Escravos e Espartanos Cap.:4

Tive vários sonhos estranhos.

O primeiro foi de uma mulher de meia idade trajando vestes de escrava. Ela era esbelta e tinha cabelos curtos, porém arrumados. Estávamos na beirada de um rio, nas águas paradas perto da margem. Ela caminhava vacilante em minha direção, sem retirar jamais os olhos de uma criança recém-nascida envolta de panos em seus braços. Parando na minha frente, os olhos negros avermelhados me fitaram pela primeira vez. Ela respirou pesadamente e abaixo seu rosto como em rendição, estendendo o seu bebê para mim. Quando tentei retirar parte do tecido do rosto da criança, o cenário dissolveu, mas o sonho continuou.

Tão obstante daquela situação, porém ainda sem saber de nada, estava eu vencido e derrotado jogado de qualquer maneira em um chão de solo arenoso. Minha cabeça latejava de dor e olhando afrente a uns duzentos metros vi homens vestidos com armaduras de couro em um círculo. Eles bebiam de um mesmo cantil e daquela distância o único rosto que consegui reconhecer era o do meu mestre. Os lábios conversavam rapidamente, porém eu só conseguia ouvir o vento da praia. Pareciam estar comemorando, mas por quê? Fiz um esforço tremendo no meu pescoço para fitar ao redor, e gelei quando vi aproximadamente dois mil homens nus deitados em fileiras com espaçamento aparentemente idêntico entre cada um deles. Senti minhas pálpebras pesarem como se tivessem um rochedo em cima de cada uma, e não mais resistindo, fui dormir dentro do próprio sonho.

Arregalando meus olhos bem abertos eu acordei. Eu estava cercado de couro marrom emendado e remendado com vários pedaços de pano sem cor. Aquilo era a minha cama.

Escutei um barulho do couro rangendo enquanto eu punha-me em pé. Dei um passo para frente, saindo da cama. “Estranho... A alguns dias atrás eu não teria capacidade para fazer isso.” Existiam várias regras impostas na mente dos cães pelos seus Mestres, e essas regras não eram burladas nunca. Eu por exemplo, várias vezes caí nesta cama depois de surras sem sentido, que meu mestre dava em mim apenas por que podia. Quando ele me jogava ali sangrando, era como uma prisão sem paredes físicas, mas feita de algo mental, ou espiritual.

“Como posso estar nessa situação? É como se eu estivesse hipnotizado por toda minha vida, e só agora acordo. Além disso, minhas memórias...” Eu nunca me lembrava de tudo completamente, recebendo apenas faíscas de imagens borradas das profundezas do meu antigo ego.

E foi em busca dessas faíscas, que eu olhei em volta.

Paredes de madeira descascada marrom, teto alto de telhas de barro, cheiro viciante de couro... Não, nada disso me trazia respostas.

Chequei a última coisa: a mim mesmo. Olhei para baixo e peguei meu membro na mão. A sonda uretral ainda estava presa no meu pau, como punição do homem que se autodenominava meu mestre.

Meus braços e pés estavam minimamente mais bronzeados que meu torso, o que significava que eu tinha passado, não sei, muito tempo dormindo no sol? Minhas pernas estavam bem trabalhadas com alguns pelos emaranhados ao longo dela, com meus joelhos feridos e rachados por sempre estar andando de quatro. Meu escroto estava caído devido ao peso dos meus testículos e eu estar pelado.

Subi minha mão pelo meu umbigo, fazendo caminho acima pela musculatura dura e bíceps contraídos do meu peito. Corri os dedos em todos meus músculos, apertei meus olhos e estendi meu braço para frente. Era musculoso, com algumas veias saltando e mãos que eram calejadas em suas costas e nós dos dedos pela forma como eu me locomovia por cima dos palmos e joelhos, feito um cão. Minhas unhas tinham as pontas negras de sujeira, mas isso era normal para um Cão.

Continuei descobrindo meu corpo, fechando uma mão em volta do meu pescoço para medir. Conseguia agarrar metade se eu usasse toda minha força. Abracei a mim mesmo e senti vários volumes ao longo das minhas costas, e me contorci para ter uma visão lateral minha. Eu estava mais magro e com as costelas aparecendo, mas a parte frontal continuava musculosa. Eu também tinha sido lavado enquanto estava inconsciente, já que sentia cheiro de colônias baratas em meu corpo.

