Isso é tão clichê ~
Aí eu paro e penso pra que eu preciso de um diário? Pra que? Escrever sobre minha vida e depois alguém ler e descobrir todos meus podres?
Maldita hora que eu fui pra aquela consulta com aquele maldito psicólogo, alias pra que eu ainda vou nessas consultas? Continuo do mesmo jeito de quando entrei da primeira vez naquele consultório.
Minha mãe paga uma fortuna só pra eu falar da minha vida com uma pessoa que só escuta e que eu nem conheço direito, seria mais lucrativo pras duas partes se ele me desse esse dinheiro.
Eu até que não me importava tanto com essas consultas e com todo o bla, bla, bla do psicólogo até dias atrás, mas hoje foi diferente. Porque diabos ele acha que eu preciso de um diário? Porque seria bom escrever minhas experiências de vida em folhas de papel? Talvez seria bom pra mim desabafar com alguém, mesmo esse alguém sendo um diário? Não sei.
Tá bom, pode até ser uma coisa divertida ter um diário, apesar de não ser a coisa mais masculina do mundo.
Masculinidade? Nem eu sou tão masculino, ok vamos dizer que eu não sou o cara mais masculino da minha cidade.
Mas o mais curioso é que eu estou aqui em minha mesa escrevendo em um diário, talvez seja porque não tenho nada pra fazer, não sei, só sei que me deu vontade de usar esse caderninho com folhas amareladas que realmente não combina em nada comigo. Mas tá bom é só um diário, posso escrever o que quiser nele e está tudo bem, num é? Não, não é! Não está tudo bem.
Por exemplo: Eu passei todas minhas férias trancafiado dentro desse quarto, dentro dessa casa só porque minha mão que nasceu a trezentos milhões de anos atrás, acha que os tempos não mudam, mas mudam mãe e mudam muito.
Minha mãe quase que me manda pra cadeira elétrica só porque coloquei um alargador. Quase não dá pra ver de tão pequena mas pra ela eu peguei um pneu de trator e arrombei minha orelha. Agora, eu mereço isso? Claro que não mereço.
Ah família, vamos pra parte mais divertida da minha vida; SÓ QUE NÃO.
Meus pais são separados, acho que isso é uma coisa boa levando em conta o jeito que eles se tratam quando se encontram. Minha mãe depois de alguns anos se casou com Peter, ele é legal, é como se fosse um pai pra mim, a única diferença entre ele e meu pai é que ele não pega no meu pé e nem invade meu quarto.
Meu pai não deixa de ser um solteirão, sempre está com uma namorada nova, acho que depois de se casar com minha mãe ele ficou com traumas de casamento (Ok, isso foi maldade da minha parte).
Ainda tem o idiota do meu irmão, o garoto de ouro da família. O motivo de orgulho da família, o oposto de mim que sou a ovelha negra da família.
Meu irmão roubou toda a beleza que por direito seria minha, tem um cabelo maravilhoso de tão bom, fala 4 línguas, faz faculdade de medicina e ainda dá aulas de inglês no meu colégio, tem um carro e a cada metro de distancia tem alguém que acha ele o tal. Enquanto eu me arrasto no ensino médio, pego ônibus e as pessoas correm metros pra longe de mim.
É QUERIDO DIARIO, minha vida não é tão glamorosa como a vida de series adolescentes.
Alias porque as pessoas colocam querido diário? ACORDA! É um caderno idiota, sua vida não vai melhorar em nada se você chama um caderno de querido. Isso não acrescenta nada na sua vida, alias pode até acrescentar, alguns anos trancando em um hospício, porque chamar um caderno de querido é dose, viu.
Vamos ver do que eu ainda não falei sobre minha maravilhosa vida. Não que saber da minha vida vai acrescentar alguma coisa na vida de quem vai saber.
Ah, e pra melhorar tudo de vez vamos falar do que eu faço na minha vida.
Eu estudo, olha que maravilha e alias minha aulas começam hoje, olha que maravilha dobrada.
Eu estudo em um colégio de referencia, tipo um internato, ou seja só venho aqui em casa aos fins de semanas, EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE, mas ultimamente eu ando preferindo ficar no colégio do que vir pra cá.
Lá na escola foi onde eu conheci meus dois melhores amigos; Pedro Albuquerque / Alice Santana.
Minha escola é grande, se não enorme, tem quadra, piscina, e tudo que um colégio normal tem e deveria ter uma cadeira de tortura, porque estudar em um internato ninguém merece.
Eu sempre divido meu quarto com o Pedro, o quarto tem duas camas, banheiro, guarda roupa, mesas, pufes, e nossa decoração, é tipo um quarto normal de adolescente, só que dentro de um colégio.
Pedro toda semana namora com uma garota diferente, é eu sei, ele é muito galinha. Alice já faz 3 anos que aos trancos e barrancos leva um namoro com Gabriel, o carinha mais popular do colégio.
É isso mesmo que vocês perceberam, todo mundo namora menos eu, como minha mãe fala: Lucas, você não é todo mundo.
Sou um solteirão como meu pai, as únicas diferenças são: muitos anos a menos e ele pelo menos pega alguém.
Tem dois motivos por eu nunca ter namorado. Primeiro: ninguém me quer. Segundo: eu nunca quis namorar, por que eu simplesmente nunca me apaixonei por ninguém. Serio, nunca senti borboletas no estomago, coração acelerado e mãos frias. Nunca fiquei pensando em alguém vinte e quatro horas por dia, nem sorri como um idiota quando alguém falava seu nome ou quando ele chegava perto de mim.
É isso mesmo, sou gay, e diferente de muita gente, nenhum dos meus amigos sabem, eu acho.
Pra piorar minha situação, lá no colégio eu tenho que ficar longe do Bob. Bob? Quem é Bob? É meu cachorro, ganhei ano passado de uma tia minha.
Depois que sai de casa o Peter veio me trazer no colégio, dei tchau pra ele e pedi pra tomar conta do meu Bobinho.
Finalmente no colégio.