Ou não. Ele toca duas vezes até cair. Na terceira levanto correndo, vou até a sala e tiro o telefone do gancho.
_ Alô. _ Eu digo.
_ Alô David. _ Uma voz fria e sinistra responde.
_ Quem está falando?
_ Digamos que um amigo.
_ Eu vou chamar a minha mãe! _ Eu falo com medo.
Ouço uma risada do outro lado da linha e desligo o telefone.
Quando dou meia volta, o telefone volta a tocar e bato na porta da minha um montão de vezes sem sucesso. Resolvo entrar e, surpreso, vejo que não tem ninguém. Enquanto isso o telefone infernal não para de tocar. Resolvo atender:
_ Olha aqui, minha mãe tá ligando para a polícia. Então para, tá bom?
De novo escuto aquela risada.
_ Sua mãe não está em casa garoto.
Eu me assusto.
_ Como você sabe? _ Eu pergunto.
_ Eu sei mais sobre a sua vida do que você mesmo. Eu sei que tudo que você pensa conhecer é uma mentira. Uma encenação.
_ Eu vou desligar de novo.
_ Desligue e alguém muito próximo a você acabará num poço depois de ser muito torturado.
Arfo na hora. Se a pessoa do outro lado queria me deixar com medo, está conseguindo.
_ O que você quer? _ Eu pergunto sentido a primeira lágrima escorrendo pelo meu olho direito.
_ Te mostrar a verdade. Acredite em mim, eu sou seu amigo.
_ Que verdade?
_ A verdade sobre valentão, aparentemente, apaixonado. A verdade sobre o garoto misterioso que acaba de entrar na jogada. A verdade sobre a vadia da sua mãe. A verdade sobre a morte do Mateus. A verdade sobre seu pai... A verdade sobre você!
_ O que você quer dizer?
Ouço um suspiro no outro lado da linha.
_ Abra sua mochila e descubra como sua vida que era puro drama, acaba de se tonar um filme de terror.
E então a ligação cai.
Não exagero meu quando digo que estou tremendo. Agora tudo o que eu quero é me enfiar a cabeça debaixo das cobertas e esquecer disso também. Me dirijo ao meu quarto e vejo a mochila em cima da cama. E apesar de todos os meus sentidos gritarem para eu não abri-la, eu abro assim mesmo.
Procuro algo de diferente em todos os bolsos e, por fim, encontro um pen drive que não era meu em um deles. Enfio ele no computador e vejo um arquivo de vídeo com o nome ‘Abra’. Então eu abri. E o que vejo? Bem, primeiramente vejo minha mãe em um quarto bonito de paredes vermelhas, cama em formato de coração e pétalas de rosa em cima. Logo um homem chega e minha mãe diz:
“_ Eu nem sei porque ainda faço isso. Eu disse que aquela seria a última vez.”
O homem a empurra na cama e fala:
“_ O que eu fiz pelo seu filho sem você pagar nem um tostão, deve ser pago com muito sexo.”
Ele arranca a blusa dela.
“_ Acha que foi fácil apagar a memória dele? E ainda por cima de graça? Quem mandou ser um puta mão-de-vaca? Agora vai ter que me aguentar calada!”
Depois disso eu fechei a janela e fiquei parado sem reação. O que eu deveria pensar ou fazer?Desculpa a demora pessoal, tive que viajar e não pude levar o note e postar pelo celular não era uma opção. Vou tentar postar pelo 5 capítulos por semana. Então, até mais.