Enquanto eu estava segurando as bochechas ásperas e quentes da minha nádega, escutei o barulho de grama sendo esmagada debaixo dos pés de alguém do lado de fora. Voltei para a cama sentindo o coração bater como um martelo em meu peito. Algo em mim que eu tinha certeza não ser só minha imaginação me convenceu a fingir ainda estar submisso as regras impostas a minha mente. Isso era... Instinto? Não. Seria melhor eu fugir do lugar sem que ninguém me visse. Iniciar um confronto contra meu mestre agora seria desperdício de energia.

A porta rangeu enquanto era aberta calmamente. Eu espiava com o canto do olho e vi quando entrou. “Não é o meu mestre...” deixei o ar sair em um suspiro aliviado.

Era só uma serva. Estava calçada com uma sandália de escravo e trajava um simples pano bege que ia do joelho até o nós estratégicos em seus ombros.

Depois de se aproximar, ela abaixou-se estendendo uma fruta parcialmente estragada para mim. Mantive-me parado. Seu queixo era fino e a pele do seu rosto tinha pequenas manchas negras, sendo a maior destas perto dos seus lábios de tom fraco e ressecado, embora carnudos. Seus olhos eram apertados e arregalados, espertos e medrosos, tudo junto.

- Coma rápido por favor! Antes que ele chegue!

Apanhei a fruta e mordi em qualquer parte, sentindo o gosto azedo predominante. Quando só restava uma semente branca e redonda, lambi o líquido respigado nos dedos e entreguei o resto para que ela se livrasse. Se meu mestre soubesse que eu comi algo sem ser dele, eu iria sofrer, e ele não ficaria em paz até descobrir qual criado tinha me alimentado sem permissão. Ela escondeu o caroço em cumplicidade, como se já tivesse planejado tudo. – Kenichi – ela lamentou-se. – o que fizeram contigo? Pus-me sentado, abri bem meus olhos, me fazendo de bobo. Eu ainda não sabia o quanto podia contar com ela, e pensando melhor, meu plano de escapar sem ninguém saber não tinha mudado ainda.

Respondi a pergunta dela me pondo sentado sobre meus próprios calcanhares com os joelhos descansando afrente; apalpei o meu membro flácido e pesado exaltando a peça cinza avermelhava que rodeava a glande. Ela desviou o olhar engolindo em seco, e apertou os lábios. Mantive meu rosto inexpressivo.

Nós dois nos viramos bruscamente quando escutamos com horror o portão da propriedade ser aberta. Ela inspirou nervosamente em um curto período de pânico saiu correndo, trancando a porta. Eu estava novamente em minha cama de cachorro sozinho. Só com as costas e a bunda, ou puramente as pernas cabiam ali.

Passei ao que pareciam horas tentando lembrar de mais alguma coisas aquela silenciosa tarde. O dia se tornou noite e, quando eu julgava que as estrelas já estavam brilhando do outro lado do teto do canil, ouvi as risadas e tagarelice vinda de fora. Provavelmente o mestre tinha dado um jantar convidando a alta sociedade. Fiquei aliviado de não ter escutado gritos de escrava, sinal que aquela serva não tinha sido pega afinal.

- Droga... Logo isso aqui começará a lotar.

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Agradeço os comentários de Denyel, UmSonho, Oliveira Dan, Tall young, Lucas M., Dr. Menage e alhambrafb. Por favor, comentem!


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Comentários

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Continua , muito interessante !

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(republicando porque cortou o comentário) Estou curioso para saber o que aconteceu exatamente para o Kenichi conseguir reverter a lavagem cerebral que sofreu.

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Finalmente, depois de longe inverno, você voltou! Por onde andou?

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Ainda estou tentando entender, afinal sou velho e esse seu trabalho em contraponto esta me deixando doido, mais do que ja sou. Estou adorando, vc se fez um belo desafio ao começar a escrever esse conto. Parabens.

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